Máquinas agrícolas automotrizes: queda nas exportações afeta os resultados em 1999

            A indústria brasileira de máquinas agrícolas automotrizes, no período de janeiro a novembro de 1999, produziu 26.650 unidades. Comparada com igual período do ano anterior, a produção registrou decréscimo de 17,4%, apesar de as vendas no mercado interno terem sido mantidas praticamente estáveis (decréscimo de 0,8%). Esse desempenho decorre do significativo recuo das exportações em relação ao mesmo período de 1998 (queda de 56,1%), com exportação de apenas 3.624 máquinas. Tal resultado refletiu a recessão vigente nos principais países de destino das exportações brasileiras, somada às restrições impostas à economia brasileira por parte dos fornecedores internacionais de crédito e às dificuldades em fazer Adiantamento de Contrato de Câmbio por parte dos fabricantes de máquinas, notadamente no primeiro semestre de 1999. No agregado (mercado interno mais exportações), foram comercializadas 26.566 unidades frente às 31.385 negociadas em igual período do ano anterior (Tabela 1).
            Na análise das vendas no mercado por tipo de máquina, no período de janeiro a novembro de 1999, em relação ao ano anterior, observa-se o crescimento nas vendas de colheitadeiras (15,8%), face ao bom resultado da safra brasileira de verão 1998/99 (84 milhões de toneladas de grãos), de cultivadores motorizados (9,2%) e de tratores de rodas (3,0%). Por outro lado, houve queda nas vendas de tratores de esteira (21,9%) e de retroescavadeiras (45,4%).
            As vendas de tratores no mercado interno, que nos primeiros meses do ano, com a mudança da política cambial, registraram bom desempenho comercial propiciado pela elevação na renda dos produtores, desaceleraram-se desde o início do semestre, registrando decréscimo de 17,3% e 4,4% em setembro e outubro de 1999, respectivamente, em relação ao mesmo período do ano anterior. Esse resultado reflete o aumento nos preços dos defensivos agrícolas e dos fertilizantes (devido à desvalorização do real) e queda nas cotações das principais commodities no mercado internacional, deixando os produtores descapitalizados. Contudo, em novembro as vendas apresentaram pequena recuperação, sendo comercializadas 1.095 unidades contra 1.014 unidades em igual período de 1998, ou seja, aumento de 8,0%. Fato que pode ser explicado, em parte, pela estiagem que impediu que os produtores pudessem plantar na época adequada, postergando consequentemente as aquisições de tratores. Também cresceram os negócios com colheitadeiras, no referido mês, sendo vendidas 221 máquinas, com incremento de 30,8% em relação as 169 unidades comercializadas no mesmo período do ano anterior. Espera-se que o mercado de tratores de rodas feche o ano com crescimento positivo entre 3% a 5%.
            A liderança nas vendas de tratores de rodas pertence à montadora AGCO do Brasil com 5.619 unidades vendidas, no período de janeiro a novembro de 1999, seguida da Valtra do Brasil (Valmet) e da New Holland Latino Americana 1, que distribuíram 4.881 e 4254 tratores, respectivamente, concentrando, essas montadoras, 81,4% do total desse mercado. Algumas montadoras ampliaram relativamente suas participações no mercado interno de tratores de rodas, tais como New Holland; SLC; Yanmar e Valtra. A AGCO perdeu parcela desse mercado para as concorrentes.
 

1 O negócio envolvendo a fusão entre New Holland e CASE, estimado em US$ 4,3 bilhões, foi aceito pelo Conselho Admi-nistrativo de Defesa Econômica (CADE), com indicação para que fosse alienada a divisão de retroescavadeiras, devido à excessiva concentração após a realização desse negócio. Tal decisão também ocorreu da parte do órgão antitruste esta-dunidense, que aceitou a fusão desde que a nova empresa alienasse suas divisões de tratores de enfardadeiras de feno, visando manter competitivos esses mercados no país.

            Em 1998, a comercialização de tratores de rodas foi regionalmente concentrada. As regiões Sul e Sudeste absorveram juntas 71,5% do total das vendas no mercado interno. Isoladamente, o Estado de São Paulo, em 1998, participou com 67,5% das vendas de tratores de rodas ocorridas na região Sudeste, confirmando sua posição de maior mercado. Tal liderança deve-se, em parte, às compras efetuadas pelos segmentos sucro-alcooleiro e citricultor. Espera-se que, nos próximos anos, os segmentos da cafeicultura e da fruticultura/horticultura venham a se destacar na aquisição de tratores, pois a demanda de máquinas por parte desses segmentos da agricultura paulista tem-se mostrado bastante dinâmica devido à forte expansão de suas atividades no Estado.

TABELA 1 - Produção, Vendas e Exportação de Máquinas Agrícolas Automotrizes1, Brasil, 1998-99

(em unidade)
Item
1998
Janeiro a novembro
(b/a-1) x 100
1998 (a)
1999 (b)
Trator de roda . . . .
Produção
24.080
23.372 
19.861 
-15,0
Vendas no mercado interno
18.158
17.600 
18.126 
3,0
Exportação
5.469
5.106 
1.928 
-62,2
Total das vendas
23.627
22.706 
20.054 
-11,7
Colheitadeiras . . . .
Produção
4.017
3.795 
3.382 
-10,9
Vendas no mercado interno
2.409
2.177 
2.521 
15,8
Exportação
1.756
1.613 
556 
-65,5
Total das vendas
4.165
3.790 
3.077 
-18,8
Máquinas agrícolas1 . . . .
Produção
33.350
32.254 
26.650 
-17,4
Vendas no mercado interno
24.164
23.130 
22.942 
-0,8
Exportação
8.846
8.255 
3.624 
-56,1
Total das vendas
33.010
31.385 
26.566 
-15,4

        1 Incluem cultivador motorizado, trator de esteira, trator de roda, colheitadeira e retroescavadeiras.
        Fonte: Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA).

Data de Publicação: 18/01/2000

Autor(es): Célia Regina Roncato Penteado Tavares Ferreira Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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