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Efeito Cana Reduz Alta nos Preços Agropecuários Paulistas na Variação Anual Acumulada de 2012
Na
avaliação da variação acumulada, o Índice Quadrissemanal de Preços Recebidos
pela Agropecuária Paulista (IqPR)1 registrou alta de 5,24% no ano de
2012. Quando se dividem em grupos de produtos, os de origem vegetal (IqPR-V)
elevaram-se em 2,36%, enquanto os de origem animal (IqPR-A) aumentaram 12,43%.
A cana-de-açúcar, cujos preços impactam fortemente a composição dos indicadores
pela sua grande ponderação, apresentou queda de 5,38% durante o ano. Quando
excluídos do cálculo, os preços agropecuários (IqPR) registraram elevada
variação positiva, subindo 15,41%, puxados principalmente pela ascensão de
17,17% dos produtos vegetais (IqPR-V sem cana) (Tabela 1). Para a inflação anual, medida pelo Índice de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA), estimada em torno de 5,6% em 2012, os preços da
cana-de-açúcar acabaram determinando a variação dos preços agropecuários
paulistas num patamar próximo aos índices inflacionários, na medida em que, sem
esse produto, os outros indicadores de preços agropecuários tiveram variações
bem maiores, permitindo dizer que as pressões inflacionárias tiveram, em vários
momentos, origem no campo2.
Tabela 1 – Variação Acumulada do Índice Quadrissemanal de Preços
Recebidos pela Agropecuária Paulista em 2012 (%) Índices Acumulado com cana Acumulado sem cana IqPR 5,24 15,41 IqPR-V 2,36 17,17 IqPR-A 12,43 12,43 Fonte: Instituto de Economia Agrícola (IEA). A variação negativa
dos preços da cana-de-açúcar mascara a forte elevação dos preços de grande
parte dos produtos agrícolas paulistas em 2012. Recuperando-se parcialmente da
queda de produtividade provocada pela seca de Na análise das
variações de preços, comparando dezembro de 2012 com o mesmo mês de 2011, as
maiores altas foram da batata (245,61%), da soja (67,03%), do arroz (54,16%),
do feijão (44,67%), trigo (40,02%), frango (37,18%), tomate para mesa (32,48%),
ovos (22,22%), carne suína (21,77%), milho (18,95%) e leite B (6,24%), todos
com elevações superiores à inflação acumulada no período (Tabela 2). Tabela 2 - Variações das
Cotações dos Produtos, Estado de São Paulo, Dezembro de Origem Produto Unidade Cotações (R$) Var. % dez./2011 dez./2012 Vegetal Algodão 15 kg 55,71 52,48 -5,8 Amendoim sc. 25 kg 35,62 30,57 -14,18 Arroz sc. 60 kg 30,78 47,44 54,16 Banana nanica kg 0,6804 0,4956 -27,16 Batata sc. 50 kg 12,87 44,48 245,61 Café sc. 60 kg 482,1 325,43 -32,5 Cana-de-açúcar kg de ATR 0,5016 0,4746 -5,38 Feijão sc. 60 kg 122,89 177,78 44,67 Laranja p/ indústria cx. 40,8 kg 9,8 6,32 -35,49 Laranja p/ mesa cx. 40,8 kg 11,52 7,24 -37,18 Milho sc. 60 kg 25,08 29,83 18,95 Soja sc. 60 kg 41,13 68,71 67,03 Tomate p/ mesa cx. 22 kg 22,4 29,68 32,48 Trigo sc. 60 kg 25,97 36,36 40,02 Animal Carne bovina 15 kg 99,34 96,6 -2,75 Carne de frango Kg 2,13 2,93 37,18 Carne suína 15 kg 58 70,63 21,77 Leite B l 0,9256 0,9833 6,24 Leite C l 0,8424 0,8856 5,12 Ovos 30 dz 44,49 54,37 22,22 Fonte: Instituto de Economia Agrícola (IEA). O ano de 2012
apresentou clima muito atípico com precipitações pluviométricas acima da média
em junho e abaixo da média em agosto e setembro, prejudicando o desenvolvimento
de várias culturas. Daí a quebra de produtividade da safra de inverno paulista
que reduziu a oferta de batata no mercado e, consequentemente, elevou seus preços
nos últimos meses do ano. A forte seca nos
Estados Unidos quebrou a safra de grãos no país, provocando a elevação global
dos preços de soja, trigo e milho. Por sua vez, a elevação dos produtos básicos
da ração animal estimulou a elevação dos preços de frangos, suínos e ovos. Estoques nacionais
insuficientes para atender a demanda e dificuldade da CONAB em seus leilões
forçaram a elevação dos preços do arroz em todo o país e em todos os níveis de
mercado. A ausência de chuvas
em agosto e na primeira quinzena de setembro atrasou o plantio das águas do
feijão, estimulando a elevação dos seus preços no final de 2012. Já o tomate para mesa
reflete intensa gangorra de preços, típica de vegetais perecíveis, verificada
durante todo ano de 2012, alternando realidades de preços muito baixos por
concentração de oferta e outras de valores extremamente altos em razão da
escassez derivada de problemas climáticos associados, em muitos casos, ao
desestímulo de situações não remuneradoras quando dos períodos de abundância
extremada. Oito produtos
apresentaram queda de preços no acumulado dos últimos 12 meses: laranja para
mesa (37,18%), laranja para indústria (35,49%), café (32,50%), banana (27,16%),
amendoim (14,18%), algodão (5,80%), cana (5,38%) e carne bovina (2,75%%) (Tabela 2). Grande produção em
duas safras consecutivas e retração da demanda industrial provocaram excesso de
oferta da laranja para indústria e forte queda nos preços. A laranja pera
obteve uma das menores cotações nos últimos anos. Os produtores direcionaram
parte deste excedente para o mercado interno, elevando o volume de fruta disponível
e derrubando também os preços da laranja de mesa. Produção global acima
da demanda permitiu a manutenção de grandes estoques mundiais e brasileiros que
reduziu os preços do algodão. As condições favoráveis do mercado de amendoim e o estímulo à
renovação de canaviais motivaram os investimentos na produção das águas,
que resultou em um volume 35,0% maior que o de 2011, refletindo na redução de
seus preços. No café, a safra
paulista de 2012 também foi bem superior à passada e, no mesmo período, as
cotações internacionais caíram mais de 35%, configurando o cenário de queda no
mercado interno. Para a banana, as
chuvas inesperadas do inverno prejudicaram a qualidade da fruta que foi
ofertada a preços menores que os de 2011. Analisando a
trajetória mensal do IqPR, nota-se pequena queda entre janeiro e abril de 2012
(único momento em que o índice fica abaixo da base 100), fruto da redução dos
preços dos produtos de origem animal neste período. Com a estabilidade nos
preços da cana-de-açúcar no início do ano safra 2012/2013, as grandes
oscilações negativas nos preços das carnes bovina e suína não pesaram para
baixo no IqPR no primeiro semestre de 2012. Ao contrário, já em junho (puxado
pela elevada ascensão dos perecíveis tomate e batata e pela recuperação dos
preços da carne de frango e dos ovos), o índice se direciona para reajustes
ininterruptos que se arrastam até outubro3 (Figura 1). Entre outubro e dezembro, o IqPR recua devido às
baixas nos preços do tomate, banana nanica, feijão, amendoim, batata, laranjas,
soja e cana-de-açúcar (o produto de maior peso na ponderação do índice). Já em
dezembro, a maior demanda de produtos para as festas de fim de ano, ocasionada
pelo fluxo excedente de moeda via 13º salário, rebateu nos preços recebidos
pela agropecuária paulista. Reforça-se que esta variação só não foi mais
significativa neste último mês do ano por causa da estabilidade dos preços da
cana--de-açúcar (que caíram 0,32% em dezembro). Figura 1 - Evolução Mensal da Variação Acumulada do Índice Quadrissemanal de Preços
Recebidos pela Agropecuária Paulista em 2012. Fonte:
Instituto de Economia Agrícola (IEA). Os produtos animais
mostram desempenhos distintos: de dezembro de Como já relatado, o
comportamento dos preços agropecuários paulistas é fortemente influenciado pelo
preço da cana-de-açúcar. Quando se exclui esse principal produto da
agropecuária paulista, ainda que o índice continue seguindo as mesmas orientações
gerais, este fica mais sensível às variações extremas. Daí a variação da
batata, em janeiro de 20124, ter ajudado a elevar o IqPR-V- sem cana
em 10 pontos percentuais, e entre fevereiro e junho (ao lado do tomate) ter
atuado fortemente no recuo e expansão dos valores do mesmo índice numa gangorra
característica dos produtos perecíveis (Figura 2). Na sequência, entre os meses de junho e setembro de 2012, fortes
altas nos índices foram registradas devido a
problemas climáticos que influenciaram na produção dos produtos mais perecíveis
(batata, tomate e feijão), além da valorização do milho e da soja. Em outubro e
novembro ocorreu o inverso, com quedas acentuadas obtidas, principalmente, pela
normalização da produção dos perecíveis, estabilidade do milho e da soja, e
quedas nos preços da laranja para indústria e do café. Em dezembro, a
trajetória volta a ser ascendente, com valorização de quase a totalidade dos
produtos vegetais, com exceção do café, da batata e do amendoim (Figura 2) Figura 2 - Evolução Mensal da Variação Acumulada do Índice Quadrissemanal de Preços
Recebidos pela Agropecuária Paulista em 2012 (Sem Cana). Fonte:
Instituto de Economia Agrícola (IEA). Em linhas gerais,
excluindo-se a cana-de-açúcar do conjunto dos preços agropecuários paulistas,
em dezembro de 2012, na média, o que se apresentam são preços acima do patamar
verificado em dezembro de 2011. Daí o indicativo de que os reajustes obtidos
nos valores recebidos pelos produtores no último ano terem sido repassados aos
consumidores finais, contribuindo de forma decisiva para um índice de inflação
próximo ao teto da meta em 2012. Informações obtidas no Banco de Dados do
Instituto de Economia Agrícola (IEA) confirmam para o varejo da cidade de São
Paulo ascensões nas variações de preços de dezembro/2012 contra dezembro/2011
para batata (51,35%), arroz (31,35%), carne de frango (29,30%), óleo de soja
(22,29%), ovos (22,13%), tomate para mesa (16,67%), óleo de milho (12,82%),
café (12,25%), carne suína (11,37%), banana nanica (10,87%), farinha de trigo
(9,79%), feijão (9,51%) e leites (7,63%)5. Em síntese, mesmo que
a maioria dos preços agropecuários paulistas tenha apresentado, em dezembro de
2012, níveis satisfatórios de remuneração dos custos de produção e com
perspectiva de renda setorial consistente com a rentabilidade adequada, as
preocupações relacionadas a uma demanda por produtos agrícolas, continuamente
crescentes, frente a uma produção que não se eleva no mesmo ritmo, também são
amplamente relevantes num cenário de políticas públicas que se busca ao mesmo
tempo renda ao produtor e segurança alimentar para a população. 1Artigo completo
com a metodologia: Pinatti, E. et al. Índice quadrissemanal de preços recebidos
pela agropecuária Paulista (IqPR) e seu comportamento em 2007. Informações Econômicas, São Paulo, v.
38, n. 9, p. 22-34, set. 2008. Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=9573>. Acesso
em: jan 2013. 2É importante
retratar que do campo ao consumidor, muitos estudos demonstram ser as margens
de comercialização do atacado e do varejo (elos cada vez mais oligopolizados)
os principais propulsores da interferência dos produtos alimentares nos índices
de inflação ao consumidor. 3Ênfase foi dada nas
análises quadrissemanais ao se acumular 18 variações positivas consecutivas
entre junho e outubro. 4Vide fechamento da
análise quadrissemanal de janeiro de 2012. Disponível em: <ftp://ftp.
sp.gov.br/ftpiea/quadri/quadri4-0112.pdf>. Acesso em: jan. 2013. 5INSTITUTO DE
ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA. Banco de dados. São Paulo: IEA, 2013. Disponível em:
<http://ciagri.iea.sp.gov.br/nia1/precos_medios.aspx?cod_sis=4>. Acesso
em: jan. 2013. Palavras-chave:
preços
agropecuários, índices de preços ao produtor, variação acumulada 2012.
dez./2012-
dez./2011
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Data de Publicação: 30/01/2013
Autor(es):
Danton Leonel de Camargo Bini (danton.camargo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
José Alberto Angelo (jose.angelo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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Eder Pinatti (pinatti@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor