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Os Cinco Principais Destinos das Exportações Agropecuárias Brasileiras no Ano de 2008 e as Expectativas para o Comércio Exterior em 2009
Apesar da ampliação dos destinos das exportações brasileiras, a análise dos cinco principais mostra as exportações ainda muito concentradas. Tanto assim que o conjunto desses cinco mercados que compraram US$33,5 bilhões em 2006 (64,5%)1, em 2007, aumentou em valor para US$37,5 bilhões. Contudo, não se evitou o recuo para 60,7% das exportações agropecuárias brasileiras, tendência que teve continuidade em 2008, quando rendeu US$45,6 bilhões com representatividade ainda menor (59,9%). Isso decorre de a União Européia2 ter incrementos inferiores aos dos demais destinos (Tabela 1). Importantes no último ano foram as medidas protecionistas argentinas visando frear a entrada de produtos brasileiros, com o que esse parceiro latino-americano deixou o grupo dos cinco principais compradores dos agronegócios nacionais, lugar ocupado pela Venezuela, tendo ainda os portenhos sido superados pelo Japão. Enquanto principal mercado de destino dos produtos dos agronegócios brasileiros, a União Européia tem nos produtos básicos o maior percentual de sua demanda (57,8%). O grupo Cereais, Leguminosas e Oleaginosas apresentou um crescimento em sua densidade de negócios entre 2007 e 2008 de 32,9%, tendo a soja concentrado 90% do montante de seu valor. Café, Frutas e Produtos Florestais também tiveram ascensão em seus volumes transacionados do Brasil ao Bloco Europeu, declinando somente o comércio de bovídeos devido ao embargo europeu à carne bovina paulista, em função do foco de aftosa detectado no Mato Grosso do Sul em 2005, e a intensa pressão dos irlandeses como maiores perdedores, com a entrada da carne brasileira no mercado europeu após o 'mal da vaca louca' (Tabela 1). A China, segundo maior comprador dos produtos do agronegócio brasileiro, concentra suas compras na soja (produtos básicos) e nos produtos florestais (semi manufaturados) representando quase 90% do total exportado. Em 2008 as exportações para a China tiveram um crescimento de 70% em comparação com o ano anterior, esse incremento deve-se principalmente ao aumento do preço da soja no mercado internacional verificado até julho de 2008, já que o volume exportado de soja em grão cresceu no mesmo período 17,4%, com 11,8 milhões de toneladas.
Tabela 1 - Principais Destinos das Exportações Brasileiras dos Agronegócios, por Grupo, 2007 e 2008
Posição | Grupos | | |||||
| | Var.(%) 2008/07 | |||||
US$(1.000) | Part.% | US$(1.000) | Part.% | ||||
1 | Soja + (oleag., cereais, leg.) | 6.647.155 | 31,31 | 8.838.196 | 36,56 | 32,96 | |
2 | Produtos florestais | 3.410.741 | 16,06 | 3.664.404 | 15,16 | 7,44 | |
3 | Café e estimulantes | 2.156.444 | 10,16 | 2.679.600 | 11,08 | 24,26 | |
4 | Bovídeos | 2.726.941 | 12,84 | 2.098.581 | 8,68 | -23,04 | |
5 | Frutas | 2.074.504 | 9,77 | 2.085.472 | 8,63 | 0,53 | |
Subtotal | 17.015.786 | 80,14 | 19.366.254 | 80,11 | 13,81 | ||
Demais grupos | 4.216.040 | 19,86 | 4.807.873 | 19,89 | 14,04 | ||
Total | 21.231.826 | 100,00 | 24.174.127 | 100,00 | 13,86 | ||
Posição | Grupos | | |||||
| | Var.(%) 2008/07 | |||||
US$(1.000) | Part.% | US$(1.000) | Part.% | ||||
1 | Soja + (oleag., cereais, leg.) | 3.155.216 | 67,27 | 6.163.452 | 77,32 | 95,34 | |
2 | Produtos florestais | 578.631 | 12,34 | 835.772 | 10,48 | 44,44 | |
3 | Bovídeos | 491.230 | 10,47 | 375.376 | 4,71 | -23,58 | |
4 | Fumo | 271.340 | 5,78 | 367.315 | 4,61 | 35,37 | |
5 | Frutas | 66.027 | 1,41 | 70.287 | 0,88 | 6,45 | |
Subtotal | 4.562.445 | 97,27 | 7.812.203 | 98,00 | 71,23 | ||
Demais grupos | 128.206 | 2,73 | 159.380 | 2,00 | 24,32 | ||
Total | 4.690.651 | 100,00 | 7.971.582 | 100,00 | 69,95 | ||
Posição | Grupos | | |||||
| | Var.(%) 2008/07 | |||||
US$(1.000) | Part.% | US$(1.000) | Part.% | ||||
1 | Produtos florestais | 2.209.729 | 32,30 | 1.978.675 | 29,91 | -10,46 | |
2 | Bovídeos | 1.317.377 | 19,26 | 995.206 | 15,04 | -24,46 | |
3 | Café e estimulantes | 774.804 | 11,33 | 923.194 | 13,96 | 19,15 | |
4 | Cana e sacarídeas | 471.350 | 6,89 | 845.841 | 12,79 | 79,45 | |
5 | Frutas | 738.130 | 10,79 | 588.609 | 8,90 | -20,26 | |
Subtotal | 5.511.391 | 80,57 | 5.331.525 | 80,59 | -3,26 | ||
Demais grupos | 1.329.111 | 19,43 | 1.283.730 | 19,41 | -3,41 | ||
Total | 6.840.501 | 100,00 | 6.615.255 | 100,00 | -3,29 | ||
Posição | Grupos | | |||||
| | Var.(%) 2008/07 | |||||
US$(1.000) | Part.% | US$(1.000) | Part.% | ||||
1 | Bovídeos | 1.016.635 | 29,88 | 1.500.833 | 35,58 | 47,63 | |
2 | Cana e Sacarídeas | 1.047.751 | 30,79 | 1.157.724 | 27,45 | 10,50 | |
3 | Suínos e Aves | 980.351 | 28,81 | 1.086.861 | 25,77 | 10,86 | |
4 | Fumo | 115.008 | 3,38 | 156.635 | 3,71 | 36,20 | |
5 | Soja + (oleag., cereais, leg.) | 82.509 | 2,42 | 138.794 | 3,29 | 68,22 | |
Subtotal | 3.242.253 | 95,29 | 4.040.847 | 95,80 | 24,63 | ||
Demais grupos | 160.205 | 4,71 | 177.294 | 4,20 | 10,67 | ||
Total | 3.402.459 | 100,00 | 4.218.140 | 100,00 | 23,97 | ||
Posição | Grupos | | |||||
| | Var.(%) 2008/07 | |||||
US$(1.000) | Part.% | US$(1.000) | Part.% | ||||
1 | Bovídeos | 466.448 | 33,93 | 1.151.036 | 43,79 | 146,77 | |
2 | Suínos e aves | 219.534 | 15,97 | 566.993 | 21,57 | 158,27 | |
3 | Soja + (oleag., cereais, leg.) | 107.235 | 7,80 | 297.111 | 11,30 | 177,06 | |
4 | Bens de capital e insumos | 189.904 | 13,82 | 158.836 | 6,04 | -16,36 | |
5 | Produtos florestais | 124.026 | 9,02 | 147.301 | 5,60 | 18,77 | |
Subtotal | 1.107.147 | 80,54 | 2.321.278 | 88,31 | 109,66 | ||
Demais grupos | 267.472 | 19,46 | 307.207 | 11,69 | 14,86 | ||
Total | 1.374.619 | 100,00 | 2.628.485 | 100,00 | 91,22 |
Fonte: Elaborada pelo Instituto de Economia Agrícola, a partir de dados básicos da SECEX/MDIC.
No que se refere aos Estados Unidos da América, presencia-se um menor poder de compra da população, oriundo prioritariamente da crise financeira que abala a principal economia do mundo nos últimos anos, ocasionada pelo aumento do desemprego de seus cidadãos. Sendo assim, mesmo com o aumento das importações junto ao Brasil de café, cana-de-açúcar e seus derivados, o total das exportações dos agronegócios pelos estadunidenses variou negativamente em 3,3% (Tabela 1), acentuando, assim, para os dois últimos anos a redução de 7,2% nas compras norte-americanas de 2007.
Para a Rússia, diferentemente dos mercados analisados acima, entre 2007 e 2008, houve acréscimos em todos os grupos de produtos dos agronegócios analisados, com concentração basicamente nos produtos básicos de carnes (bovinas, suínas e de frangos) que, juntos, representam 61,4% do total, e no açúcar semi-processado, que atinge 27,5% de toda sua importação. Potencializada pelo montante de reservas adquiridas nos anos de bonança dos preços altos de petróleo e gás natural principalmente – seus principais produtos de exportação – a economia russa, ao contrário dos norte-americanos, possibilitou um revigoramento do poder de compra de sua população, aumentando entre outros itens sua fatia nos produtos dos agronegócios exportados pelo Brasil.
A Venezuela também beneficiada pela supervalorização dos produtos petrolíferos – que representam 90% de sua cesta de produtos vendidos no mercado externo – foi o país que mais acrescentou, entre 2007 e 2008, produtos dos agronegócios brasileiros em suas importações, com um crescimento de 91,2%. O grupo de bovinos é o principal item na pauta de exportação para a Venezuela com valor de US$1,15 bilhão e participação de 43,8% dos agronegócios, distribuídos quase uniformemente entre carne, produtos lácteos e animais vivos. Porém, a carne de frango foi a fonte de proteína animal que sozinha teve a maior participação no valor das vendas com US$531 milhões.
Sendo assim, com vendas que superaram os US$75 bilhões, o Brasil em 2008 bateu um novo recorde em suas exportações dos agronegócios. Diversificando ainda mais os destinos da produção dos agronegócios, o Brasil se destacou no comércio externo do setor principalmente com soja, madeira, carne de frango, açúcar, carne bovina, couro, álcool e laranja. Com a crise deflagrada no final do primeiro semestre de 2008, para o ano de 2009, a continuidade da expansão das exportações dos agronegócios, verificada durante todos os anos iniciais deste século XXI, poderá estar comprometida com reversão da tendência até então verificada.
A queda nos preços da maioria das commodities da agricultura nacional, ainda que a desvalorização cambial possa elevar suas cotações em moeda brasileira (pois essa mudança no câmbio afeta para cima também os custos de transação pagos em dólar), associada à escassez de crédito (ainda que tenha havido um notável esforço das autoridades governamentais nacionais em garantir recursos para financiar as vendas externas) e à expectativa de redução da demanda agregada de bens de consumo (gerada pelo aumento galopante do desemprego no mundo) são variáveis que colocam a exportação em 2009 abaixo das previsões feitas antes do aprofundamento da crise.
Entretanto, torna-se relevante salientar que isso não necessariamente significa uma piora dos resultados da balança comercial dos agronegócios, dado que a desvalorização cambial encarecendo os produtos estrangeiros acaba por reduzir as importações, que vêm caindo mais que as exportações, redundando em saldos comerciais iguais ou crescentes. Isso pode não ser efetivado somente se a crise atingir patamares mais dramáticos de queda da demanda agregada por produtos dos agronegócios, como os gêneros de primeira necessidade.
A questão mais relevante consiste no fato de que preços menores em dólar e pressão de custos dos insumos importados – por exemplo, o Brasil importa três quartos dos fertilizantes que consome -, pode afetar de forma drástica a competitividade relativa de muitas cadeias de produção da agricultura nacional, colocando em questão opções tidas como inquestionáveis até pouco tempo atrás. As perspectivas de exportação de álcool estão nesse contexto, porque uma coisa é pensar em ampliar mercados para biocombustíveis com petróleo superando US$150/barril como no primeiro semestre de 2008, outra consiste em pensar essa estratégia com o tradicional combustível fóssil vendido a menos de US$50/barril como no início de 20093.
Ademais, como se viu na análise dos destinos das exportações, o petróleo gerava cambiais para dois dos cinco principais importadores dos agronegócios brasileiros (Rússia e Venezuela). Com menores receitas do petróleo como irão se comportar esses mercados? Noutras palavras, em 2009 ainda não se conformaram a formação de expectativas sólidas sobre os rumos do comércio mundial, o que já se tem nítido é que essa crise estrutural do capitalismo, se não significa o fim da história para esse modo de produção, não será superada sem alterações profundas nas relações internacionais, de regulação de toda ordem.
O próprio pacote recente do novo Governo dos EUA inclui o temido 'by América', que privilegia produtos norte-americanos nas compras governamentais. Ou seja, as políticas deixam um pouco de lado as questões climáticas para focarem o emprego e também as discussões globais para se atentar para as locais, ainda que isso implique protecionismo. A preocupação com a fome do mundo manifestada quando da 'crise de alimentos' do primeiro semestre de 2008 deixou a pauta das discussões. Para 2009 ainda não se têm claro os desdobramentos da crise e qual a magnitude dos seus efeitos sobre o comércio mundial.
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1Os dados para a análise das variações entre 2006 e 2007 podem ser encontrados em ÂNGELO, J. A.; GONÇALVES, J. S.; PINATTI, E. Destinos das exportações dos agronegócios brasileiros de 2007. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 3, n. 3, mar. 2008. Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br>. Acesso: 2009.
2A União Européia é um bloco econômico, com união aduaneira e Política Agrícola Comum (PAC), formada por 27 países com uma população estimada em 500 milhões de habitantes.
3TORQUATO, S. A.; BINI, D. L. C. Crise na cana? Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 4, n. 2, fev. 2009. Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br>. Acesso em: 2009.
Palavras-chave: exportações brasileiras, agropecuária, 2008-2009.
Data de Publicação: 23/03/2009
Autor(es):
Danton Leonel de Camargo Bini (danton.camargo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
José Alberto Angelo (jose.angelo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
José Sidnei Gonçalves (sydy@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor