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Setor Agropecuário Paulista Reduz a Emissão de Gases de Efeito Estufa¹ em 2013
Segundo estimativas
do Observatório do Clima, em 2013, o Brasil foi o quarto maior emissor mundial
(7,0%) de gases que contribuem para o aquecimento da temperatura média da Terra2,
atrás apenas da China (11,0%), da União Europeia (8,2%) e dos Estados Unidos
(7,7%). Em relação a 2012,
as emissões brasileiras de gases de efeito estufa (GEE) cresceram 7,8% devido
ao aumento das liberações provenientes de mudanças do uso do solo (16,4%) e do
setor de energia (7,2%). O primeiro deu-se em decorrência do desmatamento,
sobretudo no Estado do Pará, e o segundo demonstra uma das consequências mais
nefastas inerentes ao aquecimento da temperatura média da Terra: alterações no
ciclo hidrológico. Numa visão de curto prazo, esse efeito tem sido chamado de
anomalia climática. Mas o fato é que tais intempéries reduziram os níveis dos
reservatórios das hidrelétricas, fazendo com que as termelétricas (de mais alto
custo e movidas a combustíveis não renováveis) fossem acionadas para preservar
a qualidade de vida dos cidadãos e o funcionamento da economia, implicando
aumento da poluição atmosférica. Tradicionalmente,
mudanças no uso do solo, energia e agropecuária são responsáveis pela maior
parcela da emissão de gases de efeito estufa da economia brasileira. Em 2013, a
participação desses setores foi de 34,6%, 30,2% e 26,6%, respectivamente. Toledo3,
avaliando as estimativas do Observatório do Clima, ressalta que quando analisadas as alocações estaduais
de emissões de todos os setores produtivos, os estados do Pará e do Mato Grosso
se destacam como maiores emissores do país, com 11,2% e 9,4% do total nacional,
respectivamente, seguidos por São Paulo (8,5%) e Minas Gerais (7,5%). Contudo,
quando se excluem as emissões associadas ao setor de mudança de uso da terra, a
liderança nacional passa para São Paulo (12,9%), seguido de Minas Gerais
(9,8%) e Rio Grande do Sul (7,2%)” – grifo das autoras. O artigo
32 da Política Estadual de Mudanças Climáticas (Lei n. 13.798/2009) estabelece uma
redução de 20,0% nas emissões paulistas de dióxido de carbono (CO2) até 2020 e faculta ao poder executivo a
fixação de metas setoriais quinquenais como meio para atingir tal fim. Assim, este
trabalho apresenta o perfil das fontes de emissões de gases de efeito estufa no
setor agropecuário paulista, com base no inventário divulgado pelo Observatório
do Clima4. Pretende-se, assim, identificar os processos
agropecuários que ensejem maiores reajustes em prol da mitigação de GEE no
Estado de São Paulo. Em 2013, a
liberação de GEE por parte da agropecuária brasileira foi de 416,7 milhões de
toneladas de CO2eq (26,6% do total do país), das quais os principais
processos produtivos emissores foram: fermentação entérica5 (56,4%),
uso do solo agrícola (35,6%), manejo de dejetos animais (4,4%), cultivo de
arroz (2,3%) e queima de resíduos agrícolas (1,2%). A emissão de GEE da
agropecuária paulista foi de 28,6 milhões de toneladas de CO2eq, o
que representa 7,0% do total do setor brasileiro. Quanto aos processos
produtivos mais poluentes, o uso do solo é mais preponderante, respondendo por
48% das emissões de gases de efeito estufa da agropecuária paulista, seguido da
fermentação entérica (41,0%) e da queima dos resíduos agrícolas, com 4,7%. Dentre esses
setores produtivos, no período 2005-2013, a emissão de poluentes cresceu apenas
no processo de uso do solo agrícola (13,3%), devido, principalmente, à expansão
do uso de fertilizantes sintéticos (31,0%). Os GEE provenientes da fermentação
entérica e da queima de resíduos sofreram redução de 22,8% e 35,0%,
respectivamente (Tabela 1). A
redução de 35,0% nas emissões de poluentes derivados da queima de resíduos
agrícolas no Estado de São Paulo foi impulsionada por marcos regulatórios
implementados para o setor sucroalcooleiro: a Lei n. 11.241/2002 e o Protocolo Agroambiental, um acordo
de intenções firmado, em 2007, entre o governo do Estado de São Paulo e
entidades representativas do setor. O acordo baseia-se no cumprimento de
exigências e metas de erradicação da queima da palha da cana-de-açúcar em troca
de uma certificação Selo Verde, a qual comprova que o açúcar e o álcool são originados de uma matéria--prima
produzida de forma sustentável, ou seja, com práticas de conservação do solo e
da água e sem a queima da palha. O
Protocolo Agroambiental estabelece que, em terrenos mais íngremes e/ou com alto
declive (12,0%), a erradicação completa da queima da palha de cana ocorrerá até
2017; porém, em áreas mecanizáveis (terrenos com baixa declividade), esse
processo que antecede a colheita deveria findar-se agora em 2014. Em novembro
de 2013, a mecanização da colheita da cana tinha ocorrido apenas em 81,3% da
área cultivada no estado6, de modo que ainda podemos esperar por
maiores reduções de gases de efeito estufa por parte do setor sucroalcooleiro
paulista. A pecuária de corte responde pela maior parte
das emissões de GEE decorrentes da fermentação entérica. Conforme dito, esse
processo é inerente à digestão dos ruminantes e pode ser compensado pela
recuperação de pastagens degradadas. O declínio de 22,8% das emissões provenientes
da fermentação entérica no Estado de São Paulo decorre da redução de 30,0% no
plantel de bovinos (Figura 1). Nota-se que houve redução no número de
hectares com pastagem cultivada e uma tendência à estabilidade nas áreas de
pastagem degradada (Figura 2). O declínio na criação de bovinos e na área de
pastagem cultivada não é visto com bons olhos para a economia paulista. Uma
estratégia para minimizar esses problemas exige maiores esforços nas políticas
setoriais de incentivos à integração lavoura-pecuária (ILP), uma vez que essa
técnica pode reverter os efeitos econômicos decorrentes do declínio do plantel
paulista, concomitantemente à redução das emissões dos poluentes causados pela
fermentação entérica, proporcionando mais diversidade à agropecuária paulista. ___________________________________________________________________ 1Dióxido de carbono (CO2),
metano (CH4), óxido nitroso (N2O), hidrofluocarbonos
(HFCs), perfluocarbono (PFCs) e hexafluoreto de enxofre (SF6). 2Esse efeito tem
repercussão direta na alteração dos regimes de chuva e vento, o que implica
aumento de doenças respiratórias e elevação dos níveis dos mares (e consequente
devastação de cidades costeiras), bem como o deslocamento de áreas agrícolas.
Indiretamente, o aquecimento global leva ao aumento de chuva ácida,
enfraquecimento da fertilidade do solo, redução da produtividade agropecuária e
alterações na sazonalidade dos preços dos alimentos e matérias-primas. Ver FREITAS,
S. M. de; FREDO, C. E. Panorama mundial das emissões de CO2 frente ao protocolo
de Kyoto (1990-2004). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA
RURAL, 42., 2004, Cuiabá. Anais...
Cuiabá: SOBER, 2004. 3TOLEDO, B. Dados de emissões
brasileiras estimados pelo OC revelam crescimento em todos os setores. Observatório do clima, 24 nov.
2014. Disponível em:
<http://www.oc.org.br/index.php/page/121-Dados-de-emiss%25C3%25B5es-brasileiras-estimados-pelo-OC-revelam-crescimento-em-todos-os-setores%250A>.
Acesso em: 2 dez. 2014. 4O
inventário foi realizado em conformidade com os métodos aprovados pelo Painel
Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) e à semelhança da publicação
federal, o que permite compará-los aos resultados nacionais. 5Fermentação entérica é um processo natural que decorre da
digestão dos animais ruminantes. 6DFREDO, C. et
al. Mecanização na colheita da
cana-de-açúcar paulista supera 80% na
safra 2012/13. Análises
e Indicadores do Agronegócio, São Paulo,
v. 9, n. 7, jul. 2014. Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/out/LerTexto.php?codTexto=13463>.
Acesso em: 4 dez. 2014. Palavras-chave: mudanças
climáticas, gases de efeito estufa, estimativas de poluentes.
Data de Publicação: 09/12/2014
Autor(es):
Silene Maria de Freitas (silene.freitas@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Ana Maria Pereira Amaral (apmaral@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor