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Agricultura e Aquecimento Global
Por
ocasião da reunião sobre mudanças climáticas em Köpenhagen no final de 2009, o
papel reservado à agricultura foi fundamental, seja como problema ou como
solução.
Mas
essa questão, que vem desde a ECO-92, é de fato um aquecimento ou um
resfriamento global, como alguns postulam?
O que
causaria essas duas hipóteses? Qual o papel da agricultura nesse processo? Que
dúvidas científicas permeiam essas discussões? Os dados, os modelos e as
medições que serviram de base para afirmar que haveria um aquecimento causado
pela ação humana foram objeto de "ajustes" revelados poucos dias antes da
conferência e colocaram sob suspeição as conclusões do IPCC.
Além
disso, as relações entre temperatura, concentração de CO2 e mais
outros gases do efeito estufa, acrescidos de vapor d’água na atmosfera, têm
efeitos controversos sobre o aumento ou a redução da umidade, da pluviometria e
dos níveis de absorção de radiação solar pelas diferentes coberturas da
superfície da Terra (agricultura, cidades, florestas e
oceanos).
Mesmo
os efeitos do desmatamento na evapotranspiração e na reflexibilidade da terra
(albedo) têm parâmetros muito diferentes, dependendo do estudo que é
feito.
Voltando no tempo e encontrando Lavoisier, conclui-se que a quantidade de
carbono no planeta não aumenta nem diminui: está contida no ciclo desse
elemento. O que pode aumentar o seu teor na atmosfera é, por exemplo, a extração
e queima de combustível fóssil - carvão, petróleo, gás, xisto -, que sai da
crosta e entra na atmosfera.
Antes
de prosseguir é importante reter algumas afirmações: o efeito estufa, fenômeno
natural e produzido pela história da Terra, tem o CO2 como um agente
fundamental, formador de tecidos vegetal e animal, através das pirâmides
energéticas e seus níveis tróficos. A agricultura como parte desse processo,
porém, não pode expelir mais carbono do que consome, pois integra o
ciclo.
Além
do mais, a maior concentração de CO2 contribui para aumentar a
produtividade primária nas cadeias tróficas e, portanto, aumenta a capacidade da
Terra em absorver esses gases.
Novos
dados indicam que os ecossistemas e oceanos da terra têm uma capacidade muito
maior de absorver gás carbônico do que demonstravam os estudos científicos
feitos até então. Pesquisa feita na Universidade de Bristol, na Inglaterra,
mostra que o equilíbrio entre a quantidade do gás em suspensão na atmosfera e a
que é absorvida se manteve praticamente constante desde 1850, apesar das
emissões causadas pelo homem.
Há
aproximadamente 30 anos a tese do aquecimento começou a se fortalecer e foi
baseada no aumento da concentração de determinados gases na atmosfera. No
entanto, essa tese gerou dúvidas desde o princípio. Dúvida no sentido de se
questionar para começar a investigar, que aliada à curiosidade é, como se sabe,
o berço da pesquisa e da ciência e, portanto, de todo o conhecimento
sistemático. É óbvio e salutar que a teoria científica seja sempre conjectural e
provisória. Segundo Popper:
Esse
processo de confronto da teoria com as observações poderá provar a falsidade da
teoria em pauta. Nesse caso, há que eliminar essa teoria que se provou falsa e
procurar uma outra teoria para explicar o fenômeno em análise. Além disso,
existem princípios de ordem ética, como a questão da honestidade intelectual,
quando é imperativo reconhecer os erros. A
"luta" ambientalista de vários anos foi pela sustentabilidade, apesar de
utilizar-se de outros nomes. Ela visava controle e/ou eliminação da poluição,
formas limpas e renováveis de energia, padrões diferentes de comportamento e
consumo, uso de tecnologias mais adequadas ao ambiente natural, preservação das
variadas formas de vida, restrição ao uso de recursos naturais finitos,
reciclagem, reaproveitamento, etc.
Subitamente o CO2 surge como responsável pelo aquecimento e a questão
do clima se transformou num poderoso catalisador da luta ambiental, arrebatando
corações e mentes. Porém, transformou-se o CO2, gás responsável pela
vida na Terra, em "poluição", apesar de haver dúvidas se ele é causa ou efeito
de mudanças na temperatura global.
A
falta de lógica e de rigor científico leva setores da mídia, por incrível que
pareça, a atribuírem o rigoroso inverno atual por que passa o hemisfério norte
ao aquecimento global. Ao mesmo tempo, existem empresas que trabalham com a
exploração de recursos naturais não renováveis (minérios e petróleo), que estão
se aproveitando dessa "onda" atual e se colocam como empresas sustentáveis,
combatendo o aquecimento global, o que é uma contradição. O oceanógrafo Geraldo
Zickens, coordenador de pesquisa sobre o tema, comenta:
Alguns estudos mostram que de fato o CO2 aumenta com a elavação da
temperatura média da terra, só que posteriormente ao aquecimento ter se
verificado. Sob
essa ótica, o vapor d’água, que também é responsável pelo efeito estufa, pode
por isso ser considerado poluidor? Dentro do próprio IPCC começaram a surgir
dúvidas a respeito do real papel do CO2, tanto pela precariedade dos
modelos climáticos, como das próprias medições de carbono, que são válidas para
continentes, mas não para países. Segundo Latif, "nos próximos 10 ou 20 anos",
uma tendência de resfriamento natural da Terra irá se sobrepor ao aquecimento
causado pelos humanos. Se ele estiver correto, o mundo está no limiar de um
período de uma ou duas décadas de resfriamento global. Somente depois, diz o
cientista, é que o aquecimento global se fará novamente
observável.
As
mesmas dúvidas existem sobre a temperatura média da Terra, que na grande maioria
derivam de pontos de coleta continentais e urbanizados onde se formam as "ilhas
de calor". As próprias medições sobre a participação das queimadas na Amazônia
variam em mais de 75%, como podem ser constatadas em trabalhos feitos na região,
conforme o enfoque empregado e o objetivo a ser alcançado pela
pesquisa.
Essas
deficiências de controle não permitem verificar se um acordo do clima pode ser
monitorado, principalmente no País.
Tais
ponderações são tidas como reacionárias, produtos de atitudes passionais e não
científicas, quando não a soldo de empresas. No entanto, se estiver ocorrendo de
fato um resfriamento global, tal fato apenas reforça os aspectos da luta inicial
pela sustentabilidade: é um avanço, não um retrocesso.
A
redução das emissões é importante em si, bem como o emprego das energias
renováveis. A queima do petróleo e do carvão não é nociva apenas por um
questionável aquecimento, mas por poluir, por exemplo, através do enxofre e
provocar chuva ácida. A utilização desenfreada de recursos naturais não
renováveis insere-se no mesmo padrão. A redução dos desmatamentos e das
queimadas, a adoção de técnicas sustentáveis pela agricultura, o aumento de
produtividade das pastagens, o incremento das áreas florestais e assim por
diante, são compromissos que devem ser assumidos porque apontam para um mundo
melhor, mais equilibrado e mais sustentável, transitando de ecossistemas simples
para os de maior complexidade. Por mais que se queira, não existe recuperação de
biodiversidade; espécie extinta está extinta.
Atribuir à agricultura e à pecuária grande parcela pela emissão de gases
efeito-estufa é desconhecer completamente como se processam essas atividades.
Colocar os efeitos de queimadas, no mais das vezes criminosas, como emissão de
gases pela pecuária é, no mínimo, leviano. O crescimento das pastagens e a
estocagem de carbono, que é feita por elas, não são levadas em consideração. O
desmatamento em si não causa aumento de CO2 na atmosfera. O que o
causa por um prazo um pouco mais longo é a queima do material
desmatado.
Precisaria haver mais seriedade nos estudos que são feitos também nas suas
conclusões. As atividades agrícolas são as únicas ações humanas que captam
carbono da atmosfera e o transformam em fibras, alimentos, energia, etc. Fazem o
papel que os antigos fisiocratas conferiam ao setor: é o único que produz,
enquanto os outros apenas transformam.
Palavras-chave: aquecimento global, emissões de
carbono.
Data de Publicação: 18/02/2010
Autor(es): Eduardo Pires Castanho Filho (castanho@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor