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Máquinas Agrícolas Automotrizes: Perspectivas De Ajustes No Moderfrota
O
mercado de máquinas agrícolas automotrizes, em 2002, apresentou o melhor
desempenho dos últimos quinze anos (desde 1988), com a produção de 52.010
unidades. O aumento foi de 17,3%, em comparação com a produção do ano anterior,
estimulado pelos acréscimos das vendas no mercado interno, que cresceram 19,8%
(de 35.523 em 2001 para 42.564 em 2002), e das exportações, que evoluíram 26,4%
(de 8.246 em 2001 para 10.421 máquinas em 2002). No agregado (mercado interno
mais exportações), foram comercializadas 52.985 máquinas frente às 43.769
negociadas no ano anterior (tabela 1). TABELA 1 - Produção, vendas e exportação de máquinas agrícolas automotrizes1, Brasil, 2000 e 2001e
2002 As
vendas no mercado interno foram crescentes para todos os tipos de máquinas
agrícolas: colhedoras, com elevação de 37,8%; tratores de rodas (mais 17,8%);
cultivadores motorizados (22,7%); retroescavadeiras (12,2%) e tratores de
esteira (10,5%). Esse desempenho nas vendas correlaciona-se positivamente com o
ambiente atual e com as novas perspectivas de bons negócios observados no meio
rural brasileiro (colheita de safra recorde e melhoria da renda dos produtores
com incremento real nos preços das commodities). Ademais, a existência de
crédito específico para esse fim, o programa do Moderfrota, foi de crucial
importância no incentivo à aquisição de novas máquinas, assim como os bancos das
empresas montadoras foram os braços operacionais do financiamento, decisivos em
sua viabilização (desburocratização e rapidez na execução).
(em unidade)
1 Inclui cultivador motorizado,
trator de esteira, trator de roda, colhedoras e retroescavadeiras. Item 2000 2001 2002 b/a em
% c/b em
% (a) (b) (c) Trator de
roda Produção 27.546 34.781 40.352 26,3 16,0 Vendas no mercado interno 24.591 28.203 33.218 14,7 17,8 Exportação 3.455 5.814 7.923 68,3 36,3 Total das vendas 28.046 34.017 41.141 21,3 20,9 Colhedoras Produção 4.296 5.196 6.851 20,9 31,9 Vendas no mercado interno 3.780 4.098 5.649 8,4 37,8 Exportação 683 1.202 1.199 76,0 -0,2 Total das vendas 4.463 5.300 6.848 18,8 29,2 Máquinas agrícolas1 Produção 35.501 44.339 52.010 24,9 17,3 Vendas no mercado interno 31.062 35.523 42.564 14,4 19,8 Exportação 5.270 8.246 10.421 56,5 26,4 Total das vendas 36.332 43.769 52.985 20,5 21,1
Fonte: Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos
Automotores (ANFAVEA).
No período entre 2000 e 2002, as vendas de máquinas agrícolas indicam ajuste de
tendência positiva para o número de unidades comercializadas. Esse
fortalecimento é perfeitamente aderente à política de crédito praticada pelo
Moderfrota1, que após seu lançamento vem
incrementando os montantes disponíveis para o programa (figura 1).
Nas
exportações de máquinas agrícolas, o principal destaque foi o desempenho do
mercado de tratores de rodas, com aumento de 36,3%, entre 2001 e 2002. Por sua
vez, o mercado de colhedoras, embora igualmente bastante favorável à produção e
vendas, manteve-se praticamente estável em 2002 (-0,2% frente a 2001),
refletindo a dificuldade que as empresas têm encontrado em retomar negócios com
a Argentina. A rápida recuperação econômica dos agronegócios argentinos
beneficiará o segmento, prevendo-se melhor desempenho das exportações de
máquinas em 2003. Decorrência dos esforços de diversificar sua pauta de
clientes, as montadoras de máquinas agrícolas colhem a concretização de
transações com novos parceiros comerciais fora do eixo sul-americano (África do
Sul, Canadá, China, EUA, Filipinas, Iraque2,
Marrocos, Senegal e Tailândia).
O crescimento nas exportações de máquinas agrícolas propiciou injeção de US$
642,85 milhões na corrente de comércio do País. O setor figura, assim, entre os
dez maiores segmentos exportadores da indústria brasileira.
A liderança nas vendas internas de tratores de rodas pertenceu à montadora AGCO
do Brasil, com 11.341 unidades vendidas em 2002, seguida de CHN Latino Americana
e Valtra do Brasil Ltda., que distribuíram 8.762 e 7.458 tratores,
respectivamente. Em conjunto, essas montadoras concentraram 83% do suprimento
total desse mercado.
Com o novo governo, as preocupações do segmento voltaram-se para a defesa da
continuidade do Moderfrota. No período 2002/03, foram disponibilizados R$ 800
milhões, integralmente empenhados já no primeiro semestre de 2002, deixando o
caixa do programa praticamente sem recursos para o primeiro semestre de 2003.
Estimativas do segmento informam que seriam necessários cerca de R$ 225 milhões
ao mês para manter o fluxo de comercialização de máquinas à altura da demanda do
mercado, que se encontra bastante aquecido.
O perfil de austeridade fiscal e monetária do novo comando do Ministério da
Fazenda e a independência decisória do BACEN podem criar alguma dificuldade para
que sejam efetuados novos aportes ao programa. Ademais, o segmento de caminhões
finaliza estudo em que solicita implementação de programa similar para a
renovação da frota de caminhões, reconhecidamente bastante sucateada (idade
média estimada em 13 anos).
O segmento de máquinas agrícolas poderia aproveitar esse momento de reavaliação
do Moderfrota para acoplar mecanismos viabilizadores do mercado de tratores
usados em bom estado, visando atender à demanda dos agricultores familiares. Na
maior parte dos casos, esses produtores não têm interesse em se endividar para
adquirir uma máquina nova, preferindo comprar um equipamento em condições de uso
para a maior parte das atividades produtivas executadas no âmbito do imóvel. Um
saudável mercado de máquinas usadas, similar ao que ocorre para o caso de
veículos a passeio usados, seria a melhor estratégia para a expansão do mercado,
contemplando ademais o principal interesse da atual equipe de governo que
sinaliza uma prioridade para o social.
1 A continuidade do Programa Moderfrota do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), financiando com
taxas de juros fixas entre 8,75% e 10,75% ao ano, facilitou bastante as
condições de pagamento na aquisição de novas máquinas por parte dos
produtores rurais. Também o esforço das montadoras em atualizar seus
modelos e em substituir a importação de componentes contribuiu para o bom
desempenho do mercado. 2 Devido ao embargo americano ao Iraque, as vendas para esse país foram efetuadas dentro do protocolo da FAO que estipula a troca de petróleo por alimentos. |
Data de Publicação: 24/01/2003
Autor(es):
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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