Efeito Cana Produz Alta de 14,57% nos Preços Agropecuários Paulistas na Variação Anual Acumulada de 2011

            Na avaliação da variação acumulada, o Índice Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista (IqPR)1 registrou alta de 14,57% no ano de 2011. Para os grupos de produtos, os de origem vegetal (IqPR-V) elevaram-se em 18,31% e os de origem animal (IqPR-A) aumentaram 3,45%. Tendo em conta a importância na composição dos indicadores pelo grande peso na ponderação, excluindo-se a cana-de-açúcar cujos preços cresceram 36,42% durante o ano, os preços agropecuários (IqPR) registraram variação negativa de 1,87%, e os produtos vegetais (IqPR-V) queda ainda maior (-9,01%) (Tabela 1). Para uma inflação anual medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estimada em torno do teto da meta de 6,5% em 2011, os preços da cana-de--açúcar acabaram determinando variação dos preços agropecuários paulistas superiores aos índices inflacionários, mas excluindo esse produto, os indicadores agregados de preços agropecuários tiveram variações menores.
 

Tabela 1 - Variação Acumulada do Índice Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista em 2011

Índices
Acumulado

com cana

Acumulado sem cana
IqPR
14,57%
-1,87%
IqPR-V
18,31%
-9,01%
IqPR-A
3,45%
-

Fonte: Instituto de Economia Agrícola (IEA).

 

            O comportamento dos preços da cana-de-açúcar decorre de preços internacionais ainda mantidos em patamares elevados para o açúcar e a escassez relativa do álcool combustível no mercado interno, gerando preços mais elevados aos consumidores. Isso permitiu ao segmento recuperar margens defasadas (valendo-se de sua posição de oligopólio), ainda que a gestão dos preços da gasolina dentro da estratégia federal de segurar a inflação acabe levando a que, mesmo nos meses de maior oferta na bomba dos postos de gasolina, os preços do álcool tivessem se mantido no limite superior da proporção de economicidade para o consumo (70% do preço da gasolina). Mais ainda, apenas em unidades da Federação com políticas tributárias favoráveis em termos do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) como o Estado de São Paulo, são mantidos estímulos consistentes ao álcool combustível, que vem se tornando um fenômeno praticamente paulista.
 

            Na análise das variações de preços comparando dezembro de 2011 com o mesmo mês de 2010, as maiores altas foram do feijão (+79,76%), algodão (+66,30%), tomate para mesa (+44,82%), cana-de-açúcar (+36,42%), café (+32,63%), leite C (+17,49%), banana nanica (+16,88%), ovos (+16,50%), leite B (+14,02%) e amendoim (+6,53%), todos com elevações superiores à inflação acumulada no período (Tabela 2).
 

            O feijão ganha destaque pela magnitude do aumento, mas deve-se ter em conta o patamar muito baixo verificado em dezembro de 2010 (R$68,36/sc 60 kg), abaixo do custo de produção em torno de R$90,00 por saca para padrões médios de produtividade, com que os preços de dezembro de 2011 (R$122,89/saca) não podem ser considerados exacerbados, em face da necessária remuneração adequada do lavrador.
 

            O algodão alcançou preços elevados em função da conjuntura internacional de estoques reduzidos, o que acabou impactando os preços tanto no exterior como no mercado interno, e levando a elevações substantivas de preços que permaneceram remuneradores durante todo o ano de 2011, mas que após estabilizar-se apresentou leve recuo no mês de dezembro de 2011.
 

            O tomate para mesa reflete intensa gangorra de preços típica de vegetais perecíveis, verificada durante todo ano de 2011, e alternando realidades de preços muito baixos por concentração de oferta e outras de valores extremamente altos em razão da escassez derivada de problemas climáticos associados em muitos casos ao desestímulo de situações não remuneradoras quando dos períodos de abundância extremada.
 

            O café consiste noutro caso em que as cotações internacionais levaram a preços recebidos internos mais elevados no final de 2011 quando comparados com o mesmo período de 2010. No caso da banana nanica, as temperaturas atipicamente amenas de novembro e dezembro de 2011 retardaram a formação dos cachos, impedindo o aumento da oferta característico do padrão sazonal da fruta e mantiveram a maior propensão ao consumo que se verifica na primavera, com consequente aumento de preços.
 

Tabela 2 - Variações das Cotações dos Produtos, Estado de São Paulo, Dezembro de 2010 a Dezembro de 2011

Origem
Produto
Unidade
Cotações (R$)
Variação

Dez/2011-

Dez/2010 (%)

Dezembro/

2010

Dezembro/

2011

Vegetal
Algodão
15 kg
33,50
55,71
66,30
Amendoim
sc. 25 kg
33,44
35,62
6,53
Arroz
sc. 60 kg
34,38
30,78
-10,50
Banana nanica
cx. 21 kg
12,22
14,29
16,88
Batata
sc. 60 kg
20,85
12,87
-38,28
Café
sc. 60 kg
363,49
482,10
32,63
Cana-de-açúcar 
kg de ATR
0,3677
0,5016
36,42
Feijão
sc. 60 kg
68,36
122,89
79,76
Laranja p/ indústria
cx. 40,8 kg
14,63
9,80
-33,04
Laranja p/ mesa 
cx. 40,8 kg
20,23
11,52
-43,03
Milho
sc. 60 kg
24,24
25,08
3,48
Soja
sc. 60 kg
45,63
41,13
-9,86
Tomate p/ mesa
cx. 22 kg
15,47
22,40
44,82
Trigo
sc. 60 kg
26,83
25,97
-3,21
Animal
Carne bovina
15 kg
102,91
99,34
-3,47
Carne de frango
kg
2,07
2,13
3,15
Carne suína
15 kg
62,50
58,00
-7,20
Leite B
Litro
0,81
0,9256
14,02
Leite C
Litro
0,72
0,8424
17,49
Ovos
30 dz
38,19
44,49
16,50

asdfasdfaasdaasfasfda

Fonte: Instituto de Economia Agrícola (IEA).
 

            Para os leites (B e C), os preços são mais elevados, mas refletindo somente recuperação de situação anterior de preços muito baixos, mesma situação dos ovos e do amendoim.
 

            Ressaltem-se ainda preços que em dezembro de 2011 tiveram variação positiva em relação ao último mês de 2010, mas em percentuais inferiores aos verificados pela inflação do período: são os casos do milho (+3,48%) e da carne de frango (+3,15%). Na verdade, esses produtos também contribuíram positivamente para o comportamento da inflação, junto com outros 8 produtos que mostraram queda de preços no acumulado dos últimos doze meses: laranja para mesa (-43,03%), batata (-38,28%), laranja para indústria (-33,04%), arroz (-10,50%), soja (-9,86%), carne suína (-7,20%), carne bovina (-3,47%) e o trigo (-3,21) (Tabela 2).
 

            Destacando as principais quedas, chama a atenção o caso das laranjas (mesa e indústria), que haviam apresentado preços remuneradores durante o ano de 2010 e que, dada a safra elevada em 2011, mostram preços muito menores, gerando realidade preocupante de remuneração dos citricultores e ao mesmo tempo o limite para a expansão da oferta tanto no mercado interno para sucos caseiros como para a exportação de sucos cítricos, com as agroindústrias processadoras tendo trabalhado no limite de sua capacidade de moagem.
 

            Na batata, no sentido exatamente inverso do tomate para mesa, verifica-se similar manifestação da gangorra de preços em função de desajustes estruturais de oferta por problemas diversos, principalmente os climáticos. Em dezembro de 2011, os preços desse tubérculo foram muito inferiores aos verificados no mesmo mês do ano anterior.
 

            No arroz, soja, carne suína, carne bovina e trigo, houve a manifestação dos recuos dos preços internacionais quando convertidos em moeda nacional pressionando os preços internos. Especialmente na soja e na carne bovina, importantes produtos da pauta das exportações da agricultura brasileira, tais variações não converteram os preços recebidos em problema de rentabilidade, dados os patamares satisfatórios.
 

            Analisando a trajetória mensal do IqPR, nota-se a elevação abrupta na entrada da safra da cana em abril de 2011, quando os preços da matéria-prima foram reajustados em níveis elevados, fixando-se novos patamares para a nova safra. Isso deixa nítido o sucesso da estratégia de proteção de margens típicas de economias de oligopólios praticadas pelos agentes econômicos da cadeia de produção de açúcar e álcool que realinharam os preços da cana. Tanto assim que, por meio da análise da variação mensal dos índices de preços agropecuários nos últimos 12 meses, verificam-se comportamentos distintos: os produtos vegetais crescem até maio de 2011 com salto, em decorrência do reposicionamento da cana na entrada da safra. Desde então, mostra-se queda bruta em junho-julho, com manutenção de patamar (Figura 1).
 

            Os produtos animais mostram desempenho errático com idas e vindas, de dezembro de 2010 a abril de 2011. De abril a junho de 2011, apresentam queda expressiva, seguida de alta puxada pela carne bovina na entressafra e pela carne de frango com os altos preços internacionais. Em setembro nova queda e em outubro ascensão com continuidade da tendência de elevação até dezembro de 2011, numa realidade em que todos os índices apresentam variação reduzida com leve convergência para cima dos preços agropecuários paulistas (Figura 1).
 

            Como afirmado, o comportamento dos preços agropecuários paulistas foi fortemente influenciado pelo preço da cana de açúcar. Quando se exclui este que é o principal produto da agropecuária paulista, verifica-se que a reversão de tendência dá-se entre março e abril de 2011, desde quando os preços dos produtos vegetais revelam nítida trajetória descendente, definindo o comportamento dos preços em geral na mesma direção até julho. Verifique-se que a queda abrupta de junho para julho definiu o ajuste dos preços próximo ao patamar do mesmo período do ano passado - desde quando as mudanças são menos pronunciadas, mas variando em torno do mesmo patamar (Figura 2).
 

Figura 1 - Evolução Mensal da Variação Acumulada do Índice Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista em 2011. 


Fonte: Instituto de Economia Agrícola (IEA).
 

Figura 2 - Evolução Mensal da Variação Acumulada do Índice Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista em 2011(Sem Cana). 


Fonte: Instituto de Economia Agrícola (IEA).
 

            Em linhas gerais, excluindo-se a cana-de-açúcar, o conjunto dos preços agropecuários paulistas em dezembro de 2011 está na média, abaixo do patamar verificado em dezembro de 2010. Entretanto, os principais produtos da pauta de exportações setoriais brasileiras mantêm-se em patamares remuneradores como no açúcar, soja e carne bovina; outros típicos de consumo interno, como o feijão, recuperaram-se da situação de preços muito baixos do final de 2010. Em síntese, a maioria dos preços agropecuários paulistas apresenta em dezembro de 2011 níveis satisfatórios de remuneração dos custos de produção. E com isso há perspectiva de renda setorial consistente com a rentabilidade adequada.
 

_________________
1Artigo completo com a metodologia: Pinatti, E.; Sachs, R.C.C.; Angelo, J.A.; Gonçalves, J.S. Índice quadrissemanal de preços recebidos pela agropecuária Paulista (IqPR) e seu comportamento em 2007. Informações Econômicas, São Paulo, v.38, n.9, p.22-34, set.2008. Disponível em:
http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=9573. Acesso em: jan. 2012.

Palavras-chave: preços agropecuários paulistas, variação anual acumulada, 2011.


Data de Publicação: 11/01/2012

Autor(es): Luis Henrique Perez Consulte outros textos deste autor
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