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Jovens de Parelheiros Visitam a Feira de Orgânicos no Parque do Ibirapuera, São Paulo
No sábado ensolarado de 25 de maio, seis alunos do
Programa de Jovens de Parelheiros (PJ-APA) marcaram presença na Feira do
Produto Orgânico e Agricultura Limpa do parque do Ibirapuera, inaugurada em
novembro de 2012 no Modelódromo do Ibirapuera. Aplicando um roteiro de entrevista1,
os estudantes estiveram no local com o objetivo de perceber o perfil dos
comerciantes da feira de orgânicos, compreender os requisitos necessários para
que os produtos sejam comercializados nas barracas, investigar a origem da
produção e o potencial de mercado dos orgânicos (Figura 1). Estudos recentes apontam que em diversos países,
inclusive no Brasil, tem havido alterações nos hábitos alimentares da população
mundial. A nova demanda por parte dos consumidores traz, como exigência, a
garantia e a melhoria da qualidade dos alimentos, como, por exemplo, do ponto
de vista nutricional. Uma maior conscientização do
consumidor da relação entre saúde e alimentação de qualidade, saudável, está
associada em grande parte ao aumento da procura por produtos orgânicos, in natura ou processados em todo
território nacional. Todavia, ainda são grandes os desafios desde a produção
até a comercialização, para que os alimentos orgânicos cheguem igualmente a
toda população do país independente de seu poder aquisitivo. No caso de alimentos orgânicos produzidos em
municípios ao redor da cidade de São Paulo, há um grande potencial para que
haja a expansão deste mercado, em razão do próprio poder de compra da população
metropolitana. Daí a visita à feira de orgânicos do Ibirapuera como parte das
atividades e metas do Projeto “Sistemas Agroflorestais como Alternativa Econômica,
Social e Ambiental para Jovens e Agricultores”, financiado pela prefeitura de
São Paulo com recursos do Edital FEMA2. Os jovens de ensino médio participantes da
atividade no Ibirapuera estão vinculados ao Núcleo de Educação Ecoprofissional
de Parelheiros, do grupo de alunos do Centro de Desenvolvimento Social e
Produtivo Anna Lapini3. Entre as principais preocupações do Anna
Lapini estão mediar ações que favoreçam a sustentabilidade local e a recuperação
ambiental e, ao mesmo tempo, cooperar para a formação profissional de jovens da
região em busca de emprego e renda. No projeto FEMA Parelheiros, incentivam-se o uso e
ocupação do solo da região de forma adequada do ponto de vista ambiental,
social e econômico. Para tanto, tem por foco a adoção dos sistemas agroflorestais
(SAFs), a incorporação de tecnologias socioambientais e de permacultura (Figura
02). A partir da temática ambiental, o projeto proporciona aos jovens diversas
experiências para reflexão e ação, permitindo, deste modo, uma formação
integral, capacitando-os para alcançar uma visão sistêmica da realidade
presente e oferecendo instrumentos para que eles possam agir localmente. No dia da visita, os jovens acordaram cedo para percorrer
o trajeto de aproximadamente Nos últimos anos, o uso do território seguindo os
princípios da agroecologia vem ganhando expressão e revela-se como uma das
alternativas viáveis para barrar as pressões de uma ocupação urbana desordenada
e especulação imobiliária de alto padrão que ameaçam a conservação do meio
ambiente no sul do município de São Paulo. A agricultura orgânica de base
agroecológica se torna, também, uma possibilidade de geração de renda para uma
população que há décadas atrás se instalou na região. Desde 2011 inúmeras diversas atividades e oficinas
vêm sendo desenvolvidas com o intuito de capacitar a comunidade local para a
ecoprofissionalização. A proposta é que futuramente os jovens de Parelheiros
poderão atuar, entre outras possibilidades, como consultores dos agricultores
familiares que buscam a recuperação e a adequação ambiental de suas unidades de
produção por meio da formação de SAFs. Em recente mapeamento realizado pela Casa de
Agricultura Ecológica (CAE) da prefeitura de São Paulo, foram identificados
mais de 300 agricultores somente na zona sul do município. Estes, por sua vez,
carecem de orientação técnica-agroecológica para conseguir viabilizar a
conversão da produção para o sistema orgânico em consonância com o Programa
Municipal de Agricultura Limpa5 (de baixo impacto ambiental) e do Protocolo
de Boas Práticas Agroambientais, parcerias entre o poder público municipal e estadual
por meio das Secretarias de Agricultura e Abastecimento (SAA) e de Meio Ambiente
(SMA) do Estado. Durante a execução do Projeto “Sistemas
Agroflorestais como Alternativa Econômica, Social e Ambiental para Jovens e
Agricultores”, a equipe técnica,
junto com os professores e estudantes do curso, tem realizado ações práticas
como, por exemplo, o planejamento para restabelecer a fertilidade do solo,
mutirões para plantios de sementes e mudas de diversas espécies nativas e
manejo da vegetação. O objetivo é fazer a recuperação de uma área degradada no
local para a implantação de um SAF modelo que poderá servir de base para outros
SAFs da região. Por sua vez, uma das expectativas de Nany (Iralice
Teodoro), atual gestora do Centro Social Anna Lapini, é de que a produção do
SAF local deverá contribuir para abastecer, diversificar e aumentar a qualidade
dos alimentos que são preparados na cozinha onde são fornecidas as refeições
aos alunos e funcionários de todos os cursos oferecidos pela instituição. Nas aulas de “Formação Integral” do Anna Lapini,
os alunos têm sido estimulados a refletir sobre os hábitos alimentares da
população metropolitana e pensar sobre as características e implicações de uma
alimentação saudável. E, neste sentido, a produção e o consumo de alimentos
orgânicos tornam-se a via primordial para se alcançar o equilíbrio e a saúde da
população e do meio ambiente. Durante as oficinas sobre “Nichos de Mercado”,
preparatórias a visita à feira do Ibirapuera, os jovens foram convidados a
identificar para o SAF local os possíveis ecoprodutos que teriam aceitação no
mercado. Entre esses produtos destacam-se como potenciais para futura
comercialização: o fruto do cambuci e a polpa de juçara. A partir de uma dinâmica de sensibilização
realizada pelo geógrafo Arpad Spalding do Instituto Kairós no dia 15 de maio,
os jovens compreenderam as particularidades das feiras de produtos
convencionais e das feiras de orgânicos ou de produtos da agricultura limpa.
Arpad destacou, em sua oficina, as diferenças elementares do processo de
certificação de orgânicos, indicando as especificidades das certificações por
auditoria, por sistema participativo de garantia (SPG), por organização de controle
social (OCS) e o Selo de Indicação de Procedência Guarapiranga. Essas foram as
formas de certificações encontradas pelos alunos nos produtos comercializados
na Feira do Produto Orgânico e
Agricultura Limpa do Parque do Ibirapuera. Os jovens de Parelheiros notaram, nas 25 barracas
instaladas naquele dia, a oferta de uma enorme diversidade de produtos in natura, embalados, semiprocessados, industrializados
- inclusive congelados -, tais como: hortaliças, legumes, cereais, frutas,
ovos, pães, leite, queijos, iogurtes, café, sucos e até sorvete6.
Além disso, a feira já se tornou ponto de encontro para uma boa conversa
engajada sobre a atual Política Nacional para Orgânicos e Agroecologia,
brotando ideias e propostas tanto para a organização, como para a divulgação de
inúmeros eventos agroecológicos que acontecem na região metropolitana de São
Paulo (RMSP). Há espaços onde os frequentadores podem tomar o
seu café da manhã orgânico ou fazer um delicioso lanche regado à garapa de cana
orgânica apresentada em quatro versões: pura, com limão, acerola ou, entre as
mais pedidas, com o cambuci. Fruto de espécie nativa da mata atlântica, o
cambuci é um dos potenciais de mercado para a comercialização de frutas
orgânicas, mas que dependem de incentivos para serem produzidas na região. Em sua investigação, os alunos do Anna Lapini puderam
conversar com alguns dos produtores familiares que vendem diretamente na feira,
como o senhor Zundi, Ernesto e Ana do Mel,
membros da Cooperativa Agroecológica dos Produtores Rurais e de Água Limpa da
Região Sul de São Paulo (COOPERAPAS), ou com o produtor Geraldo do município de
Ibiúna, membro da Associação de Pequenos Produtores Orgânicos de Ibiúna
(APPOI), entre outros agricultores. Além disso, entrevistaram os
comerciantes de produtos da agricultura familiar procedente de diversas partes
do Brasil. Os alunos de Parelheiros participaram, também, de
uma roda de conversa com o agrônomo Tiago Almeida Janela, da Supervisão Geral
de Abastecimento (ABAST), sobre a oferta de trabalho para jovens da região.
Diante do aumento da demanda por produtos orgânicos em São Paulo, eles poderão
atuar em atividades ligadas à agricultura a partir da perspectiva ambiental.
Sentados em pneus reciclados criativamente pelo ecodesigner Daniel Beato, e
instalados recentemente no local, os alunos obtiveram informações a respeito
das características gerais de organização da Feira de Orgânicos do Ibirapuera,
que tem como condição a venda de produtos que não recebem o uso de agrotóxicos
ou fertilizantes químicos em sua produção. Ao final da manhã de
trabalho na feira de orgânicos, os jovens puderam participar da programação
organizada pela equipe de Segurança Alimentar e Nutricional da Supervisão Geral
de Abastecimento e parceiros. Com o objetivo de promover uma ação educativa ao
público presente no local sobre o consumo responsável dos alimentos e a
importância da agricultura familiar orgânica e limpa, o “Chef na Feira” da
ocasião contou com presença de Claudia
Mattos, do Espaço Zym e movimento Slow Food. A experiência da pesquisa de campo exploratória
sobre nichos de mercado na feira do Ibirapuera colaborou, de um lado, para que
os jovens obtivessem uma visão geral das características de uma feira de
orgânicos e, de outro lado, favoreceu uma maior aproximação entre o agricultor
e os jovens motivados a trabalhar com a agroecologia na região. O levantamento
das informações na feira de agricultura limpa do Ibirapuera que ocorre aos
sábados - das 7h às 13h - contou com a participação dos alunos bolsistas do
projeto Bruna Coutinho, Fabíola de Moura Soares e Wendel Alves, e dos alunos
Carlos Roberto da Silva, Guilherme Morais Silva e Taís Alves Gomes. O Projeto “Sistemas Agroflorestais como Alternativa
Econômica, Social e Ambiental para Jovens e Agricultores” tem por proponente a
Associação Holística de Participação Comunitária Ecológica (AHPCE),
representada por Ondalva Serrano e Israel Mário Lopes. Está sob a coordenação de Yara Chagas de
Carvalho, pesquisadora do Instituto de Economia Agrícola (IEA), em parceria com
os pesquisadores Soraia Ramos, Sebastião Tivelli e Terezinha Franca da Agência
Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), do pesquisador Clovis Fernandes
de Oliveira Jr. do Instituto de Botânica, e do agroecólogo Edgar Alves da Costa
Jr. -------------------------------------------------------- 2O projeto é
financiado com recursos do Fundo Especial para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável do município de São Paulo (FEMA) e apoio
da Secretaria de Assistência Social (SAS). SÃO PAULO (Município). Secretaria Municipal do Verde e do
Meio Ambiente. Fundo especial do Meio
Ambiente e desenvolvimento sustentável - FEMA. São Paulo. Disponível em:
<http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/meio_ambiente/confema/index.php?p=3299>. Acesso em: 28 maio 2013. 3O CEDESP Anna
Lapini em Parelheiros, um dos 11 núcleos do Centro Comunitário Jardim Autódromo
(CCJA), está vinculado à rede do Programa de Jovens - Meio Ambiente e
Integração Social (PJ – MAIS), com núcleos em municípios da Reserva da Biosfera
do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo. ASSOCIAÇÃO HOLÍSTCA DE PARTICIPAÇÃO
COMUNITÁRIA ECOLÓGICA – AHPCE. Bancos de
dados. São Paulo: AHPCE. Disponível em:
<http://www.ahpce.org.br/newsite/>. Acesso em: 28 maio 2013. 4SÃO PAULO
(Município). Prefeitura de São Paulo. Subprefeitura.
Disponível em: <http://www.prefeitura. 5Programa Agricultura Limpa de Desenvolvimento Rural Sustentável de acordo
com a Portaria
Nº 001/SMSP/ABAST/2010. 6Os resultados e
conclusões da pesquisa de campo serão publicados após a tabulação e análise dos
dados levantados.
sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/subprefeituras/mapa/index.php?p=14894>.
Acesso em: 28 maio 2013.
Data de Publicação: 17/06/2013
Autor(es): Soraia de Fátima Ramos (sframos@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor