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Análise De Investimento Em Plantio Direto Para Um Modelo De Sucessão Milho-soja, Estado De São Paulo
Os
estudos e experimentos sobre plantio direto começaram nos Estados Unidos da
América do Norte, por volta dos anos 1940 e 1950, utilizando-se da base teórica
proporcionada pela doutrina conservacionista que trata do uso e esgotamento dos
recursos naturais na agricultura. A relevância dessa doutrina, que teve seu auge
no período entre a I e a II Grande-Guerra Mundial, foi maior antes de ser
sobreposta pelo atual modelo produtivista da agricultura1 . Este último modelo, que acabou por se generalizar
em várias regiões do mundo, é conhecido por ser um conjunto tecnológico
constituído pelas variedades vegetais e animais melhoradas geneticamente e pelos
insumos originados na indústria química e farmacêutica, completado pelo uso de
máquinas agrícolas movidas por combustíveis fósseis e energia elétrica. Análise dos resultados As
informações para compor os fluxos de caixa do modelo de sucessão e do sistema
convencional foram coletados em Oliveira & Veiga Filho (2002)4 e processados pelo software MADS III PLUS,
desenvolvido na FAO/ONU. Este sistema permite a elaboração de modelos para
comparação de planos de investimentos alternativos. Os indicadores analíticos
utilizados são a taxa interna de retorno incremental (TIR), o valor atual
líquido (VAL) e a análise de sensibilidade.
Por sua vez, a disseminação dessa forma de produzir, se trouxe consigo enormes
benefícios relativos ao aumento da produção e produtividade, ajudou também a
disseminar a erosão e a aumentar a degradação dos solos susceptíveis,
principalmente pela forma estabelecida para o seu manejo, o qual implica em
grande mobilização em algumas fases do ciclo produtivo.
Sistema de manejo do solo que substitui o manejo convencional, o plantio direto
é comprovadamente superior, em muitas circunstâncias, notadamente por não
utilizar as operações mecânicas de preparo do solo para o plantio,
substituindo-as pela abertura de sulcos, suficientes para receber as sementes,
sem qualquer tipo de revolvimento. Em termos econômicos, sua vantagem é expressa
no menor custo representado pela redução das horas-máquinas empregadas e,
consequentemente, no menor gasto com combustíveis e lubrificantes. Em termos
físicos, os benefícios passam pelo maior teor de umidade ocasionado pelo fato de
o solo ficar mais protegido pela cobertura vegetal e por tornar-se menos
desestruturado em razão do menor 'passeio' de máquinas.
Além do mais, esse sistema é, muitas vezes, a única maneira de garantir a
exploração agrícola, principalmente se o uso do solo combinar dois fatores
perniciosos, quais sejam a super-exploração agrícola e a existência de elevada
susceptibilidade à erosão.
No Brasil, o plantio direto foi introduzido no Paraná, em finais dos anos 1960 e
início dos anos 1970 na atividade de produção de grãos2 . Em São Paulo, a sua ocorrência destaca-se nos
Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDRs) de Assis e Ourinhos - região do Vale
do Paranapanema - aonde há tradição de cultivo em sucessão, como por exemplo a
soja e o trigo, ou a soja e o milho safrinha.
Há indicações de que o plantio direto se viabiliza técnica e economicamente com
a adoção da rotação de culturas, compreendendo também o uso de adubos verdes3 . A fim de confirmar esses resultados obtidos,
procura-se desenvolver uma análise dos investimentos necessários para se
implantar o plantio direto em um modelo de sucessão milho-soja, de acordo com o
padrão tecnológico de produção mais elevado da região de Ourinhos (SP), que
compreende o seguinte cronograma: início do ciclo produtivo no verão com o
plantio do milho, seguido da aveia, no inverno, que será incorporada como
matéria orgânica. No ano seguinte, planta-se a soja e depois o girassol para
indústria e, assim, sucessivamente.
A TIR incremental, recomendada para comparar alternativas de investimento
mutuamente exclusivas, é utilizada para selecionar projetos a partir do critério
de comparação da taxa de retorno do fluxo de caixa incremental (diferença entre
os fluxos de caixa dos projetos analisados) com o custo de oportunidade do
capital. No caso positivo, quando a TIR incremental for superior ao custo do
capital, a recomendação é a de se escolher o modelo com os novos investimentos.
O VAL é o valor do saldo líquido atualizado a uma taxa de desconto relevante,
como por exemplo o custo de oportunidade do investimento, também utilizado para
selecionar projetos. Foi calculado para os modelos com os novos investimentos,
com o objetivo de comparar suas receitas líquidos5.
A análise de sensibilidade faz-se pela determinação do valor crítico para a
receita líquida e para o valor de investimento, consistindo das alterações
nessas variáveis que tornam o projeto de investimento rejeitável ou aceitável.
Os fluxos de caixa foram elaborados a partir das matrizes de custos das
explorações agrícolas utilizadas. Levam em conta os gastos variáveis e fixos
efetivos, excluindo-se a depreciação (valor contábil) e a estimativa dos
encargos financeiros de custeio (uma vez que também não se computou esse
empréstimo como receita). Os investimentos que compuseram o fluxo de caixa foram
os gastos de aquisição da semeadora-adubadora de plantio direto, do rolo-faca
utilizado para incorporar a aveia como matéria orgânica e da plataforma para
colheita de soja, além do gasto feito para realizar uma adaptação na colhedora,
de maneira a se efetuar a colheita do girassol. Os valores estão em Reais,
constantes e atualizados para o período da safra 2000/01, e o horizonte de
análise considerado é de 10 anos.
Estabeleceram-se modelos de sucessão de tamanhos variados para confirmar o
tamanho mínimo de área que viabiliza economicamente o uso da semeadora-adubadora
de plantio direto6 e, também, para avaliar o comportamento dos indicadores em
função do tamanho e das condições estabelecidas para os investimentos (tabela
1).
A TIR incremental do modelo de 9 hectares mostra que o seu valor fica abaixo do custo de oportunidade de 8,75% ao ano, que é igual à taxa de juros do programa de financiamento MODERFROTA, sendo praticamente igual para o modelo de 10ha. Isso ajuda a confirmar os resultados encontrados de um tamanho mínimo em torno de 10ha para as aquisições previstas 6. A taxa incremental do modelo de 15ha (de 17,9 %)
demonstra sua viabilidade a esse custo de oportunidade, sendo também superior às
taxas comparativas até 18%.
Tabela 1. Indicadores de avaliação dos investimentos
nos
modelos de sucessão de
plantio direto
Indicadores | | |||||
9 | 10 | 15 | 20 | 20 (a) | 20 (b) | |
TIR incremental | 7,3 | 9,2 | 17,9 | 25,8 | 11,9 | 13,4 |
. | ||||||
VAL (8,75%) | 275 | 3.944 | 22.289 | 40.634 | 16.172 | 19.567 |
Valor Crítico: | . | . | . | . | . . | . |
Renda líquida | -0,8% | -10,7% | -40,5% | -55,4% | -22% | -26,7% |
Investimento | 0,8% | 12% | 68,1% | 124,1% | 28,3% | 36,4% |
. | ||||||
VAL (12%) | -4.228 | -973 | 15.299 | 31.572 | 6.519 | 10.452 |
Valor Crítico: | . | . | . | . | . | . |
Renda líquida | . | . | -31.3% | -48,5% | -10% | -16,1% |
Investimento | . | . | 45,6% | 94,2% | 11,1% | 19,1% |
. | ||||||
VAL (18%) | . | . | 5.657 | 19.029 | -6.754 | -1.835 |
Valor Crítico: | . | . | . | . | . | . |
Renda líquida | . | . | -14,1% | -35,6% | . | . |
Investimento | . | . | 16,4% | 55,2% | . | . |
. | ||||||
VAL (22%) | . | . | 896 | 12.812 | -13.286 | . |
Valor Crítico: | . | . | . | . | . | . |
Renda líquida | . | . | -2,5% | -26,9% | . | . |
Investimento | . | . | 2,6% | 36,8% | . | . |
. | ||||||
VAL (28%) | . | . | -4.558 | 5.669 | . | . |
Valor Crítico: | . | . | . | . | . | . |
Renda líquida | . | . | . | -13,9% | . | . |
Investimento | . | . | . | 16,1% | . | . |
. | ||||||
VAL (36%) | . | . | . | -1.114 | . | . |
(b) considerando como financiado R$ 15.000,00 pelas regras do FEAP, e investimento próprio de R$ 39.000,00.
fonte: dados da pesquisa.
Para
os três modelos de 20ha (área máxima diária tecnicamente viável para a
semeadora-adubadora, marca Jumil, PD2880), simulou-se o investimento dessa
máquina, variando o valor e as condições de financiamento, separando-o em
investimento próprio e em recursos de terceiros. No primeiro caso, o valor
estabelecido foi de R$ 27.000,00, que vigorou para aquisição em 2000/01. No
segundo caso, o valor simulado foi o dobro do anterior (R$ 54.000,00), em razão
de se ter verificado aumento nos preços no ano de 2002. No terceiro caso,
considerou-se este último valor, com o financiamento de R$ 15.000,00 nas
condições de pagamento do Fundo de Expansão da Agricultura e da Pesca (FEAP).
A melhor situação entre os três modelos é aquela em que o investimento é o de
valor mais baixo, pois possibilita uma TIR incremental de 25,8% ao ano,
tornando-a inviável apenas a partir de custos de oportunidade muito altos. As
duas outras simulações também demonstram viabilidade, porém a custos de
oportunidade mais baixos. Ressalte-se que a TIR incremental aumenta quando se
distribui o investimento ao longo do período do projeto, conforme se verifica na
comparação entre os modelos 20(a) e 20(b), indicando que o mecanismo de
desembolso e condições favoráveis de financiamento melhoram a remuneração do
projeto.
Em termos de VAL, verifica-se que a maior renda líquida atualizada é para o
modelo de 20ha, o qual ao final de 10 anos garantiria R$ 40.634,00 de renda
líquida, desde que as condições de preços relativos permanecessem sem
alterações. Isto geraria remuneração positiva a taxas de desconto bastante
elevadas, tais como a de 28%, neste caso ainda com um saldo líquido de R$
5.669,00.
Por outro lado, em condições mais reais de elevação do valor de investimento,
haveria, ainda assim, saldo líquido atualizado de R$ 16.172,00, conforme o
modelo 20(a). Nas condições de financiamento parcial do modelo 20(b), haveria um
saldo líquido atualizado de R$ 19.567,00, à taxa de desconto de 8,75%,
ligeiramente melhor que a anterior pela distribuição dos gastos e desembolsos ao
longo do período. Observa-se, também, que o VAL, nestes dois últimos modelos,
somente torna-se negativo a partir da taxa de desconto de 18% ao ano.
Por fim, a análise de sensibilidade (Valor Crítico) dos modelos de 15ha e de
20ha mostra excelentes margens de segurança para variações nos valores da renda
líquida e do investimento, enquanto para os modelos de 20(a) e 20(b) essas
margens ficam em patamares menores, mas garantem boa segurança para variações
nos valores da variáveis consideradas, antes de rejeitar os projetos.
1 Hayami, Y.; Ruttan, V.W. Desenvolvimento Agrícola, teoria e experiências internacionais. Brasília, EMBRAPA, s.p., 1988. 2 Sade, Mauro. Uma breve história...Ponta Grossa/PR, Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha, Boletim Informativo, ano 1, no.1, julho/setembro de 2000. 3 Derpsch, R. Expansão mundial do plantio direto. Plantio Direto, no. 59, set/out, 2000. 4 Oliveira, M. D. M.; Veiga Filho, A. A. Análise Comparativa das Alternativas de Plantio Direto e Convencional – estudo de caso para um sistema de rotação. Relatório de Projeto, 2002 (mimeo.) 5 Pomeranz, Lenina. Avaliação de Projetos. São Paulo, HUCITEC, 246p, 1985. 6 A estimativa de tamanho mínimo para as condições estudadas está em torno de 10 ha, conforme Veiga Filho, A. A.; Oliveira, M.D.M. Estimativa de tamanho mínimo de área para introdução de plantio direto. Disponível em www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=321. |
Data de Publicação: 14/06/2002
Autor(es):
Alceu De Arruda Veiga Filho Consulte outros textos deste autor
Marli Dias Mascarenhas Oliveira (marlimascarenhasoliveira@gmail.com) Consulte outros textos deste autor