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Perspectivas Da Safra De Feijão Das Águas 2000/2001 No Estado De São Paulo
O Estado de São Paulo ocupou o sétimo lugar na produção brasileira de feijão das águas (e o sexto lugar, em termos de área cultivada), na safra 1999/2000. É o mais importante mercado sinalizador de preços para as demais praças importantes do País, consumindo cerca de 600 mil toneladas de feijão por ano, cerca de 20% da produção nacional de 3 milhões de toneladas. O Estado de São Paulo não é auto-suficiente em feijão, com importação líquida de cerca de 330 mil toneladas por ano, sendo afetado pela escassez do produto nos demais estados produtores. TABELA 1 - Evolução da Produção de Feijão das Águas (Primeira Safra), Brasil, 1990/91-1999/2000
Analisando-se a evolução da área e da produção de feijão das águas por região do País e por Unidade da Federação, constata-se uma concentração nas Regiões Sul, Nordeste e Sudeste e em poucos Estados (Paraná, Bahia, Minas Gerais, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás e São Paulo). A cultura de feijão das águas na Bahia oscila muito anualmente, mas em 1999/ 2000 a produção baiana (313 mil toneladas) esteve muito próxima da quantidade produzida pelo maior produtor nacional, o Paraná (378,7 mil toneladas), tendo um crescimento de 82% em relação à safra anterior, devido principalmente ao aumento da produtividade, propiciado pela ocorrência de condições climáticas favoráveis. A produção de feijão das águas no Estado de São Paulo teve um comportamento relativamente estável nos últimos dez anos, tendo se situado em média em 86,56 mil toneladas (Tabela 1).
Os preços recebidos pelos produtores de feijão no Estado de São Paulo apresentam grande oscilação tanto anual como mensal. Em 1998 ocorreu grande elevação no preço médio mensal recebido pelos produtores entre abril e outubro, com o pico em junho, com o valor de R$119,55 a saca (em valores reais de julho de 2000), devido ao El Niño 1997/98, que afetou o feijão da seca nas Regiões Norte e Nordeste, com quebra de cerca de 500 mil toneladas. O volume de perda foi suficiente para afetar os preços das demais regiões produtoras, inclusive do Estado de São Paulo.
Os produtores paulistas passaram por maus momentos em 2000, nos meses de fevereiro, março e abril, devido às baixas cotações do produto. O atraso no plantio da safra das águas 1999/2000 atrasou também a sua colheita (que normalmente ocorre de novembro a janeiro) para fevereiro a abril. Em 1999/200, a superprodução baiana, tanto de feijão das águas como da safra da seca, de 214 mil toneladas (com aumento de 83% em relação à safra anterior), afetou o mercado paulista de feijão. Os preços subiram continuamente a partir de maio, já no patamar de R$40,00 a saca, atingindo em agosto o valor de R$53,59.
A produção de feijão das águas no Estado de São Paulo concentra-se principalmente na região sudoeste do Estado, tendo os Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDRs) de Avaré (34%), de Itapeva (29%) e de Itapetininga (16%) produzido conjuntamente cerca de 79% do total da produção paulista.
Região | 1990/91 | 1991/92 | 1992/93 | 1993/94 | 1994/95 | 1995/96 | 1996/97 | 1997/98 | 1998/99 | 1999/2000 |
Norte | 1,0 | 0,8 | 0,8 | 0,9 | 1,0 | 0,5 | 0,5 | 0,5 | 0,5 | 0,7 |
Roraima | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - |
Rondônia | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - |
Acre | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - |
Amazônas | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - |
Amapá | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - |
Pará | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - |
Tocantins | 1,0 | 0,8 | 0,8 | 0,9 | 1,0 | 0,5 | 0,5 | 0,5 | 0,5 | 0,7 |
Nordeste | 171,6 | 244,8 | 197,6 | 103,2 | 89,6 | 104,2 | 90,6 | 60,1 | 171,9 | 313,4 |
Maranhão | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - |
Piauí | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - |
Ceará | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - |
R. G. do Norte | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - |
Paraíba | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - |
Pernambuco | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - |
Alagoas | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - |
Sergipe | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - |
Bahia | 171,6 | 244,8 | 197,6 | 103,2 | 89,6 | 104,2 | 90,6 | 60,1 | 171,9 | 313,4 |
Sudeste | 261,5 | 174,5 | 289,0 | 235,5 | 196,3 | 207,0 | 257,5 | 234,5 | 283,1 | 308,2 |
Minas Gerais | 122,6 | 58,5 | 149,1 | 128,9 | 116,2 | 125,7 | 168,1 | 134,9 | 172,0 | 210,2 |
Espírito Santo | 20,8 | 20,3 | 21,2 | 21,5 | 18,0 | 16,6 | 16,6 | 9,8 | 9,8 | 9,2 |
Rio de Janeiro | 3,2 | 3,1 | 4,2 | 3,9 | 3,9 | 3,8 | 2,7 | 2,3 | 2,2 | 2,2 |
São Paulo | 114,9 | 92,6 | 114,5 | 81,2 | 58,2 | 60,9 | 70,1 | 87,5 | 99,1 | 86,6 |
Sul | 613,5 | 858,7 | 733,3 | 797,0 | 704,0 | 608,6 | 659,3 | 577,3 | 699,5 | 662,9 |
Paraná | 322,0 | 410,8 | 386,2 | 413,4 | 319,2 | 418,3 | 389,0 | 379,6 | 408,0 | 378,7 |
S. Catarina | 175,3 | 283,6 | 225,0 | 242,3 | 224,1 | 144,7 | 140,4 | 102,9 | 168,3 | 166,3 |
R. G. do Sul | 116,2 | 164,3 | 122,1 | 141,3 | 160,7 | 45,6 | 129,9 | 94,8 | 123,2 | 117,9 |
Centro-Oeste | 22,2 | 13,5 | 13,4 | 15,1 | 16,5 | 16,8 | 23,5 | 44,0 | 91,9 | 128,9 |
M. Grosso | 4,4 | 1,5 | 4,2 | 4,1 | 3,7 | 3,0 | 2,4 | 3,3 | 2,8 | 3,8 |
M. G. do Sul | 6,4 | 3,2 | 1,3 | 1,3 | 1,8 | 0,7 | 0,5 | 0,3 | 0,9 | 2,4 |
Goiânia | 9,3 | 6,7 | 6,5 | 7,5 | 8,4 | 9,7 | 13,2 | 28,0 | 68,3 | 101,9 |
Distrito Federal | 2,1 | 2,1 | 1,4 | 2,2 | 2,6 | 3,4 | 7,4 | 12,4 | 19,9 | 20,9 |
Norte/Nordeste | 172,6 | 245,6 | 198,4 | 104,1 | 90,6 | 104,7 | 91,1 | 60,6 | 172,4 | 314,1 |
Centro-Sul | 897,2 | 1.046,7 | 1.035,7 | 1.047,6 | 916,8 | 832,4 | 940,3 | 855,8 | 1.074,5 | 1.100,0 |
Total | 1.069,8 | 1.292,3 | 1.234,1 | 1.151,7 | 1.007,4 | 937,1 | 1.031,4 | 916,4 | 1.246,9 | 1.414,1 |
Fonte: Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB).
O custo operacional de produção por saca no EDR de Avaré, considerando-se uma produtividade de 35 sacas de 60 quilos por hectare, estimado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA), gira em torno de R$22,25 para a próxima safra. O preço médio em nível de produtor no período 1996-2000, considerando-se os meses de novembro a fevereiro, período de concentração das vendas da safra das águas, é de R$53,75 por saca, a preços reais de julho deste ano. A receita líquida por hectare, nessas condições, é de R$1.102,50, tendo receita bruta de R$1.881,25/ha e custo operacional de R$778,75/ha.
A perspectiva para a safra de feijão das águas 2000/2001 é muito promissora. As chuvas na última semana de agosto, um pouco tardias, foram suficientes para o preparo do solo e plantio. Espera-se um acréscimo de 10% a 15% na área cultivada com o feijão das águas 2000/2001, devido a: a) preços recebidos pelos produtores muito atraentes nos meses que antecederam o plantio, exercendo efeito psicológico positivo na decisão dos produtores; b) apesar do atraso das chuvas, pois o prazo oficial de plantio de feijão inicia no primeiro dia de agosto, as condições climáticas são, até o momento, muito melhores que as da safra anterior, permitindo o plantio por parte dos produtores; c) em 1999/2000 no Estado de São Paulo foram plantados 66,22 mil hectares de feijão das águas, segundo dados do IEA/CATI, com queda de 15% em relação ao ano anterior. Com o aumento previsto de 15%, a área na próxima safra retornaria apenas ao nível de 1998/99, acréscimo, portanto, dentro dos limites históricos; e d) além disso, apesar dos atrativos propalados ao plantio de milho para esta safra das águas, poucos produtores de feijão devem migrar para esta cultura, devido à compatibilidade de cronograma com a cultura da safrinha (de milho), à rotação da cultura e também à sua especialização na cultura.
Data de Publicação: 18/09/2000
Autor(es): Ikuyo Kiyuna Consulte outros textos deste autor