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Suinocultura: Elevação De Custos E Mercado Superofertado Comprometem A Atividade
A
suinocultura brasileira experimentou excelentes resultados em 2001, quando a
produção superou 2,2 milhões de toneladas de carne, contra 1,9 milhão de
toneladas no ano anterior. Esse resultado decorreu, principalmente, do
crescimento da demanda internacional pelo produto brasileiro. O setor respondeu
rápida e eficientemente às oportunidades negociais de ocupação de novos
mercados, como o da Rússia que se consolidou como o principal comprador do
Brasil, absorvendo cerca de 70% das 265 mil toneladas exportadas de carne suína
durante o ano (volume que superou em 107% o de 2000). O restante permaneceu por
conta das aquisições de Hong Kong, Uruguai e Argentina.
O excelente desempenho da atividade em 2001 esteve alicerçado em custos de
produção favoráveis ao suinocultor, decorrência da boa disponibilidade interna
de milho e soja (os dois principais componentes do arraçoamento dos animais),
traduzindo-se em rentabilidade positiva ao setor produtivo.
O ano de 2002 foi iniciado sob a euforia dos resultados econômicos obtidos em
2001 e projeções de continuidade de crescimento da demanda internacional pela
carne suína brasileira. Todavia, essa fato não se consolidou nas proporções
esperadas pelo setor produtivo, o que se tem traduzido em excesso de oferta no
mercado interno e pressão baixista nos preços, uma vez que o consumo brasileiro
por esse tipo de carne não ocorre em nível capaz de absorver excedentes de
produção (gráfico 1).
Acrescente-se, ainda, que os produtores brasileiros convivem com novo cenário em termos de custos , mais elevados devido à baixa produção nacional de milho e alta nos preços internacionais de farelo de soja, além da desvalorização do real que encarece os insumos importados (gráfico 2). Considere-se também o maior alojamento de matrizes, em função de uma expectativa de duplicação das exportações que não tem ocorrido, numa conjuntura na qual não existem perspectivas de absorção interna de incrementos da produção, com a conseqüente continuidade de mercado superofertado e pressão baixista nos preços pagos ao produtor.
Uma
prática que tem sido adotada, de modo a amenizar prejuízos, é a redução do tempo
de engorda e, consequentemente, do peso médio de abate dos animais. Isso tem
ocorrido principalmente nos pólos de produção onde existe integração
produtor/industria. São os casos de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná,
onde estão também as principais expressões nas exportações brasileiras de carne
suína (83%, 13,8% e 2,8% respectivamente em 2001). Nos demais Estados, os
produtores enfrentam dificuldades de colocação dos animais no mercado, bem como
de manutenção dos plantéis, pela elevação dos custos, além da participação
insignificante no mercado internacional (inferior a 3%). Consequentemente, o
desempenho econômico para a suinocultura não deverá experimentar resultados
satisfatórios como aqueles obtidos em 2001.
Em 2001, a produção paulista foi da ordem de 124 mil toneladas, superando em 11%
a de 2000. Para 2002, o crescimento inicialmente previsto foi de 7%. Entretanto,
no primeiro semestre do corrente ano o abate de animais superou em 11% o total
abatido no mesmo período do ano anterior, acompanhando a tendência de movimento
crescente da produção verificada no âmbito nacional. Consequentemente, temos no
Estado uma situação de excesso de oferta, decorrente tanto dos fatores
conjunturais anteriormente citados, quanto pela falta de estrutura e
planejamento em termos de oferta e demanda de carne suína, bem como no que se
refere aos custos de produção.
As perspectivas de curto e médio prazos são de continuidade do comprometimento
econômico da atividade. Assim, é imprescindível a necessidade de medidas de
ajuste no setor produtivo, visando a um reequilíbrio do mercado. Esse ajuste
deverá ser iniciado na base de produção (plantel), com a diminuição do
alojamento de matrizes, para que no médio prazo o mercado consiga absorver os
excedentes de produção hoje existentes, visando à recuperação de rentabilidade.
Nesse contexto, a concessão de financiamento, no nível nacional, para a estocagem de matrizes de suínos, autorizada pelo Conselho Monetário Nacional em 19/09/2002, com disponibilidade de linhas de crédito até março de 2003, não se traduzirá, necessariamente, em estímulo à atividade. O sucesso de uma iniciativa dessa natureza está na dependência de negociações entre o Ministério da Agricultura e o setor varejista (supermercados) para tentativa de colocação no mercado do estoque de carne já existente, preferencialmente in natura (em vez do produto processado), a preços mais
atrativos com objetivo de aumentar o consumo interno. É importante salientar,
entretanto, que mesmo com as campanhas de estímulo ao consumo de carne suina, já
levadas a efeito pelas associações de classe do setor produtivo, o produto ainda
enfrenta uma imagem negativa na preferência do consumidor nacional.
Data de Publicação: 30/09/2002
Autor(es): Valeria da Silva Peetz Consulte outros textos deste autor