A partir da seleção de 50 produtos agropecuários, escolhidos conforme sua relevância na composição total estadual, compõe-se o cálculo do VPA, classificando-os, ainda, em cinco grupos conforme o destino da produção (para a agroindústria, produtos animais, grãos e fibras, frutas frescas e olerícolas – in natura). Os dados de preço e produção utilizados foram extraídos do banco de dados levantados pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA)^{2, 3}, sendo as variações do VPA de cada um dos grupos de produtos, entre 2022 e 2023, calculadas com base em índices de preços e de quantidades construídos pela fórmula de Fisher (base 2022 = 100)⁴.

Em 2022, ocorreram alterações metodológicas no cálculo de produção de carne bovina, suína e de frango, estando o levantamento de 2023 amparado nessa mesma metodologia implantada no ano anterior. Comparações com outros anos não poderão ser efetuadas sem as devidas adequações da fonte das informações.

Assim, para as carnes (bovina, suína e de frango), a produção foi calculada a partir dos dados constantes nas Guias de Trânsito Animal (GTAs) (número de animais enviados ao abate) emitidas via Coordenadoria de Defesa Animal (CDA) da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Destaca-se que somente os animais criados em solo paulista são contabilizados. Com essa nova metodologia, busca-se obter uma maior precisão na informação de produção desses produtos e a uniformização dos dados oficias do governo paulista. Os preços médios das carnes (bovina, suína e de frango) foram calculados a partir dos dados levantados pela rotina dos preços mensais recebidos (PMR) pelos produtores e ajustados para rendimento-peso de carcaça (carne) para os suínos e frango. O cálculo do preço das carnes foi ponderado pela produção mensal calculada a partir das GTAs emitidas.

A variação dos valores da produção, obtidos pelos dez mais relevantes cultivos e criações do estado de São Paulo, pode ser graficamente visualizado (Figura 1).

Em 2023, em termos reais (corrigidos pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor - IPCA)⁵, o valor da produção agropecuária (VPA) do estado de São Paulo foi estimado em R$157,84 bilhões (contra R$166,74 bilhões registrados em 2022), representando queda de 5,34% ao obtido no ano anterior (decréscimo de R$8,90 bilhões no ano) (Tabela 1). Apesar dessa queda contabilizada, tal percentual é insuficiente para arrefecer a expressiva expansão contabilizada, em 2022, quando o VPA paulista registrou aumento real de 13,11%⁶. 

Considerando-se os dez principais produtos na geração de VPA 10, quatro exibiram incremento no valor: carne de frango; laranja para indústria, ovos de galinha e amendoim em casca. Esses quatro produtos aportaram juntos R$2,37bilhões ao valor total, sendo 46,86% desse total advindo da laranja para a indústria (R$1,11 bilhão) que, acrescentado-se ao incremento de 42,90% relativos a variação do VPA do amendoim em casca (R$1,01 bilhão), praticamente formam o total dos aportes positivos do VPA 10. Os demais, ao contrário, exibiram retração: cana-de-açúcar, carne bovina, soja, café beneficiado, leite e milho, subtraindo do VPA R$9,88 bilhões; cana-de-açúcar, soja e carne bovina representaram 9,31%, 32,40% e 22,71% da queda real registrada, respectivamente. No balanço desses dez produtos, o declínio contabilizado foi de R$7,51 bilhões (Figura 2).

Na esfera do consumo, a substituição da carne bovina pela suína foi intensificada, induzindo incremento da demanda pela carne suína em detrimento da bovina⁷. Ainda que a produção de carne bovina tenha se elevado em 14,39%, frente ao ano anterior, seus preços declinaram em 22,85% (descarte de matrizes típico do ciclo pecuário), resultando em queda de 11,75% no VPA (R$16,86 bilhões). Por outro lado, para a carne suína houve, igualmente, declínio nos preços (1,91%), muito menos expressivo, porém, que o registrado na bovina, e ainda mais que compensado pelo aumento expressivo na produção (9,73%), permitindo que a carne suína exibisse incremento no VPA (7,63%). Em 2023, a carne suína aportou ao VPA do estado R$1,96 bilhão.

Embora não se classifique entre os dez maiores produtos em termo de VPA paulista de 2023, a banana (entre as frutas uma das mais demandadas pela população) exibiu queda tanto na produção como nos preços, contabilizando R$2,35 bilhões no VPA (queda de 8,41%).

A participação da cana-de-açúcar no VPA aumentou, passando de 36,06% para 37,51% do VPA paulista, mais em virtude da queda de importantes produtos que compõem a pauta paulista (Figura 3). Tal comportamento dos preços médios recebidos pelos canavicultores contrastam com o resultado da balança comercial paulista em que o complexo sucroenergético faturou 26,80% a mais do que no ano anterior (US$10,760 bilhões)⁸.

Em 2023, o amendoim, cultivo praticamente exclusivo do território paulista, contabilizou R$3,20 bilhões de VPA, representando expansão de 46,58% frente ao ano anterior. Em contrapartida, produto tradicional da pauta agropecuária paulista, o café beneficiado, ainda que tenha subido uma posição no ranking estadual, registrou queda de 12,74% no VPA, totalizando R$5,22 bilhões.

Os produtos destinados a agroindústria constituem a maior fatia na formação do VPA paulista, notadamente, em razão da expressão que a lavoura de cana-de-açúcar exibe no estado, contabilizando R$76,05 bilhões. Na sequência, aparecem os produtos animais, grãos e fibras, frutas frescas e olerícolas. Desses conjuntos, o único grupamento a exibir variação positiva do VPA foi o de frutas frescas, puxada pelos resultados da uva para mesa, manga, caqui e melancia (Figura 4 e 5).

¹Os autores agradecem o apoio recebido do Assessor Técnico do IEA, Leonardo Massao Nakama.

²INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA. Banco de dados: estatísticas da produção paulista. São Paulo: IEA, 2023. Disponível em: http://ciagri.iea.sp.gov.br/nia1/subjetiva.aspx?cod_sis=1&idioma=1 Acesso em: 4 jun. 2024.

³INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA. Banco de dados: estatísticas de preços médios. São Paulo: IEA, 2023. Disponível em: http://ciagri.iea.sp.gov.br/nia1/precos_medios.aspx?cod_sis=2. Acesso em: 4 jun. 2024.  

⁴HOFFMANN, R. Estatística para economistas. 2. ed. São Paulo: Pioneira, 1991. 426 p.

⁵IBGE. Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA. Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, Tabela 7060 – IPCA - Variação mensal, acumulada no ano, acumulada 12 meses, 2022. Rio de Janeiro: IBGE, 2023. Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/tabela/7060#/n1/all/n7/all/n6/all/v/69/p/202212/c315/all/d/v69%202/l/,p+t+v,c315/resultado. Acesso em: maio 2023.

⁶Ver: http://www.iea.agricultura.sp.gov.br/out/TerTexto.php?codTexto=16142. Acesso em: 4 jun. 2024.

⁷Ver: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2023/11/03/consumo-de-carne-suina-e-a-que-mais-cresce-no-brasil.htm. Acesso em: 4 jun. 2024.

⁸GHOBRIL, C. N.; ANGELO, J. A.; OLIVEIRA, M. D. M. Balança Comercial dos Agronegócios Paulista e Brasileiro, Ano de 2023, Recordes para Exportação e Saldo Comercial. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 19, n. 1, p. 1-19, jan. 2024. Disponível em: http://www.iea.agricultura.sp.gov.br/out/TerTexto.php?codTexto=16188. Acesso em: 3 jun. 2024.

Palavras-chave: valor da produção agropecuária.

COMO CITAR ESTE ARTIGO

MONTEIRO, A. V. V. M. et al. Valor da Produção Agropecuária Paulista - resultado final 2023. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 19, n. 6, p. 1-9, jun. 2024. Disponível em: colocar o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.