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Prognóstico agrícola 2005/06
O bom desempenho da agricultura brasileira no passado recente se deveu
particularmente às condições externas favoráveis. Foi um período de demanda
crescente e preços agrícolas em alta, oportunidade que o setor agrícola soube
aproveitar. Empreendeu grande dinamismo à atividade produtiva e o conseqüente
aumento da produção fez crescer sua participação no PIB e nas exportações. Vale
ressaltar que esse dinamismo foi auxiliado pela taxa de câmbio que, desde 1999,
esteve predominantemente favorável às exportações. 1
O ano agrícola 2004/05 foi marcado por reversão da tendência. O mercado
internacional mostrou preços em queda e, no plano interno, alguns acontecimentos
reduziram a rentabilidade do setor, com possíveis implicações sobre a decisão de
plantio da safra de verão que se inicia e, conseqüentemente, sobre seu
desempenho.
No plano macroeconômico, destaca-se a apreciação da moeda nacional, uma vez que
o preço do dólar vem declinando sistematicamente, em termos nominais, desde maio
de 2004. Em termos reais, isso representa razoável apreciação cambial, com
impacto desfavorável sobre a lucratividade das exportações.
A performance do setor agrícola também foi comprometida pela seca prolongada,
que afetou principalmente as regiões Sul e , da Região Centro-Oeste, e resultou
em quebras acentuadas na produção de grãos, sobretudo de soja e milho, além de
comprometer a qualidade do produto final.
Esse quadro desfavorável criou dificuldades para o produtor arcar com o
pagamento do financiamento de sua produção, resultando em crescimento da
inadimplência e em pressão do setor junto ao Governo Federal para renegociação
dessas dívidas.
Assim, o Instituto de Economia Agrícola (IEA) analisa os possíveis desdobramentos deste cenário sobre o desempenho esperado para a safra agrícola 2005/06.1 Como a agricultura é o setor da
economia brasileira mais aberto às trocas internacionais, a análise de sua
performance passa por considerações sobre câmbio, acordos comerciais e
desempenho exportador. A questão do financiamento é explorada através de
considerações sobre disponibilidade de recursos, exigências e seguro
rural.
O trabalho enfoca os mercados das culturas de algodão, amendoim, arroz, feijão,
mandioca, milho e soja e o mercado de fatores (mão-de-obra, fertilizantes,
máquinas, sementes e terra). Encerra com a primeira estimativa do Valor da
Produção Agropecuária paulista para a safra 2004/05.
Mercado externo
Câmbio - A taxa de câmbio efetiva real, tomando-se como base o ano de 2000, mesmo oscilando manteve-se durante muito tempo acima dos níveis de referência, o que certamente explica os bons resultados comerciais do país no geral, e da agricultura em particular, no período. Apenas mais recentemente, nos meses de junho e julho de 2005, essa taxa está voltando aos níveis de 2000. Se esta tendência perdurar, pode ocorrer um menor dinamismo das exportações, pois o câmbio apreciado afeta a competitividade dos bens transacionados.
Acordos comerciais bilaterais - Predominam os acordos com países latino-americanos. Fora da América Latina, os acordos Mercosul-Índia e Mercosul-SACU (South African Customs Union) ainda não foram internalizados. Estão em curso os acordos Mercosul-UE e Mercosul-ALCA. No entanto, o encaminhamento dessas duas negociações está fortemente relacionado à finalização da Rodada de Doha, cujo andamento até o momento não se mostra animador.
Financiamento
O panorama apresenta-se mais complexo para o produtor em função da crise sofrida
pelo setor na safra 2004/05. Dificuldades para honrar compromissos com as
revendas de insumos e com o pagamento do custeio deverão afetar a
disponibilidade de recursos para a safra atual. Além disso, haverá aumento na
exigência de garantias reais para obtenção de financiamento.
Considerando que os recursos direcionados a juros favorecidos são escassos, o produtor necessita avaliar qual a melhor forma para o financiamento da próxima safra. É na sua capacidade de conseguir um mix de
recursos que proporcione o menor custo financeiro possível, disponibilizado no
momento correto, que estará garantida grande parte da sua rentabilidade.
Melhor ainda se estiver aliado a mecanismos de proteção ao risco de preço e
produção (seguro rural). Contudo, o elevado risco da agricultura, as taxas
crescentes de administração, o histórico recente de safras problemáticas e o
montante destinado para essa finalidade pelo Governo Federal deverão dificultar
o desempenho do Sistema de Seguro Agrícola com Prêmio Subvencionado.
O destaque em relação ao seguro rural é o Programa implementado pelo Governo do
Estado de São Paulo, que possibilita a subvenção de 50% do valor do prêmio e
cuja disponibilidade de recursos é significativamente superior ao montante
previsto para aplicação pelo governo federal.
Mercado de produtos
Algodão - No mercado mundial, a previsão é de queda de
8,4% na produção, em relação à safra 2004/05, e de crescimento no consumo da
ordem de 3,8%. Portanto, espera-se recuperação no nível das cotações do produto
ao longo de 2005/06.
No mercado interno, no balanço de oferta e demanda
de algodão no Brasil, durante os últimos cinco anos, conseguiu-se a
auto-suficiência almejada, sobretudo pelo aporte tecnológico à atividade.
Entretanto, o crescimento na oferta interna, principalmente nas últimas três
temporadas, não tem sido acompanhado proporcionalmente pela demanda, o que tem
ocasionado crescentes excedentes da fibra.
Os preços praticados no primeiro semestre do corrente ano representaram um dos
patamares mais baixos desde 2001. Em face das dificuldades enfrentadas na safra
que ora termina e da perspectiva que o excedente de oferta no Brasil poderá se
refletir ainda nos primeiros meses de 2006, quando será colhida a safra
paulista, considera-se que pode haver redução de cerca de 25% na área plantada
com algodão no Estado de São Paulo.
No âmbito nacional, o declínio na área da cultura poderá girar em torno de 15%,
consistente com o modelo de projeção de oferta do IEA (-9,0%). Os impactos desse
cenário adverso podem variar em função dos diferentes sistemas de produção
existentes no país.
Arroz - Verifica-se a auto-suficiência a partir de
2003/04, com possibilidade de exportações já em 2005. Os destinos potenciais são
China e Oriente Médio.
Para a safra 2005/06, o fato de os preços estarem baixos e o estoque final
previsto ser relativamente alto sugere reduções significativas de área dos
plantios de sequeiro, especialmente no Centro-Oeste, onde os proprietários têm a
possibilidade de optar por outras culturas. Isto não ocorre nas regiões onde o
plantio é feito em áreas sistematizadas para irrigação e mal drenadas, como nas
regiões arrozeiras do Rio Grande e de Santa Catarina, que respondem por mais da
metade da produção nacional. Em regiões menos expressivas de plantio, a
perspectiva também é de redução de área.
Feijão das águas - Considerando-se os preços recebidos
pelos agricultores nos últimos doze meses no Estado de São Paulo, nota-se uma
nítida tendência de crescimento, o que pode configurar uma reposta positiva na
área plantada na próxima safra das águas em relação à mesma safra do ano
agrícola 2004/05. Esse prognóstico é reforçado pela evolução da relação de
trocas entre feijão e fertilizantes diante de queda média nominal de 15% a 20%
dos preços de fertilizantes e defensivos em agosto de 2005.
Finalmente, para uma realidade em que o Estado do Paraná se configura como
principal produtor, e tendo em conta toda safra das águas, espera-se aumento da
área brasileira de feijão das águas entre 11% e 17%, com impactos de incremento
na produção.
Mandioca - A perspectiva para São Paulo é de que haja expansão da área plantada na safra 2005/06. Contribui para essa previsão de expansão de área uma melhor perspectiva do mercado da mandioca, quando cotejada com o de outras culturas, notadamente as de soja e de milho, além de condições mais favoráveis de financiamento. Some-se, ainda, a perspectiva de retorno favorável com a exploração.
Milho - Apesar do abalo na renda bruta da produção em 2004/05 (decorrente de quebra da produção, queda dos
preços do produto e aumento do custo de produção), com comprometimento da
capacidade de autofinanciamento da atividade produtiva, o produtor brasileiro,
no geral, deverá expandir a área plantada de milho na safra de verão 2005/06.
Estima-se um aumento de 5% da área no Brasil, com variação regional, dependendo
da condição competitiva da cultura do cereal em relação às demais atividades
agrícolas.
Para o Estado de São Paulo, comportamento deverá variar de acordo com a região
considerada. No Sudoeste do Estado, a maior região produtora de milho de verão,
o aumento poderá alcançar até 20%, deslocando a cultura da soja, cuja área
deverá decrescer. Nas regiões onde predomina o milho safrinha (como a de Assis,
Presidente Prudente e Ourinhos, no Médio Paranapanema, e Barretos e Orlândia, na
Alta Mogiana) semeado após a soja, esta deverá permanecer ou regredir um pouco,
cedendo área para o cereal no verão. Nas regiões canavieiras, o milho, pastagens
e outras culturas deverão ceder áreas para a cultura da cana-de-açúcar, que deve
prosseguir se expandindo ao ritmo de 3% a 4% ao ano.
Amendoim das águas - O transcorrer da safra das águas
2004/2005 não foi favorável para as variedades rasteiras, as quais ocuparam
pouco mais de 80% da área cultivada com amendoim no Estado de São Paulo. Com
ciclo produtivo longo (145 dias), a safra sofreu stress hídrico, reduzindo a
qualidade do produto. Declínio na qualidade e aumento da oferta resultaram no
fato de, em média, os preços recebidos pelos produtores no Estado de São Paulo,
em 2005, terem declinado cerca de 25 a 32% quando comparados aos do ano
anterior.
A atual descapitalização do produtor (resultante tanto da expansão do cultivo
nacional quanto da presença de estoques elevados), associada à dificuldade para
obtenção de crédito rural e aos altos custos operacionais para a safra vindoura,
deveria induzir a uma forte retração na área cultivada com amendoim das águas na
safra 2005/2006. Entretanto, o IEA, baseado, também, na eventualidade de o
produtor paulista não seguir as recomendações técnicas específicas para o
cultivo de amendoim, estima que a área ocupada esteja apenas 3,0 % abaixo da
cultivada em 2004/2005.
Soja - O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos
(USDA) divulgou em agosto de 2005 a primeira estimativa efetiva para a safra de
soja norte-americana de 2005/06, revelando um volume abaixo das expectativas
iniciais. A produção norte-americana prevista é de 75,9 milhões de toneladas, o
que representa uma queda de 2,7 milhões de toneladas sobre a previsão de julho e
11% de retração sobre os 85,5 milhões de toneladas da safra recorde obtida em
2004/05.
Como conseqüência desses menores números de oferta, passa a ocorrer sinalização
de um quadro de oferta e demanda nos Estados Unidos para 2005/06 mais apertado,
o que deve garantir preços médios próximos ou superiores à média histórica para
o ano comercial 2005/06. Com esses novos números de oferta e demanda, projeta-se
uma configuração também mais ajustada para o quadro mundial.
No Brasil: a soja é ainda rentável, embora não permita a mesma rentabilidade
(alta) dos últimos três anos-safra. As margens econômicas negativas do algodão
podem, em caso de continuidade, gerar substituição por soja, como por exemplo,
no Mato Grosso. Já na Região Sul, o milho também tende a ganhar áreas (competirá
com o plantio da soja).
Considerando esses fatores, segundo projeções do IEA, a produção brasileira de
soja prevista para safra agrícola 2005/06 é de 52,2 milhões de toneladas
(aumento de 4,0% em relação à safra anterior). A área plantada deverá ficar em
torno de 22,9 milhões de hectares (redução de 0,9%) e a produtividade média em
2.279 kg/ha (aumento de 4,9%).
Especificamente para o Estado de São Paulo, espera-se uma redução de 4,8% na
área cultivada e de 2,3% na produção.
Mercado de fatores
Fertilizantes - Verifica-se a intensificação do ciclo sazonal (concentração) de vendas no segundo semestre de 2005, reflexo do adiamento das aquisições pelos produtores, visto à crise do setor de alta de custo, quebra da produção de grãos, câmbio desfavorável às exportações, cotações em baixa para algumas commodities e travamento da renegociação das dívidas. A previsão do setor é de queda de 10% no consumo brasileiro em 2005 e, assim, para a safra 2005/06, o segmento já acumula estoques 66% superiores aos do ano anterior, com disponibilidade 6,9% maior que a observada em 2004.
Sementes - No Estado de São Paulo houve deterioração
dos índices de relação de troca semente/grão para algodão, milho soja e
trigo.
O preço continua a ser o principal parâmetro considerado pelos produtores no
momento da aquisição. Assim, percepção é de que os agricultores tenderão a
plantar a próxima safra com sementes próprias ou 'salvas' e/ou adquiridas no
comércio clandestino ou ilegal, inclusive com sementes contrabandeadas, como no
caso de soja transgênica. Para o algodão, o plantio com sementes clandestinas e
transgênicas deverá representar 10% da área cultivada no Brasil. A Lei de
Biossegurança de março de 2005, que regulamenta o plantio e a venda de
variedades transgênicas, poderá reaquecer o mercado de produtos
certificados.
Mão-de-obra - O desemprego ocasionado pela evolução
tecnológica na agricultura paulista, deverá continuar para a mão-de-obra menos
qualificada.
Verifica-se crescimento do número de pessoas ocupadas em atividades
não-agrícolas, cuja variação foi de 42,8% de novembro de 2000 a novembro de
2004. Atividades industriais (usinas de açúcar, leite, olaria, etc), de serviços
(pesque-pague, hotéis, lanchonetes, restaurantes, etc) e administrativas
(escritórios das usinas, olarias, etc) vêm absorvendo boa parcela da população
trabalhadora, com forte participação do trabalho feminino.
A exigência de mão-de-obra mais qualificada e a ocupação em atividades
não-agrícolas devem proporcionar melhor remuneração aos trabalhadores,
propiciando melhores condições de vida à população rural..
Máquinas Agrícolas Automotrizes - As exportações mantêm o ritmo intenso de ampliação dos embarques e a ampliação do número de pessoas ocupadas nas montadoras. Para o mercado interno, representantes do segmento prevêem para o ano de 2005 queda de 30% nas vendas, revertendo a tendência iniciada em 1999 com o Moderfrota.
Mercado de Terras - A taxa média anual de crescimento do preço da terra variou de 12,1% (terras para reflorestamento) a 14,0% (terra de cultura de primeira e terra para pastagem), no período de 2000 a 2005. As regiões com terras mais valorizadas no Estado de São Paulo são Ribeirão Preto, Campinas, Mogi-Mirim, Orlândia e Jaboticabal.
Valor da Produção Agropecuária Paulista - De modo geral, a agricultura é responsável por 69,3% do valor total da produção agropecuária do Estado de São Paulo. Os dez principais produtos da agropecuária paulista - cana para indústria,
carne bovina, laranja para indústria, carne de frango, laranja para mesa, milho,
ovo, leite C, café e soja – representam 79,9% do valor total da produção
estimado para o setor agropecuário em 2004/05.
Para a safra agrícola 2004/05, as estimativas preliminares, especialmente de
preço e de produção dos 48 principais produtos agrícolas do Estado, contabilizam
R$ 28,1 bilhões, 2,7% inferior ao valor de 2004, decorrente de queda nos preços
dos produtos, cujo índice geral é 2,3% inferior ao de 2004.
As principais quedas de preço ocorreram para grãos e fibras (-18,1%) e para produtos animais (-7,1%).2
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1Prognóstico Agrícola 2005/06
Introdução - Maria Auxiliadora de Carvalho ( macarvalho@iea.sp.gov.br); Valquíria da Silva
Mercado Externo
- Política cambial - César R. L. da Silva ( crlsilva@iea.sp.gov.br)
- Acordos comerciais - Maria Auxiliadora de Carvalho ( macarvalho@iea.sp.gov.br)
- Desempenho do agronegócio - José Sidnei Gonçalves ( sydy@iea.sp.gov.br); José Roberto Vicente e Sueli A. M. Souza
Financiamento agrícola - Terezinha J. F. Franca (tefranca@iea.sp.gov.br)
Mercado de produtos
- Algodão - Marisa Z. Barbosa ( mzbarbosa@iea.sp.gov.br); Soraia de F. Ramos; Vagner A. Martins
- Amendoim - Renata Martins ( renata@iea.sp.gov.br) e Silene M. de Feitas
- Arroz - Sônia S. Martins ( soniasm@iea.sp.gov.br )
- Feijão - José S. Gonçalves ( sydy@iea.sp.gov.br) e Sueli A. M. Souza
- Mandioca - José R. da Silva ( jrsilva@iea.sp.gov.br)
- Milho - Alfredo Tsunechiro ( alftsu@iea.sp.gov.br) e Rosana de O. P. e Silva
- Oleaginosas -
- Soja Andréa L. R. de Oliveira Ojima ( andrea@iea.sp.gov.br)
Mercado de fatores
- Fertilizantes - Célia R. R. P. T. Ferreira ( célia@iea.sp.gov.br) e Celso L. R. Vegro
- Sementes - Valeria Comitre ( comitre@iea.sp.gov.br)
- Mão-de-obra - Carlos E. Fredo ( cfredo@iea.sp.gov.br); Maria C. M. Vicente; Celma da S. L. Baptistella e Vera. L. F. dos S. Francisco
- Máquinas agrícolas automotrizes - Celso L. R. Vegro ( celvegro@iea.sp.gov.br) e Célia R. R. P. T. Ferreira
- Terras agrícolas - Ana M. M. P. de Camargo ( anamontragio@iea.sp.gov.br) e Felipe P. de Camargo
- Valor da produção (primeira estimativa) - Alfredo Tsunechiro ( alftsu@iea.sp.gov.br); Ana M. P. Amaral; Carlos N. Ghobril; Carlos R. F. Bueno; Denise V. Caser; Paulo J. Coelho; Vagner A. Martins
2 Artigo registrado no CCTC sob número HP-96/2005
Para ver a íntegra do prognóstico, clique aqui .
Data de Publicação: 21/12/2005
Autor(es):
Antonio Ambrósio Amaro (amaro.pingo@gmail.com) Consulte outros textos deste autor
Maria Auxiliadora de Carvalho (macarvalho@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Nilda Tereza Cardoso De Mello (nilmello@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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