Uma Visão das Áreas de Preservação Permanente na Bacia do Rio Sorocaba e Médio Tietê

(1)

            No Brasil, menos de 8% da área de domínio de Mata Atlântica preserva suas características originais. São Paulo possui dois importantes biomas brasileiros: Mata Atlântica e Cerrado. Historicamente, a agricultura provocou desmatamento e degradação das terras e ainda implica pressão sobre os 4,3 milhões de ha2 (17,3%) cobertos por vegetação nativa, mostrando-se abaixo dos indicadores atuais desse tipo de cobertura definido na legislação ambiental. O Estado, de acordo com o Levantamento das Unidades de Produção Agropecuária (Projeto LUPA)3 da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA), possui mais de 322 mil Unidades de Produção Agropecuária (UPAs).

            Devido à relevância para o equilíbrio ecológico, a restauração e o reflorestamento de zonas ciliares assumem importância estratégica no contexto da recuperação de áreas degradadas em São Paulo. O governo do Estado de São Paulo reconheceu a necessidade de implementar um programa que adote uma abordagem ampla e transdisciplinar das questões relacionadas à prevenção e recuperação de áreas degradadas, incluindo também o desenvolvimento de estudos e instrumentos visando à remuneração pelos serviços ambientais prestados pelas florestas ciliares e o desenvolvimento e difusão de modelos de manejo sustentável dos produtos não madeireiros da mata ciliar, incentivando, assim, a preservação da vegetação remanescente e contribuindo para prevenir sua degradação. Conhecer o perfil do produtor e da propriedade é fundamental para o sucesso do programa.

            Foi feita uma amostra4 com o objetivo de estimar as áreas marginais dos cursos d’água sem vegetação ciliar em 19 das 22 Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRHI)5 no Estado de São Paulo. Parte dos resultados da Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Rio Sorocaba e Médio Tietê (UGRHI-10) será apresentada a seguir.

            Foram levantados 95 imóveis rurais, que foram agrupados em sete estratos de área (Tabela 1). Um único imóvel corresponde a 60% da área levantada e 92% das UPAs têm área que corresponde a 14% do total.

Tabela 1 - Estratos de Área de Imóveis Rurais, Bacia do Rio Sorocaba e Médio Tietê, Primeiro Semestre de 2007 

Estrato 
UPA 
Área total
Área média 

(ha)

Desvio médio 
n.
%
ha
%
(0 a 20]
49
52
512,5
3
10,5
5,3
(20 a 50]
23
24
682,1
3
29,7
5,4
(50 a 200]
15
16
1.532,2
8
102,1
36,4
(200 a 500]
2
2
619,5
3
309,8
53,2
(500 a 1.000]
3
3
1.881,6
9
627,2
63,8
(1.000 a 5.000]
2
2
2.820,6
14
1.410,3
369,7
Acima de 5.000
1
1
-
60
11.873,0
-
Total
95
100 
19.921,4
100
209,7
326,7
Fonte: Dados da pesquisa.

            A tabela 2 mostra como a água é distribuída nas UPAs. Pode-se notar que mais da metade das propriedades levantadas possuem nascentes. Observa-se, também, que são poucas as UPAs que não possuem córrego, rio ou nascente.

Tabela 2 – Número de UPAs que Possuem Nascentes ou Não Possuem Nenhuma Água, Bacia do Rio Sorocaba e Médio Tietê, Primeiro Semestre de 2007

 UPA
n.
%
Possui nascente
53
56
Nenhuma água
8
8
Fonte: Dados da pequisa.

            A composição da área ciliar ideal das propriedades foi calculada somando todas as áreas que necessitam de vegetação ciliar, a partir das informações do número de nascentes e da largura e extensão dos rios e córregos (Tabela 3).

Tabela 3 - Soma das Áreas Ciliares nas UPAs, Bacia do Rio Sorocaba e Médio Tietê, Primeiro Semestre de 2007
(em ha)

 Item
APP1 ideal
APP nascente
Mata ciliar
Matas totais2
Total
1.171,5
117,0
5.255,0
1.341,5
Mínimo
0,0
0,0
0,0
0,0
Máximo
249,6
23,6
4.526,0
270,0
Médio
12,3
1,2
55,3
14,1
1Área de preservação permanente.
2Excluída a mata ciliar.
Fonte: Dados da pequisa.

            A vegetação existente nessa área foi levantada a partir de questionário (Tabela 4). Pode-se notar que existe uma predominância de mata, seguida de pasto, divisa e cana-de-açúcar nas áreas ciliares.

Tabela 4 – Composição da Área1 de Preservação Permanente (Nascentes, Rios e Córregos), Bacia do Rio Sorocaba e Médio Tietê, Primeiro Semestre de 2007

Cultura
Área (ha)
Part. %
Bananeira
1,6
0,1
Cana-de-açúcar
74,0
6,1
Divisa
180,9
15,0
Frutíferas
1,2
0,1
Laranja
0,6
0,0
Mata
741,8
61,4
Pasto
194,0
16,1
Taboa
11,8
1,0
Várzea
2,7
0,2
Total
1.208,4
100,0
1Área calculada.
Fonte: Dados da pequisa.

            Se por um lado mais de 50% das áreas levantadas não têm a área de preservação permanente (APP) ciliar necessária ao cumprimento da lei, por outro mais de 20% possuem a APP maior do que a lei determina. Na tabela 5 pode-se observar como estão distribuídas as APPs por estrato de área e que em quase todos os estratos existe falta de mata ciliar.

Tabela 5 – Área de Preservação Permanente por Estratos de Área nas UPAs, Bacia do Rio Sorocaba e Médio Tietê, Primeiro Semestre de 2007
(em n.)

Estrato
UPA
Sem água
Sem APP
Menos que ideal
Ideal
Mais que ideal
(0 a 20]
49
7
8
18
2
14
(20 a 50]
23
1
2
11
-
9
(50 a 200]
15
-
-
10
1
4
(200 a 500]
2
-
-
1
-
1
(500 a 1.000]
3
-
-
2
-
1
(1.000 a 5.000]
2
-
-
1
-
1
Acima de 5.000
1
-
-
-
-
1
Total
95
8
10
43
3
21
Fonte: Dados da pequisa.

            A tabela 6 apresenta a soma dos dados informados pelos produtores em relação à área total da UPA de culturas anuais, perenes, semi-perene, área de pastagem, reflorestamento, matas naturais totais, matas ciliares e o total de área ciliar6 de preservação permanente.

            Conclui-se que a necessidade de conhecer com detalhes como é o uso do solo nas UPAs e nas APPs torna viável a determinação da importância relativa, tanto em termos de área como de possibilidade de geração de renda. O trabalho mostra que não existe correlação entre preservação das APPs e tamanho das UPAs.

Tabela 6 – Composição da Área1 Total das UPAs Levantadas, Bacia do Rio Sorocaba e Médio Tietê, Primeiro Semestre de 2007
(em ha)

UPAs
Área
Anuais
463,9
Perenes
4.418,7
Semi-perene
4.349,5
Pastagem
3.130,4
Reflorestamento
791,2
Matas naturais totais
1.341,5
Mata ciliar
5.255,0
Total APP
1.318,2
Área total
19.921,4
1Área declarada.
Fonte: Dados da pequisa.

            A vegetação natural alcança 4,3 milhões de ha dos 24,8 milhões de ha do território estadual, abaixo dos 20% necessários apenas para cumprir as normas da Reserva Legal. Por meio dos dados, verifica-se que na Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Rio Sorocaba e Médio Tietê, o principal uso nas UPAs é para pastagem. Melhorar a qualidade dos pastos e aumentar a capacidade de lotação das pastagens pode liberar área para o plantio das APPs.

________________________
1Este trabalho é parte do projeto de Recuperação de Matas Ciliares no Estado de São Paulo, da Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo, com financiamento do Global Environment Facility (GEF).

2SÃO PAULO (Estado). Secretaria do Meio Ambiente. Inventário florestal da vegetação natural do Estado de São Paulo 2008-2009. São Paulo, IF, mar. 2010. Disponível em: <http://www.ambiente.sp.gov.br/uploads/ arquivos/inventarioFlorestal/MAPA.pdf>. Acesso em: mar. 2010.

3SÃO PAULO (Estado). Projeto LUPA 2007/2008: levantamento censitário de unidades de produção agrícola do Estado de São Paulo 2007/08. São Paulo: SAA/IEA/CATI, 2009. Disponível em: <http://www.cati. sp.gov.br/projetolupa>. Acesso em: 22 mar. 2010.

4Amostra cujos elementos foram obtidos a partir de informações das Unidades de Produção Agropecuárias (UPAs) contidas no Levantamento Censitário de Unidades de Produção Agropecuária, da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA), realizado em 1995/96. A amostra ficou composta por 1.108 UPAs selecionadas e o levantamento de dados de campo ocorreu durante o primeiro semestre de 2007.

5Destaca-se que não será feito o levantamento nas Bacias Litorâneas pela configuração atual de relevo e cobertura vegetal.

6Não foram incluídas nesse cálculo de APP as áreas de topo de morro e muito íngremes.

Palavras-chave: mata ciliar, composição de áreas, água.

Data de Publicação: 27/04/2010

Autor(es): Ana Maria Pereira Amaral (apmaral@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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Raquel Castelluci Caruso Sachs (raquelsachs@apta.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor