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Rações: o robusto segmento pet food
Nos
últimos anos tem sido expressivo o crescimento do segmento de alimentos para
animais de estimação, companhia e segurança (pet food) na cadeia
brasileira de produção de rações, embora em termos quantitativos seja ainda
pouco representativo. O consumo de alimentos completos para cães e gatos, itens
mais importantes deste segmento, corresponde a cerca de 3% do total do setor de
rações que contabilizou, em 2010, 61,4 milhões de
toneladas1.
Contudo, as vendas têm alcançado cifras elevadas, tal a importância do
valor De
acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos para Animais de
Estimação (ANFAL Pet)2, o segmento movimenta quase US$70 bilhões no
mundo, dos quais 6% cabem ao Brasil. O parque industrial brasileiro tem 130
fábricas e, aproximadamente, 600 marcas. A
ANFAL Pet estimou a produção brasileira de ração para animais de estimação de
2010 em 1.831 mil toneladas, o que significa um acréscimo de 4,5% em relação ao
volume obtido no ano precedente. O
faturamento destes alimentos, por sua vez, apresentou acréscimo de 15,1%,
totalizando R$7,2 bilhões. O lançamento de novas formulações e as vendas de
produtos com maior valor agregado confirmam a tônica do dinâmico mercado de
pet food. Para
efeito de ilustração, dados da associação apontam que o fechamento de todo o
complexo pet em 2010 totalizou R$11 bilhões com a seguinte distribuição:
alimentação (66%), serviços (20%), equipamentos e acessórios e produtos para
higiene animal (8%) e medicamentos veterinários (6%). De
modo geral, os componentes essenciais de toda ração animal, representados pelo
binômio proteína-energia, são, no caso do Brasil, o milho e a soja (farelo),
devido à abundância destes dois ingredientes que ocupam a maior área cultivada
com grãos. De
fato, o que mais encarece a ração é a extensa gama de "outros" ingredientes. Uma
ração superpremium, por exemplo, pode conter mais de 50 itens.
A não
disponibilidade de séries históricas de preços dificulta a avaliação da evolução
do mercado de ração pet. Essa é uma lacuna a ser preenchida por uma
entidade de classe ou, preferencialmente, por um órgão oficial com experiência
em levantamentos de dados e análises estatísticas3.
A
diversidade de tamanhos de embalagens confunde os compradores, pois há
necessidade de conversão do valor total para um quilograma (kg) para que se
possa comparar os preços dos vários tipos e marcas. A padronização das
embalagens e menor número de itens facilitariam a escolha e as análises de
preços. O uso
de componentes proteicos animais na formulação das rações (carnes e peixes)
também é prática comum, pois os maiores consumidores do segmento pet
(cães e gatos) são originariamente carnívoros. No
entanto, a alimentação exclusivamente vegetal ("vegan", termo derivado de
vegetarian) e a alimentação orgânica vêm ganhando força ao serem
ministradas para animais cujos proprietários seguem esta dieta alimentar. Esta
nova moda é polêmica, pois há quem ache que negar carne a animais carnívoros
mostra que a humanização dos bichos domésticos não tem limites e pode
prejudicá-los4. Além
disso, nas rações são utilizados os processos de extrusão e peletização, que
conferem maior eficiência alimentar, melhor palatabilidade, redução na
segregação de ingredientes e de perdas, facilidade no manejo e transporte e,
ainda, melhor conservação. O
segmento de pet food caracteriza-se pela diversidade de especificações
que apresenta. Por exemplo, no caso de gatos em que a castração é indicada para
evitar a proliferação desenfreada da prole, tal a facilidade de multiplicação da
espécie, o controle alimentar/dietético é fundamental para evitar a obesidade e
doenças correlatas, tais como diabetes e calculose renal. Para tanto, existem
rações específicas conforme a faixa etária dos animais: jovens, maduros e
seniores.
Assim, para cada uma dessas faixas existe uma dieta apropriada, com
teores Esse
requinte é bom por um lado, pois mostra a eficiência dos produtos finais, mas
por outro impede que a ração tenha um tratamento fiscal equivalente aos animais
de criação cuja finalidade essencial é a obtenção de proteínas (carne e leite,
em especial).
Embora o segmento industrial, há vários anos, reivindique a redução da carga
tributária, por conta do apelo de que hoje a convivência com os animais de
companhia é considerada benéfica para o bem estar e segurança da população, os
esforços têm sido em vão sob a alegação, por parte das autoridades constituídas,
de que se trata de bens supérfluos não comparáveis aos componentes da cesta
básica humana. Cabe
lembrar, porém, que o item alimentação animal é um componente do levantamento do
índice de custo de vida do DIEESE e da FIPE, embora com participação ainda
relativamente pequena. O
"tratamento" tributário para esse insumo é bastante elevado (quase 50%), o que
inibe o uso mais generalizado de ração balanceada em substituição à comida
caseira, cujo uso é desaconselhado pelos veterinários, pois nem sempre contém os
ingredientes essenciais ao bem estar e longevidade do animal.
A
expectativa para 2011 é de que a produção física de rações para esse segmento
diminua cerca de 3% em relação ao ano anterior, por conta da persistência da
crise econômica e da elevada carga tributária. Assim, a produção poderá atingir
1.782,6 toneladas, segundo a ANFAL Pet.
Analistas mais otimistas apontam acréscimo da mesma grandeza, já que esse
segmento apresenta potencial para crescimento, inclusive com ampliação da
exportação, já que opera com um parque fabril com elevada ociosidade, da ordem
de 50%. Além do mais, estima-se que pouco mais de 40% dos animais domésticos
utilizem rações preparadas na sua dieta alimentar. E o
gato é a "bola da vez" no mercado pet e considerado como o pet do
século XXI, diante do potencial que se apresenta para este
mascote5. As
projeções populacionais brasileiras, feitas por aquela entidade de classe para
2011, são de 34 milhões de cães e 18 milhões de gatos, além de um grande
contingente de outras mascotes, principalmente aves (18 milhões) e peixes
ornamentais (8,5 milhões). A propósito, o maior crescimento em 2010 foi
registrado para os felinos domésticos com 8%, comparados a 4% para os
canídeos. Essas
cifras conferem ao país o segundo lugar no mundo quanto ao número de cães e
gatos e o quarto quando considerada toda a população de
pets. De
acordo com projeções feitas pelo Euromonitor International, o Brasil poderá
ocupar o segundo lugar em termos de vendas de pet food no varejo a partir
de 2013, atrás apenas dos Estados Unidos, de longe o top do mundo. O
levantamento arrola duas companhias brasileiras entre as dez maiores do mundo no
segmento de alimentação para animais de estimação6.
A
humanização tem levado os proprietários a tratarem seus animais com alimentos de
qualidade (premium e superpremium), para que vivam saudáveis e por muito mais
tempo. Também a alimentação orgânica vem crescendo muito nos últimos anos e a
"vegan", embora incipiente, já se faz presente no mercado. Esses tipos de
alimentos têm apresentado considerável crescimento, sobretudo nos Estados Unidos
e logo poderão se tornar uma tendência globalizada. A
produção de petiscos (bifinhos e ossinhos) vem aumentando acentuadamente,
inclusive com a entrada de frigoríficos e abatedouros no mercado utilizando
partes animais. Muitas delas, até certo tempo, eram descartadas, casos do couro
bovino e ossos. A ração úmida, em lata ou em pacote, também mostra
avanços. A
tendência do setor é de: acelerado surgimento de novos produtos, popularização
de alimentos funcionais, exploração de nichos de mercado, ênfase na
palatabilidade e em embalagens cada vez mais adequadas à conservação do
alimento. Por intermédio da genômica, há possibilidade de se obter dieta
customizada, ou seja, feita sob encomenda com pesquisas já em andamento. Além da
utilização dos avanços das nanotecnologias para aumentar a segurança dos
produtos alimentares e proporcionar bem estar para os animais.
Existem diversas áreas exclusivas na indústria alimentícia humana e animal em
que a nanotecnologia pode ser aplicada: transformação de nutrientes em
nanopartículas e nanomateriais com novas propriedades, preparação de
nanomateriais conservantes e antimicrobianos, desenvolvimento de
nanodispositivos de análise, monitoramento e segurança alimentar, criação de
novas embalagens, etc.7 Prova
de que a extensão do segmento de pet food não tem fronteiras foi a
recente constatação pelos autores deste texto em um documentário da National
Geografic sobre o Alasca, em que se viam sacos de ração industrializada nos
trenós puxados por cães. Como se sabe, no passado esses animais de tração da
região eram alimentados exclusivamente com fontes de proteínas animais - carnes
de foca e de baleia e peixes, como o salmão. Hoje comem milho e soja e outros
ingredientes proteicos e energéticos, além de vitaminas e sais minerais. Sinal
dos tempos! 2ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE
FABRICANTES DE ALIMENTOS PARA ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO - ANFAL Pet. Mercado Pet
Brasil. São Paulo: ANFALPET, 2011. 3NOGUEIRA JUNIOR, S.;
NOGUEIRA, E. A. e. Alimentos para animais de estimação resistem à crise
econômica. SP: IEA. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v.
4, n. 11, nov. 2009. 4TURRER, R.; MAIA JUNIOR,
H.; MOURA, M. Quem inventou o cachorro vegetariano? Revista Época, n.
671, p. 90-96, SP: Ed. Globo, 28 mar. 2011. 5PASSOS, C. Os gatos
invadem o mercado pet. Pet Shop News, São Paulo, v. 2,
n. 14, p. 26, 2010. 6PHILLIPS-DONALDSON, D.
Rising petfood powers. Petfood Industry, Illinois: Watt Publishing,
p.22-29, May 2009. 7FRANÇA, J.; SAAD, F. N.
M. Importância da nanotecnologia na indústria pet food. Pet Food Brasil,
São Paulo, n. 6, p.44-49, jan./fev. 2010. Palavras-chave:
alimentos pet,
animais domésticos, alimentos preparados.
agregado à
ração em decorrência de serem utilizados em sua composição ingredientes de alto
custo com finalidades específicas e de incorporar avançada inovação
tecnológica.
adaptados de
gordura e energia, tendo em vista que o animal castrado tem seu apetite
aumentado por disfunções hormonais e "aproveita" tudo o que come. O mesmo se
aplica a cães e outras espécies.
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1ZANNI, A. Indústria de
ração cresceu mais de 5 % em 2010. Boletim Informativo do Setor de
Alimentação Animal, São Paulo, mar. 2011.
Data de Publicação: 16/05/2011
Autor(es):
Sebastião Nogueira Junior (senior@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Elizabeth Alves e Nogueira (enogueira@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor