Trigo: produção paulista menor em 2010

            O Brasil tem se destacado nos últimos anos como o maior importador de trigo, alternando essa posição com o Egito. Nos últimos três anos, importou anualmente algo em torno de 6 milhões de t, mais de 50% de suas necessidades domésticas, de 10,7 milhões de t em 2009/10. Porém, uma peculiaridade da inserção brasileira no mercado internacional de trigo é que, por força dos acordos comerciais do MERCOSUL, a origem das importações é predominantemente da Argentina, Paraguai e Uruguai. Importações de países de fora do bloco são taxadas pela Tarifa Externa Comum (TEC), atualmente de 10%. Portanto, essas importações ocorrem quando se esgota a disponibilidade do bloco.

            As importações de trigo do Uruguai e do Paraguai vêm aumentando nos últimos anos. Os principais importadores brasileiros têm se voltado para estes países como alternativa parcial de suprimento, dentro do bloco MERCOSUL, devido à menor oferta argentina. A produção argentina, que já atingiu níveis de 16 milhões de t, neste ano-safra 2009/10, deverá produzir apenas 9,6 milhões de t (Tabelas 1 e 2).

Tabela 1 - Importação Brasileira de Trigo por País de Origem, 2007-2009
(em t)

Ano
Argentina
Paraguai
Uruguai
Estados Unidos
Canadá
2007
5.630.214
153.405
146.219
354.065
340.991
2008
4.234.681
520.006
88.163
907.323
272.889
2009
3.215.311
811.456
862.701
214.146
302.323
Fonte: Secretaria de Comércio Exterior (SECEX).

Tabela 2 - Importação Brasileira de Farinha de Trigo por País de Origem, 2007-2009
(em t)

Ano
Argentina
Paraguai
Uruguai
Estados Unidos
Canadá
2007
604.683
962
18.099
286
2
2008
638.095
2.360
40.785
-
3
2009
596.454
4.572
35.380
-
47
Fonte: Secretaria de Comércio Exterior (SECEX).

            A produção nacional de trigo, conforme as estimativas da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi de 5,4 milhões de t em 2009/10, acusando um aumento de 9,4% relativamente ao período anterior. A produção está concentrada nos Estados da região sul assim distribuída: 53,3% para o Paraná, 33,5% no Rio Grande do Sul e 5,6% em Santa Catarina.

            A partir do ano-safra 2007/08, quando a área colhida acusou um aumento de 27%, o que resultou em um volume recorde de produção de 6 milhões de t, a área tem se mantido entre 2,4 e 2,5 milhões de ha, embora o rendimento das duas safras subsequentes tenha sido menor em 20% e 17% (Tabela 3).

Tabela 3 - Área, Produção e Rendimento de Trigo, Brasil, 2006-2010

Ano-safra
Área (ha)
Produção (t)
Rendimento (kg/ha)
2005/06
1.560.175
2.484.848
1.593
2006/07
1.853.224
4.114.057
2.220
2007/08
2.363.893
6.027.131
2.550
2008/09
2.422.512
4.942.940
2.040
2009/10
2.544.407
5.407.956
2.125
Fonte: IBGE.

            Essa mudança de patamar a partir de 2007/08 deve-se muito a elevações de preços na entressafra, principalmente a partir de março quando se inicia o plantio. Houve um aumento nos níveis de produção; porém, também, os preços caíram por ocasião da colheita, frustrando a comercialização. Neste ano os preços estão baixos nesse momento de decisão de plantar e, em termos reais, são os níveis mais baixos dos últimos dez anos. Os preços recebidos pelos triticultores paulistas em março de 2010 foi de R$23,77 por 60 kg, enquanto no mesmo mês dos três anos anteriores, foi sempre superior a R$ 31,00, sendo que em março de 2008 foi de R$ 41,98 por 60 kg (Figura 1).

Figura 1 – Preços1 Reais de Trigo Recebidos pelos Produtores Paulistas, 2000-2010. 

1Preços atualizados para março de 2010 pelo IGP-DI, da Fundação Getúlio Vargas.
Fonte: Instituto de Economia Agrícola.
 

            A produção paulista de trigo é pequena (2,4% do total nacional), mas é competitiva, uma vez que o estado é o maior consumidor do País e é uma das regiões onde o plantio se inicia mais cedo, a partir de 15 de março. Portanto entra mais cedo no mercado e pode se beneficiar de preços mais elevados. Ainda assim, a comercialização tem sido frustrada nos últimos anos, pois os preços têm sido desanimadores por ocasião da safra.

            A cultura do trigo em São Paulo, de acordo com os dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA), está concentrada nas áreas dos Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDRs) de: Itapeva (com 48% da área cultivada no Estado), Avaré (20%), Itapetininga (11%), Assis (11%), Ourinhos (4%) e Sorocaba (2%). O restante, 4%, está distribuído entre outras seis regiões do Estado, que adquirem importância econômica regional, constituindo-se em principal alternativa de cultivo de inverno, tanto com relação à renda quanto ao solo e ao sistema de plantio direto.

            O plantio está sendo realizado, mas as perspectivas são de redução de área em todas as regiões tritícolas do Estado de São Paulo, face aos elevados níveis de estoques de outros Estados, causando até problema de armazenagem para a safra de verão que está sendo colhida. Portanto, os preços estão baixos, abaixo do mínimo estabelecido pelo Governo, que é de R$31,80 por saca de 60 kg para o produto tipo pão. Estimativas preliminares acusam redução de área da ordem de 17%, mas em algumas regiões previsões extra-oficiais chegam a algo em torno de 40%.

            O plantio no Estado de São Paulo pode ser efetuado, segundo as orientações técnicas, até 15 de junho. Portanto esse é o limite do período em que algum fato novo poderá ocorrer e reverter o quadro atual.

Palavras-chave: trigo, produção.

Data de Publicação: 06/05/2010

Autor(es): José Roberto Da Silva (josersilva@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor