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Plano Agrícola e Pecuário (PAP) 2014/15: medidas de política para a safra que virá
O Plano de Safra 2014/15, anunciado no dia 19 de
maio, apresentou, ainda em linhas gerais, as novas medidas para o apoio à
agropecuária, visto que até o momento não foram divulgadas diversas diretrizes
das ações planejadas, nem foram publicados os diplomas legais que oficializam
as decisões. Na safra anterior (2013/14), o plano
completo também foi apresentado com atraso em relação ao início da safra,
causando incertezas aos diversos atores relacionados ao setor. Os destaques do plano são: as medidas de apoio à
pecuária, a proposta de promoção e fortalecimento do setor de florestas plantadas,
a manutenção do apoio aos médios produtores e o apoio à inovação tecnológica no
campo e ao desenvolvimento sustentável. Seguindo o mesmo padrão dos anos
anteriores, foram anunciados a ampliação da oferta de recursos e o aumento dos
limites de financiamento para a maioria das linhas de crédito. Também foram
mantidos o apoio aos programas e as ações com foco na produção sustentável, o
financiamento de armazéns e o seguro rural. - VOLUME DE RECURSOS E TAXAS DE
JUROS Acompanhando a trajetória ascendente dos últimos
anos, houve aumento no volume de recursos programados, R$156,1 bilhões, um
incremento nominal de 14,7% em relação ao
valor anunciado para o período anterior de R$136,1 bilhões. Dado que a variação
do IPCA (calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
- IBGE) no período de julho de 2013 a abril de 2014 foi de 5,3%, o aumento real
foi de praticamente 9%, o que pode ser considerado expressivo. Desse total, R$112 bilhões destinam-se ao custeio e
à comercialização da safra e R$44,1 bilhões para investimento, significando um
aumento nominal de 14,8% em ambos os casos, ou seja, 9% de aumento real. Mais
uma vez, o apoio à finalidade investimentos é significativo e revela a
preocupação declarada de aumento da produção via aumento da produtividade por
meio de apoio creditício à compra de máquinas e equipamentos e adoção de
tecnologias mitigadoras dos impactos ambientais. Dos R$156,1 bilhões previstos
para a nova safra, R$132,7 bilhões deverão ser aplicados com taxas de juros
controladas, resultando também num crescimento de 14,8% (9% de crescimento
real). Desse total, R$89 bilhões serão destinados ao custeio e comercialização
e aplicados a taxas de juros anuais fixadas num intervalo de 5,5% a 6,5%. Já para
os financiamentos de investimento estão previstos R$43,7 bilhões, com juros de
4% a 6,5% ao ano. No geral, as taxas de juros foram fixadas, em média, um ponto
percentual acima do que na safra anterior (Tabela 1). Frente ao aumento da taxa
de juros básica da economia (SELIC), que passou do patamar de 7,5% ao ano em
abril de 2013 para 11% em abril de 2014, a maioria das linhas de financiamentos
mantiveram um nível de subsídio significativo para os produtores, relativamente
às da safra anterior. - DISTRIBUIÇÃO DOS RECURSOS
PROGRAMADOS O Plano de Safra 2014/15 manteve o apoio aos médios
produtores rurais, destinando-lhes R$16,7 bilhões, 26,5% a mais do que na safra
anterior (20% reais). Desse total, R$10,55 bilhões serão aplicados nas
operações de custeio e comercialização, com limite de financiamento de R$660
mil. Para os demais produtores, o volume para o custeio é de R$101,45 e o
limite de financiamento será de R$1,1 milhão. Em ambos os casos, o aumento do
limite de crédito por beneficiário foi de 10% (Tabela 2). Os financiamentos para investimentos, com uma
oferta prevista de R$44,1 bilhões, serão, em sua maior parte, destinados a
programas com fins específicos, criados pelo governo federal e administrados pelo
BNDES (Tabela 2). Nesse contexto, cabe destacar a revitalização do
Moderfrota, dada principalmente pela retomada do financiamento de máquinas e
equipamentos novos e ao aumento no volume de recursos anunciados para R$3,5
bilhões, muito superior à programação da safra anterior, que foi de R$160
milhões e a aplicação de cerca de apenas 10%1. Paralelamente,
considera-se que a medida tenha potencial de ampliar a escala produtiva das
indústrias e adicionalmente as exportações de máquinas agrícolas automotrizes. O programa PSI Rural, que é o Programa de
Sustentação do Investimento, também pode financiar a aquisição de colhedoras e
tratores, elevando a oferta de recursos em mais R$4,5 bilhões. Na safra
passada, as aplicações foram de quase R$10 bilhões até março de 2014, 65% maior
do que o volume programado. Já no caso do PSI Cerealista, foi programado o
valor de R$1,0 bilhão para as safras 2013/14 e 2014/15, sendo que a demanda até
março de 2014 atingiu 61%. Para o Programa ABC foram programados recursos de
R$4,5 bilhões, o mesmo volume nominal da
safra passada, representando perda de 5,3%.
Apesar da baixa aplicação até março (de 42,3%), o governo continua
apostando que o programa deslanchará. Tem sido dado grande apoio à adoção de
práticas sustentáveis, propostas e financiadas pelo programa como a adoção de
sistemas integrados e do plantio direto. O programa inclui o financiamento da implantação
e manutenção de florestas comerciais. O ProRenova atende ao setor sucroalcooleiro na
implantação e recuperação dos canaviais e
teve a disponibilidade de recursos reduzida de R$4,0 bilhões para R$3,0 bilhões,
após uma aplicação de 31,0%. Para os programas voltados à irrigação
(Moderinfra), inovação (Inovagro) e estruturas de armazenagem (PCA), foram
mantidos os mesmos volumes aplicados na safra 2013/14, uma vez que as
aplicações até março de 2014 representaram, respectivamente, 30,1%, 4,5% e
84,9% do volume de recursos ofertados, novamente representando perda real igual
à inflação do período, embora sem impacto, devido ao baixo nível das
aplicações. O Inovagro terá R$1,7 bilhão para o estímulo do uso de novas
tecnologias e deve atender à agricultura de precisão, ao cultivo protegido de
hortifrutigranjeiros e à automação da avicultura, suinocultura e pecuária
leiteira. Os programas destinados ao apoio às cooperativas,
Prodecoop e Procap-Agro, receberam juntos uma destinação de R$4,3 bilhões. O
Prodecoop apoia a modernização dos sistemas produtivos e de comercialização das
cooperativas e teve a oferta de recursos mais que triplicada. Já o Procap-Agro,
que promove a recuperação ou a reestruturação patrimonial das cooperativas de
produção, deve receber 94% do que recebeu na safra anterior, superior ao volume
aplicado (73%). - PECUÁRIA Ao atender a demanda do setor,
o governo retoma as linhas de financiamento para aquisição de matrizes e
reprodutores - com limite de R$1,0 milhão por beneficiário, 5 anos de
pagamento e 2 anos de carência; retenção de matrizes e animais para engorda em
regime de confinamento com até 3 anos para pagamento. - POLÍTICA NACIONAL PARA
FLORESTAS PLANTAS Com o intuito de estimular o setor, o governo
federal pretende instituir no âmbito do MAPA a política nacional de florestas
plantadas em que, entre outras ações, está previsto o investimento em pesquisa,
assistência técnica e extensão rural, além de linhas de crédito adequadas ao
ciclo produtivo, sendo um dos objetivos diminuir a pressão sobre as florestas
nativas e ampliar a oferta de matérias-primas para indústria madeireira. No
entanto, não foram divulgados maiores detalhes sobre esta política que vem sendo
discutida desde 2010. - SEGURO AGRÍCOLA Os múltiplos riscos
naturais que ameaçam as atividades agrícolas demandam medidas mitigadoras da
volatilidade da renda do produtor rural, e o seguro rural é considerado em todo
o mundo como vital para o desenvolvimento mais equilibrado do agronegócio, que
no Brasil representou, em 2013, 22,58% do PIB nacional2. O valor previsto ao Programa de Subvenção ao
Prêmio do Seguro Rural (PSR) para esta safra é de R$700,00 milhões. Os recursos
previstos na Lei Orçamentária Anual (LOA 2014) são de R$400,00 milhões,
devendo, portanto, ser complementado por créditos suplementares. Em 2013, o Programa de Subvenção ao Prêmio do
Seguro Rural assegurou um capital de R$16,84 bilhões, uma área de 9,6 milhões
de hectares, atendeu 65.556 produtores e subvencionou 101.850 apólices no valor
de R$557,8 milhões. O Estado de São Paulo ficou em 3º lugar com 16.178
apólices, uma área segurada de 959.152 hectares, um capital segurado no valor
de R$2,60 bilhões, ficando com 12,51% do valor total da subvenção. Os dados
revelam que, apesar de 10 anos do programa, a área assegurada representou
apenas 13,0% da área total plantada em 2013 – 73 milhões de hectares3,
segundo o IBGE, demonstrando que o seguro no Brasil é incipiente e está muito
aquém das necessidades dos produtores. - CONSIDERAÇÕES FINAIS O Plano de Safra 2014/15 apresenta como ponto
forte o aumento real significativo nos recursos programados para a próxima
safra que, aliado ao aumento dos limites de financiamento por beneficiários,
cria um cenário favorável ao setor produtivo, mesmo com o aumento das taxas de
juros de até 1 ponto percentual. Vale lembrar que o aumento da taxa de juros
básica da economia (SELIC) passou do patamar de 7,5% ao ano em abril de 2013
para 11% em abril de 2014 e as linhas de financiamentos mantiveram um nível de
subsídio significativo para os produtores, relativamente às da safra anterior. Salienta-se outro ponto forte a manutenção de uma
política voltada para o desenvolvimento econômico socioambiental privilegiando
investimentos, técnicas e sistemas de produção que adotam medidas sustentáveis
em consonância com política ambiental. O terceiro ponto de destaque foi o anúncio
antecipado do plano apesar de a regulamentação das medidas ainda não ter sido divulgada.
________________________________________________________ ¹MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO -
MAPA. Banco de dados. Brasília;
MAPA. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/>. Acesso em: maio
2014. ²CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS
EM ECONOMIA APLICADA - CEPEA. Banco de
dados. São Paulo: CEPEA. Disponível em:
<http://www.cepea.esalq.usp.br/>. Acesso em: maio 2014. ³INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE.
Levantamento sistemático da produção agrícola:
pesquisa mensal de previsão e acompanhamento das safras agrícolas no ano
civil. Rio de Janeiro: IBGE, 2014.
Disponível em:
<ftp://ftp.ibge.gov.br/Producao_Agricola/Levantamento_Sistematico_da_Producao_
Agricola_[mensal]/Fasciculo/lspa_201404.pdf >. Acesso em: jun. 2014. Palavras-chave: plano
agrícola e pecuário 2014/15, política agrícola, crédito.
Data de Publicação: 20/06/2014
Autor(es):
Terezinha Joyce Fernandes Franca (terezinha.franca@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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