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Análise de Mercado de Proteínas Animais: suinocultura no Estado de São Paulo em 2014
A suinocultura paulista,
diferentemente da praticada no Sul do país, não tem como característica em seu
ciclo de existência a concentração em conglomerados de processamento, nos quais
a produção de animais para o abate é obtida pelo sistema de integração aos
abatedouros. De forma semelhante ao setor avícola paulista, a suinocultura
praticada no estado é constituída principalmente por uma variada gama de
produtores, normalmente independentes, que podem ou não estar vinculados aos
abatedouros. Estes, por sua vez, se especializaram na produção de carne
resfriada para o mercado local e/ou na de embutidos. As empresas de abate de
suínos de São Paulo têm como objetivo principal o mercado estadual de carne
resfriada, com exceção de alguns fabricantes de embutidos tradicionais e de
qualidade direfenciada, cujo produto tem projeção nacional. Quando se fala da
suinocultura paulista, refere-se a pequenos, médios e alguns grandes produtores
que enfrentam dificuldades em permanecer na atividade produtiva e temem pelo
futuro do setor. O número de suínos enviados para o
abate por São Paulo em 2013 foi de aproximadamente 1,77 milhão de cabeças,
cerca de 4,9% do total nacional, que é de 36,0 milhões de cabeças, conforme o
Levantamento Trimestral da Produção Pecuária do IBGE, feito em março de 20141.
A participação paulista na produção nacional vem decrescendo gradativamente. O rebanho nacional de suínos tem
como destaque, com 49,5%, os estados do Sul. São Paulo aparece em quinto lugar,
com 4,6%2. A produção brasileira está inserida em
uma grande cadeia de produção mundial e cabe situar o segmento dentro deste
panorama global. Segundo dados de previsão do USDA3, espera-se uma produção global de 107,4 milhões de
toneladas em equivalente carcaça. Os principais países produtores são: China,
com 53,8 milhões (50,1%); União Europeia, com 22,5 milhões (21,0%), Estados
Unidos, com 10,6 milhões (9,9%), e demais países, com 18,9 milhões (19%).
O Brasil com sua produção prevista para 2014 de 3,3 milhões (3,1%), participa
deste ranking na quarta posição4.
Nas
exportações, a carne suína é menos representativa do que as carnes bovina e de
frango. Essa cadeia de produção movimenta no
mundo uma grande quantidade de carne de suínos, da qual os maiores exportadores
são: Estados Unidos, com 2,3 milhões de toneladas em equivalente carcaça (32,6%);
União Europeia com 1,7 milhão de toneladas em equivalente carcaça (31,2%); Canadá
com 1,2 milhão de toneladas (17%); e Brasil, com 630 mil toneladas (8,6%) em
equivalente carcaça. Conforme o Relatório de Gestão da SFA/SP5 (2011),
o estado conta com o total de 52 estabelecimentos SIF que abatem suínos, dos
quais 49 estão ativos. Estas unidades, sob inspeção federal no Estado de São
Paulo, foram responsáveis pelo abate de 1,44
milhão de suínos em 2013. Cabe lembrar que a produção inspecionada pelo
SIF é diferente da declarada pelo IBGE, em função de que este contabiliza, além
dos animais inspecionados pelo SIF, a produção oriunda da inspeção estadual e
municipal. A produção brasileira de carne suína em 2013 foi de 3,12 milhões de
toneladas e a paulista, que representou 4,4% deste total, ficou em 138 mil
toneladas, segundo a pesquisa trimestral de abate do IBGE6.
Resumidamente, a produção brasileira de carne de suínos, conforme estimativa do
IBGE, deve ter um decréscimo de 0,95%, e a paulista de 1,42%. O Valor Bruto da Produção (VBP)
paulista para a carne suína, calculado pelo IEA7 em 2013, ficou em
torno de R$434,7 milhões. A produção está
concentrada nos Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDRs) de Sorocaba, Avaré
e Bragança Paulista (Figura 1), que representam 37% do total de suínos
abatidos. Comparativamente a 2012, a
suinocultura aumentou sua participação no VBP paulista. Esse aumento da
participação percentual no valor da produção paulista ocorreu principalmente
devido ao comportamento dos preços médios recebidos pelo produtor, dado que a
produção em 2013 foi menor comparada a 2012. A média dos valores nominais de 2013
apresentou um crescimento de 20,7% em relação a 2012, ou seja, a média do valor
da arroba suína em 2012 foi de R$53,00, enquanto em 2013 foi de R$64,00. Esse incremento na cotação da arroba
suína recebida pelo produtor também não significa que, para o setor produtivo,
o período é dos melhores. A relação de troca entre suíno e ração em março de
2014 foi de 3,05 kg de ração para suíno adquirida com o valor de 1 kg da arroba
do suíno recebida pelo produtor. Em estudo da EMBRAPA8, a relação de
troca indicada como referência entre quilograma de carne suína e quilograma de
ração para suínos, para a remuneração razoável da atividade, é de 4,4 kg de
ração. Esta relação traduz o número de quilogramas de ração adquiridos com o
valor recebido pelo suinocultor por 1 kg do suíno pronto para o abate,
lembrando que o custo da alimentação deve estar em torno de 70% do custo total
de produção e a conversão alimentar deve ser de 3,1 kg de ração para a produção
de 1 kg de carne. Considere-se que, nos últimos 5 anos, esse indicador
apresenta uma tendência decrescente em São Paulo (Figura 2). O significado
desse comportamento pode dizer que o segmento enfrenta dificuldades para
produzir e que, graças à conversão alimentar dos suínos, fruto do melhoramento
genético, ainda é possível continuar na atividade. Quando se acresecenta a relação de
troca entre as carnes, suína/frango e suína/bovina, para observar o que se
passa no varejo, constata-se que a carne suína disputa a preferência do
consumidor, porém, em desvantagem, pois seu concorrente mais forte, a carne de
frango, é mais barata, enquanto a carne bovina, apesar de mais cara, é
preferida pelo consumidor de melhor poder aquisitivo. A relação entre o preço pago pelo quilograma
de pernil e o quilograma de frango pago no varejo pelo consumidor, no período
de janeiro de 2009 a março de 2014, é de 1,9, ou seja, com o equivalente em
reais pago pelo kg de pernil, o consumidor compra 1,9 kg de frango no varejo (Figura
3). Quando esta relação é analisada trocando-se a carne de frango por filé-mignon,
a média inverte-se para 0,3 kg, ou seja, consegue-se adquirir apenas um terço
do produto com o valor da carne suína.
O total de mais de 3,0 milhões de
toneladas de carne suína brasileira produzida em 2013 garantiu o consumo
brasileiro estimado de 15,6 kg/per capita/ano9.
Os números da suinocultura paulista indicam que ano a ano ocorre queda na
produção e, para 2014, não parece ser diferente. A suinocultura paulista enfrenta
problemas de difícil resolução, como falta de escala na produção, custos de
produção elevados, concorrência com outras
atividades agropecuárias de maior rentabilidade e falta de aptidão
cooperativista, mencionando somente alguns. Soma-se a estes problemas a
concorrência pelo consumidor que, quando tem restrições orçamentárias na
aquisição de alimentos, escolhe a carne de frango pelo preço e, quando não tem,
escolhe carne bovina pela preferência. O que resulta destes fatores é o
crescente desestímulo aos suinocultores em permanecer na atividade em que a
produção é insuficiente e praticamente toda consumida no próprio estado. _____________________________________________ 1INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Estatística da produção pecuária. Rio
de Janeiro: IBGE, mar. 2014. 2Op.
cit. nota 1. 3COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB. Perspectivas para a agropecuária. Brasília: CONAB, 2013. v. 1.
Disponível em: <http://www.conab.gov.br>.
Acesso em: maio 2014. 4ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DA INDÚSTRIA PRODUTORA E EXPORTADORA DE CARNE SUÍNA - ABIPECS. Produção mundial de carne suína. São
Paulo: ABIPECS. Disponível em:
<http://www.abipecs.org.br/pt/estatisticas 5MINISTÉRIO
DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO - MAPA. Relatório de gestão da SFA/SP, exercício de 2010. Brasília: MAPA,
2010. p. 1-145. 6Op.
cit. nota 1. 7TSUNECHIRO,
A. et al. Valor da produção agropecuária por região, Estado de São Paulo, 2013.
Análises e Indicadores do Agronegócio,
São Paulo, v. 9, n. 4, abr. 2014. Disponível em:
<http://www.iea.sp.gov.br>. Acesso em: maio 2014. 8GIROTTO,
A. F.; MONTICELLI, C. J. Produção de suínos: nutrição. Embrapa, São Paulo, jan. 2003. Disponível em:
<http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Suinos/SPSuinos/nutricao.html>.
Acesso em: 15 maio 2014. 9Op.
cit. nota 1. Palavras-chave: suínos,
mercado, produção, preços.
/mundial/producao-2.html>. Acesso em: 16 abr. 2014.
Data de Publicação: 26/06/2014
Autor(es): Carlos Roberto Ferreira Bueno Consulte outros textos deste autor