São Paulo pode Aumentar a Área de Cultivo de Trigo em 2014

 A semeadura do trigo no Estado de São Paulo, segundo recomendação técnica do Instituto Agronômico de Campinas (IAC)1, tem início em 20 de março, conforme o zoneamento agrícola desse instituto. No Vale do Paranapanema (Zona A), o plantio se inicia mais cedo, sendo 20 de março a 30 de abril o período ideal para a semeadura. Nessa região, que já foi a mais importante área tritícola do Estado de São Paulo, a cultura vem sendo substituída pela do milho 2ª safra (milho safrinha). No último ano, a área cultivada com trigo nessa região foi de apenas 3.660 hectares, considerando as áreas dos Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDRs) de Assis e Ourinhos, para uma área total cultivada com trigo no estado de 56.133 hectares; a área ocupada pelo milho 2ª safra na mesma região foi de 163.860 hectares, e 330.795 hectares em todo o estado. Atualmente, a cultura do trigo em São Paulo está predominantemente localizada em áreas das Zonas B e C, cuja recomendação de época de plantio se estende de 20 de março a 31 de maio. Destacam-se municípios pertencentes aos EDRs de Itapeva, Avaré e Itapetininga, onde, no conjunto das três regiões, a área ocupada com trigo na última safra foi de 48.976 hectares, ou seja, 87% da área cultivada com o cereal em todo estado.

A substituição da cultura do trigo pela do milho 2ª safra, entre os produtores, vem sendo atribuída principalmente aos maiores riscos de frustração de safra por motivos climáticos e, também, por variações dos preços. Por um lado, os preços de trigo apresentaram níveis estimulantes na época de decisão de plantio com certa frequência e, depois, na época da safra, despencaram. Por outro, o mercado de milho apresenta comportamento mais estável e maior diversidade de canais de comercialização.

Os moinhos paulistas, conforme estimativas da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (ABITRIGO), moeram 2,0 milhões de toneladas em 2013, o que representa 17% do trigo processado no país, na sua maioria importado predominantemente dos Estados Unidos, Argentina, Paraguai e Uruguai, além de parte originária do Estado do Paraná. Em 2013, em decorrência das dificuldades de se importar o trigo argentino, que estava sendo contingenciado e, também, em função das perdas da produção nacional e dos outros países do MERCOSUL, o Brasil importou dos Estados Unidos o volume recorde de 3,5 milhões de toneladas do cereal. Ressalte-se que, frente aos problemas apontados na ocasião, o governo federal suspendeu a Tarifa Externa Comum (TEC), cobrada quando as importações são originárias de países de fora do bloco.

A produção paulista de trigo é irrisória frente à magnitude de sua demanda. Em 2013, de acordo com os dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA) e Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), a área cultivada com trigo em São Paulo apresentou uma expansão de 52% relativamente ao ano anterior, recuperando a área perdida em 2012. Porém, foi um ano de adversidades climáticas, excesso de chuvas e geadas, com consequentes perdas quantitativas e qualitativas, resultando em uma produção de apenas 140 mil toneladas. Portanto, nem todos os triticultores puderam se beneficiar dos bons preços do mercado. Os preços do trigo sofrem deságios que podem ser significativos quando não atendem aos requisitos de qualidade exigidos pela indústria de moagem e podem até ser rejeitados, reflexo do maior grau de exigência dos consumidores e da grande diversidade de produtos à base de farinha de trigo.

O Estado do Paraná é, via de regra, o maior produtor no ranking nacional, seguido do Rio Grande do Sul (com raras exceções, como na safra passada, quando a produção paranaense foi superada pela do Rio Grande do Sul). Naquele estado, o primeiro levantamento de intenção de plantio do Departamento de Economia Rural (DERAL), da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, revela uma previsão de expansão de área cultivada com trigo de 23% em 2014, refletindo a continuidade da conjuntura favorável de preços no mercado internacional e, consequentemente, também nos preços internos, bem como pela desvalorização cambial que vem ocorrendo nos últimos meses.

 Em São Paulo, ainda não estão disponíveis os resultados do primeiro levantamento de previsão da safra 2013/14 de trigo do IEA/CATI, mas acredita-se que, nessa conjuntura, a área a ser cultivada com o cereal deve aumentar também. Os triticultores paulistas estão um pouco reticentes, em parte ainda devido às perdas ocorridas na safra passada, em função das geadas e, também, na soja, em decorrência da estiagem prolongada no segundo semestre.

Os preços recebidos pelos triticultores paulistas continuaram firmes no mês de março, conforme os levantamentos do IEA/CATI2. Na região do EDR de Avaré, o preço médio (em 27/03/2014) do trigo foi de R$782,00/t, o que supera em 40% o novo preço mínimo de R$557,50/t para trigo tipo pão, divulgado na mesma data.

Conforme matéria do jornal Valor Econômico3 de 28/02/2014, Lawrence Pih, presidente do Moinho Pacífico, declarou que, naquela ocasião, o preço de paridade do trigo estadunidense no porto de Santos era de US$395/t e, ao câmbio do mesmo dia, resultava em R$921,53/t. No último relatório semanal da CONAB, referente ao período de 24 a 28/03/14, o preço de paridade do trigo dos Estados Unidos no Paraná estava estimado em R$956,00/t e o da Argentina em R$815,00/t. Os preços atuais no mercado internacional fazem crer que os preços de paridade podem chegar a cerca de R$1.000,00/t. Em 31/03/2014, a paridade do porto de Santos do trigo estadunidense foi de R$961,40/t.

Nessa conjuntura, tal como no Paraná, o produtor paulista está mais propenso a correr os riscos próprios da cultura do trigo, até para compensar eventuais prejuízos com as culturas de verão, em função da estiagem. A escassez de sementes deve ser parcialmente resolvida com importações de outros estados, notadamente do Paraná. A perspectiva é de expansão da área em São Paulo de pelo menos 10%.

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 1INSTITUTO AGRONÔMICO DE CAMPINAS - IAC. Recomendações da comissão técnica de trigo para 1999. São Paulo: IAC, n. 167, 1999. 100 p.

2INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA. Banco de dados. São Paulo: IEA. Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/out/bancodedados.html>. Acesso em: mar. 2014.

 3BATISTA, F. Argentina retoma liderança no fornecimento de trigo ao Brasil. Valor Econômico. São Paulo, 28 fev. 2014. Disponível em: <http://www.valor.com.br/agro/3447330/argentina-retoma-lideranca-no-fornecimento-de-trigo-ao-brasil>. Acesso em: mar. 2014.

 Palavras-chave: trigo, safra de inverno.

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Data de Publicação: 07/04/2014

Autor(es): José Roberto Da Silva (josersilva@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor