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Padrão Volátil para a Curva Futura das Cotações do Café
Em
setembro, os mercados de dólar e juros futuros na BM&F-Bovespa tiveram
variações positivas. O mercado acredita que o FED deverá antecipar a elevação
da taxa básica de juros da economia ainda no primeiro trimestre, motivando a
maior procura pela moeda. Assim, a curva de câmbio exibiu desvalorização do
real (mais de 9% de perda no mês), resultado tanto dessa valorização
internacional da moeda estadunidense quanto da errática condução da política
macroeconômica do país. Em razão da aceleração da perda de poder de compra do
real, a precificação no mercado futuro de dólar passou a negociar contratos
acima dos R$2,50/US$1,00 para janeiro de 2015. A alteração no patamar cambial possui implicações
nas cotações em real das commodities
exportadas que, normalmente, acompanham essa variação, implicando em
recrudescimento do processo inflacionário. Reflexo dessa conjuntura – mais
inflação na economia doméstica -, o mercado de juros futuros elevou as taxas
negociadas nos contratos, rompendo a barreira dos 11% a.a. para aqueles com
vencimento em abril de 2015. A aceleração do incremento das taxas de juros negociadas
também reflete a conjuntura pré-eleitoral, em que se prevê reeleição da atual
mandatária. Na
Bolsa de Nova York, nos contratos de café arábica (em segunda posição), houve
declínio nas cotações do produto na comparação das médias semanais, embora a trajetória
futura aponte para alta nas cotações. As cotações para dezembro de 2014,
registradas na primeira semana do mês, alcançavam US$¢203,06/lbp, declinando
para US$¢183,55/lbp na quarta (Figura 1). O registro de queda nas exportações
brasileiras de café verde em agosto (-13,7%)1 não foi suficiente
para deter o movimento baixista. O terceiro trimestre de 2014 manteve
acima dos 40% a volatilidade para as cotações do café em Nova York, embora
tenha declinado frente aos trimestres anteriores do mesmo ano (Figura 2). Esse
padrão instável para as cotações reflete, justamente, o cenário de incerteza
criado no mercado, especialmente quanto à manutenção do suprimento global de
café.
Considerando a posição de março de 2015, na
primeira semana de setembro a média das cotações registrava US$¢207,05/lbp,
declinando para US$¢187,72/lbp na média da quarta semana, ou seja,
desvalorização de 9,33% no período. Aparentemente, dois fatores propiciaram tal
baixa nas cotações: retorno das precipitações (ainda que esparsas e em baixos
volumes) e divulgação no princípio do mês, por parte de instituição pública, de
previsão para safra brasileira 2015/16 acima das 48 milhões de sacas. A média de preços recebidos pelos
cafeicultores em setembro de 2014 na região de Franca (principal polo da
cafeicultura paulista) foi de R$430,08/sc.2, segundo dados do
IEA/CATI3, representando incremento de 1,06% frente ao registrado no
mês anterior. A diferença entre a cotação diária de
setembro em primeira posição na BM&F-Bovespa (preço à vista) e a praticada
em Nova York resultou no desconto médio de US$17,71 no mês, que ao câmbio
futuro de março de 2015 representaria R$43,74/sc. de valor adicional para a
contração de hedge na bolsa
estadunidense. Na Bolsa de Londres, acompanhando a
desaceleração nas cotações de arábica, a média dos contratos futuros de café
robusta mudaram de patamar entre a primeira e a última semana do mês sem,
contudo, perder a tendência de alta para suas cotações (Figura 3). A esses
patamares, o diferencial entre cotações de arábica e robusta mantém-se em 2
para 1, ou seja, cada saca de arábica adquirida equivale a duas sacas de
robusta, aproximadamente. Esse patamar psicológico de 2x1 é o principal freio
para a elevação ainda maior das cotações do arábica.
A procura por contratos por parte dos fundos
e grandes investidores diminuiu, explicando a queda na média das cotações
semanais verificada na Figura 1. Houve, de fato, troca de posições, pois também
os comerciais e indústrias diminuíram suas posições vendidas e incrementaram a
compra futura (Tabela 1).
Grandes incertezas pairam sobre o
potencial da safra brasileira 2015/16 e consultorias internacionais estimam
colheita inferior a 40 milhões de sacas4, quantidade insuficiente
para atender as demandas interna e externa. Esse cenário de escassez trará mais
incerteza ao mercado que, ademais, percebe no padrão climático vigente, nos
principais cinturões de cultivo da rubiácea, fator de agudização das anomalias
registradas no primeiro semestre do ano5, 6. ____________________________________________________ 1CONSELHO DOS
EXPORTADORES DE CAFÉ DO BRASIL - CECAFÉ. Banco
de dados. São Paulo: CECAFÉ. Disponível em:
<http://www.cecafe.com.br>. Acesso em: out. 2014. 2Op. cit. nota
1. 3INSTITUTO DE
ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA. Banco de dados.
São Paulo: IEA. Disponível em: <http://ciagri.iea.sp.gov.br/precosdiarios/precosdiariosrecebidos.aspx>. Acesso
em: set. 2014. Aparentemente, os intermediários atuantes na comercialização de
café não acompanharam prontamente a elevação das cotações internacionais,
refletindo o momento de incerteza prevalecente no mercado. 4PEABIRUS
Construa o seu caminho. Disponível em: <http://www.redepeabirus.com.br/redes/form/post?topico_id=53934>.
Acesso em: out. 2014. 5FIRST estimate of world coffee production 2014/15. International Coffee Report, London,
Vol. 29, Issue 8, 16 Sept. 2014. 6Os autores
agradecem o trabalho de sistematização do banco de dados econômicos conduzido
pelo Agente de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do IEA, o analista de
sistemas Paulo Sérgio Caldeira Franco. Palavras-chave: cotações do
café, bolsas de mercadorias, mercado futuro.
Data de Publicação: 08/10/2014
Autor(es):
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Félix Schouchana (felixsh@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor