Artigos
Seca Frustra Produção De Milho Safrinha No Estado De São Paulo
A estiagem (seca) que assola o Estado de São Paulo e outras regiões do Centro-Sul nas mesmas latitudes (de 20° S a 23° S) é a mais intensa dos últimos 15 anos, se medida pelas precipitações pluviais nos meses de abril e maio. Em março deste ano as precipitações foram normais, com vários casos de chuvas acima das médias históricas. A precipitação pluvial média dos últimos 30 anos foi de cerca de 75mm em abril e 64mm em maio, no Estado de São Paulo. Os meses de abril e maio de 2000 foram fortemente afetados pela estiagem, com chuvas de 14mm e 15mm, em média, no Estado.
As conseqüências da deficiência hídrica dos solos, em decorrência da falta de chuvas em períodos críticos das culturas, mormente nas fases de florescimento e de enchimento de grãos, foram sérias, provocando quedas acentuadas da produção, tanto na primeira safra (ou de verão) como, e principalmente, na segunda safra (ou safrinha). Nas lavouras de milho safrinha, em particular, a estiagem prolongada favoreceu o ataque da lagarta-do-cartucho, aumentando os prejuízos dos produtores pela necessidade de intensificação das pulverizações com inseticidas.
A produção esperada de milho no Estado de São Paulo no ano agrícola 1999/2000, de acordo com o terceiro levantamento de previsão de safras do Instituto de Economia Agrícola (IEA) e Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), realizado em fevereiro de 2000, era de 2.614,6 mil toneladas na safra de verão, 2,4% menor que a de 1998/99, com previsão de produtividade igual à do ano precedente (3.812kg/ha). A produção da safrinha foi estimada neste levantamento em 1.086,8 mil toneladas, 10% maior que a do ano passado, com o aumento da produtividade, 14,7% a mais (2.793 kg/ha) compensando a queda (4,1%) da área plantada.
Com o atraso do plantio da soja na safra de verão, a semeadura do milho safrinha também sofreu atraso, aumentando o risco de produção do cereal, em relação à deficiência hídrica dos solos provocada pela seca. As conseqüências desse evento climático foram mais graves no Estado de São Paulo. Analistas de mercado estimam perdas de 13% no Paraná, com 36% de quebra na região norte, na divisa com São Paulo, 8% em Mato Grosso, 15% em Goiás e 30% no Mato Grosso do Sul. De modo geral, prevê-se uma redução de cerca de um milhão de toneladas na produção de milho safrinha do País.
Com o objetivo de se dimensionar as perdas de milho safrinha no Estado de São Paulo com a seca, procedeu-se a um levantamento específico nas regiões da Alta Mogiana (Escritórios de Desenvolvimento Rural - EDRs de Barretos e Orlândia) e do Médio Vale do Paranapanema (EDR de Assis), respectivamente, na segunda (dias 6 a 8) e na quarta (dias 19 a 21) semana de junho de 2000. Foram inspecionadas algumas lavouras dessas regiões e consultados vários técnicos da CATI, de instituições bancárias e produtores de milho safrinha. As perdas foram calculadas em relação à produtividade esperada em fevereiro de 2000.
A região (EDR) de Orlândia/Barretos é a segunda maior produtora de milho safrinha no Estado de São Paulo, responsável por 18,6% da produção paulista em 1998/99. Constataram-se perdas totais na ampla maioria das lavouras dessa região, mormente naquelas plantadas mais tardiamente (após 25 de março). Mesmo as lavouras plantadas no período recomendado (até 28 de fevereiro) foram afetadas negativamente no seu desenvolvimento vegetativo. A falta de chuva no período crítico de florescimento, em abril/maio, provocou a formação de espigas 'chochas', sem grãos, nas culturas que se encontravam nessa fase fenológica. As perdas não foram consideradas totais na região como um todo, em razão de ter ocorrido chuvas esparsas e localizadas ('chuvas-de-manga'), de pequena intensidade, mas suficientes para viabilizar alguma produção nas áreas beneficiadas com as precipitações. Para esta região e também para as regiões de mesma latitude ou próximas, como Franca, São João da Boa Vista, Mogi Mirim, Limeira, Araçatuba e outras 28 regiões, foram consideradas perdas de 80% da produção esperada, em relação aos dados do levantamento de safras de fevereiro de 2000, do IEA/CATI. Este nível de perdas pode ser considerado conservador, porquanto na opinião de técnicos da região, a redução esperada da produção é de 90% ou mais. As perdas na região foram estimadas em 200,9 mil toneladas.
Na região do Médio Vale do Paranapanema, lado paulista (EDR de Assis), bem como nas regiões contíguas a Ourinhos e Avaré, as perdas foram estimadas, preliminarmente, em 65%, correspondentes a 303,2 mil toneladas. Nesta região, a maior produtora de milho safrinha do Estado (com participação de 48,9% em 1998/99), o plantio se estendeu até meados de abril, tendo a maior parte da área sido semeada na última semana de março e início de abril. Também nesta localidade as chuvas foram intensas em março, porém mal distribuídas no tempo, e se escassearam acentuadamente em abril, maio e junho, época de ocorrência das fases mais críticas da cultura (florescimento e enchimento de grãos). As lavouras da região apresentam-se em vários estágios de desenvolvimento, sendo difícil de se precisar corretamente a distribuição percentual deles. Estima-se que cerca de 1/3 da área tenha perda de 80% a 100%, 1/3 com perda de 60% a 80% e 1/3 com perda de 40% a 60%. Estima-se que o prejuízo médio na região gire em torno de 60% a 70%. Deve-se ressaltar que essas estimativas valem até o momento do levantamento (quarta semana de junho de 2000), podendo os níveis de perda aumentarem, se a seca continuar (ou ocorrer uma forte geada), ou diminuírem, se ocorrerem chuvas superiores a 30mm nos próximos dez a quinze dias.
Os prejuízos dos produtores com as perdas de 773,8 mil toneladas de milho safrinha no Estado de São Paulo, considerando-se um preço médio recebido pelo produtor de R$12,00 por saco de 60kg, são estimados em R$154,8 milhões, ou 71,20% do valor da produção prevista em fevereiro (R$217,4 milhões). A receita bruta esperada por hectare plantado era de R$558,50 e a perda estimada, de R$397,60/ha (Tabela 1).
Estas frustrações de safra deverão ter importantes conseqüências na capacidade de solvência dos produtores atingidos, tornando-os inadimplentes em instituições bancárias e sem condições de autofinanciamento do custeio da próxima safra de verão. Deve-se lembrar que houve quebra parcial da produção de soja, no plantio de verão, e de frustração praticamente total do sorgo granífero, plantado em sucessão à cultura da oleaginosa.
TABELA 1 - Perda de Milho no Estado de São Paulo, Safra 1999/2000
Levantamento | Verão | Safrinha | Total |
Produção (1.000t) | |||
Prev. atual (jun./2000) (a) | 2.403,6 | 313,0 | 2.716,6 |
3a Prev. safra (fev./2000) (b) | 2.614,6 | 1.086,8 | 3.701,4 |
Safra 1998/99 (c) | 2.679,0 | 988,1 | 3.667,1 |
Perda absoluta (1.000t) | |||
Em relação à produção esperada (a-b) | -211,0 | -773,8 | -984,8 |
Em relação à produção anterior (a-c) | -275,4 | -675,1 | -950,5 |
Perda relativa (%) | |||
Em relação à produção esperada (a/b) | -8,07 | -71,20 | -26,61 |
Em relação à produção anterior (a/c) | -10,28 | -68,32 | -25,92 |
Fonte: Elaborada com base nos dados dos levantamentos IEA/CATI.
Data de Publicação: 01/06/2000
Autor(es): Alfredo Tsunechiro (tsunechiro@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor