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IEA discute a Anomalia Climática e seus impactos sobre as culturas paulistas
O
risco e a incerteza incidente nos negócios agropecuários estão intrinsecamente
vinculados à variável clima. Divulgou-se amplamente que, no primeiro trimestre
de 2014, incidiu sobre as lavouras e pastagens a denominada anomalia climática,
caracterizada por escassez de precipitações, elevada temperatura média (dia e
noite) e alta radiação solar. Em seu conjunto, esses fatores climáticos
trouxeram importantes perdas econômicas para os cultivos em plena fase de
desenvolvimento e frutificação, ressalta o Instituto de Economia Agrícola
(IEA/Apta) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Iniciada
a temporada de plantio da safra de verão e retomado o manejo agronômico das
culturas perenes (café, laranja, cana e pastagens), “os tomadores de decisão
da agropecuária paulista se deparam com novo distúrbio climático, caracterizado
pelo atraso no retorno das precipitações ou de sua incidência, porém, de forma
irregular e em baixos volumes, incapazes ainda de destravar o início do plantio”,
afirmam Celso Vegro, José Roberto da Silva, Katia Nachiluk, Marisa Zeferino
Barbosa, Maximiliano Miura, Rosana Pithan e Priscilla Fagundes, pesquisadores
do IEA, responsáveis pelo artigo.
As
previsões das variáveis climáticas ao longo da primavera no Centro-Sul,
especificamente no território paulista, formuladas pelas principais agências de
meteorológicas, indicam a retomada das precipitações com alguma irregularidade
e variação nos volumes para o mês de outubro, devendo se elevar em termos de
frequência e quantidade nos meses de novembro e dezembro. Quanto à temperatura,
há relativa unanimidade de que as médias se situarão acima dos patamares
históricos para o período. O retorno das precipitações por si só traz consigo
dias nublados que, por sua vez, diminuem o impacto da radiação solar.
O déficit
hídrico acumulado até setembro de 2014 não foi zerado pelo irregular regime de
precipitações que se iniciou com a chegada da primavera (excetuando-se a
sub-região do Vale do Ribeira), não se prevendo que ocorram volumes
significativos de precipitações ao longo da primeira quinzena de outubro (massa
de ar seco bloqueando a subida das frentes frias). A baixa umidade do solo
associada à exigência de substanciais volumes para recuperar a capacidade de
campo constituem obstáculos imediatos para o êxito de decisões de plantios mais
precoces.
Feijão
-
o levantamento de previsões e estimativas de safra conduzido pelo Instituto de
Economia Agrícola, em parceria com a Coordenadoria de Assistência Técnica
Integral (Cati) indica que, somando-se as três safras (das águas, da seca e de
inverno), a produção paulista de feijão, safra 2013/14, está estimada em 3,5
milhões de sacas de 60 kg, equivalente a 210 mil toneladas, redução de 17,6%
comparativamente à produção média dos cinco anos anteriores, de 255,0 mil
toneladas, e 9,5% menor que a de 2012/13. Mesmo com essa redução, os preços
médios recebidos pelos produtores paulistas apresentaram forte declínio a
partir do segundo trimestre de 2013.
Milho
-
a produção total de milho no estado atingiu 3,6 milhões de toneladas, variação
25,8% menor que a do ano anterior, com área plantada de 753,8 mil hectares
(-16,7%). Os fatores dessa expressiva quebra relacionam-se com a anomalia
climática do início do ano, associada às melhores perspectivas de mercado para
o plantio de soja, na época da tomada de decisão do produtor rural (plantio). Na
safra 2014/15, o milho exibe contexto de estoques elevados e baixas
cotações, cenário desfavorável à tomada de decisão do produtor quanto ao
plantio do cereal. As condições climáticas prevalecentes até o final de
setembro e início de outubro não favoreceram a semeadura do milho nos
principais cinturões de cultivo do cereal, repercutindo numa possível
diminuição na área plantada da safra 2015/16.
Soja
- a
produção paulista de soja em 2013/14 foi de 1,49 milhão de toneladas, com
redução de 17% em relação à anterior. Essa diminuição decorreu da perda de
28,1% na produtividade em virtude dos fenômenos climáticos que prejudicaram a
lavoura, uma vez que a área cresceu 15,4%, alcançando 670,03 mil hectares. Essa
perda na quantidade produzida não deverá interferir na disponibilidade do
produto, dado o recebimento de soja de outros estados para processamento em São
Paulo, prática tradicional do setor.
Café
- levantamento
subjetivo, conduzido em agosto de 2014 pelo IEA/CATI, para estimativa de safra
de café no Estado de São Paulo, concluiu que a safra alcançaria os 4,47 milhões
de sacas, exibindo ligeiro incremento (5,7%) frente ao levantamento de abril do
mesmo ano. A melhoria do resultado decorreu da melhor desempenho da produção da
Alta Mogiana de Franca, região do estado onde a anomalia climática não foi tão
pronunciada. Nos demais cinturões, houve perdas cumulativas e real prejuízo
econômico.
Cana
de açúcar - a
anomalia climática observada entre dezembro de 2013 e fevereiro de 2014
prejudicou o desenvolvimento vegetativo da cana-de-açúcar, os dados do terceiro
levantamento subjetivo de previsão de safra 2013/14, registraram queda de 9% de
áreas novas sem alteração da área em produção (5,5 milhões de hectares), frente
aos dados contabilizados ao final da safra 2012/13. Ainda de acordo com a
estimativa mais recente, a produção prevista é de 408 milhões de toneladas, com
redução da produtividade em 7,6% no estado. Ademais, segundo técnicos atuantes
no segmento, a produtividade média do estado reduziu-se para 71 t/ha e as
perdas na produção global estão sendo estimadas em 20%. Uma forte evidência
desse quadro é o inédito fato de que, até o final do mês de outubro, a maioria
das usinas encerrará suas moagens.
A crise
econômica que o setor atravessa combinada ao menor desenvolvimento das plantas
na safra e, ainda, à dificuldade para a realização dos tratos culturais,
contribuiu para a antecipação do fim da moagem em algumas regiões do estado. Os
fornecedores mantêm-se cautelosos com a situação que o segmento atravessa,
aguardando o reinício das chuvas para planejar o plantio/renovação dos
canaviais para a próxima safra.
Citros
- esta
safra (2013/14) não deve ser analisada exclusivamente pelas questões
climáticas, pois a crise na citricultura se arrasta há alguns ciclos. A seca e
as elevadas temperaturas vieram piorar um quadro de existência de pomares
doentes, infestados pelo HLB (greening) e cancro cítrico, por vezes mal
conduzidos e carentes de tratos culturais, resultado de decisões dos
citricultores em vias de descapitalização, após anos consecutivos de baixa
remuneração pela caixa da laranja comercializada. O balanço final é que a
maioria das frutas se apresentou “murcha” durante a safra, perdendo valor de
mercado, ainda que se ofereçam teores de sólidos solúveis mais altos, atraindo,
portanto, maior interesse industrial, uma vez que, durante períodos de
deficiência hídrica, as frutas cítricas têm como característica aumentar seus
teores de açúcares solúveis.
Pastagens
- a
anomalia climática incidente na entressafra acarretou problemas à produção de
carne bovina e de leite, com a necessidade de suplementação alimentar aos
animais, o que elevou os custos de produção. Espera-se, portanto, diminuição
tanto na oferta de bois para abate quanto na produção leiteira, em razão da
problemática do clima. A água é fundamental para a produção de leite. Apesar do
momento crítico e comprometimento da produção, os preços estão ligeiramente
abaixo dos praticados em 2013. Isso não era esperado, mas a retração do consumo
por conta da renda tem levado a essa situação.
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Nara Guimarães
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naraguimaraes@sp.gov.br
Data de Publicação: 16/10/2014
Autor(es): Nara Guimarães (naraguimaraes@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor