Produção de Trigo em 2009

            O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), em sua última estimativa de março, projeta a produção mundial de trigo para o período 2008/09 em 684,43 milhões de toneladas, o que representa um aumento de produção de 12% sobre o volume estimado para o período anterior. As menores produções previstas para a Argentina e a União Européia deverão ser compensadas por ampliação na Rússia, Ucrânia e Austrália.

            Contudo, uma variação menor, de 6,1% no consumo global estimado deve resultar numa elevação de 29,7% nos estoques finais globais. De acordo com as estimativas do USDA o comércio global experimentará uma elevação de 10% em volume.

            Do ponto de vista do abastecimento nacional o quadro não é muito favorável para o Brasil, à medida que a maior parte das importações brasileiras vem principalmente da Argentina cuja produção deve cair consideravelmente. De acordo com a projeção estadunidense, de 16,30 milhões de toneladas estimadas em 2007/08 para 8,4 milhões de toneladas projetadas para 2008/09. Assim, para essa temporada, o Brasil certamente terá que recorrer a importações de fora do MERCOSUL, em maior ou menor nível, dependendo do resultado da próxima safra brasileira, cujo plantio deve se iniciar a partir de meados de março nas regiões do País onde a época de plantio é mais cedo. Nesse sentido, porém, a conjuntura pode também ser vista como favorável para o produtor nacional, pois importações de fora do MERCOSUL são mais onerosas, seja porque o preço do trigo de outra origem é mais caro, seja pela valorização do dólar.

            Os maiores exportadores de produto de melhor qualidade para panificação são os Estados Unidos e o Canadá, com preço e custo de importações superiores aos da Argentina, além de que houve forte alteração da taxa de câmbio, hoje de 2,3760, comparada a 1,6712 no mesmo período do ano passado. O trigo de origem russa teve os obstáculos sanitários à sua importação removidos condicionalmente, restringindo sua possibilidade apenas a moinhos situados em região portuária e não permitindo importações de moinhos localizados nos Estados maiores produtores, Paraná e Rio Grande do Sul, de forma que nem todos os moinhos poderão se beneficiar dos menores preços desse trigo, comparativamente aos de outras origens, além de que o trigo russo é predominantemente do tipo soft, mais indicado para biscoitos.

            A produção brasileira de trigo em 2008 aumentou 47,1% em relação ao ano anterior, situando-se em 6,0 milhões de toneladas, considerada a segunda maior dos últimos dez anos, sendo inferior apenas às 6,1 milhões de toneladas produzidas em 2003. A expansão decorreu de aumento de 30,7% na área colhida e de 12,6% na produtividade, em resposta aos elevados níveis de preços recebidos pelos triticultores por ocasião do período que antecedeu à época de plantio, situação decorrente da alta generalizada dos preços das commodities nos mercados internacionais, o que refletiu nos preços internos (Figura 1). Entretanto, os triticultores não puderam se beneficiar dessa situação, pois em setembro, com a entrada da safra, os preços recuaram para os baixos níveis anteriores, trazendo grande frustração para os produtores, permanecendo baixos até esse momento de decisão do plantio da safra 2009. Contudo, dadas às dificuldades de se resolver o impasse entre o governo e os produtores argentinos, para o estabelecimento de uma política comercial, e também a escassez do produto para exportação, em função da menor produção bem como pela entressafra, os preços começam a reagir.

Figura 1 - Preços Reais Recebidos pelos Triticultores Paulistas, Janeiro de 2004 a Janeiro de 2009.

 

Fonte: Dados da pesquisa.

            Nessa primeira semana de março, o preço recebido pelos triticultores paulistas é de R$30,00/60kg contra R$28,40 no mês anterior. Mesmo assim, nas regiões tritícolas de São Paulo, assim como nas principais regiões produtoras do País, os produtores estão apreensivos com relação ao plantio de 2009. Os preços não são animadores e os agricultores estão sob efeito da frustração da comercialização da safra de 2008, além disso, estão inseguros quanto ao comportamento futuro do preço das commodities muito atrelado ao movimento intermitente das bolsas em função da crise econômica mundial, bem como a perspectiva de redução do consumo mundial. É preciso lembrar, entretanto, que esse quadro ainda poderá ser revertido, pois o principal fator que derrubou os preços internos na safra passada foi a política de exportação argentina que liberou os maiores volumes de direito de exportação exatamente no período da safra brasileira. Agora em 2009, essa política não poderá ser repetida, pois não há disponibilidade de produto no país vizinho, e a cultura do trigo é a melhor opção de inverno e alternativa para o agricultor gerar recursos nesse momento de crédito escasso.

Palavra-chave: produção de trigo.


 

Data de Publicação: 20/03/2009

Autor(es): José Roberto Da Silva (josersilva@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor