Café: curva futura das cotações em fevereiro

Em fevereiro de 2014, as expectativas para a trajetória do mercado de juros futuros na BM&F-Bovespa foram de elevação das taxas negociadas, porém, cadentes entre a primeira e quarta semanas. Enquanto os juros futuros para vencimento em outubro/2014 situaram-se em 11,32% a.a. na quarta semana, nessa mesma posição, o patamar de juros recuou para 10,92% a.a., exemplificando o fenômeno observado para todas as demais posições. Expectativas mais favoráveis com relação à economia brasileira (previsão de contenção dos gastos pelo governo federal) e melhor interlocução entre governo e setor privado foram, em parte, os fatores responsáveis pela queda nas taxas negociadas no mercado futuro (Figura 1).

 

 

Nos contratos de câmbio negociados na BM&F-Bovespa, houve movimento de alta na taxa de câmbio futuro, embora entre a primeira e a quarta semana de fevereiro ocorreu valorização do real frente ao dólar. Na posição de outubro, por exemplo, os contratos foram negociados por R$2,55/US$ na média da primeira semana, declinando para R$2,46/US$ na média da quarta (Figura 2). Mais do que ganho da moeda brasileira, em razão de melhora do contexto econômico do país (a balança comercial registrou déficit de US$4,05 bilhões em janeiro), o movimento baixista para a paridade cambial refletiu a desvalorização da moeda estadunidense por razões intrínsecas de sua economia.

 

 

Os contratos de café arábica negociados na Bolsa de Nova York, em fevereiro de 2014, exibiram forte alta. As médias semanais contabilizadas para a posição de setembro de 2014 oscilaram de US$¢142,91/lbp a US$¢180,21/lbp, entre a primeira e a quarta semana do mês, respectivamente, ou seja, 26,10% de incremento na cotação internacional do produto (Figura 3).

A severa anomalia climática, que incidiu entre janeiro e meados de fevereiro de 2014 sobre os principais cinturões produtores do Centro-Sul brasileiro, produziu relativo “efeito manada” entre os investidores e especuladores das bolsas, conduzindo-os a uma espécie de corrida pelas compras. A maior parte dos traders e exportadores de café simulam seus cenários para a oferta e a demanda mundial, contemplando a colheita brasileira abaixo dos 50 milhões de sacas para a temporada 2014/15.

 

 

Retomando a posição de setembro de 2014, a média da quarta semana do mês de fevereiro, US$¢182,21/lbp, representa US$241,01/sc. 60 kg que, a câmbio futuro de R$2,46/US$ (média da quarta semana para a posição de outubro/2014), atingiria cotação de R$592,88/sc. Na última semana do mês de fevereiro de 20141, o preço recebido pelos cafeicultores no Escritório de Desenvolvimento Rural de Franca para café bebida dura tipo 6, levantado pelo IEA/CATI, foi de R$400,44/sc. Constata-se, portanto, o expressivo diferencial entre o preço recebido e as cotações travadas no futuro de café e de dólar, demonstrando significativa margem para aqueles cafeicultores que efetivamente planejam sua comercialização.

Na Bolsa de Londres, em fevereiro de 2014, os contratos futuros de café robusta exibiram alta no mês, muito abaixo, porém, daquela observada para o caso do arábica (Figura 4). Na posição de setembro de 2014, por exemplo, na primeira semana do mês se negociaram-se contratos a US$80,49/lbp, saltando a média das cotações na quarta semana do mês para US$90,48/lbp, ou seja, 12,41% de incremento nos preços. Aparentemente, foram tênues os reflexos da escalada das cotações do arábica para o mercado do robusta, mas esse cenário pode rapidamente se inverter, como já se observou no mercado em meados de 2011, quando o robusta ampliou o market-share em detrimento do arábica justamente pela escalada exponencial nas cotações deste último.

 

A média semanal do movimento de compra e venda de contratos de café arábica na Bolsa de Nova York, em fevereiro de 2014, mostrou sustentação para a ação dos compradores. Nas três últimas semanas do mês, os fundos e os grandes investidores operaram com a balança pendendo para o lado da compra, denotando a busca de rendimentos desses investidores no mercado de café. Na última semana do mês, o saldo líquido de comprados superou o montante de vendidos (20.236 contra 14.880). Aproveitando a procura, os investidores de perfil comercial e as torrefadoras estão operando na venda futura e ao mesmo tempo travando a cotação do dólar para viabilizar ganho de arbitragem com a operação. Nos demais perfis de investidores, não foram constatadas mudanças substanciais (Tabela 1).

Sem clara visualização dos efeitos da anomalia climática no Centro-Sul brasileiro, há especuladores para todo o tipo de cenário futuro. Alguns começam a apostar no comprometimento da safra 2015/16, fortalecendo suas posições em prazo mais estirado. Aqueles mais cautelosos começam a se desfazer dos contratos adquiridos, apropriando--se dos ganhos de curto prazo já contabilizados. Enfim, o mercado de café deverá vivenciar período de grande volatilidade nos próximos meses e anos. 

 

  

Palavras-chave: cotações de café, mercado futuro, Bolsa de Valores.


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Data de Publicação: 17/03/2014

Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Félix Schouchana (felixsh@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor