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Curva Futura das Cotações do Café: arábica estável e robusta em alta¹
Os contratos futuros de juros e câmbio (mais
negociados na BM&F-Bovespa) mantiveram em junho a tendência já registrada
no mês anterior (Figuras 1 e 2). Com a recente revisão para baixo da estimativa
de crescimento da economia em 2014, por parte do Banco Central do Brasil, a
procura por contratos de juros e dólar deve permanecer aquecida por parte dos
participantes destes mercados. Menor crescimento econômico não será exclusividade
brasileira em 20142. Tanto países centrais quanto emergentes estão
vivenciando momento de desaceleração econômica. Esse fenômeno produz, por um
lado, cenário de menor demanda por matérias--primas e, por outro, busca por
proteção patrimonial sob prevalência de incertezas, induzindo os investidores a
preferirem liquidez imediata (como são os casos dos contratos de juros e dólar
e em menor medida os de commodities)3. Ainda que os negócios com dólar no mercado a vista
não tenham alavancado suas cotações, no mercado futuro a paridade entre as moedas
se manteve pressionada. Aparentemente, os
gastos dos estrangeiros que vieram ao Brasil para acompanhar o torneio
futebolístico tem auxiliado a manutenção de taxa de conversão próxima dos
R$2,20, enquanto o mercado acredita em patamares acima dos R$2,35 para o início
do próximo ano. Em junho de 2014, as cotações futuras praticadas
pelo mercado de café nova-iorquino pouco se alteraram frente ao mês anterior.
As médias semanais para o contrato C, em segunda posição, estabilizaram-se no
patamar de US$¢180,00/lbp para as três primeiras semanas do mês. Bom ritmo dos
embarques brasileiros, associado à recuperação da oferta colombiana e ao
incremento da vietnamita, tem satisfeito as necessidades imediatas para o
suprimento mundial. Recente relatório do Departamento de Agricultura
Estadunidense (USDA) previu, para a safra 2014/15, ligeiro déficit (960 mil
sacas) no balanço global de oferta e demanda de café. Aparentemente, essa foi a
única informação com capacidade de oferecer suporte para as cotações em junho. A média de preços recebidos pelos cafeicultores em
junho de 2014 na região de Franca/SP (principal polo da cafeicultura paulista)
foi de R$402,36/sc., segundo dados do IEA/CATI4, representando queda
de 5,6% frente ao registrado no mês anterior. Na posição futura de dezembro de
2014, para a média da terceira semana do mês, a cotação atingia os
US$¢176,59/lbp. Procedendo-se com as necessárias conversões, essa cotação
representaria R$551,24/sc., ou seja, diferença de R$118,88/sc. frente à cotação
praticada na praça de Franca, mantendo a estratégia de contratação de hedge como estratégia recomendável para
uma favorável comercialização (Figura 3). Na Bolsa de Londres, em junho de 2014, as cotações
do robusta mantiveram tendência altista. A amplitude do diferencial entre as
cotações (arábica x robusta) estimulou os torrefadores a ampliar a fatia de
robusta no blend, buscando suprimento
nas origens do grão que ofereceu suporte para suas cotações (Figura 4). Permanece grande grau de incerteza nos fundamentos
relativos ao mercado de café, induzindo os fundos e os grandes investidores a
manterem suas posições de compra. A oscilação baixista nas cotações do arábica
não foi suficiente para que os possuidores desses contratos deles se desfizessem,
mas ao contrário, houve até um ligeiro incremento na posição comprada (de
37.138 para 37.473) e diminuição na posição vendida (de 10.839 para 9.842). A
dinâmica do mercado indica que se esperam ganhos com a inclusão de contratos de
café na carteira de investimento sendo essa uma sinalização favorável aos
cafeicultores que já estão comercializando seus lotes recém-colhidos (Tabela 1). Acompanhamento climatológico indica que haverá 70%
a 80% de chances de ocorrência do fenômeno “El Niño” moderado no segundo
semestre do ano5. Em anos anteriores, fenômeno de proporções
similares trouxe incremento da produção cafeeira no Brasil, derrubando as
cotações do produto. O contexto atual guarda
diferenças que podem neutralizar esse esperado efeito. A anomalia climática do
primeiro semestre do ano acarretará em perdas para a safra 2015/16 (com
menor desenvolvimento dos ramos produtivos e mais reduzida diferenciação
floral). Tais repercussões negativas, constatadas nas lavouras brasileiras, não
serão revertidas com uma primavera mais chuvosa sobre os cinturões produtores. ________________________________________________________ 1Os autores
agradecem a colaboração na coleta e sistematização dos dados do Agente de Apoio
à Pesquisa Cientifica e Tecnológica, Paulo Sérgio Caldeira Franco. 2MOREIRA, A.
OCDE prevê desaceleração e mais desigualdade. Jornal Valor Econômico, São Paulo, 3 jul. 2014. Disponível em:
<http://www.valor.com.br/internacional/3602762/ocde-preve-desaceleracao-e-mais-desigualdade>.
Acesso em: jun. 2014. 3BITTENCOURT, A.
Brasil, um ponto fora da curva. Jornal
Valor Econômico, São Paulo, 2 jul. 2014. Disponível em:
<http://www.valor.com.br/valor-investe/casa-das-caldeiras/3602194/brasil-um-ponto-fora-da-curva>.
Acesso em: jun. 2014. 4INSTITUTO DE
ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA. Banco de dados.
São Paulo: IEA. Disponível em:
<http://ciagri.iea.sp.gov.br/precosdiarios/precosdiariosrecebidos.aspx>. Acesso em: jun. 2014. 5HAQUE, K. Insight special: el niño and coffee. Coffee division of ED&F Man,
London, jun. 2014. 4 p. Palavras-chave: cotações futuras, mercado de café, bolsa de valores.
Data de Publicação: 14/07/2014
Autor(es):
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Félix Schouchana (felixsh@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor