Cultivo E Safra De Inverno Da Uva Niagara No Estado De São Paulo

 

            Entre as principais utilizações da uva, São Paulo apresenta pequena participação na produção da uva destinada para indústria, sendo que nas denominadas uva para mesa (tipos comum e fina) o Estado responde pela maior parcela da produção brasileira. Na uva comum de mesa predomina o cultivo da variedade Niagara Rosada, enquanto que na uva fina de mesa se destacam as variedades Itália e Rubi.
            Em São Paulo, a área com uva do tipo comum (7,5 mil hectares) é 2,3 vezes maior que a área ocupada com a uva fina, mas as quantidades produzidas por esses tipos são equivalentes. Na safra 2000, conforme dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA) e da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), a produção da uva fina situou-se em 100,5 milhões de quilos e a da comum em 94,9 milhões de quilos. Apesar de o adensamento da uva fina ser menor (cerca de 1.000 pés/hectare, contra em torno de 5.000 pés/hectare no caso da comum), sua produtividade/pé é aproximadamente 12,5 vezes superior, resultando em produtividade/hectare 2,5 vezes maior que a da comum.
            No Estado, as uvas finas são cultivadas principalmente nos Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDRs) de Itapetininga, de Jales, onde a cultura é toda irrigada, e de Sorocaba, enquanto que a região do EDR de Campinas é a maior produtora de uva comum, respondendo por cerca de 70% da produção e dos pés. Nesse EDR, os principais municípios produtores, ordenados segundo a quantidade produzida, são: Jundiaí, Indaiatuba, Itupeva, Louveira, Campinas, Vinhedo e Valinhos.
            Nessa principal região paulista produtora de uva comum de mesa, variedade Niagara, o sistema de produção usual e tradicionalmente adotado é o de uma safra anual, de verão, com colheita entre o final do ano civil e o início do ano seguinte.
            Mais recentemente, também um segundo sistema de produção tem sido adotado na região, embora não pela maioria dos produtores, e que, quando utilizado, não se estende à totalidade dos pés em produção, mas se aplica geralmente em menos de 50% deles ou em determinadas quadras. Nesse sistema, que possibilita a obtenção de uma 'safra de inverno', alternam-se anos agrícolas com uma 'safra de verão' (colheita do final de novembro a janeiro) e anos agrícolas com duas colheitas, das quais uma com a 'safra e poda temporã' (de inverno e colheita de maio a julho) e outra com a 'safra e poda normal' (de verão e colheita um pouco mais atrasada, de dezembro a fevereiro).
            Esse sistema de produção, alternando ciclos agrícolas de uma colheita com ciclos de duas colheitas, não surgiu em razão de os produtores objetivarem a obtenção de melhores preços e produção na entressafra da atividade, como seria de se esperar. A adoção do sistema decorreu basicamente de períodos e safras em que produtores enfrentaram falta de liquidez, redução da disponibilidade de financiamentos e elevados encargos bancários.
            No Estado, uma indicação da pequena participação da produção da safra temporã no total colhido anualmente pode ser verificada através dos dados da CEAGESP, publicados no Anuário da Agricultura Brasileira - AGRIANUAL, 2001 (São Paulo: FNP Consultoria e Comércio, 2000, 545 p.). Observa-se, para o período de 1995 a 1998, que 86,1% do volume comercializado no Entreposto de São Paulo ocorreu entre dezembro e abril, com apenas 9,9% entre maio e julho e 4,0% entre agosto a novembro. Verifica-se, também, que as médias dos preços evoluem inversamente às produções nesse mesmo período. Estavam em US$0,98/kg, entre dezembro e abril, ficaram um pouco maior (US$ 1,17) durante a safra temporã (maio a julho) e registraram um patamar bem mais elevado nos períodos em que praticamente não se tem produção na região, tanto em março (US$ 1,30/kg) quanto, principalmente, no quadrimestre de agosto a novembro (US$ 1,60/kg).
            Detalhando-se os dois principais meses da safra de verão, com o objetivo de melhor comparação com os dados da safra temporã, verifica-se, nesse período de 1995 a 1998, que em dezembro e janeiro o preço médio situou-se em US$ 0,87/kg e que esse bimestre respondeu por 68,9% do total comercializado anualmente no Entreposto da Capital.
            Produtores da região de Campinas que adotam o sistema com safra temporã alertam que essa é uma prática que não utilizariam se não tivessem dificuldades com o fluxo de caixa da atividade. Isso porque essas safras de inverno estão sujeitas a maior risco, associado às condições climáticas mais adversas vigentes nessa época do ciclo agrícola. Ademais, apresentam tanto custo de produção por hectare mais elevado como menores produtividade e rentabilidade, comparativamente ao sistema de produção com somente safras normais. Além disso, tem-se também sobrecarga e enfraquecimento das plantas, com redução da produção ao longo e no total da vida útil do vinhedo, a qual, nesse sistema de produção, situa-se em torno de 10 anos, período em que se registram cerca de 15 colheitas. Há que se ressalvar ainda que, se por um lado esse sistema contribui para melhorar o fluxo de caixa e facilitar o custeio da atividade, por outro lado acarreta dificuldades relacionadas com a necessidade de novos investimentos, isso porque deve-se renovar as quadras após cerca de 10 anos civis a partir da primeira colheita, contra 15 anos nos casos das quadras sem essa prática temporã.
            Por último, há que se apontar que atualmente tem ocorrido na região de Jales pequenos cultivos da uva Niagara, como uma diversificação das atividades dos produtores de uva fina de mesa e relacionado também com objetivos de melhoria do fluxo de caixa da atividade. Em razão das condições climáticas e de solo, outro sistema de produção é adotado, utilizando irrigação.
            Nessa região, se por um lado é possível obter-se duas colheitas todo ano, por outro lado as frutas colhidas apresentam cachos e bagas menores que aos da região tradicionalmente produtora. Em Jales, enquanto a primeira colheita ocorre em maio e coincide com a safra temporã da região de Campinas, a segunda colheita do ano é efetuada em setembro, bem no meio do quadrimestre de menor quantidade ofertada de uva Niagara e de mais elevado preço registrado na CEAGESP da Capital.
            Assim, no médio prazo, o avanço do cultivo de uva Niagara nessa região pode apresentar-se como uma opção, não só em termos de administração financeira da atividade mas principalmente como uma fonte de aumento da renda dos produtores, além de poder contribuir para maior oferta do produto e redução de preços para os consumidores. É essencial, entretanto, a ampliação dos atuais esforços da pesquisa de melhoramento, de maneira a tornar o produto compatível com as condições de clima e de solo da região e com as necessidades do mercado. 
  
 


 

Data de Publicação: 17/05/2001

Autor(es): Arthur Antonio Ghilardi (arthurghi@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Maria Lucia Maia (mlmaia@iac.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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