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Desafios e oportunidades para o Agronegócio
Na
cidade de São Paulo, realiza-se bienalmente o Global Agribusiness Forum (GAF), tendo ocorrido sua última edição
entre os dias 24 e 25 de março de 2014. O evento, de abrangência internacional,
congregou mais de 1.100 participantes, caracterizando-se por reunir constelação
de especialistas dos variados segmentos que compõem o setor em aprofundados
debates sobre perspectivas para os agronegócios, contemplando tanto a dinâmica
agroalimentar, quanto as potencialidades de a agricultura vir a ofertar
quantidades crescentes de energia limpa. Os organizadores desse fórum
estabeleceram pauta para os debates, destacando-se a relevância do planejamento
setorial voltado à construção de prováveis cenários desse ramo da economia
brasileira e mundial. Variáveis como integração agricultura, pecuária e
florestas; expansão de consumo da classe média; segurança alimentar (nos
quesitos qualidade e quantidade); sustentabilidade; coordenação
interinstitucional; e inovações voltadas à produção de alimentos, fibras e
energia compuseram o rol das atuais preocupações debatidas. Constata-se que a explosiva demanda mundial
por alimentos e energia não pertence ao futuro, mas, ao contrário, trata-se de
realidade atual. Para atender a essa necessidade, será preciso produzir mais e
melhor, sem aumentar, demasiadamente, a área já agricultável. Assim, diante de
tais desafios, concentrar esforços em planejar exaustivamente o desenvolvimento
do setor constitui-se em agenda inescapável. Os desafios impostos à agenda de planejamento
são de diversas naturezas. Os sinais de que o processo de mudança climática em
âmbito global já está em curso é, aparentemente, aquele que mais preocupa
atualmente os tomadores de decisões. Elementos adicionais como: incremento da
produtividade dos cultivos e criações associados à introdução de inovações;
evolução dos padrões de consumo[1]; oscilação do ciclo
econômico e os determinantes da macroeconomia (crescimento, inflação, juros); marcos
legais e revisão dos mandatos vigentes e consolidação do cooperativismo
contribuem na composição de realidade de alta complexidade e inconstante
dinâmica. A gestão dos recursos hídricos tende a ser
crescentemente crucial no êxito das estratégias de planejamento dos segmentos
que compõem os agronegócios. A oferta de água poderá se constituir em critério
de seleção na alocação de novos investimentos produtivos. Do mesmo modo, insere-se
o aproveitamento de resíduos dos cultivos e criações, como já largamente utilizado
na produção de gás metano a partir de dejetos das granjas de suínos. Reduzir o grau de insegurança alimentar foi
também preocupação esboçada pelos líderes debatedores. A escalada das cotações
associada ao estabelecimento de vínculos (de competição?) entre produção de
alimentos e oferta de energia e, ainda, às mudanças climáticas poderão
amplificar o atual risco de instabilidade no suprimento de gêneros alimentares.
Enfrentar dilemas, como vivenciado no Brasil
pelo setor sucroenergético, foi igualmente pauta dos debates. Motivações
macroeconômicas (contenção dos preços dos combustíveis fósseis) imprimiram no
segmento aprofundada crise, paralisando investimentos e promovendo
descontinuidade em dezenas de unidades produtivas. O sacrifício imposto ao
segmento excede suas capacidades de absorção e, sem que surjam inovações
arrebatadoras (por exemplo, etanol de segunda geração e as projetadas
biofábricas), o segmento permanecerá em trajetória de descapitalização. Não menos importante será o desafio de melhor
comunicar os êxitos dos agronegócios, tanto para a sociedade, quanto para a
estrutura de governo. Constata-se que existe relativo ranço com relação ao
setor e que necessita ser superado, resultando em melhor compreensão sobre seu
papel e potencialidades na criação e distribuição de riquezas. Papel estratégico foi concedido ao movimento
cooperativista. A criação de agricultura forte, organizada por cooperativas de
produtores rurais, facilitando a comercialização e a distribuição dos produtos,
é posicionamento decisivo para êxito de qualquer direção assumida pelo
planejamento estratégico. O Brasil destaca-se frente aos demais países
com agricultura desenvolvida, por exibir legislação ambiental mais avançada e
protetiva, mantendo aproximadamente 60% do território preservado. Entretanto,
persistem domínios em que prevalece grande insegurança jurídica, em razão de
mandatos vigentes que demandam atualizações/revisões. Exemplo dessa defasagem está
no Estatuto da Terra, entre outras regulamentações de similar natureza. No
entanto, a revisão do Código Florestal com a publicação da Lei Florestal fez
surgir impasses: a implantação do CAR, ainda não autorizada pelo Ministério do
Meio Ambiente, e as Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIns), que
propuseram modificações no novo texto legal e que aguardam julgamento perante o
STF. A plenária foi convidada a participar
dos debates de forma a colaborar com a equipe responsável pela preparação de
Carta Consenso do evento. O trabalho ainda não foi concluído, pois tem passado
por revisões entre os membros do conselho do GAF. Entretanto, alguns vetores
compõem a visão de futuro do documento, como: a) aprimoramento das políticas
públicas destinadas ao setor; b) revisão da legislação pertinente; c) criação
de mecanismos facilitadores do investimento (público e privado); e d) apoio à
ciência, pesquisa e ao desenvolvimento de inovações para o setor, entre outros
temas igualmente relevantes. Os organizadores do GAF propuseram-se também a
estabelecer fórum virtual permanente para debater e mobilizar os interessados
pelo encaminhamento das propostas formuladas, em esforço declarado de construir
cenários mais favoráveis à expansão dos agronegócios no país. Celso Luis Rodrigues
Vegro Eng. Agr. Pesquisador Científico VI do IEA Adriana Damiani
Correia Campos Advogada, Executiva Pública do IEA
Data de Publicação: 24/04/2014
Autor(es): Nara Guimarães (naraguimaraes@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor