Laranja: agrupamento de municípios produtores no Estado de São Paulo

            A produção e os novos plantios de laranja no cinturão citrícola comercial, entre São Paulo e o sul do Triângulo Mineiro, estão cada mais concentrados nas mãos dos grandes citricultores, inclusive as empresas processadoras de sucos cítricos. É o que mostra estudo da consultoria Valio Inteligência Competitiva, apresentado no dia da Laranja (6 de outubro) em Cordeirópolis (SP). Até meados deste ano, ao final da safra 2004/05, existiam nessa região cerca de 9.965 produtores. Mas 28,1% do total de pés da fruta são cultivados pelos 0,3% considerados grandes (mais de 500 mil plantas). Já o pequenos (menos de 10 mil pés), que representam 71,2% do total de citricultores, têm apenas 13,4% das plantas na região.1
            O setor citrícola paulista fornece 78,9% da quantidade de laranja produzida no Brasil2, da qual grande parte dela destinada à produção de suco concentrado para exportação (figura 1).

Figura 1 - Participação da produção de laranja por Unidade Federativa no Brasil, 2003

Fonte: Elaborada pelos autores com base em IBGE (2005)

            Análise preliminar, envolvendo os últimos cinco anos, aponta que os grupos com grandes produções de laranja, alto número de pés em produção e novos plantios estão localizados na principal região citrícola do Estado de São Paulo, que engloba os municípios de Itápolis, Mogi Guaçu, Casa Branca e Limeira, onde estão também presentes algumas das principais indústrias processadoras de suco de laranja concentrado. Esta análise evidenciou ainda grupos distintos de municípios com médios e baixos valores para estas variáveis.
            Tais resultados indicam uma concentração, tanto da produção quanto do plantio de novos pés, nas regiões tradicionalmente produtoras de laranja, concordando com o observado no estudo da consultoria Valio Inteligência Competitiva, que apontou 100% dos grandes produtores realizando novos plantios e apenas 5% dos pequenos citricultores fazendo novos plantios para ampliação ou renovação dos pomares.
            A análise de agrupamento3 por municípios foi feita com base em dados do levantamento subjetivo de safras agrícolas do Estado de São Paulo (IEA/CATI), entre os anos de 2000 e 2004. Para isso, consideraram-se as variáveis, altamente correlacionadas, número de pés novos (sem produção), número de pés em produção e produção em caixas de 40,8kg.
            Dos 645 municípios do Estado, no máximo 467 produzem laranja (figura 2). O grupo 1 é formado por 418 municípios, distribuídos nas áreas de atuação dos 40 Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDR), e apresenta as menores médias para todas as variáveis em estudo. Os resultados indicam que, apesar de São Paulo ser um grande produtor, há citricultores dispersos, geograficamente, por todo o Estado (figuras 2, 3 e 4).

Figura 2 - Distribuição geográfica dos grupos de municípios produtores de laranja por área de atuação de Escritório de Desenvolvimento Rural, Estado de São Paulo, 2000-2004

Fonte: Elaborada pelos autores a partir dos resultados da pesquisa

            Os grupos 2 e 3 são compostos, respectivamente, por 13 (em 7 EDRs) e 14 (em 8 EDRs) municípios, com maiores concentrações de municípios nas áreas de atuação dos EDRs de Catanduva (grupo 2) e Barretos (grupo 3). Estes grupos apresentam comportamento semelhante quanto às variáveis produção e pés em produção (figura 4). Porém, ao observar apenas a variável pés novos, percebe-se maior plantio em média nos municípios presentes no grupo 3, havendo, ainda, um aumento nos anos de 2003 e 2004 (figura 3).
            Os grupos 4 e 5 são formados, respectivamente, por 10 (em 5 EDRs) e 6 (em 4 EDRs) municípios. Estão mais concentrados nas áreas de atuação dos EDRs de Araraquara (grupo 4) e de Barretos (grupo 5) e têm médias maiores do que as dos grupos 2 e 3, principalmente para a variável produção que apresenta alta significativa nos grupos 4 e 5 para o ano de 2004 (figura 4). Os municípios destes grupos vêm plantando novos pés de laranja no decorrer destes anos, fato que, provavelmente, contribuiu para o aumento na produção e no número de pés em produção observado em 2004 (figura 3).

Figura 3 - Médias, grupos das variáveis produção, números de pés em produção e novos, Estado de São Paulo, 2000-2004

 
 

Fonte: Elaborado pelos autores com base em IEA/CATI (2000-2004)

            Uma ocorrência que merece destaque é a presença da área de atuação do EDR de Itapetininga no grupo 5. Trata-se de região que não é tradicionalmente produtora, estando entre aquelas com valores altos para as variáveis em estudo, o que pode ser explicado pela migração da cultura do Norte para o Sul e o Sudoeste do Estado, conforme relatado por diversos autores.
            O grupo 6, composto pelos municípios de Tambaú e Colômbia, respectivamente nas áreas de atuação dos EDRs de São João da Boa Vista e de Barretos (figura 4), apresenta queda acentuada na produção média no ano de 2003. Porém, neste mesmo ano, pode ser observado aumento no plantio de pés novos, o que continuou em 2004. A variável pés em produção manteve-se constante no decorrer deste período.

Figura 4 - Percentual de municípios nas áreas de atuação dos Escritórios de Desenvolvimento Rural por grupo, Estado de São Paulo, 2000-2004

Fonte: Elaborado pelos autores com base em IEA/CATI (2000-2004)

            Os grupos 7 a 10 são formados, respectivamente, pelos municípios de Limeira (EDR de Limeira), Casa Branca (EDR de São João da Boa Vista), Mogi Guaçu (EDR de Mogi Mirim) e Itápolis (EDR de Jaboticabal). Estes municípios são caracterizados por ter altos valores de pés em produção e produção, com destaque para Itápolis que é o maior produtor paulista de citros. Nos municípios de Limeira, Casa Branca e Itápolis, a queda na produção em 2003 foi causada pela ocorrência de estiagem ao longo do segundo semestre de 2002 e pelas elevadas temperaturas no final do ano que prejudicaram a florada. Houve, porém, recuperação no crescimento da produção em 2004 nos municípios de Casa Branca e Itápolis (figura 3).
            Os maiores plantios estão sendo feitos, em ordem decrescente de valores, nos grupos 10, 9, 8, 4 e 6. Os municípios destes grupos formam a região citrícola paulista, isto é, estão nas áreas de atuação dos EDRs tradicionalmente produtores e próximos às indústrias processadoras de laranja4.
            A partição dos municípios produtores de laranja do Estado de São Paulo, feita nesta análise de agrupamento, apontou aqueles com grandes produções, altos números de pés em produção e novos plantios. Aqueles municípios com médios e baixos valores para as mesmas variáveis foram reunidos em grupos distintos.
            A formação destes grupos pode servir como primeiro estágio de um plano amostral para esta cultura no Estado de São Paulo. As estimativas da amostra poderão fornecer, além da previsão de safras citrícolas, outras estatísticas para melhor caracterizar o setor e auxiliar na adoção de políticas estaduais.

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1Cultivo de laranja fica mais concentrado. Jornal O Estado de S. Paulo, 07 de outubro de 2005.
2 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Produção Agrícola Municipal, 2003. Disponível em
www.sidra.ibge.gov.br. Acesso em 05 de março de 2005.
3 O método utilizado para formar os grupos foi o da ligação completa, realizado por meio do procedimento cluster do SAS. SAS OnlineDoc version eight, 2005. Disponível em
http://v8doc.sas.com/sashtml/. Acesso em 14 de julho de 2005.
4 MILANI, A. A.; PEROSA, J.M.Y. Deslocamento das regiões produtoras de laranja no Estado de São Paulo: causas e impacto na competitividade da cadeia (compact disc). In: INTERNATIONAL PENSA CONFERENCE ON AGRI-FOOD CHAINS/NETWORKS ECONOMICS AND MANAGEMENT, 5, Ribeirão Preto: Universidade de São Paulo, 2005.

Data de Publicação: 17/10/2005

Autor(es): Juliana Di Giorgio Giannotti (juliana@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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