Artigos
Café: crescente exportação de origem pressiona as cotações
                                 As 
vendas dos países produtores, sobretudo o Brasil e Centro-Americanos, 
contribuíram para pressionar as cotações dos cafés arábicas em Nova Iorque, com 
efeito sobre todos os mercados de café durante o mês de fevereiro, aliados aos 
movimentos especulativos e à realização de lucros dos fundos de investimento. 
Mesmo no mercado do café robusta, na Bolsa de Londres, a pressão de maior oferta 
do produto derrubou as cotações que vinham crescentes nos últimos 
meses.              
Figura 1 - Cotações médias mensais do café em diferentes mercados de futuros 
(segunda posição) e do OIC-Composto diário, janeiro de 2005 a fevereiro de 
2007   
            
Assim, em fevereiro, na Bolsa de Nova Iorque, o arábica acumulou perdas de 3,37% 
(Contrato C para a segunda posição), frente à média do mês anterior, 
contabilizando US$ 156,45 por saca. Todavia, nessa bolsa, no acumulado de 2007, 
a média das cotações caiu 7,36%, enquanto no acumulado dos últimos doze meses 
apresentou um crescimento de 3,34% (figura 1). 

            Na 
Bolsa de Londres, as cotações médias do robusta, em fevereiro, registraram queda 
de 0,24% frente ao mês anterior. Diferentemente daquilo que se observou nos 
últimos doze meses quando o produto exibiu alta de 28,35%. Em 2007, o acumulado 
somou 3,71%. No mercado de futuros da BM&F, bastante aderente ao que foi 
observado em Nova Iorque, as cotações caíram 3,65% (segunda posição). Essa 
variação resultou no crescimento médio das cotações de apenas 0,19% nos últimos 
12 meses. 
            O 
indicador da Organização Internacional do Café (OIC-Composto diário) apresentou 
queda de 1,54% em relação à média do índice de janeiro. Mas, no acumulado dos 
últimos 12 meses, ainda registra crescimento positivo de 6,98%, embora em 2007 
tenha apresentado variação negativa de 3,54%. 
            O 
diferencial das cotações observadas entre a BM&F e Nova Iorque caiu para US$ 
13,70 por saca, devido à forte pressão da oferta do café brasileiro (figura 
2). 
Figura 2 – Cotações médias mensais do 
café arábica, segunda posição, nos mercados de Nova Iorque e BM&F, 
2006-07 

Fonte: Elaborada pelos autores
As cotações do arábica, contrato C, segunda posição, na Bolsa de Nova Iorque, exibiram grande volatilidade (mínimo de US$ 152,38/sc e máximo de US$ 161,05/sc), com forte queda a partir da segunda semana de fevereiro, para depois entrar em fase de recuperação, sem no entanto atingir as cotações do início do mês (figura 3).
Figura 3 - Cotações diárias na Bolsa de Nova Iorque, para café arábica, Contrato C, segunda posição, fevereiro de 2007

Fonte: Elaborada a partir de dados da Gazeta Mercantil
No mercado de robusta, na Bolsa de Londres, o comportamento foi mais firme do que aquele exibido pela Bolsa de Nova Iorque, uma vez que houve apenas um movimento de baixa mais atenuado, mas com uma cotação média mensal levemente inferior à do mês anterior. A cotação mais elevada foi praticada no dia nove de fevereiro, de US$ 96,60/sc, e a menor, no dia dezenove, quando batia na casa dos US$ 90,96/sc, atingindo a média de US$ 94,17/sc no mês (figura 4)
Figura 4 - Cotações diárias para o café robusta, segunda posição, na Bolsa de Londres, fevereiro de 2007

Fonte: Elaborada a partir de dados da Gazeta Mercantil
No mercado do produtor de café paulista, as cotações médias do arábica em fevereiro (em R$/sc) caíram 4,91% em relação à média de janeiro, em função das perdas registradas no mercado internacional e também pela crescente valorização do real. Mesmo diante dessa queda, no acumulado dos últimos 12 meses, houve certa estabilidade nos preços (acréscimo de 0,97%). Mas, no primeiro bimestre de 2007, as cotações médias do produto recuaram 7,63% (figura 5).
Figura 5 - Preços médios mensais recebidos pelos produtores de café arábica, Estado de São Paulo, janeiro de 2004 a fevereiro de 2007

Fonte: Elaborado a partir de dados do Instituto de Economia Agrícola
Desempenho surpreendente das exportações
            Tanto 
o volume quanto as receitas obtidas pelo agronegócio café no primeiro bimestre 
de 2007 cresceram acima da média do mesmo período do ano anterior. Os embarques 
de café verde (inclusive com aumento no conillon) apresentaram incremento de 
mais de 650 mil sacas no bimestre, enquanto o solúvel transacionou mais de 80 
mil sacas em equivalente verde. O vigor dos embarques decorre em parte do 
aumento das cotações observado no final do ano passado e pela necessidade de 
começar a abrir espaço nos estoques remanescentes para a nova safra que se 
inicia em abril. No caso do solúvel, a ausência de fornecedores mundiais para 
atender o aquecimento da demanda (notadamente do Leste Europeu e de países 
asiáticos) motivou o crescimento das transações. 
            
Acompanhando esse maior volume de exportações, também cresceram as receitas 
cambiais capturadas pelo segmento. O incremento de receitas cambiais no café 
verde superou US$ 145 milhões e, quando acrescido pelo do café solúvel, alcançou 
o total de US$ 160 milhões. Evidentemente, parte desse avanço nas receita 
deve-se à melhoria nos preços médios pelos quais foram comercializados os 
diferentes produtos. No café verde, houve aumento de 15% no comparativo das 
cotações dos diferentes períodos e no solúvel essa mesma variação foi positiva 
em 8,1%. 
            O 
impacto da apreciação cambial brasileira pode ser sentido nos embarques de café 
torrado e moído, pois nesse ramo observou-se relativo arrefecimento nas 
transações. Ainda que o banco de dados dos exportadores não seja o melhor para 
acompanhar a evolução das vendas internacionais do segmento, aquilo que acontece 
com as torrefadoras, que exportam via exportadores, pode servir de proxy 
para o desempenho de todo o restante das firmas que se voltaram para esse 
nicho. Nesse segmento do agronegócio, as margens são muito apertadas e há 
inabilidade em travar câmbio e matéria-prima por meio do uso dos mecanismos de 
hedge. Assim, alguns torrefadores que se aventuraram nas exportações 
colheram prejuízos nesse esforço. É provável que nos próximos meses essa queda 
poderá ser revertida graças ao aprendizado que paulatinamente o segmento 
conquista. 
Tabela 1 - Volume, receita e preço médio das exportações de café, Brasil, jan.-fev.2006 e jan.-fev./2007

Fonte: Elaborado a partir de dados do CECAFE (www.cecafe.com.br)
Os atuais patamares de volumes embarcados não devem se manter nos próximos meses. Em primeiro lugar, a queda nas cotações paralisou muitos negócios, enquanto as expectativas de colocação do produto no mercado interno são muito promissoras. A previsão é de que a indústria necessite de mais de 17 milhões de sacas apenas para abastecer o mercado interno. A pequena safra a ser colhida na atual temporada anima outros a aguardarem o momento mais propício para a comercialização. Assim, em 2007, devem se repetir os volumes ou exibir patamares ligeiramente inferiores aos exportados em 2006.
Cafeicultor: trabalhe para não comprar seu café
            Muito 
tem sido comentado sobre a necessidade de os cafeicultores acompanharem o 
desenvolvimento tecnológico incidente na cultura. Inovações de cunho 
agronômico/manejo têm sido capazes de elevar fortemente a produtividade das 
lavouras, como é o caso da irrigação. Não há dúvida que o aumento da 
produtividade por área barateia o custo unitário de cada saca de café 
beneficiado produzida. Outras ações visando à redução do custo, principalmente 
da colheita, são objeto de grande interesse por parte dos cafeicultores. São 
inúmeros aqueles que já optaram pela mecanização total das atividades de 
colheita (derriça, varrição e repasse). 
            No 
café arábica, incide o chamado ciclo bienal de produção, fenômeno fisiológico 
que regula o volume a ser colhido na safra vigente. Na atual safra, para a maior 
parte das lavouras, principalmente as mais antigas e conduzidas sob sequeiro, 
prevalece o ciclo de baixa com produtividades inferiores à média regional e/ou 
nacional. Diante desse fenômeno, a tecnologia das podas desempenha papel 
preponderante, pois permite jogar com a docilidade/maleabilidade da planta. Isto 
impede que ela produza em ano de baixa com conseqüente redução do custo de 
produção, para obter na safra seguinte volume suficientemente alto para cobrir 
os custos de ambas as safras. 
            
Muitos cafeicultores ainda não se conscientizaram que o regime de safra zero 
pode ser uma importante alternativa para manter a competitividade de seu 
negócio. Talhões com menos de 10 a 15 sacas por hectare contabilizam custo de 
produção tal que seria mais econômico comprar o café ao invés de produzi-lo. 
Nesse sentido, o conceito de produtividade econômica é mais importante do que 
simplesmente produtividade física, pois os fatores de desembolso devem ser 
considerados na tomada de decisões sobre a produção. 
Baianos concordam com o drawback1
            No 
8o AGROCAFÉ, realizado na cidade de Salvador (BA) entre os 
dias 05 e 07 de março, constatou-se importante adesão das lideranças baianas do 
agronegócio café à regulamentação das operações envolvendo drawback de 
café. No Estado, existe uma visão favorável ao assunto pela experiência 
vivenciada com a crise de oferta de cacau após a incidência da doença "vassoura 
de bruxa" naquelas lavouras. Na percepção das lideranças locais (que assessoram 
as mais modernas lavouras de café do país), a evolução do drawback para o 
cacau foi uma experiência positiva com indústria e lavoura, exibindo trajetória 
de crescimento. Caso existam brechas na legislação federal que regula o assunto, 
as lideranças da Bahia vão atuar no sentido de efetuar as importações de café 
verde por algum dos portos existentes no Estado. 
            Os 
baianos especializaram-se em quebrar paradigmas da cafeicultura brasileira. O 
concurso de qualidade de café, patrocinado pela Associação Brasileira da 
Indústria de Café (ABIC)2 conferiu sua última premiação para um lote 
de café do município de Piatã, na Chapada Diamantina. Na Bahia, teve início o 
debate sobre os efeitos positivos da irrigação e estresse na produtividade dos 
cafezais e, mais recentemente, toda uma polêmica envolvendo a insuficiência das 
doses de adubação fosfatada recomendadas pela literatura 
agronômica. 
            A 
expansão do preparo de café lavado na Bahia, que inclusive mobilizou o congresso 
dos Estados Unidos, foi outra questão abordada, ensejando pleito do governo 
brasileiro no sentido de constituição de contrato desse tipo de café na Bolsa de 
Nova Iorque. Como se vê, é da Bahia que surgem as posições que redefinem a forma 
como o agronegócio café se estrutura no Brasil. Abraçar o drawback poderá 
ser mais uma mobilização que se junta ao rol de ações que no presente momento 
reconfiguram o segmento do País.3 
_______________________________________ 
1 As operações de 
drawback prevêem a importação de matérias-primas, seu processamento 
agroindustrial no país e posterior exportação. 
2ABIC: www.abic.org.br 
3 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-23/2007. 
Data de Publicação: 22/03/2007
                Autor(es): 
                Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor              
 
                    







 
                    
                        
