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Contratos de Opções: uma oportunidade para enfrentar os lobbies
1 - Introdução
Em
março, o incremento das exportações de café dos países produtores, sobretudo dos
tipos arábicas brasileiros e robustas, mantiveram as cotações pressionadas com
quedas generalizadas nos diferentes mercados. Em Nova Iorque (Contrato C para a
segunda posição), por exemplo, a cotação média de março foi de US$149,49sc./60kg
que, frente aos US$156,45sc./60kg, representa queda de 4,45% no mês. Desde
janeiro de 2007, o arábica nessa bolsa acumula declínio de 11,48%, fenômeno
totalmente inesperado, pois, tradicionalmente, é na entressafra brasileira que
os preços atingem as maiores cotações do ano cafeeiro. Com a cotação vigente em
março, praticamente se anulam os ganhos observados nos últimos doze meses
(abr.2006 a mar.2007), com saldo positivo de apenas 4,04% (Figura
1).
Figura 1 - Cotações Médias Mensais do Café
em Diferentes Mercados de Futuros (Segunda Posição) e do Indicador OIC-Composto
Diário, Janeiro de 2004 a Março de 2007.
Fonte: Elaborada a partir de dados da Gazeta
Mercantil1.
Na
Bolsa de Londres, as cotações médias do robusta, em março, registraram queda de
3,11% frente ao mês anterior. Diferentemente do arábica, no primeiro trimestre
de 2007, o robusta ainda exibe resultado positivo de 0,48%. Nos últimos doze
meses, os ganhos acumulados pelo produto somaram 33,14%. As cotações do robusta
estão menos pressionadas pelo mercado, pois os importadores se posicionaram para
recompor seus estoques que foram bastante reduzidos após os seguidos distúrbios
climáticos ocorridos, principalmente, no Vietnã.
No
mercado de futuros da BM&F, para o arábica, bastante aderente ao que foi
observado em Nova Iorque, as cotações caíram 5,68% (contratos de segunda
posição). No primeiro trimestre de 2007, a queda acumulada foi de 12,14%. No
acumulado do ano, o produto manteve ganho favorável de 1,22%, ligeiramente acima
dos ganhos observados no ano na Bolsa de Nova Iorque.
O
indicador da Organização Internacional do Café (OIC-Composto diário) apresentou
queda de 3,91% em relação à média do índice de fevereiro. Entretanto, no
acumulado dos últimos 12 meses, ainda se registra crescimento positivo de 7,91%,
embora em 2007 tenha apresentado variação negativa de 7,32%.
Figura 2 - Cotações Médias Mensais do Café Arábica, Segunda Posição, nos Mercados de Nova Iorque e BM&F, Outubro de 2005 a Março de 2007.
Fonte: Elaborada a partir de dados da Gazeta
Mercantil1.
As cotações do arábica, contrato C, segunda posição, na Bolsa de Nova Iorque, exibiram grande volatilidade (mínimo de US$144,58/sc. e máximo de US$154,24/sc.),com forte queda desde o princípio do mês, seguida de recuperação durante a última semana para voltar a cair no final do mês (Figura 3).
Figura 3 - Cotações Diárias na Bolsa de Nova Iorque, para Café Arábica, Contrato C, Segunda Posição, Março de 2007.
No
mercado de robusta, na Bolsa de Londres, o comportamento das cotações foi tão
volátil como o exibido pela Bolsa de Nova Iorque. A menor cotação ocorreu no dia
5 de março com US$87,60/sc., e a maior, no dia 26, quando bateu a casa dos
US$90,96/sc., atingindo a média de US$94,14/sc. no mês (Figura 4).
Figura 4 - Cotações Diárias para o Café Robusta, Segunda Posição, na Bolsa de Londres, Fevereiro de 2007.
Fonte: Elaborada a partir de dados da Gazeta Mercantil1.
2 - Generalizado Incremento das Exportações das Origens
As exportações para todos os destinos das diferentes origens apresentaram ritmo muito acentuado nos últimos seis meses, com incremento de 6,46 milhões de sacas frente à igual período anterior. Somente em fevereiro de 2007 o volume incremental exportado foi 1,15 milhão de sacas superior ao mesmo mês do ano anterior (Tabela 1). Essa acentuação no ritmo das exportações, em parte, decorrente da alta das cotações observada entre dezembro de 2006 e janeiro de 2007, e após 60 dias se traduzem em embarques, pois esse é mais ou menos o tempo necessário para o exportador adquirir o produto e fazê-lo chegar ao destino FOB.
Tabela 1 - Exportações por Tipo de Café para
Todos os Destinos, Fevereiro de 2007 e Fevereiro de 2006, Últimos Seis Meses e
Últimos Doze Meses
(em
sc./60kg)
Tipo |
Fev./07 |
Últimos
6 meses |
Últimos
12 meses |
Fev./06 |
Últimos
6 meses |
Últimos
12 meses |
Lavados colombianos |
1.101.533 |
5.353.175 |
12.084.038 |
1.041.570 |
5.126.037 |
11.481.886 |
Outros lavados |
1.762.117 |
7.435.064 |
21.375.118 |
1.713.567 |
6.515.730 |
18.531.385 |
Naturais brasileiros |
2.203.444 |
12.651.875 |
28.893.035 |
1.948.730 |
10.284.840 |
26.064.121 |
Robustas |
2.867.199 |
13.939.827 |
31.977.099 |
2.082.102 |
10.989.563 |
29.858.994 |
Total |
7.934.293 |
39.379.941 |
94.329.289 |
6.785.969 |
32.916.169 |
85.936.386 |
Fonte: Organização Internacional do Café, 20072.
Dentre as origens que mais contribuíram para o aumento dos embarques estão os
robustas com incremento de mais de 785 mil sacas em fevereiro de 2007, frente ao
mesmo mês do ano anterior, e os naturais brasileiros com esse montante
alcançando as 255 mil sacas na comparação dos períodos. Aumentos nos volumes,
porém bem menos significativos, também ocorreram nas exportações dos lavados
colombianos e outros lavados, mas que de forma alguma seriam capazes de
ocasionar as baixas nas cotação como se verificam no momento
atual.
Em
março, dados do Conselho dos Exportadores de Café (CECAFE) aponta para
manutenção da tendência de aumento dos embarques, que deve igualmente se
refletir nos dados consolidados pela OIC. O mês encerrou com 2,396 milhões de
sacas exportadas3, representando aumento acima de 11%frente a
fevereiro (composto por incremento dos embarques de arábica e de solúvel) e de
mais de 10% frente ao mesmo mês do ano anterior (2,134 milhões de sacas
registradas em março de 2006). Esse desempenho das exportações permite-se
questionar quanto ao volume de café colhido e estocado no país, pois somados,
tanto as taxas de crescimento do consumo interno como os incremento dos volumes
embarcados, as previsões oficiais de safra e de estoques disponíveis são
absolutamente insuficientes para atender a toda essa demanda exibida pelos
mercados interno e externo (algo em torno de 38 a 40 milhões de sacas ao ano).
Uma revisão das estatísticas precisa ser conduzida para que os agentes passem a
operar com informações e, sobretudo, decisões de qualidade.
3 - Opções para Café: uma boa notícia, porém é preciso enfrentar os lobbies
O
mercado de opções é a melhor ferramenta financeira que o Governo Federal dispõe
para mitigar a problemática do chamado ciclo de preços do café. Em 2004, última
vez em que foi implementado similar programa, os ganhos para o tomador do risco
foram acentuados, pois meses após o lançamento dos títulos as bolsas reagiram e
a maior parte dos cafeicultores que os adquiriram preferiu não exercer a posição
arcando com a perda do prêmio pago pelos contratos negociados e resultando em
bons lucros ao Tesouro Federal para os lotes que foram exercidos com entrega
efetiva de produto.
A
atual edição do programa prevê que sejam lastreados em contratos de opões até 6
milhões de sacas, com previsão para início das contratações em maio de 2007, e
possibilidade de exercício entre 31 de outubro e 30 de novembro. Os recursos
serão provenientes do Tesouro, pois o FUNCAFE, com orçamento de R$2,026 bilhões,
encontra-se comprometido com a política de financiamento ao setor (colheita,
estocagem, aquisições da indústria e custeio da próxima safra).
Questão relevante para a condução dessa política seria a necessidade de
contemplar o conillon na emissão dos títulos de opções, uma vez que as cotações
para esse produto mantém trajetória altista nos últimos doze meses (calculado em
33,14%). O conillon é um café principalmente absorvido pela indústria de
torrefação e moagem, visando o abastecimento interno e, num percentual menor,
transformado em solúvel tanto para a exportação como para consumo interno. As
exportações de conillon resumem-se, portanto, à pequena parcela exportada na
forma de café verde (cerca de 1,5 milhão de sacas ao ano), e outra sob forma de
solúvel (cerca de 3 milhões de sacas ao ano) que, sendo um produto
industrializado, possui outro tipo de formação de preços que não exatamente as
cotações em bolsas (contratos com clientes e traders preferencialmente).
Em função dessas características, fugiria do escopo da política de contratos de
opções a concessão da possibilidade de aquisição desses títulos por parte dos
cafeicultores dedicados ao conillon.
Concentrado o esforço financeiro no produto que exibe sérios problemas de
rentabilidade, o arábica, os gestores da política federal, ao invés de pautar o
contrato pelo custo de produção mais 20% a 30% de rentabilidade, como usualmente
a ferramenta é empregada nas opções privadas, poderiam utilizar valores mínimos
de referência com algum ágio que efetivamente sinalizasse o sentido que a
trajetória dos preços deverá seguir pelas condições objetivas de oferta e
demanda (fundamentos) atraindo, ademais, o interesse dos cafeicultores na
aquisição dos contratos sem contudo amplificar em demasia o risco do exercício
dos contratos com recebimento do produto no físico. Outras inovações podem ser
pensadas como preço mínimo diferenciado entre os naturais (por exemplo
R$280,00/sc. bebida dura) e os descascados (R$310,00/sc.). A ousadia desse
posicionamento indicaria um direcionamento para as cotações, pautando o mercado
sem tutelá-lo, ou criando artificialismos que ao final beneficiam poucos que se
posicionam com base em informações privilegiadas.
Nessa
sugestão de política, também o conillon, produto não contemplado pelas opções
públicas, seria igualmente beneficiado, pois um movimento ascendente de preços
no arábica carrega consigo as cotações do conillon, pois há nesse mercado uma
transmissão de preços, ainda que imperfeita. Enfim, assumir contratos de opções
exclusivas para o arábica, segmentando-o em naturais e descascados, seria uma
importante inovação da política cafeeira.
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1Dados disponíveis para assinantes em:
<www.gazetamercantil.com.br>.
2Disponível em: ico.org. <http://www.ico.org.br>.
3Dados disponíveis em: <www.cecafe.com.br>.
Palavras-chave: mercado de café, política
cafeeira, cotações.
Data de Publicação: 26/04/2007
Autor(es):
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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