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Prognóstico agrícola 2005/06
                                 
O bom desempenho da agricultura brasileira no passado recente se deveu 
particularmente às condições externas favoráveis. Foi um período de demanda 
crescente e preços agrícolas em alta, oportunidade que o setor agrícola soube 
aproveitar. Empreendeu grande dinamismo à atividade produtiva e o conseqüente 
aumento da produção fez crescer sua participação no PIB e nas exportações. Vale 
ressaltar que esse dinamismo foi auxiliado pela taxa de câmbio que, desde 1999, 
esteve predominantemente favorável às exportações. 1  Mercado externo   Câmbio - A taxa de câmbio efetiva real, tomando-se como 
base o ano de 2000, mesmo oscilando manteve-se durante muito tempo acima dos 
níveis de referência, o que certamente explica os bons resultados comerciais do 
país no geral, e da agricultura em particular, no período. Apenas mais 
recentemente, nos meses de junho e julho de 2005, essa taxa está voltando aos 
níveis de 2000. Se esta tendência perdurar, pode ocorrer um menor dinamismo das 
exportações, pois o câmbio apreciado afeta a competitividade dos bens 
transacionados.   Acordos comerciais bilaterais - Predominam os acordos 
com países latino-americanos. Fora da América Latina, os acordos Mercosul-Índia 
e Mercosul-SACU (South African Customs Union) ainda não foram internalizados. 
Estão em curso os acordos Mercosul-UE e Mercosul-ALCA. No entanto, o 
encaminhamento dessas duas negociações está fortemente relacionado à finalização 
da Rodada de Doha, cujo andamento até o momento não se mostra 
animador.   Financiamento               
O panorama apresenta-se mais complexo para o produtor em função da crise sofrida 
pelo setor na safra 2004/05. Dificuldades para honrar compromissos com as 
revendas de insumos e com o pagamento do custeio deverão afetar a 
disponibilidade de recursos para a safra atual. Além disso, haverá aumento na 
exigência de garantias reais para obtenção de financiamento.  Mercado de produtos   Algodão - No mercado mundial, a previsão é de queda de 
8,4% na produção, em relação à safra 2004/05, e de crescimento no consumo da 
ordem de 3,8%. Portanto, espera-se recuperação no nível das cotações do produto 
ao longo de 2005/06.  Arroz - Verifica-se a auto-suficiência a partir de 
2003/04, com possibilidade de exportações já em 2005. Os destinos potenciais são 
China e Oriente Médio.  Feijão das águas - Considerando-se os preços recebidos 
pelos agricultores nos últimos doze meses no Estado de São Paulo, nota-se uma 
nítida tendência de crescimento, o que pode configurar uma reposta positiva na 
área plantada na próxima safra das águas em relação à mesma safra do ano 
agrícola 2004/05. Esse prognóstico é reforçado pela evolução da relação de 
trocas entre feijão e fertilizantes diante de queda média nominal de 15% a 20% 
dos preços de fertilizantes e defensivos em agosto de 2005.  Mandioca - A perspectiva para São Paulo é de que haja 
expansão da área plantada na safra 2005/06. Contribui para essa previsão de 
expansão de área uma melhor perspectiva do mercado da mandioca, quando cotejada 
com o de outras culturas, notadamente as de soja e de milho, além de condições 
mais favoráveis de financiamento. Some-se, ainda, a perspectiva de retorno 
favorável com a exploração.   Milho - Apesar do abalo na renda bruta da produção em 2004/05 (decorrente de quebra da produção, queda dos 
preços do produto e aumento do custo de produção), com comprometimento da 
capacidade de autofinanciamento da atividade produtiva, o produtor brasileiro, 
no geral, deverá expandir a área plantada de milho na safra de verão 2005/06. 
Estima-se um aumento de 5% da área no Brasil, com variação regional, dependendo 
da condição competitiva da cultura do cereal em relação às demais atividades 
agrícolas.  Amendoim das águas - O transcorrer da safra das águas 
2004/2005 não foi favorável para as variedades rasteiras, as quais ocuparam 
pouco mais de 80% da área cultivada com amendoim no Estado de São Paulo. Com 
ciclo produtivo longo (145 dias), a safra sofreu stress hídrico, reduzindo a 
qualidade do produto. Declínio na qualidade e aumento da oferta resultaram no 
fato de, em média, os preços recebidos pelos produtores no Estado de São Paulo, 
em 2005, terem declinado cerca de 25 a 32% quando comparados aos do ano 
anterior.  Soja - O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos 
(USDA) divulgou em agosto de 2005 a primeira estimativa efetiva para a safra de 
soja norte-americana de 2005/06, revelando um volume abaixo das expectativas 
iniciais. A produção norte-americana prevista é de 75,9 milhões de toneladas, o 
que representa uma queda de 2,7 milhões de toneladas sobre a previsão de julho e 
11% de retração sobre os 85,5 milhões de toneladas da safra recorde obtida em 
2004/05.  Mercado de fatores   Fertilizantes - Verifica-se a intensificação do ciclo 
sazonal (concentração) de vendas no segundo semestre de 2005, reflexo do 
adiamento das aquisições pelos produtores, visto à crise do setor de alta de 
custo, quebra da produção de grãos, câmbio desfavorável às exportações, cotações 
em baixa para algumas commodities e travamento da renegociação das dívidas. A 
previsão do setor é de queda de 10% no consumo brasileiro em 2005 e, assim, para 
a safra 2005/06, o segmento já acumula estoques 66% superiores aos do ano 
anterior, com disponibilidade 6,9% maior que a observada em 2004.   Sementes - No Estado de São Paulo houve deterioração 
dos índices de relação de troca semente/grão para algodão, milho soja e 
trigo.  Mão-de-obra - O desemprego ocasionado pela evolução 
tecnológica na agricultura paulista, deverá continuar para a mão-de-obra menos 
qualificada.  Máquinas Agrícolas Automotrizes - As exportações mantêm 
o ritmo intenso de ampliação dos embarques e a ampliação do número de pessoas 
ocupadas nas montadoras. Para o mercado interno, representantes do segmento 
prevêem para o ano de 2005 queda de 30% nas vendas, revertendo a tendência 
iniciada em 1999 com o Moderfrota.   Mercado de Terras - A taxa média anual de crescimento 
do preço da terra variou de 12,1% (terras para reflorestamento) a 14,0% (terra 
de cultura de primeira e terra para pastagem), no período de 2000 a 2005. As 
regiões com terras mais valorizadas no Estado de São Paulo são Ribeirão Preto, 
Campinas, Mogi-Mirim, Orlândia e Jaboticabal.   Valor da Produção Agropecuária Paulista - De modo geral, a agricultura é responsável por 69,3% do valor total da produção agropecuária do Estado de São Paulo. Os dez principais produtos da agropecuária paulista - cana para indústria, 
carne bovina, laranja para indústria, carne de frango, laranja para mesa, milho, 
ovo, leite C, café e soja – representam 79,9% do valor total da produção 
estimado para o setor agropecuário em 2004/05.  ______________________________________  Introdução - Maria Auxiliadora de Carvalho (    macarvalho@iea.sp.gov.br); Valquíria da 
Silva   Mercado Externo   Financiamento agrícola - Terezinha J. F. Franca 
(tefranca@iea.sp.gov.br)   Mercado de produtos   Mercado de fatores   2 Artigo registrado no CCTC 
sob número HP-96/2005 
  Para ver a 
íntegra do prognóstico,             clique aqui  . 
 
            
O ano agrícola 2004/05 foi marcado por reversão da tendência. O mercado 
internacional mostrou preços em queda e, no plano interno, alguns acontecimentos 
reduziram a rentabilidade do setor, com possíveis implicações sobre a decisão de 
plantio da safra de verão que se inicia e, conseqüentemente, sobre seu 
desempenho. 
            
No plano macroeconômico, destaca-se a apreciação da moeda nacional, uma vez que 
o preço do dólar vem declinando sistematicamente, em termos nominais, desde maio 
de 2004. Em termos reais, isso representa razoável apreciação cambial, com 
impacto desfavorável sobre a lucratividade das exportações. 
            
A performance do setor agrícola também foi comprometida pela seca prolongada, 
que afetou principalmente as regiões Sul e , da Região Centro-Oeste, e resultou 
em quebras acentuadas na produção de grãos, sobretudo de soja e milho, além de 
comprometer a qualidade do produto final. 
            
Esse quadro desfavorável criou dificuldades para o produtor arcar com o 
pagamento do financiamento de sua produção, resultando em crescimento da 
inadimplência e em pressão do setor junto ao Governo Federal para renegociação 
dessas dívidas. 
            Assim, o Instituto de Economia Agrícola (IEA) analisa os possíveis desdobramentos deste cenário sobre o desempenho esperado para a safra agrícola 2005/06.1 Como a agricultura é o setor da 
economia brasileira mais aberto às trocas internacionais, a análise de sua 
performance passa por considerações sobre câmbio, acordos comerciais e 
desempenho exportador. A questão do financiamento é explorada através de 
considerações sobre disponibilidade de recursos, exigências e seguro 
rural. 
            
O trabalho enfoca os mercados das culturas de algodão, amendoim, arroz, feijão, 
mandioca, milho e soja e o mercado de fatores (mão-de-obra, fertilizantes, 
máquinas, sementes e terra). Encerra com a primeira estimativa do Valor da 
Produção Agropecuária paulista para a safra 2004/05.  
            Considerando que os recursos direcionados a juros favorecidos são escassos, o produtor necessita avaliar qual a melhor forma para o financiamento da próxima safra. É na sua capacidade de conseguir um mix de 
recursos que proporcione o menor custo financeiro possível, disponibilizado no 
momento correto, que estará garantida grande parte da sua rentabilidade. 
            
Melhor ainda se estiver aliado a mecanismos de proteção ao risco de preço e 
produção (seguro rural). Contudo, o elevado risco da agricultura, as taxas 
crescentes de administração, o histórico recente de safras problemáticas e o 
montante destinado para essa finalidade pelo Governo Federal deverão dificultar 
o desempenho do Sistema de Seguro Agrícola com Prêmio Subvencionado. 
            
O destaque em relação ao seguro rural é o Programa implementado pelo Governo do 
Estado de São Paulo, que possibilita a subvenção de 50% do valor do prêmio e 
cuja disponibilidade de recursos é significativamente superior ao montante 
previsto para aplicação pelo governo federal.  
            No mercado interno, no balanço de oferta e demanda 
de algodão no Brasil, durante os últimos cinco anos, conseguiu-se a 
auto-suficiência almejada, sobretudo pelo aporte tecnológico à atividade. 
Entretanto, o crescimento na oferta interna, principalmente nas últimas três 
temporadas, não tem sido acompanhado proporcionalmente pela demanda, o que tem 
ocasionado crescentes excedentes da fibra. 
            
Os preços praticados no primeiro semestre do corrente ano representaram um dos 
patamares mais baixos desde 2001. Em face das dificuldades enfrentadas na safra 
que ora termina e da perspectiva que o excedente de oferta no Brasil poderá se 
refletir ainda nos primeiros meses de 2006, quando será colhida a safra 
paulista, considera-se que pode haver redução de cerca de 25% na área plantada 
com algodão no Estado de São Paulo. 
            
No âmbito nacional, o declínio na área da cultura poderá girar em torno de 15%, 
consistente com o modelo de projeção de oferta do IEA (-9,0%). Os impactos desse 
cenário adverso podem variar em função dos diferentes sistemas de produção 
existentes no país. 
 
            
Para a safra 2005/06, o fato de os preços estarem baixos e o estoque final 
previsto ser relativamente alto sugere reduções significativas de área dos 
plantios de sequeiro, especialmente no Centro-Oeste, onde os proprietários têm a 
possibilidade de optar por outras culturas. Isto não ocorre nas regiões onde o 
plantio é feito em áreas sistematizadas para irrigação e mal drenadas, como nas 
regiões arrozeiras do Rio Grande e de Santa Catarina, que respondem por mais da 
metade da produção nacional. Em regiões menos expressivas de plantio, a 
perspectiva também é de redução de área.  
            
Finalmente, para uma realidade em que o Estado do Paraná se configura como 
principal produtor, e tendo em conta toda safra das águas, espera-se aumento da 
área brasileira de feijão das águas entre 11% e 17%, com impactos de incremento 
na produção.  
            
Para o Estado de São Paulo, comportamento deverá variar de acordo com a região 
considerada. No Sudoeste do Estado, a maior região produtora de milho de verão, 
o aumento poderá alcançar até 20%, deslocando a cultura da soja, cuja área 
deverá decrescer. Nas regiões onde predomina o milho safrinha (como a de Assis, 
Presidente Prudente e Ourinhos, no Médio Paranapanema, e Barretos e Orlândia, na 
Alta Mogiana) semeado após a soja, esta deverá permanecer ou regredir um pouco, 
cedendo área para o cereal no verão. Nas regiões canavieiras, o milho, pastagens 
e outras culturas deverão ceder áreas para a cultura da cana-de-açúcar, que deve 
prosseguir se expandindo ao ritmo de 3% a 4% ao ano.  
            
A atual descapitalização do produtor (resultante tanto da expansão do cultivo 
nacional quanto da presença de estoques elevados), associada à dificuldade para 
obtenção de crédito rural e aos altos custos operacionais para a safra vindoura, 
deveria induzir a uma forte retração na área cultivada com amendoim das águas na 
safra 2005/2006. Entretanto, o IEA, baseado, também, na eventualidade de o 
produtor paulista não seguir as recomendações técnicas específicas para o 
cultivo de amendoim, estima que a área ocupada esteja apenas 3,0 % abaixo da 
cultivada em 2004/2005. 
 
            
Como conseqüência desses menores números de oferta, passa a ocorrer sinalização 
de um quadro de oferta e demanda nos Estados Unidos para 2005/06 mais apertado, 
o que deve garantir preços médios próximos ou superiores à média histórica para 
o ano comercial 2005/06. Com esses novos números de oferta e demanda, projeta-se 
uma configuração também mais ajustada para o quadro mundial. 
            
No Brasil: a soja é ainda rentável, embora não permita a mesma rentabilidade 
(alta) dos últimos três anos-safra. As margens econômicas negativas do algodão 
podem, em caso de continuidade, gerar substituição por soja, como por exemplo, 
no Mato Grosso. Já na Região Sul, o milho também tende a ganhar áreas (competirá 
com o plantio da soja). 
            
Considerando esses fatores, segundo projeções do IEA, a produção brasileira de 
soja prevista para safra agrícola 2005/06 é de 52,2 milhões de toneladas 
(aumento de 4,0% em relação à safra anterior). A área plantada deverá ficar em 
torno de 22,9 milhões de hectares (redução de 0,9%) e a produtividade média em 
2.279 kg/ha (aumento de 4,9%). 
            
Especificamente para o Estado de São Paulo, espera-se uma redução de 4,8% na 
área cultivada e de 2,3% na produção.  
            
O preço continua a ser o principal parâmetro considerado pelos produtores no 
momento da aquisição. Assim, percepção é de que os agricultores tenderão a 
plantar a próxima safra com sementes próprias ou 'salvas' e/ou adquiridas no 
comércio clandestino ou ilegal, inclusive com sementes contrabandeadas, como no 
caso de soja transgênica. Para o algodão, o plantio com sementes clandestinas e 
transgênicas deverá representar 10% da área cultivada no Brasil. A Lei de 
Biossegurança de março de 2005, que regulamenta o plantio e a venda de 
variedades transgênicas, poderá reaquecer o mercado de produtos 
certificados.  
            
Verifica-se crescimento do número de pessoas ocupadas em atividades 
não-agrícolas, cuja variação foi de 42,8% de novembro de 2000 a novembro de 
2004. Atividades industriais (usinas de açúcar, leite, olaria, etc), de serviços 
(pesque-pague, hotéis, lanchonetes, restaurantes, etc) e administrativas 
(escritórios das usinas, olarias, etc) vêm absorvendo boa parcela da população 
trabalhadora, com forte participação do trabalho feminino. 
            
A exigência de mão-de-obra mais qualificada e a ocupação em atividades 
não-agrícolas devem proporcionar melhor remuneração aos trabalhadores, 
propiciando melhores condições de vida à população rural..  
            
Para a safra agrícola 2004/05, as estimativas preliminares, especialmente de 
preço e de produção dos 48 principais produtos agrícolas do Estado, contabilizam 
R$ 28,1 bilhões, 2,7% inferior ao valor de 2004, decorrente de queda nos preços 
dos produtos, cujo índice geral é 2,3% inferior ao de 2004. 
            As principais quedas de preço ocorreram para grãos e fibras (-18,1%) e para produtos animais (-7,1%).2  
1Prognóstico Agrícola 2005/06    
  
  
Data de Publicação: 21/12/2005
                Autor(es): 
                Antonio Ambrósio Amaro (amaro.pingo@gmail.com) Consulte outros textos deste autor
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