Uma pesquisa sobre a evolução do consumo de frutas e hortaliças na Espanha, publicada na revista Distribuición y Consumo do Mercasa (empresa
estatal federal espanhola que administra os mercados terminais de produtos
perecíveis juntamente com os governos municipais), em dezembro de 1999, traz
alguns resultados bem interessantes. O texto foi traduzido e feito um resumo dos
pontos principais:
- O consumo total de frutas e
hortaliças frescas e processadas na Espanha, em 1998, chegou a 163,4 quilos
per capita, sendo 84,89% no domicílio, 11,55% em hotéis e restaurantes e 3,56%
em instituições de alimentação pública.
Frutas frescas
- O consumo per capita anual
de frutas frescas foi de 86,3 quilos, sendo 91,22% no domicílio, 6,53% em
hotéis e restaurantes e 2,25% em instituições.
- Nos anos anteriores a 1998
:
As frutas de maior consumo
total foram a laranja com mais de 900.000.000 de quilos, a maçã com 454.130.000
quilos, melões com 332.450.000 quilos, bananas com 308.710.000 quilos e
melancias com 228.630.000 quilos. As de menor consumo foram a
cereja com 30.750.000 quilos, abricó com 37.840.000 quilos, ameixas com
43.210.000 quilos, morangos com 73.510.000 quilos e uva com 76.540.000 quilos.
92,5% de frutas frescas em
consumo domiciliar, ficando o restante 7,5% em hotéis e instituições. No ano de 1997, somando o
consumo doméstico e o fora do lar, os espanhóis consumiram 4,5% mais frutas
frescas do que nos anos anteriores, o que correspondia a 6% do total gasto em
alimentação.
Hortaliças Frescas
- O total de hortaliças
consumido em 1998 foi de 2.404.590 quilos, enquanto em 1997 foi de 2.372.840
quilos. Dessa quantidade, 2.024.060 quilos foram consumo domiciliar, 311.570
quilos destinados a hotéis e os 68.960 quilos restantes destinados a
instituições.
- O consumo total per capita
de hortaliças foi de 60,4 quilos, dos quais 84,17% consumo domiciliar, 12,96%
em hotéis e restaurantes e 2,87% em instituições.
- A hortaliça mais consumida,
em todos os anos, foi o tomate, com cerca de 585.000.000 de quilos, seguido de
alface, escarola e endívias com 332.195.000 quilos, cebolas com 311.000.000
quilos, pimentões com 179.540.000 quilos e vagens com 121.060.000 quilos.
- Outras hortaliças menos
consumidas somaram 103.660.000 quilos, entre elas o aspargo com
10.050.000quilos, o cogumelo com 39.010.000 quilos, o pepino com 75.200.000
quilos e a couve com 75.150.000 quilos.
- Os gastos estimados em
hotéis e restaurantes situam-se em torno de 26,47% com cogumelo, 22,99% com
alho, 21,13% com cebola e 14,64% com tomate.
- As instituições consumiram
7,65% com couve, 4,58% entre alface, escarola e endívia, 4,37% com outras
folhas e 3,40% com cebola.
Frutas e Hortaliças Processadas - O consumo de frutas e
hortaliças processadas ficou em torno de 664.680.000 quilos em 1998, crescendo
frente aos 653.580.000 quilos em 1997.
- Desse total, 526.880.000
quilos foram consumo domiciliar, 100.740.000 em hotéis e .restaurantes e
37.060.000 em instituições.
- O tomate destacou-se no
grupo de hortaliças processadas com os maiores volumes de compra, ou seja, um
consumo de 256.130.000 quilos dos quais 188.750.000 se destinaramm ao consumo
domiciliar, 49.830.000 aos hotéis e restaurantes e 17.560.000 a instituições.
- Houve uma queda sensível no
consumo domiciliar de frutas e hortaliças frescas e processadas, nos anos de
1992 a 1995. A partir daí, o consumo aumentou.
- A compra de frutas e
hortaliças processadas para o consumo doméstico, no período de 1992/1995,
evoluiu de 6.519.380 quilos nestes anos para 5.411.800 quilos em 1995 e chegou
aos 5.682.190 quilos em 1998. Essa evolução deve-se, principalmente, a dois
fatores principais: o horário de trabalho e as distâncias entre o trabalho e
as residências, fazendo com que muitos trabalhadores comessem fora dos seus
lares. O crescimento no consumo em hotéis e restaurantes apresentou evolução
oposta.
Consumo total de frutas e hortaliças frescas e processadas.
- O consumo em quilos per
capita de frutas e hortaliças frescas e processadas cresceu em 1998, para
180.900 quilos, comparado com o de 1992 (163.400 quilos).
- Os municípios que mais
consomem frutas e hortaliças frescas – 86,23 quilos per capita – têm mais de
500.0000 habitantes. Em seguida vêm os muncipios com menos de 2.000 habitantes
(83,57 quilos per capita); depois aqueles com 100.000 a 500.000 habitantes
(consumo de 79.98 quilos per capita); os de 10.000 a 100.000 habitantes e os
de 2.000 a 10.000 habitantes com 74,25 quilos per capita.
- Os maiores consumos de
hortaliças frescas são dos municípios com menos de 2.000 habitantes com 60,93
quilos per capita, seguidos dos que superam os 500.000 habitantes (53,96
quilos), dos de 100.000 a 500.000 habitantes (50,52 quilos per capita) e
finalmente os municípios de 2.000 a 10.000 habitantes (com 49,90 quilos) e os
de 10.000 a 100.000 habitantes (com 47,72 quilos per capita).
- O nível sócio econômico dos
consumidores influi no consumo. As classes de menor poder aquisitivo consomem
90,16 quilos anuais per capita de frutas frescas, enquanto a classe
média-baixa consome 81,22 quilos, a classe media 74,69 quilos e a classe alta
77,79 quilos.
- Nas hortaliças frescas,
esse comportamento se repete: a classe baixa consome 56,73 quilos per
capita/ano, a média-baixa 54,50 quilos, a média 48,21 quilos e a alta 49,81
quilos.
- Nas frutas e hortaliças
processadas, o comportamento é semelhante: a classe alta consome 13,67 quilos,
seguida da classe média com 13,49 quilos, da baixa (13,14 quilos) e da classe
média-baixa (12,57 quilos per capita/ano).
- Em locais com menor taxa de
população infantil, o consumo de frutas frescas é maior (97,54 quilos per
capita). Nos locais com crianças de 6 a 15 anos, o consumo cai para 64,15
quilos e naqueles com crianças menores de 6 anos fica em 53,99 quilos per
capita. O mesmo comportamento é observado nas hortaliças frescas.
- Numa análise da relação
compra-idade, observa-se a maior aquisição de frutas e hortaliças frescas a
partir dos 65 anos, com 109,67 quilos per capita; entre 50 e 64 anos, cai para
94,35 quilos; entre 35 e 49 anos, fica em 69 quilos; e abaixo de 34 anos de
idade, é menor ainda (55,78 quilos per capita).
Consumo em Hotéis e Restaurantes.
- Os atacadistas são os
principais provedores de frutas e hortaliças frescas dos hotéis, restaurantes,
bares e cafeterias.
- Os distribuidores são os
maiores responsáveis pelo abastecimento de frutas e hortaliças processadas em
hotéis e restaurantes.
- Na frutas frescas, as
empresas atacadistas ocupam 32,54% do mercado fornecedor de hotéis e
restaurantes; os distribuidores, 29,94%; e as lojas tradicionais, 19,14%. Dos
restantes 20%, 18% são adquiridos em auto-serviços (8,5l%), cash & carry
(4,97%), hipermercados (4,28%) e em cooperativas e outros (2%).
- A mesma tônica do segmento
anterior mantém-se nas hortaliças frescas, com porcentagem mais ajustadas
entre os principais consumidores. Assim os atacadistas vendem aos hotéis
29,38% do total das compras; os distribuidores, 28,32%; e as lojas
tradicionais, 23,47%. Os restantes 19% são repartidos entre auto-serviços
(8,14%), hipermercados (4,33%) e cash & carry (3,30%). As outras formas
comerciais são distribuídos em 3% das vendas.
A
compra de frutas e hortaliças processadas pelos hotéis e restaurantes muda em
relação ao segmento anterior. As lojas tradicionais colocam-se em penúltimo
lugar na forma de comercialização, quanto ao resto do mercado.
Seguramente, neste tipo de produto os distribuidores aglutinam 40,32% das
vendas, enquanto os atacadistas ficam com 23,78%.
Triplicaram as vendas referentes aos segmentos anteriores os cash & carry
com 11,97%; as empresas fabricantes que têm uma cota de 7,68%; e os
auto-serviços com 6,04%.
Por último, os hipermercados têm uma cota de mercado de 5,63%, superior ao que
detém este tipo de estabelecimento em frutas e hortaliças frescas. Algumas observações sobre o comércio de frutas e hortaliças
frescas na Europa A revista espanhola Horticultura mostra, no artigo
'Producción y comercio de frutas e hortalizas', as transformações que estão
ocorrendo na Europa. As observações que julgamos mais interessantes estão
listadas abaixo:
- O número e o tamanho das
empresas de um setor definem a sua estrutura.
- A tendência dominante no
comércio varejista de alimentos é a concentração: um número cada vez menor de
empresas no futuro.
- O comércio varejista de
alimentos pode ser caracterizado como uma verdadeira olimpíada, onde os
participantes competem em três especialidades: tamanho, consumidor e
diferenciação.
- Para concorrer no tamanho,
os varejistas abrem lojas cada vez maiores, fortalecem sua cadeia de
abastecimento, concentram o seu sistema de compra e se tornam multinacionais.
- A Europa tem um mercado de
378 milhões de consumidores - 77% urbanos - e 440 mil empresas varejistas de
alimento. Só 1% dessas empresas tem mais que 2.500 m² de área (hipermercados)
e realizam 1/3 das vendas.
- Em 1980, 4% das empresas
eram responsáveis por 25,5% das vendas. Em 1997, essa porcentagem subiu para
55% das vendas. Na Espanha, entre 50 e 70% dos hipermercados têm menos de 10
anos de existência. Na Inglaterra, onde a concentração é maior, esse número
vai para 30 a 50%. Na Espanha, as três maiores cadeias varejistas são
responsáveis por 35% das vendas e na Alemanha, por 53%. As empresas varejistas
desenvolveram a estratégica 'mancha de azeite', expandindo-se fora das suas
fronteiras de origem.
- Oitenta e oito empresas
européias varejistas de alimentação têm filiais estrangeiras. As firmas
francesas abrem hipermercados e as alemãs se especializaram em lojas de
descontos. Em 1999, havia na Europa 16 mil lojas de desconto. Cinco anos
depois esse número havia subido para 26.200. A Noruega possui o maior
predomínio de lojas de desconto. Na Alemanha, 20,3% das empresas de varejo de
alimentos são 'duras' (hard. descounter) e 92%, 'suaves' (soft discounter). Na
Espanha, as porcentagem correspondentes são de 1,3 e 7,8%.
Outras
formas de atrair o consumidor são as promoções, concursos. É preciso atrair o
consumidor e depois conservá-lo. Os cartões de compra que oferecem vantagens aos
clientes leais são uma das estratégias mais utilizadas. O cartão de compra
permite conhecer em profundidade os hábitos do cliente.
O supermercado moderno dispõe de uma imensa possibilidade de coletar informações
sobre suas próprias vendas e as características de sua clientela.
O uso de 'scanners' na saída da mercadoria produz um volume de dados tão grande
que chega a afogar o responsável pelas decisões de gerenciamento.
É possível fazer algumas generalizações sobre os consumidores de frutas e
hortaliças. - Nos grandes varejos da
Alemanha, os consumidores valorizam a diversidade, o número de itens
oferecidos, uma boa apresentação e o equilíbrio entre produtos exóticos e
regionais.
- Os fatores determinantes da
compra são a marca - mais que o preço - e critérios como saúde, segundo
pesquisa junto ao consumidor.
- Observa-se, no momento da
compra, uma polarização do consumo de preços maiores e menores - os produtos
de preços intermediários estão perdendo terreno.
- O mercado para pratos
preparados, fruta descascada e salada pronta para servir está crescendo.
Producion y Comercio de Frutas
y Hortalizas
Horticultura, 136 - Vol XVIII
3 de Abril de
1999
Pág. 58 a
61
Os artigos foram traduzidos e resumidos por Idalina Rocha, sob supervisão da
engenheira agrônoma Anita de Souza Dias Gutierrez, coordenadora do Centro de
Qualidade em Horticultura (CQH) da Ceagesp.