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Comércio Exterior da Floricultura Brasileira em 2009: ponto de inflexão
O
valor das exportações dos produtos da floricultura brasileira encerrou o ano de
2009 com US$31,5 milhões, segundo a Secretaria de Comércio Exterior
(SECEX)1, com queda significativa (-11,4%) em relação a 2008. Por
outro lado, o valor das importações em 2009 (US$20 milhões) apresentou um
acréscimo de grande magnitude (+ 41,5%) em comparação com o de 2008.
Consequentemente, o saldo comercial ficou no patamar de US$11,6 milhões, com um
desempenho bem aquém do desejado (-46,2%), comparado com o período
anterior.
A
gravidade do desempenho acima fica evidente vis-à-vis o desempenho do comércio
exterior da floricultura brasileira desde 1997: em 2009, pela primeira vez, o
valor da exportação total muda de curvatura no sentido descendente, enquanto o
saldo da balança cai pelo segundo ano consecutivo à medida que o valor da
importação continuou o movimento ascendente pelo quarto ano consecutivo (Figura
1).
Figura 1 – Balança Comercial Brasileira dos Produtos da Floricultura, 1997 a 2009.
Fonte: Instituto de Economia Agrícola (IEA) com base na Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – SECEX/MDIC. Disponível em: <http://aliceweb. desenvolvimento.gov.br/>. Acesso em: 16 mar. 2010.
Contribuiu para o desempenho desfavorável do comércio exterior da floricultura brasileira em 2009 a queda generalizada no valor exportado dos quatro grupos2 de produtos. O grupo de flores apresentou maior decréscimo (-39,2%) em relação ao ano anterior, embora represente a menor fatia do total exportado (4,7%) com o valor de US$1,5 milhão. Os grupos folhagens, bulbos e mudas apresentaram quedas da ordem de -13,1%, -9,5% e -8,8%, respectivamente. A participação do grupo de bulbos no valor total exportado é o maior, com US$14,4 milhões (45,8%), seguido do grupo de mudas, com US$13,9 milhões (44%), e, em terceiro lugar, o grupo de folhagens, que deteve a fatia de 5,6% (US$1,8 milhão) (Figura 2).
Figura 2 – Balança Comercial Brasileira
dos Produtos da Floricultura, por Grupo, 2008 e 2009.
Fonte: Instituto de Economia Agrícola (IEA) com base na Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – SECEX/MDIC. Disponível em: <http://aliceweb. desenvolvimento.gov.br/>. Acesso em: 16 mar. 2010.
Em 2009, as exportações brasileiras tiveram como destino 42 países, dos quais dois parceiros comerciais absorveram 78,1% do valor das vendas ao exterior. Embora a Holanda continue invicta como destino principal dos produtos da floricultura brasileira em termos de valor comercializado (US$18,6 milhões) – respondendo por 59,1% do total – pela primeira vez a magnitude da queda (-15,5%) superou o do segundo parceiro comercial mais importante, os Estados Unidos. Neste caso, o valor comercializado foi de US$6 milhões (18,9% da fatia) com consequente queda no valor comercializado (-6,4%).
Outros destinos comerciais de destaque em termos de volume foram Itália, Bélgica, Japão e Alemanha, com 8,8%, 2,3%, 1,9% e 1,3% do valor total da exportação, respectivamente. Quanto à variação anual mais significativa, os seguintes parceiros comerciais apresentaram melhores desempenhos: Colômbia (+14.372,5%), Peru (+7.472,2%), Hong Kong (+3.414,3%) e Cabo Verde (+355,3%) (Tabela 1).
Os países que já foram clientes de produtos da floricultura brasileira em 2008, mas sem registro de transações na base de dados da SECEX durante 2009, são: Equador, Israel, Dinamarca, Paraguai, Grécia, Guiana Francesa, Rússia, Egito e Emirados Árabes. No conjunto, esses países movimentaram cerca de US$156,4 mil em 2008. Os seguintes países voltaram a ser importadores da floricultura brasileira: Uganda, Senegal, Etiópia, Honduras, Azerbaijão, Turquia, Suécia e Austrália, movimentando US$63,3 mil em 2009.
Um indicador importante para os exportadores brasileiros é o valor da exportação mensal e sua variação em relação ao período anterior, para fins de prospecção de demanda, sinalização de tendência e futuro contato com clientes. No ano de 2009, só o mês de setembro apresentou claro sinal de crescimento (+53,9%), embora junho e outubro já apresentassem traços de ascensão. Nos outros meses as exportações apresentaram variação negativa, ficando muito evidente o desempenho desfavorável em julho (-24,5%) e agosto (-17,3%) no âmbito da variação absoluta, embora em termos percentuais a queda apresentada em março (-26,6%) seja a maior (Figura 3).
Esse é o novo panorama do comércio exterior da floricultura brasileira, momento de turning point desfavorável em 2009. Como reverter esta delicada situação? Até recentemente, o aumento nas importações parecia alimentar o aumento no valor exportado através da re-exportação de insumos, como no caso de bulbos, trabalhado para acelerar o processo produtivo em países líderes na produção e comercialização de produto final de floricultura – com floração mais precoce –, caso típico da Holanda.
Embora o cenário macroeconômico de recessão mundial possa ser mencionado como atenuante para o desempenho negativo do setor, há que se lembrar que o País ocupa somente 1% da fatia comercializada no mercado internacional de produtos da floricultura. Tudo indica que a mesma lição dada como caminho de desenvolvimento de uma região se aplica em termos globais à floricultura nacional.
Cabe ao setor neste momento – como estratégia para reverter a tendência –aprender as lições de competitividade que os indicadores do desempenho da floricultura brasileira insistem em evidenciar nos últimos anos, bem como ouvir recomendações técnicas que instituições de amparo e orientação ao setor – SEBRAE Floricultura Nacional, Câmara Setorial de Flores do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), instituições de pesquisa e empresas de consultoria – têm para oferecer aos agentes da cadeia produtiva e tomar as ações economicamente viáveis.
Tabela 1 – Exportação dos Produtos da Floricultura Brasileira, por País de Destino, 2008 e 2009
País |
|
|
| ||||||
FOB (US$) |
Ranking |
Part.
(%) |
FOB
(US$) |
Ranking |
Part.
(%) |
Part. Acum.
(%) | |||
Holanda |
22.067.059 |
1 |
62,0 |
18.645.629 |
1 |
59,1 |
59,1 |
-15,5 | |
Estados Unidos |
6.376.825 |
2 |
17,9 |
5.966.526 |
2 |
18,9 |
78,1 |
-6,4 | |
Itália |
2.656.913 |
3 |
7,5 |
2.758.813 |
3 |
8,8 |
86,8 |
3,8 | |
Bélgica |
824.912 |
4 |
2,3 |
720.587 |
4 |
2,3 |
89,1 |
-12,6 | |
Japão |
677.723 |
5 |
1,9 |
606.356 |
5 |
1,9 |
91,0 |
-10,5 | |
Alemanha |
622.308 |
6 |
1,7 |
394.773 |
6 |
1,3 |
92,3 |
-36,6 | |
Canadá |
586.749 |
7 |
1,6 |
389.253 |
7 |
1,2 |
93,5 |
-33,7 | |
Portugal |
453.304 |
8 |
1,3 |
352.333 |
8 |
1,1 |
94,6 |
-22,3 | |
Polônia |
145.180 |
11 |
0,4 |
280.422 |
9 |
0,9 |
95,5 |
93,2 | |
Angola |
126.234 |
13 |
0,4 |
276.440 |
10 |
0,9 |
96,4 |
119,0 | |
Uruguai |
166.622 |
10 |
0,5 |
168.867 |
11 |
0,5 |
96,9 |
1,3 | |
Chile |
168.452 |
9 |
0,5 |
166.435 |
12 |
0,5 |
97,5 |
-1,2 | |
Peru |
2.113 |
35 |
0,0 |
160.000 |
13 |
0,5 |
98,0 |
7.472,2 | |
Colômbia |
850 |
39 |
0,0 |
123.016 |
14 |
0,4 |
98,4 |
14.372,5 | |
México |
134.543 |
12 |
0,4 |
84.406 |
15 |
0,3 |
98,6 |
-37,3 | |
Argentina |
87.848 |
15 |
0,2 |
75.590 |
16 |
0,2 |
98,9 |
-14,0 | |
Reino Unido |
31.986 |
22 |
0,1 |
55.310 |
17 |
0,2 |
99,0 |
72,9 | |
Uganda |
- |
- |
- |
41.411 |
18 |
0,1 |
99,2 |
- | |
Espanha |
102.645 |
14 |
0,3 |
38.691 |
19 |
0,1 |
99,3 |
-62,3 | |
China |
16.167 |
24 |
0,0 |
35.420 |
20 |
0,1 |
99,4 |
119,1 | |
Índia |
17.862 |
23 |
0,1 |
34.450 |
21 |
0,1 |
99,5 |
92,9 | |
Hungria |
32.760 |
21 |
0,1 |
27.225 |
22 |
0,1 |
99,6 |
-16,9 | |
República Tcheca |
52.693 |
17 |
0,1 |
25.096 |
23 |
0,1 |
99,7 |
-52,4 | |
Suíça |
5.737 |
29 |
0,0 |
22.151 |
24 |
0,1 |
99,8 |
286,1 | |
Hong Kong |
453 |
41 |
0,0 |
15.920 |
25 |
0,1 |
99,8 |
3.414,3 | |
Gana |
6.526 |
28 |
0,0 |
12.885 |
26 |
0,0 |
99,9 |
97,4 | |
França |
32.880 |
20 |
0,1 |
7.999 |
27 |
0,0 |
99,9 |
-75,7 | |
Senegal |
- |
- |
- |
6.680 |
28 |
0,0 |
99,9 |
- | |
Etiópia |
- |
- |
- |
6.255 |
29 |
0,0 |
99,9 |
- | |
Honduras |
- |
- |
- |
4.677 |
30 |
0,0 |
99,9 |
- | |
Taiwan (Formosa) |
3.754 |
30 |
0,0 |
3.801 |
31 |
0,0 |
99,9 |
1,3 | |
Ucrânia |
13.749 |
25 |
0,0 |
3.625 |
32 |
0,0 |
100,0 |
-73,6 | |
Cabo Verde |
667 |
40 |
0,0 |
3.037 |
33 |
0,0 |
100,0 |
355,3 | |
Azerbaijão |
- |
- |
- |
2.506 |
34 |
0,0 |
100,0 |
- | |
Indonésia |
7.500 |
27 |
0,0 |
2.070 |
35 |
0,0 |
100,0 |
-72,4 | |
África do Sul |
418 |
42 |
0,0 |
1.585 |
36 |
0,0 |
100,0 |
279,2 | |
Bolívia |
11.056 |
26 |
0,0 |
1.311 |
37 |
0,0 |
100,0 |
-88,1 | |
Turquia |
- |
- |
- |
1.107 |
38 |
0,0 |
100,0 |
- | |
Coreia do Sul |
1.725 |
37 |
0,0 |
900 |
39 |
0,0 |
100,0 |
-47,8 | |
Suécia |
- |
- |
- |
668 |
40 |
0,0 |
100,0 |
- | |
Tailândia |
3.640 |
31 |
0,0 |
420 |
41 |
0,0 |
100,0 |
-88,5 | |
Austrália |
- |
- |
- |
3 |
42 |
0,0 |
100,0 |
- | |
Equador |
37.450 |
19 |
0,1 |
- |
- |
- |
- |
-100,0 | |
Israel |
313 |
43 |
0,0 |
- |
- |
- |
- |
-100,0 | |
Dinamarca |
57.606 |
16 |
0,2 |
- |
- |
- |
- |
-100,0 | |
Paraguai |
49.494 |
18 |
0,1 |
- |
- |
- |
- |
-100,0 | |
Grécia |
3.546 |
32 |
0,0 |
- |
- |
- |
- |
-100,0 | |
Guiana Francesa |
2.548 |
33 |
0,0 |
- |
- |
- |
- |
-100,0 | |
Rússia |
2.200 |
34 |
0,0 |
- |
- |
- |
- |
-100,0 | |
Egito |
1.760 |
36 |
0,0 |
- |
- |
- |
- |
-100,0 | |
Emirados Árabes |
1.471 |
38 |
0,0 |
- |
- |
- |
- |
-100,0 | |
Total |
35.593.010 |
100,0 |
31.524.649 |
100,0 |
-11,4 |
Figura 3 – Exportação Mensal dos Produtos
da Floricultura Brasileira, 2008 e 2009.
Fonte: Instituto de Economia Agrícola (IEA) com base na Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – SECEX/MDIC. Disponível em: <http://aliceweb. desenvolvimento.gov.br/>. Acesso em: 16 mar. 2010.
___________________________________
1 Considerou-se nesta análise o grupo de
produtos especificados na Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM 06) da Secretaria
de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior - SECEX/MDIC nos itens de exportação, importação e saldo da balança
comercial brasileira de plantas vivas e produtos da floricultura. Disponível em:
<http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/>. Acesso em: 16 mar.
2010.
2 O Capítulo 06 da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) é composto por quatro agrupamentos de produtos: Bulbos (bulbos, tubérculos, rizomas, etc.), Mudas (mudas de plantas ornamentais, de orquídeas, etc.), Flores (flores cortadas para buquês, frescas ou secas) e Folhagens (folhas, folhagens e musgos para floricultura). No grupo de mudas estão incluídos os de não ornamentais como café, cana e videira, em valores ínfimos.
3 REIS, J. N. P. Competitividade potencial da floricultura cearense. Disponível em: <http://www2.ipece. ce.gov.br/encontro/artigos_2008/12.pdf>. Acesso em: 12 abr. 2010.
Palavras-chave: floricultura, exportação, comércio exterior, flores, bulbos, folhagens, mudas.
Data de Publicação: 26/04/2010
Autor(es):
Ikuyo Kiyuna Consulte outros textos deste autor
José Alberto Angelo (jose.angelo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Paulo José Coelho (pjcoelho@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor