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Mudanças Cambiais e Desempenho da Balança Comercial Paulista e Brasileira no Período 1997-2011
As
exportações paulistas avançaram no período 1997-2011, de R$47,36 bilhões para
R$102,80 bilhões. Esse movimento se deu em três fases: a primeira com ritmo
reduzido, no decorrer dos seis primeiros anos analisados (1997-2004), quando
evoluíram de R$147,36 bilhões para R$133,43 bilhões. Na segunda fase, as
exportações paulistas obtiveram queda moderada, saindo de R$133,43 bilhões em
2004 para atingir R$127,28 em 2008. Em 2009, os impactos da crise econômica
mundial produziram significativo recuo nas exportações atingindo R$97,51
bilhões. A lenta superação da mesma vem promovendo aumento alcançando R$100,61
bilhões em 2010 e para R$102,80 bilhões em 2011 (Figura 1). Nota-se uma relação
direta com os movimentos cambiais que desvaloriza a moeda nacional até 2004,
oscila com leve tendência de queda no período 2004-2008 no início, dada uma
conjunção de câmbio em patamar elevado com preços baixos e depois a situação
inversa. A crise de 2009 promove abrupta diminuição seguida de elevação lenta no
ritmo de preços internacionais crescentes para câmbio em
valorização.
Figura 1 - Valor das Exportações, São Paulo, 1997-2011.
Fonte: Elaborada pela autora a partir de dados básicos de comércio exterior da SECEX/MDIC e câmbio do Banco Central.
Nas importações paulistas houve oscilações no período 1997-2011, entremeadas de picos crescentes, saindo de R$74,66 bilhões para R$140,97 bilhões. Visualizando os quatro subperíodos, no início verifica-se aumento de R$74,66 bilhões em 1997 para o primeiro pico de R$113,23 bilhões em 2001. Após queda brusca para R$90,76 bilhões em 2002, evolui para o segundo pico de R$116,54 bilhões em 2004, quando nova diminuição leva a R$102,14 bilhões em 2005, seguida de crescimento para o recorde de R$146,34 bilhões em 2008. A crise mundial produz novo recuo em 2009, quando atinge R$115,93 bilhões, trajetória revertida por acréscimos que levam a R$140,97 bilhões em 2011 (Figura 2). As importações não guardam relação direta com a taxa de câmbio, ainda que possam ser estimuladas ou desestimuladas por ela. As compras externas respondem mais diretamente à demanda interna derivada da fase de crescimento econômico que exige importações crescentes. De qualquer modo, os maiores patamares recentes de importações pós--2004 são uma resposta da existência de realidade de câmbio em valorização.
Figura 2 - Valor das Importações, São Paulo, 1997-2011.
Fonte: Elaborada pela autora a partir de dados básicos de comércio exterior da SECEX/MDIC e câmbio do Banco Central.
Os saldos da balança comercial paulista mostraram notáveis reversões de resultados no período 1997-2011. De uma realidade de déficit no período 1997-2001 - embora recuando de R$27,30 bilhões negativos em 1997 para R$18,96 bilhões negativos em 2001 –, revertida para saldos positivos no período 2002-2007 – quando a balança comercial paulista mostrou saldos positivos oscilante de R$1,24 bilhão em 2002 e um pico de R$26,11 bilhões em 2006, com recuo para R$8,21 bilhões em 2007. Entretanto, em 2008 reverte-se o quadro para novo ciclo de déficits atingindo R$19,06 bilhões, saltando para R$19,78 bilhões em 2010 e R$38,18 bilhões em 2011 (Figura 3). No caso paulista, num primeiro momento há uma associação direta entre saldos comerciais e patamares da taxa de câmbio, com déficits no período 1997-2001, dado o câmbio em desvalorização, revertidos para superávits crescentes no período 2002-2006. Quando se inicia o novo ciclo de câmbio desvalorizado, os preços internacionais sustentaram aumento do saldo até 2006, e quando tal não ocorre, há reversão para queda em 2007 seguida de novo ciclo de déficits no período 2008-2011, em decorrência da conjunção de câmbio valorizado associado a importações crescentes por pressão da demanda interna pelo crescimento da economia.
Figura 3 – Saldo da Balança Comercial, São Paulo, 1997-2011.
Fonte: Elaborada pela autora a partir de dados básicos de comércio exterior da SECEX/MDIC e câmbio do Banco Central.
As
exportações das outras unidades da Federação apresentaram queda entre 1997-1999,
saindo de R$91,34 bilhões para R$89,90 bilhões. Após esse período, elas se
mostraram crescentes, tendo acelerado esse ritmo, alcançando o valor de R$281,26
bilhões em 2004. Nessa primeira fase, tem-se câmbio em crescente desvalorização
da moeda nacional e, quando a situação se inverte nos anos seguintes com
tendência à valorização, ainda que em ritmo menos acelerado e oscilante, as
exportações continuam crescendo, atingindo R$336,53 bilhões em 2011 (Figura 4).
Verifica-se assim que, após estímulo do ciclo de desvalorização no período
1997-2004, nos anos posteriores, ainda que em franca valorização da moeda
nacional, os preços internacionais de commodities, em especial a demanda
chinesa, sustentaram a continuidade do aumento das vendas externas das outras
unidades da Federação, excluindo as oriundas de São Paulo.
O valor das importações das outras unidades da Federação entre os anos de 1997 e 2002 mostra leve tendência de aumento, iniciando o período com R$81,71 bilhões e fechando com R$149,71 bilhões. Após este momento, numa queda para R$125,40 bilhões em 2003, volta a crescer, chegando à quantia de R$235,70 bilhões em 2008, recuando na conjuntura da crise mundial para R$177,20 bilhões em 2009; com câmbio valorizado, porém, alcançou nova fase de alta para R$247,22 bilhões em 2011 (Figura 5). Uma conjunção de crescimento econômico com maior demanda interna com a valorização do poder de compra da moeda brasileira explica esses movimentos.
Figura 4 - Valor das Exportações, Total das Outras Unidades da Federação, 1997-2011.
Fonte: Elaborada pela autora a partir de dados básicos de com exterior da SECEX/MDIC e câmbio do Banco Central.
Figura 5 - Valor das Importações, Total das Outras Unidades da Federação, 1997-2011.
Fonte: Elaborada pela autora a partir de dados básicos de comércio exterior da SECEX/MDIC e câmbio do Banco Central.
O
saldo da balança comercial das outras unidades da Federação foi positivo em
todos os anos, iniciando o período com R$9,63 bilhões em 1997 e fechando com
R$89,31 bilhões em 2011. A partir de 2001, os valores começaram movimentos mais
consistentes de aceleração, embora tenha se notado a partir de 2005 uma perda de
dinamismo refreando a expansão do período 2000-2005, ao mostrar persistente
recuo para atingir R$68,78 bilhões em 2010. Em 2011, há reversão da queda do
saldo comercial com crescimento para R$89,31 bilhões em 2011 (Figura 6). Mais
uma vez a desvalorização cambial no período 1999-2004 alavancou os saldos
comerciais e os preços internacionais crescentes contiveram a queda mais
expressiva dos superávits nos anos seguintes em que ocorre significativa
valorização.
Figura 6 - Saldo da Balança Comercial, Total das Outras Unidades da Federação, 1997-2011.
Fonte: Elaborada pela autora a partir de dados básicos de comércio exterior da SECEX/MDIC e câmbio do Banco Central.
As exportações brasileiras em 1997 atingiram R$138,70 bilhões, praticamente se mantendo em 1998 e, a partir de 2000, as vendas externas cresceram atingindo o pico em 2004 com R$414,70 bilhões. Com a valorização, no primeiro momento há uma oscilação em torno de patamares menores alcançando R$398,40 bilhões, fechando com um salto em 2008 para R$436,62 bilhões. Em 2009, com o cenário da crise internacional, as exportações revertem a tendência diminuindo para R$351,33 bilhões. Mas em 2010 verifica-se forte incremento das vendas externas alcançando R$388,49 bilhões, que avança para 2011 quando atinge R$439,33 bilhões, o maior patamar histórico (Figura 7). Esse desempenho mostra os reflexos da desvalorização da moeda brasileira como importantes para o primeiro movimento de aceleração das exportações até 2004, e dos preços internacionais de commodities que sustentaram os patamares de divisas obtidas no período posterior.
Figura 7 - Valor das Exportações, Brasil, 1997-2011.
Fonte: Elaborada pela autora a partir de dados básicos de comércio exterior da SECEX/MDIC e câmbio do Banco Central.
Entre
os anos de 1997 e 2011, as importações brasileiras exibiram comportamento
instável, mas com nítida tendência crescente quando se visualiza prazo mais
largo. No período 1997-2001, as compras no exterior crescem de R$156,37 em 1997
para R$253,94 bilhões. Em 2002, verifica-se queda para R$216,16 bilhões,
movimento seguido de novo crescimento alcançando R$270,09 em 2004. O primeiro
momento de desvalorização levou o recuo para R$246,52 bilhões em 2005, seguido
de outro ciclo de aumento para R$382,04 bilhões em 2008. Em 2009, a crise
internacional levou a queda das aquisições externas para R$293,13 bilhões, com
nova reversão com aumento para R$388,20 bilhões em 2011 (Figura 8). Nesse
sentido, além das pressões das mudanças cambiais, a demanda interna em ciclos de
crescimento mais ou menos expressivos determina o ritmo das importações, sendo
que se verificam maiores compras no exterior mesmo em sequências de anos com
desvalorização da moeda nacional.
O
saldo da balança comercial brasileira apresentou déficits cadentes entre 1997 e
2000, iniciando esse período com R$17,67 bilhões negativos e conseguindo
reverter essa situação somente no ano de 2001, quando o saldo atingiu patamar de
R$12,11 bilhões positivos. A partir de então se realiza intensa aceleração dos
superávits, com seu valor fechando o período 1997-2005 em R$148,70 bilhões. Em
2006, essa tendência reverte-se com obtenção de saldo comercial menor - ainda
que positivo - e atingindo R$133,32 bilhões, processo aprofundado no triênio
seguinte com os R$54,58 bilhões obtidos em 2008. Desde então, nota-se oscilação
que culmina com os R$51,13 bilhões em 2011 (Tabela 9). Desse modo, pode-se
caracterizar os movimentos dos saldos comerciais como resultantes diretos dos
movimentos das taxas de câmbio.
Figura 8 - Valor das Importações, Brasil, 1997-2011.
Fonte: Elaborada pela autora a
partir de dados básicos de comércio exterior da SECEX/MDIC e câmbio do Banco
Central.
Figura 9 - Saldo da Balança Comercial, Brasil, 1997-2011.
Fonte: Elaborada pela autora a partir de dados básicos de comércio exterior da SECEX/MDIC e câmbio do Banco Central.
A análise do
desempenho do comércio exterior brasileiro em moeda nacional mostra que não
apenas o câmbio explica os resultados obtidos, uma vez que os preços
internacionais de commodities sustentam exportações em patamares elevados
no período 2005-2011, mesmo que numa realidade de desvalorização cambial,
enquanto as importações haviam crescido no período 1997-2004 quando o câmbio se
desvalorizava, fato explicado pelo crescimento da demanda interna decorrente do
crescimento econômico. Em linhas gerais, portanto, a leitura dos resultados do
comércio exterior ainda que tenha no câmbio uma variável relevante, exige para a
compreensão adequada a leitura de como se comportaram os preços internacionais e
a demanda interna.
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¹Os indicadores das exportações e importações nacionais e setoriais foram obtidos no banco de dados de comércio exterior do Instituto de Economia Agrícola, sendo dados elaborados pela instituição a partir de dados básicos da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério de Desenvolvimento Indústria e Comércio (MDIC). A evolução da taxa de câmbio será realizada com base nas méds da cotação do dólar norte-americano obtidas das médias aritméticas das taxas de compra e das taxas de venda calculadas pelo Banco Central do Brasil (disponível em:<http://www4.ias anuaibcb.gov.br>). Para conversão para câmbio para valores constantes de dezembro de 2011, fez-se uso do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) (disponível em: <http://www.ibge.gov.br>). Todos os indicadores utilizados cobrem o período 1997-2011.
Palavras-chave: câmbio, balança comercial brasileira, balança comercial paulista, exportações, importações.
Data de Publicação: 23/04/2012
Autor(es): Sueli Alves Moreira Souza Consulte outros textos deste autor