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São Paulo Espera a Maior Produção de Trigo dos Últimos 10 Anos
A produção brasileira de trigo, em 2014, de acordo
com a previsão de safra do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) de maio, deverá atingir o volume recorde de 7,8 milhões de toneladas (na
safra anterior foram obtidos 5,7 milhões de toneladas), representando um
acréscimo de 36,5%, decorrente de uma previsão de expansão de área de 20,3% e
de rendimento de 2,9 t/ha, comparativamente às 2,6 t/ha obtidas na safra
passada. Essa previsão reflete o comportamento dos preços recebidos pelos
triticultores, que atingiram níveis animadores a partir do segundo semestre de
2012 (Figura 1), e a resposta em nível nacional foi generalizada em todas as
regiões produtoras do país. A perspectiva de
ganhos de produtividade decorre de, no ano anterior, a mesma ter sido bastante
prejudicada pelas adversidades climáticas, excesso de chuvas e geadas. No Paraná, principal Estado produtor, conforme
estimativa do seu Departamento de Economia Rural (DERAL), a área cultivada com
trigo deverá crescer de 1,0 milhão de hectares, em 2013, para 1,3 milhão de
hectares no ano agrícola em curso, apresentando, portanto, um aumento de 32%,
enquanto se estima que a produção será de 4,6 milhões de toneladas, uma
elevação de 111%. No Rio Grande do Sul, segundo colocado no ranking dos estados produtores de trigo,
os dados de maio do IBGE2 indicam uma expansão de 9,0% na área a ser
plantada, que deverá resultar numa produção prevista de 3,2 milhões de
toneladas, contra 3,3 milhões do ano anterior. Contudo, a época de plantio no
Rio Grande do Sul se estende até julho e, portanto, ainda pode haver alguma
mudança mais expressiva. Em São Paulo, o levantamento de abril do Instituto
de Economia Agrícola e da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral
(IEA/CATI) acusa expansão de 16% na área cultivada com o cereal e elevação
correspondente da produção de 48%, situando-se, respectivamente, em 64,7 mil
hectares e 206,3 mil toneladas. Daqui para frente, a preocupação dos agricultores
é o risco de frustração de safra devido ao comportamento do clima e também de
eventuais mudanças no mercado, como via de regra tem acontecido nos últimos
anos. As previsões de organismos internacionais de estudos climáticos, como a
Organização Meteorológica Mundial da Organização das Nações Unidas, preveem o
desenvolvimento do fenômeno climático “El Nino” a partir de meados do ano, o
que pode acarretar variações como, por exemplo, excesso de chuvas e/ou
estiagens. Na época de se decidir e planejar o plantio, os
preços se apresentam alvissareiros; depois, pela ocasião da comercialização,
entram em declínio, fato normal, considerando oferta e procura. Porém, no caso
do trigo, o Brasil não é autossuficiente, cuja produção representa apenas 50%
do consumo. O preço no mercado internacional encontra-se em
patamares mais elevados que os verificados em março, quando teve inicio a
semeadura aqui no Brasil (Figura 2). Há, porém, uma preocupação entre os
triticultores com relação à liberação da Tarifa Externa Comum (TEC), o que
diminuiria a competitividade do trigo nacional frente aos produtos de fora do MERCOSUL.
Os moinhos poderão se abastecer de produto de outras origens, o que deve pressionar os preços do trigo nacional
para baixo por ocasião da entrada da safra brasileira, com início em agosto.
Por um lado, também, como via de regra
ocorre, o cereal nacional de qualidade requerida pelos industriais é
adquirido pelo valor de paridade com o produto importado. Por outro, a medida
já foi decidida pela Câmara de Comércio Exterior (CAMEX), que aprovou isenção
da TEC de 1,0 milhão de toneladas de trigo de países de fora do MERCOSUL,
válida até 15 de agosto3, e a justificativa da Câmara é de que os
países do MERCOSUL encontram-se na entressafra do trigo. Portanto, visa evitar risco de desabastecimento, principalmente devido
a problemas na Argentina, princi- pal
origem das importações brasileiras de trigo. Em 2013, o volume das importações
dos Estados Unidos superou o das provenientes da Argentina em função da menor
produção e, portanto, menor disponibilidade para exportações. A produção argentina
deverá ser maior em 2014, mas existe uma forte regulação do mercado pelo governo
daquele país, além da imprevisibilidade quanto ao momento e condições de
liberações das exportações. A previsão é de que a produção argentina será
maior, mas a questão da regulação continua. A proposta de reajuste do
preço mínimo do trigo para a safra de 2014/15 foi aprovada
pelo Conselho Monetário Nacional em 27/03/2014. Entre as cinco classes de
trigo, foram contempladas com 5% de aumento apenas as classes “pão”, “melhorador”
e “só para o tipo 1”, de maneira que o preço mínimo na região Sudeste varie de
R$390,00/t para classe “básico”, R$486,00/t para classe “doméstico”, R$613,33
para classe “pão” e R$648,83 para a classe “melhorador”. Cotejando com
estimativas de custo de produção da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB)
da região de Londrina, de R$727,17 de custo operacional e de R$804,50 de custo
total, verifica-se que a margem está apertada. Deve-se lembrar que a demanda da
indústria é predominantemente de trigo da classe “pão” e sabe-se que uma parte
expressiva das lavouras foi instalada com cultivares de outras classes, o que
tem gerado impasses entre a indústria de moagem e os triticultores, pois os
últimos querem produtividade no campo, enquanto os moinhos querem qualidade
industrial. Portanto, a governança da cadeia
tem que investir na solução desse impasse para aumentar a eficiência em todos
os elos. A retomada dos trabalhos da Câmara Setorial de
Trigo de São Paulo, no final de 2013, tem focado a agenda no sentido de
direcionar que a escolha de sementes por parte dos agricultores coincida com
aqueles cultivares que apresentem a qualidade exigida pelo mercado consumidor
de farinha. Na ultima reunião da Câmara, foram discutidos esses temas. O
segmento da moagem apresentou um rol de variedades de trigo que, segundo eles,
têm qualidade e potencial de uso, mas é preciso que essa seleção seja feita em
conjunto com os diversos segmentos, notadamente os da produção agrícola, os da
empresas de melhoramento genético (entre outros) e os públicos de pesquisa e
produção de sementes. Para tanto, é
necessário o estabelecimento de um programa robusto de produção de sementes, um
reforço nos programas de melhoramento genético e um acompanhamento
também conjunto do mercado, dos volumes de estoques, tanto oficiais como os da
indústria, são informações importantes para subsidiar o planejamento da
produção de trigo e obter melhor eficiência da cadeia. A elevação de preço tem sido repassada para os
diversos níveis de comercialização. Comparando os preços de maio de 2012 e maio
de 2014, em termos reais, os preços médios recebidos pelos produtores paulistas
apresentaram elevação de 53%, e os da farinha de trigo especial no atacado da
cidade de São Paulo e o pão francês no varejo da mesma cidade acusaram elevação
de 40% e 9%, respectivamente (Figuras 3 e 4). _____________________________________________________________________ 2INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Banco de dados. Rio de Janeiro: IBGE. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home//>. Acesso em: jun. 2014. 3SÃO PAULO
(Estado). Resolução n. 42, de 20 de junho de 2014. O Presidente do
Conselho de Ministros da Câmara de Comércio Exterior -
CAMEX, no uso da atribuição que lhe confere o inciso VI do art. 7 do Anexo da Resolução CAMEX
n. 11, de 25 de abril de 2005, alterado pela Resolução CAMEX n. 31, de 25 de abril de 2012,
ouvidos os respectivos membros, com fundamento no que dispõe o art. 2, inciso XIV, do Decreto n 4.732, de 10 de junho de 2003.
Diário Oficial do estado de São Paulo,
23 jun. 2014. Palavras-chave: produção de
trigo, mercado de trigo.
1O autor
agradece a colaboração na coleta e tratamento dos dados do Agente de Apoio à
Pesquisa Cientifica e Tecnológica, Paulo Sérgio Caldeira Franco.
Data de Publicação: 07/07/2014
Autor(es): José Roberto Da Silva (josersilva@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor