Observa-se que no mês de abril ocorre o pico de contratações para a safra da cana-de-açúcar. Em abril de 2013, atingiu-se a marca de 34.196 contratações, enquanto em 2014, nesse mês, o número registrado foi de 24.703 (Figura 1). Note-se também que, em quaisquer meses do período em 2014, o número de contratações ficou abaixo do ano anterior.

Uma primeira explicação para a queda no número de empregos foi a crise estabelecida no setor sucroalcooleiro a partir de 2009, devido à recessão mundial e à queda dos investimentos estrangeiros neste setor. Segundo informações da imprensa³, na região Centro-Sul, desde 2007, já são 57 usinas fechadas, 12 só em 2014. Apenas em São Paulo, nos últimos 4 anos, 26 indústrias encerraram suas atividades. Alto custo de produção e perda de competitividade com a gasolina agravam a crise e ocasionam a perda de vagas de emprego.

O setor sucroalcooleiro tem a característica de elevado número de contratações no período da colheita, ocorrendo dispensa dos trabalhadores ao término da mesma. Dessa forma, o setor retém poucos trabalhadores no ano. Isso pode ser observado calculando-se o saldo de empregos, que é a diferença entre o total de admitidos e desligados no período considerado. No primeiro semestre de 2013, o saldo acumulado foi de 66.401 postos de trabalho formais e no ano o saldo foi negativo, de 1.240. No primeiro semestre de 2014 o saldo foi inferior, 41.582 postos de trabalho formais (Tabela 1).

Por essas informações e também se observando que em cada mês do ano de 2014 o saldo dimiuiu em relação aos mesmos meses de 2013, infere-se que até o término deste ano o saldo de empregos seja novamente baixo, inclusive com perda de vagas de emprego.

Os números apresentados até então se referem a todas as admissões e demissões nas mais diversas categorias de trabalho existentes no setor sucroalcooleiro, desde os empregos diretamente ligados ao lado agrícola, como cortadores de cana, tratoristas etc., até os ligados às atividades industriais, que envolvem serviços administrativos, operacionais, dentro das usinas de açúcar e álcool e outras. É possível separar o total de admissões em dois grupos, ocupações não agrícolas e agrícolas,      e avaliar como foi o desempenho no primeiro semestre de cada ano.

O primeiro grupo, ocupações não agrícolas, correspondeu a 31,2% do total de admissões no primeiro semestre de 2013 e aumentou para 36,4% em 2014 (Tabela 2). Já o grupo de ocupações agrícolas é representado, principalmente, pelos cortadores de cana--de-açúcar, que ano a ano são substituídos pelo uso de máquinas. O grupo de ocupações agrícolas teve queda em 43,5% no total de admissões. Note-se também que em ambos os grupos as admissões em 2014 foram inferiores em relação a 2013.

O setor sucroalcooleiro, por conta dos marcos regulatórios Lei n. 11.241/2002 e Protocolo Agroambiental, intensificou o processo de mecanização da colheita, tanto pelos fornecedores de cana-de-açúcar quanto pelas usinas de álcool e açúcar. Ambos os marcos regulatórios têm a preocupação ambiental de eliminar a queima da palha da cana-de-açúcar. O segundo marco regulatório, por exemplo, tem por meta erradicar a queima da palha na safra 2014/15 em áreas que sejam passíveis de serem mecanizadas (acima de 150 hectares e com declividade inferior a 12%).

Informações do Instituto de Economia Agrícola e da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral avaliaram que 81,3% da área de cana-de-açúcar destinada ao corte na safra 2012/13 foi colhida de forma mecanizada⁴. Mais do que isso, quando na safra 2007/08, eram estimados 210 mil trabalhadores na colheita manual, e atualmente são 70.224 trabalhadores.

A distribuição do total de admissões em 2014 entre as regiões administrativas do Estado de São Paulo também ficou abaixo do registrado no ano anterior (Tabela 3). Apesar da intensificação da mecanização da colheita, muitas regiões ainda demandam um grande número de trabalhadores, como é o caso de Ribeirão Preto, uma das principais regiões produtoras do estado, ou Araçatuba e São José do Rio Preto, regiões de expansão da cana-de-açúcar, e Campinas, que apresenta problemas de declividade; assim o processo de mecanização é menos avançado do que em outras regiões e por isso a colheita manual ainda se faz presente.

Conclui-se que o mercado de trabalho no setor sucroalcooleiro foi afetado nos últimos anos por dois problemas, um de caráter conjuntural, que é a crise econômica do setor, e outro estrutural, referente às mudanças na etapa da colheita, substituindo o emprego manual dos cortadores de cana-de-açúcar pela mecanizada, o que afetou o número de contratações. Estudos mais aprofundados são necessários para entender como foi o processo de requalificação e realocação desses trabalhadores dentro ou fora do setor sucroalcooleiro, bem como o número de trabalhadores que não foram reabsorvidos no mercado de trabalho.

Informações provenientes do Ministério do Trabalho e Emprego, a partir do CAGED, sobre os empregos formais nos próximos meses trarão dados de como foi o desempenho do setor sucroalcooleiro paulista em 2014.

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¹O setor sucroalcooleiro é formado pelas seguintes atividades econômicas: cultivo de cana-de-açúcar, fabricação de açúcar bruto, fabricação de açúcar refinado e produção de álcool. Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE2.0) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas. CLASSIFICAÇÃO NACIONAL DE ATIVIDADES ECONÔMICAS - CNAE. Banco de dados. Rio de Janeiro: CNAE. Disponível em: <http://www.cnae.ibge.gov.br/>. Acesso em: jul. 2014.

²MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO - MTE. Cadastro geral de empregados e desempregados. Brasília: MTE. Disponível em: <http://www.mte.gov.br/>. Acesso em: 20 jul. 2014.

³BORDA, J. C.; GOMES, C.; REZENDE, F.  Setor sucroalcooleiro enfrenta uma das maiores crises da história. Jornal da Globo, 22 jul. 2014. Disponível em: <http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/

2014/07/setor-sucroalcooleiro-enfrenta-uma-das-maiores-crises-da-historia.html>. Acesso em: 22 jul. 2014.

⁴FREDO, C. E. et al. Mecanização na colheita da cana-de-açúcar paulista supera 80% na safra 2012/2013. Análise e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 9, n. 7, jul.

Palavras-chave: emprego formal, setor sucroalcooleiro, Estado de São Paulo.