Defensivos Agrícolas: expectativa de aumento da demanda em 2007

            Com a recuperação das cotações internacionais dos grãos e fibras, associada à expansão mundial de etanol em 2007, mesmo levando em conta: o grande endividamento ainda existente no setor agropecuário brasileiro e a valorização do real diante do dólar prejudicando as exportações, o setor de defensivos agrícolas iniciou o ano com o mercado francamente demandante. No primeiro trimestre de 2007, constatou-se incremento na comercialização de herbicidas (especialmente para cana-de-açúcar e milho safrinha), bem como de inseticidas e dos fungicidas.

            A previsão do setor de defensivos para 2007 é de aumento no faturamento das vendas, em torno de 10% em relação ao ano anterior, em função de vários fatores como: a) incremento na quantidade vendida do insumo; b) aumento da área plantada da cana-de-açúcar e do milho-safrinha; c) bons preços internacionais de soja, milho e algodão; d) cotações internacionais do café acima da média histórica, permitindo alcance de maior rentabilidade na exploração; e f) perspectivas favoráveis para o setor florestal.

            De acordo com o primeiro levantamento da safra brasileira de cana-de-açúcar 2007/08 realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), a estimativa da produção nacional de cana-de-açúcar na safra 2007/08 é de 527,98 milhões de toneladas, superior à safra passada em 11,2%. A área ocupada com essa cultura é de 6,6 milhões de hectares, superior em 7,4% (456,9 mil hectares) à safra anterior1. Esse comportamento do mercado está relacionado com o avanço das exportações do açúcar e à maior demanda interna de álcool com o aumento das venda dos carros com motor flex fuel.

            As expectativas atuais são mais otimistas que a performance observada em 2006, quando as vendas de defensivos agrícolas no Brasil totalizaram US$3,920 bilhões contra US$4,244 bilhões do ano anterior, o que representou decréscimo de 7,6% no faturamento total, de acordo com dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (SINDAG). Todos os segmentos do setor apresentaram resultados econômicos negativos, quando comparados com os do ano anterior. Esse desempenho refletiu a crise da agricultura brasileira, nas safras 2004/05 e 2005/06, sobretudo na produção de grãos, notadamente no Centro-Oeste, com a descapitalização e o alto nível de endividamento e inadimplência dos produtores rurais, decorrente dos baixos preços recebidos pelos agricultores, do câmbio sobrevalorizado e dos problemas climáticos em algumas regiões do País (estiagem no Sul).

            Em 2006, o mercado de defensivos apresentou desempenho diferenciado para os diversos cultivos. O consumo de defensivos aumentou para o caso da cana-de-açúcar, com acréscimo de 36,3% no valor das vendas. Outros exemplos podem ser mencionados, como os casos do feijão (19,6%) e da fruticultura (4,3%). Destaque-se, também, o incremento das vendas para a atividade de reflorestamento (15,0%). Em contrapartida, vendas em decréscimo foram notadas para algodão, amendoim, banana, fumo, milho, trigo e uva. A cultura da soja, segundo o SINDAG, apresentou decréscimo de 19,4% em relação a 2005, computando faturamento total de US$1,509 bilhão.

            A soja é a principal consumidora de defensivos no Brasil, tendo sido responsável, em 2006, por 38,5% do valor total das vendas. Em segundo lugar, aparece a cana-de-açúcar (12,6%), seguida de algodão herbáceo (10,3%), milho (7,5%), café (4,9%) e citros (4,2%), o que perfaz, somente essas seis culturas, 78,0% do valor comercializado nesse ano. Considerando-se as vendas para tratamento de sementes de soja, algodão e milho, a participação desse conjunto de culturas passa para 81,7% do valor total comercializado.

            No exame do comportamento das vendas, em termos de valor, por Unidade da Federação, São Paulo se destacou como o maior Estado consumidor em 2006, representando 21,7% das vendas nacionais em termos de produto comercial e 20,6% em valor, ou seja, US$ 808,2 milhões; seguido de Mato Grosso (17,9%), Paraná (13,4%), Rio Grande do Sul (10,4%), Minas Gerais (9,0%), Goiás (8,8%), Bahia (6,0%) e Mato Grosso do Sul (4,7%). As demais Unidades da Federação, juntas, responderam por 9,2%.

            No Estado de São Paulo, a classe de herbicidas é a que tem respondido pelo maior valor das vendas de defensivos agrícolas. Em 2006, foi responsável por 43,1% do faturamento total paulista, ou seja, US$348,1 milhões (Figura 1).

            Do total de 104.233 toneladas de defensivos agrícolas vendidas para a agricultura paulista em 2006, em quantidade de produto comercial, os herbicidas representaram 46,4% ou 48.370 toneladas (Figura 2). As vendas de herbicidas estão voltadas, principalmente, para cana-de-açúcar, soja e milho.

            Em 2006, os inseticidas movimentaram US$243,4 milhões, ou seja, 30,1% do faturamento total do setor paulista, e responderam por 17,3% da quantidade total vendida em produto comercial, que se destinaram principalmente às culturas de cana-de-açúcar, soja, algodão, milho e café.

Figura 1 - Participação Percentual das Classes no Valor das Vendas de Defensivos Agrícolas, Estado de São Paulo, 2006. 

Fonte: Elaborada pelos autores a partir de dados do SINDAG.

Figura 2 - Participação Percentual das Classes na Quantidade Vendida de Defensivos Agrícolas, em Produto Comercial, Estado de São Paulo, 2006.

 
Fonte: Elaborada pelos autores a partir de dados do SINDAG.


            A comercialização de fungicidas, em 2006, movimentou US$133,9 milhões em São Paulo, o que correspondeu a 12.875 toneladas de produto comercial e 7.051 toneladas de ingrediente ativo. As principais culturas na agricultura paulista consumidoras de fungicidas são: café, soja, batata-inglesa, trigo, feijão e tomate.

            Os acaricidas, em 2006, foram responsáveis por 7,6% do faturamento total do setor no Estado. O consumo de acaricidas no Brasil está concentrado quase na sua totalidade em São Paulo. Em 2006, o mercado paulista representou 93,5% das vendas brasileiras em quantidade de produto comercial e 87,4% do faturamento dessa classe. Isso pode ser explicado pelo fato de a citricultura ser responsável por 85,9% do valor comercializado de acaricidas e São Paulo ser detentor de 71,2 % da área colhida com laranja no País (571.532 hectares na safra 2006)2.

            De acordo com pesquisas realizadas pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA), nas principais regiões produtoras do Estado de São Paulo, em abril de 2007, a maioria dos defensivos agrícolas apresentou decréscimo nos preços quando comparado com o mesmo mês do ano precedente3. Esse comportamento foi verificado em todas as classes estudadas: inseticidas, acaricidas, fungicidas, reguladores de crescimento e herbicidas (Tabelas 1 a 3). Em valores correntes, de um total de 119 produtos pesquisados, 103 produtos registraram diminuição nos preços, 1 permaneceu estável e 15 tiveram aumento. Considerando o mencionado período, os preços corrigidos4 mostraram que apenas 10 produtos variaram positivamente (1 inseticida, 3 fungicidas e 6 herbicidas), enquanto 109 produtos apresentaram queda entre o mínimo de 0,7% e o máximo de 43,9%.

            Na análise individualizada por classes, em valores corrigidos, os dez produtos pesquisados da classe dos acaricidas caíram em abril de 2007, em relação ao mesmo mês do ano anterior, entre 6,4% e 24,5%. Também, os dois reguladores de crescimento acompanhados exibiram queda (5,7% e 13,1%). No caso dos inseticidas, 37 produtos tiveram decréscimo de preços entre 1,1% e 43,9%, com 29 produtosapresentando quedas maiores que 10%. Os fungicidas (23 produtos) variaram negativamente entre 10,1% e 37,0%. Porém, o aumento observado nos preços dos fungicidas cúpricos (dois produtos) ocorreu principalmente em função do acréscimo nos preços da sucata de cobre, que acompanharam o aumento das cotações do minério de cobre no mercado internacional. Finalmente, para os herbicidas, de um total de 43 produtos pesquisados, 37 produtos apresentaram redução nos preços corrigidos entre 0,7% e 34,3%, enquanto seis produtos mostraram aumento nos preços. Nessa classe, aqueles produtos cujo ingrediente ativo é o glifosato exibiram preços ascendentes em função da elevação dos custos das matérias-primas importadas.


TABELA 1 - Preços Médios1 Correntes e Corrigidos2 de Defensivos Agrícolas Pagos pela Agricultura das Principais Regiões Consumidoras do Estado de São Paulo, Abril de 2006 e Abril de 2007

 


TABELA 2 - Preços Médios1 Correntes e Corrigidos2 de Defensivos Agrícolas Pagos pela Agricultura das Principais Regiões Consumidoras do Estado de São Paulo, Abril de 2006 e Abril de 2007

TABELA 2 - Preços Médios1 Correntes e Corrigidos2 de Defensivos Agrícolas Pagos pela Agricultura das Principais Regiões Consumidoras do Estado de São Paulo, Abril de 2006 e Abril de 2007
 


TABELA 3 - Preços Médios1 Correntes e Corrigidos2 de Defensivos Agrícolas Pagos pela Agricultura das Principais Regiões Consumidoras do Estado de São Paulo, Abril de 2006 e Abril de 2007


TABELA 3 - Preços Médios1 Correntes e Corrigidos2 de Defensivos Agrícolas Pagos pela Agricultura das Principais Regiões Consumidoras do Estado de São Paulo, Abril de 2006 e Abril de 2007

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1COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB. Primeiro levantamento da safra brasileira de cana-de-açúcar 2007/2008. Brasília, jun. 2007. Disponível em: <http//:www.conab.gov.br>.
2LEVANTAMENTO SISTEMÁTICO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA. Rio de Janeiro: IBGE, jan. 2007.
3Os levantamentos de preços foram realizados pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA), nas principais regiões produtoras do Estado de São Paulo, em abril de 2006 e de 2007, via correio, fax, e-mail e contato telefônico. Os preços pesquisados foram os praticados no balcão no mês em que foi efetuado o levantamento. O universo escolhido para realizar o estudo foi o conjunto de todas as firmas (revendedores e cooperativas), que comercializam defensivos, nos 18 municípios selecionados em abril de 2006 e em 34 municípios em abril de 2007, a saber : Assis, Barretos, Bebedouro, Campinas, Cândido Mota, Casa Branca, Capão Bonito, Espírito Santo de Pinhal, Franca, Garça, Guaíra, Guariba, Holambra, Indaiatuba, Itaberá, Itapetininga, Itapeva, Itápolis, Itararé, Ituverava, Jaboticabal, Jaú, Marilia, Mogi das Cruzes, Mogi-Guaçu, Mogi-Mirim, Orlândia, Paranapanema, Pindamonhangaba, Piracicaba, São João da Boa Vista, São José do Rio Preto, São Paulo e Sertãozinho.
4Os preços dos defensivos agrícolas de abril de 2006 foram corrigidos pelo IGP-DI da Fundação Getúlio Vargas (FGV) para valores de abril de 2007.

Palavras-chave: preços, vendas, defensivos.


 

Data de Publicação: 11/07/2007

Autor(es): Célia Regina Roncato Penteado Tavares Ferreira Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Maria de Lourdes Barros Camargo (mlcamargo@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor