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Café: política internacional e riscos de novas intervenções mágicas
A II
Conferência Mundial de Café, realizada no final de setembro em Salvador (BA),
foi palco de inúmeras análises e sugestões dos países produtores e consumidores.
Entre os países produtores, as preocupações referiram-se à crise que arruinou os
cafeicultores do mundo todo nos últimos anos. E não faltou a proposta de
intervenção nos mercados visando ao controle da oferta e à garantia de preços
'socialmente justos, que garantam pelo menos o piso de US 1,00 por libra peso
para o café verde'. Mercado
Pode-se afirmar que o mês de setembro foi sombrio para o café. Com a crise do
petróleo, houve uma corrida dos fundos de investimentos para vender posições do
café e aplicar em petróleo, o que provocou pesadas perdas nas cotações do
produto no mercado internacional. Ademais, o bom desenvolvimento da florada dos
cafezais brasileiros indica que o próximo ano será de safra elevada, o que
contribuiu para baixar ainda mais as cotações do café no mês de setembro. Gráfico 1 - Cotações médias mensais do café em diferentes
mercados de futuros (segunda posição) e do OIC-Composto diário, 2003 a 2005
Soluções deste tipo são reivindicadas por vários países, em especial pelo
presidente da Colômbia. E indicam como essas nações, e algumas vezes até mesmo o
Brasil - vide a política de retenção implementada em 2001 e 2002 com enormes
perdas de receita cambial e participação no mercado -, objetivam a criação de
desfechos mágicos para resolver os ciclos de excesso de oferta.
Assim, palavras do presidente da Organização Internacional do Café (OIC)1 - do tipo 'não se trata de regular o mercado com
mecanismos de intervenção, mas formular políticas que possam influir nas
variáveis que o determinam' - podem ser vistas sobre vários ângulos. De um lado,
as políticas de intervenção de quotas de produção e preço mínimo - que ocorreram
no passado e são sempre reivindicadas pelas ‘viúvas’ do antigo Instituto
Brasileiro do Café (IBC). De outro, a implementação de políticas públicas que
ampliem e diversifiquem o consumo, instrumentos eficientes de transferência de
estoques ao longo do tempo e a eliminação das barreiras tarifárias e de outras
tributações por parte dos países importadores, tanto do café verde quanto do
torrado e moído e do solúvel, que impedem a entrada de produtos com maior valor
agregado nos diferentes mercados, especialmente dos países desenvolvidos.
O Brasil ainda tem muito que avançar, apesar das últimas evoluções nas políticas
públicas para o setor, como foi o caso do lançamento dos contratos de opções. É
a necessidade de aumento da participação do café torrado e moído nas
exportações; do crescimento das exportações de solúvel; do incremento do consumo
interno (esse último felizmente já é uma realidade); da melhoria das condições
do financiamento ao setor agrícola e industrial; e do maior esforço na geração
de inovações e no desenvolvimento de novas tecnologias.
Concomitantemente, é condição fundamental para o fortalecimento da indústria do
café medidas que vão desde a redução da tributação do produto no mercado interno
até a regulamentação da importação de matérias-primas para a indústria de
solúvel e torrado e moído, visando à reexportação. Dessa forma, se concederia à
indústria brasileira de café as mesmas condições de competição dos países
importadores nos produtos de maior valor agregado.
Na Bolsa de Nova Iorque, as cotações do arábica caíram 8,71%, em relação à
cotação média de agosto (Contrato C, segunda posição). Na Bolsa de Londres, o
robusta registrou queda ainda maior, de 13,90% para a segunda posição, o dobro
da redução observada no mês anterior. No mercado de futuros da BM&F, o preço
do arábica caiu 8,93% também para a segunda posição. O indicador OIC-Composto
diário apresentou recuo de 7,67% em relação à média do índice de agosto.
Em setembro, as cotações do café arábica nos diferentes mercados retornaram ao
seu nível médio de novembro de 2004, perdendo todo o ganho acumulado até então.
As expectativas atuais estão associadas às compras que as indústrias do
Hemisfério Norte começam a realizar visando ao abastecimento no final de outono
e inverno, época que mais se consome café, e eventualmente conferindo suporte
aos preços (gráfico 1).
Fonte: Gazeta Mercantil
Dada a
menor oferta brasileira para o próximo ano cafeeiro, o diferencial entre as
cotações observadas na BM&F e em Nova Iorque reduziu-se para US$ 10,71 a
saca, cerca de 6% inferior à média do mês anterior, mantendo tendência que se
observa desde junho. Pode-se inferir também que tem havido progressivo
reconhecimento da melhoria da qualidade do produto brasileiro, fato que
temcontribuído para o contínuo estreitamento do diferencial praticado.
As cotações do arábica, contrato C, segunda posição, na Bolsa de Nova Iorque,
exibiram tendência de queda com expressiva instabilidade ao longo do mês, em
função das expectativas da próxima safra brasileira e do deslocamento dos
recursos dos fundos para aplicação em petróleo (gráfico 2).
Gráfico 2 - Cotações diárias em setembro de 2005 na Bolsa de Nova Iorque, para café arábica, Contrato C, segunda posição
Fonte: Gazeta Mercantil
O mesmo ocorreu no mercado de robusta na Bolsa de Londres, com tendência mais definida de queda nas cotações durante todo o mês de setembro. A cotação média mensal, que vinha crescendo no ano, iniciou trajetória de queda a partir de julho, aprofundando-se em setembro quando caiu cerca de 13,90% em relação ao mês anterior. O comportamento das cotações no mercado de Londres em setembro, segunda posição, pode ser verificado no gráfico 3.
Gráfico 3 - Cotações diárias para o café robusta, segunda posição, na Bolsa de Londres, no mês de setembro de 2005
Fonte: Gazeta Mercantil
Na
BM&F, a evolução dos preços do arábica, segunda posição, cotados em dólar
por saca em setembro, indica variação de 29,56% nos últimos doze meses. Em 2005,
alcançou variação negativa acumulada de 4,14%. No mercado de Nova Iorque, os
preços do arábica, contrato C, segunda posição, cresceram 21,43% nos últimos
doze meses, mas caíram 6,40% em 2005.
Por fim, as cotações do robusta no mercado de Londres, segunda posição, tiveram
variação acumulada de 37,33%, nos últimos doze meses, e de 19,29% em 2005. A
estimativa do OIC-Composto apresentou crescimento acumulado de 27,47%, em doze
meses, e de apenas 2,05% em 2005, fortemente influenciado pelos atuais preços
praticados para o robusta.
Na cafeicultura paulista, as cotações médias em setembro recuaram 8,56% em
relação à média de agosto, em função da queda nas cotações internacionais e da
forte redução de 5,99% na taxa de câmbio, no mês. Mas a trajetória dos preços de
café recebidos pelos produtores, em reais, nos últimos doze meses, aponta para
alta acumulada de 12,42%. No ano de 2005, perdeu-se todo o ganho nospreços que
já apresentam redução de 8,78% (gráfico 4).
Gráfico 4 - Preços médios mensais recebidos pelos produtores de café arábica, Estado de São Paulo, 2002 a 2005
Fonte: Instituto de Economia Agrícola
Exportações Mundiais
Entre
janeiro e agosto de 2005, as exportações globais de café alcançaram discreta
alta frente a igual período de 2004, contabilizando apenas 0,26% de incremento,
segundo dados da OIC. Entretanto, as exportações brasileiras tiveram importante
crescimento de 9,75% frente ao mesmo período de 2004. As exportações de outros
suaves e de robustas foram as que mais declinaram no período, com redução,
respectivamente, de 5,16% e de 4,35%.
Para os próximos meses, espera-se tendência de desaceleração dos embarques
brasileiros, uma vez que passarão a ser comercializados os cafés colhidos nesta
safra de oferta estreita. Por outro lado, espera-se incremento dos embarques
colombianos e centro-americanos, pois nessas duas regiões inicia-se o período de
maior volume de colheita dos suaves.
Tabela 1 - Exportações Mundiais de Café, por tipo, setembro de 2003 a agosto de 2005
Tipo | | | |
Colombiano | 11 755 758 | 11 960 363 | 1,74 |
Outros suaves | 20 990 942 | 19 907 190 | -5,16 |
Naturais brasileiros | 25 278 853 | 27 743 644 | 9,75 |
Robusta | 31 028 326 | 29 677 236 | -4,35 |
Total | 89 053 879 | 89 288 433 | 0,26 |
No caso dos embarques do café robusta, permanecem os efeitos provocados pelos distúrbios climáticos sobre os cinturões vietnamitas. No período de janeiro a agosto, houve redução de 4,35% nos embarques frente a igual período do ano anterior.
Tabela 2 - Exportações de Café, todos os tipos, agosto 2004 e agosto 2005
Tipo | | | |
Colombiano | 7.323.939 | 6.783.384 | -7,97 |
Outros suaves | 1.783.793 | 1.482.339 | -20,33 |
Naturais brasileiros | 2.301.644 | 2.256.804 | -1,99 |
Robusta | 2.451.837 | 2.238.349 | -9,54 |
Total | 7.323.939 | 6.783.384 | -7,97 |
Confirmando a assertiva acima formulada, em agosto último o produto brasileiro já aparece com queda nos embarques de aproximadamente 2%. As outras origens concorrentes do Brasil no abastecimento mundial deverão reverter, ainda que apenas parcialmente, a tendência de redução das transações. A regularização das precipitações no Vietnã deve favorecer o incremento da produção e, conseqüentemente, das vendas ao exterior.
Trajetória das exportações brasileiras
Dados preliminares do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (CECAFE)2, para o período janeiro a setembro, apontam
exportação de 19,3 milhões de sacas de café, das quais 16,8 milhões de arábica e
2,5 milhões em equivalente verde de solúvel. Esse volume de embarques supera em
4,4% o observado no mesmo período do ano anterior.
Entretanto, o resultado mais favorável é revelado pela receita cambial,
capturada pelas transações que totalizaram US$ 1,91 bilhão até agosto,
representando crescimento de 58,7% frente a igual período de 2004. Vigorosos têm
sido os embarques de café solúvel, robustecendo ainda mais os resultados
favoráveis do segmento. Estima-se que a meta de receita, de cerca de US$ 3
bilhões para o ano fiscal de 2005, seja bastante factível (tabela 3).
TABELA 3 - Exportações brasileiras de café, todos os tipos, janeiro a setembro de 2005
Mês | | | | | | |
Jan. | 16.512 | 1.969.856 | 3.887 | 1.990.255 | 265.038 | 2.255.293 |
Fev. | 31.376 | 1.527.251 | 3.642 | 1.562.269 | 248.243 | 1.810.512 |
Mar. | 45.539 | 2.442.926 | 4.912 | 2.493.377 | 315.361 | 2.808.738 |
Abr. | 43.184 | 1.720.512 | 3.894 | 1.767.590 | 267.173 | 2.034.763 |
Mai. | 95.422 | 1.793.941 | 5.528 | 1.894.891 | 362.515 | 2.257.406 |
Jun. | 162.060 | 1.618.377 | 4.582 | 1.785.019 | 255.218 | 2.040.237 |
Jul. | 212.131 | 1.425.949 | 6.451 | 1.644.531 | 311.142 | 1.955.673 |
Ago. | 152.908 | 1.837.078 | 2.201 | 1.992.187 | 267.579 | 2.259.766 |
Set. | 72.067 | 1.495.869 | 3.530 | 1.571.466 | 211.613 | 1.783.079 |
Total | 867.054 | 15.859.525 | 39.186 | 16.765.765 | 2.533.471 | 19.299.236 |
A evolução das receitas cambiais obtidas com as exportações de café alcançou, no acumulado do ano até setembro, US$ 2,127 bilhões, representando valor 54,2% maior que o obtido no mesmo período do ano anterior. Com a possibilidade de arrefecimento nos embarques, a expectativa de alcançar o saldo cambial de US$ 3 bilhões para as transações com café somente tem alguma chance de concretização caso os preços exibam vigoroso crescimento nesse último trimestre, hipótese essa pouco provável.
Tabela 4 - Exportações brasileiras de café, todos os tipos, janeiro a setembro de 2005
Mês | | | | | | |
Jan. | 871 | 180.480 | 747 | 182.098 | 24.475 | 206.573 |
Fev. | 1.758 | 148.846 | 716 | 151.320 | 24.943 | 176.263 |
Mar. | 2.670 | 267.908 | 959 | 271.537 | 31.274 | 302.811 |
Abr. | 2.627 | 208.624 | 630 | 211.881 | 27.340 | 239.221 |
Mai. | 6.052 | 217.696 | 1.570 | 225.317 | 36.745 | 262.062 |
Jun. | 10.969 | 196.663 | 868 | 208.500 | 29.173 | 237.673 |
Jul. | 15.197 | 175.494 | 1.307 | 191.998 | 36.375 | 228.373 |
Ago. | 13.147 | 223.766 | 570 | 237.484 | 30.043 | 267.527 |
Set. | 4.765 | 176.132 | 695 | 181.592 | 24.884 | 206.476 |
Total | 58.056 | 1.795.609 | 8.063 | 1.861.728 | 265.252 | 2.126.980 |
_________________________
1 OIC: www.ico.org
2 CECAFE: www.cecafe.com.br
3 Artigo registrado na
CCTC-IEA sob número HP-93/2005
Data de Publicação: 10/10/2005
Autor(es):
Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor