Valor da Produção Agropecuária do Estado de São Paulo: resultado final 2022



O valor da produção agropecuária (VPA) do estado de São Paulo, em 2022, está estimado em R$156,22 bilhões, 20,06% superior ao obtido no ano anterior, um aumento real de 13,11% quando se a considera a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA)1 (Tabela 1).

O cálculo do VPA é feito a partir da seleção de 50 produtos, definidos conforme sua peculiaridade e importância face ao VPA total do estado e classificados em cinco grupos (produtos para indústria, produtos animais, grãos e fibras, frutas frescas e olerícolas). Os dados de preço e produção utilizados foram extraídos do banco de dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA)2, 3, e as variações do VPA de cada um dos grupos de produtos, entre 2021 e 2022, foram calculadas com base em índices de preços e de quantidades construídos pela fórmula de Fisher (base 2021= 100)4.

É importante informar ao leitor que alterações metodológicas foram realizadas no cálculo de produção de carne bovina, suína e de frango e, portanto, toda a tabela de 2021 foi recalculada para permitir a análise apresentada. Um comparativo com anos anteriores não poderá ser efetuado sem as devidas adequações da fonte das informações.

Para as carnes (bovina, suína e de frango), a produção foi calculada a partir dos dados constantes nas Guias de Trânsito Animal (GTAs) (número de animais enviados ao abate) emitidas via Coordenadoria de Defesa Animal (CDA) da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do estado de São Paulo. Destaca-se que somente os animais criados em solo paulista são contabilizados. Com essa nova metodologia, busca-se obter uma maior precisão na informação de produção desses produtos e a uniformização dos dados oficias do governo paulista. Os preços médios das carnes (bovina, suína e de frango) foram calculados a partir dos dados levantados pela rotina dos preços mensais recebidos (PMR) pelos produtores e ajustados para rendimento-peso de carcaça (carne) para os suínos e frango. O cálculo do preço das carnes foi ponderado pela produção mensal calculada a partir das GTAs emitidas.

A comparação do VPA para os principais produtos, entre 2021 e 2022, apresenta-se na figura 1.


Nove dos dez produtos de maior VPA em 2022 que apresentaram elevação expressiva tiveram esse aumento principalmente em função da valorização dos preços; a exceção foi milho.

A participação da cana-de-açúcar no VPA aumentou, passando de 32,6% para 36,2% do VPA Paulista. O aumento da produção foi discreto (3,0%), mas os preços recebidos se elevaram em 29,5%, fechando com aumento no seu VPA de 33,4% (Tabela 1). No mesmo período as exportações do setor sucroalcooleiro aumentaram 28,6%5.

Destacam-se também o VPA do café beneficiado, situado na 8ª posição no ranking estadual, cujo aumento foi de 45,6%. O VPA do leite cresceu 34,9%, pela expansão da produção (10,4%) e sobretudo pelos maiores preços recebidos pelo produto (22,2%), que apresentaram forte elevação a partir de maio de 2022. O VPA da banana, que no ano anterior encontrava-se na 15ª posição, passou para a 10ª em 2022, resultado de uma elevação de 47,1% em seu VPA, puxado principalmente pela elevação do preço no mercado (Figura 1).

Entre os dez principais produtos em termos do valor da produção, somente o VPA da carne bovina e o da carne de frango apresentaram crescimento inferior a dois dígitos. O primeiro, de 2,8%, em função de pequena variação positiva tanto de preços quanto de produção; já o VPA da carne de frango apresentou crescimento de 6,1% devido à queda na produção (-10,0%). O VPA do milho cresceu 16,8%, basicamente em função do aumento de 21,4% na produção, visto que esse produto foi o único entre os dez primeiros que apresentou redução de preço (3,8%) (Figura 1 e Tabela 1).

Com destaque para os dez principais produtos que compõem o VPA do Estado de São Paulo, a figura 2 permite observar com mais detalhe as variações e o resultado do VPA.

 

Os produtos que apresentaram as maiores elevações de VPA foram: triticale (149,0%), algodão (111,8%), mandioca para indústria (79,5%), trigo (72,2%), limão (63,3%), sorgo (53,4%) e cenoura (50,7%) (Tabela 1).

O triticale, o sorgo e também a mandioca para indústria são fontes alternativas de amido e, portanto, eventuais substitutos do trigo e do milho, com menor custo de produção; por essas características sofrem influência dos mercados destes produtos que se encontram com patamares elevados de preço. A ascensão nas cotações desses produtos teve início a partir de meados de 2020, levando à mudança de patamar. No início de 2022, novamente o trigo e o milho sofrem pressão altista, refletindo consequências da pandemia e da guerra entre Rússia e Ucrânia6.

O limão respondeu ao aumento tanto dos preços, com variação de 33,0%, como de produção de 22,7%. Os preços de cenoura atingiram níveis recordes no primeiro semestre de 20227, fechando o ano com alta de 44,6% nos preços. O VPA do algodão teve esse aumento robusto, tanto por melhores preços internos como, principalmente, por maior produção, estimulada pelas cotações do mercado internacional.

A figura 3 permite uma visualização da contribuição das principais culturas na composição do VPA 2022, e a participação dos demais produtos na composição dos valores do estado de São Paulo.

 

Quanto à participação dos grupos de produtos, o que apresentou a maior expansão do VPA foi o de produtos para indústria (32,4%), capitaneado pela cana-de-açúcar, pela laranja para indústria e pelo café beneficiado, produtos situados respectivamente na 1ª, 5ª e 8ª posição no ranking estadual de VPA. No entanto, todos os produtos desse grupo apresentaram variação positiva do VPA, exceto a goiaba e o tomate para indústria. O aumento do VPA desse grupo foi devido predominantemente à elevação dos preços, já que a produção cresceu apenas 3,8% (Tabela 1).

O grupo de frutas frescas foi o que apresentou a segunda maior expansão do VPA (17,6%), puxada pelo resultado da banana, elevado em 47,1%, que a alçou à 10ª colocação entre os 50 produtos considerados para o cálculo do VPA paulista. A laranja para mesa, na 11ª posição, apresentou um VPA 6,9% superior ao ano anterior, enquanto o VPA do limão, na 16ª posição, acusou valorização de 63,3%, contribuindo para o VPA do grupo. Das 15 frutas consideradas no grupo frutas frescas, seis acusaram redução de VPA. Contudo, o impacto não foi significativo, dada a reduzida participação no VPA estadual, ou seja, compõem os menores VPAs no ranking. Neste grupo, também o crescimento foi basicamente devido aos preços, já que a produção cresceu apenas 0,9% (Figuras 4 e 5).

 

Grãos e fibras, ao contrário dos outros grupos, teve seu aumento de VPA influenciado predominantemente pelo crescimento da produção, com uma variação positiva de 13,5% contra 3,0% no índice de preços. A soja, 3° produto no ranking de VPA do estado, acusou um acréscimo de 11,0% na produção e 9,4% nos preços. O VPA do milho, 7ª colocação no ranking estadual, aumentou, mesmo apresentando queda de preços, pois a produção cresceu 21,5%. O VPA 2022 do feijão, resultou 23,3% maior frente a 2021, devido às variações do preço (15,6%) e da produção (6,7%). Todos os outros grãos apresentaram aumento de VPA em função de maiores preços e produção, exceto o do amendoim, único produto do grupo que apresentou queda de VPA, em razão da redução de preços, e também da queda de produção (0,6%).

O VPA do grupo de produtos animais apresentou elevação de 8,0% como resultado dos maiores preços praticados, pois a produção como um todo diminuiu 2,1%. Cabe destacar a significativa redução de 10,0% na produção da carne de frango, produto situado na 4ª posição no ranking estadual do VPA, compensada por elevação de 18,0% nos preços. Os ovos, produto que tem seu VPA na 6ª posição do ranking estadual, teve uma queda de 0,3% na produção amplamente contrabalançada por preços 22,0% superiores. O VPA do leite, produto situado na 9ª posição do ranking estadual, teve seu VPA ampliado, conforme apontado anteriormente, tanto em função dos preços (22,2%) quanto da produção (10,4%).

O menor crescimento do VPA deu-se no grupo de olerícolas (2,7%). Esse resultado deve-se, em grande parte, ao comportamento das variáveis da alface, produto desse grupo mais bem situado no ranking estadual, na 25ª colocação, que apresentou significativa redução de preços e leve diminuição de produção (0,4%), levando a uma queda de 55,2% em seu VPA. O crescimento do VPA desse grupo de olerícolas não foi negativo porque o repolho, na 29ª posição no ranking, acusou um aumento de 38,1% em seu VPA e nenhum outro produto do grupo, com exceção da batata doce, apresentou queda de VPA. A queda de produção e de qualidade da alface ocorrida em 2021, em consequência de chuvas, geadas e estiagem, estreitou a oferta causando forte elevação dos seus preços, daí a redução do VPA da alface em 2022 frente a esse período anterior.

Ao se trabalhar em um ano que reflete resultados de período afetado por fatores climáticos, acrescido de situações de mercado altamente influenciada pelo período da pandemia e pela guerra entre Rússia e Ucrânia, os valores e movimentos de mercado, no que se refere às commodities, afetam toda a produção e também os preços, tanto de commodities como de produtos para abastecimento interno, resultando no atual quadro apresentado pelo VPA.

Um maior detalhamento dos resultados desse cenário no estado de São Paulo poderá ser melhor vislumbrado na análise regional do VPA paulista.


1IBGE. Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA. Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, Tabela 7060 – IPCA - Variação mensal, acumulada no ano, acumulada 12 meses, 2022. 2023. Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/tabela/7060#/n1/all/n7/all/n6/all/v/69/p/202212/c315/all/d/v69%202/l/,
p+t+v,c315/resultado. Acesso em: maio 2023.

 

2INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA. Banco de dados: estatísticas da produção paulista. São Paulo: IEA, 2022. Disponível em: http://ciagri.iea.sp.gov.br/nia1/subjetiva.aspx?cod_sis=1&idioma=1 Acesso em: maio 2023.

 

3INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA. Banco de dados: estatísticas de preços médios. São Paulo: IEA, 2022. Disponível em: http://ciagri.iea.sp.gov.br/nia1/precos_medios.aspx?cod_sis=2. Acesso em: maio 2023.

 

4HOFFMANN, R. Estatística para economistas. 2. ed. São Paulo: Pioneira, 1991. 426 p.

 

5GHOBRIL, C. N.; ANGELO, J. A.; OLIVEIRA, M. D. M. Balança Comercial dos Agronegócios Paulista e Brasileiro, Ano de 2022, Resultado Recorde de Exportação e Saldo Comercial. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 18, n. 1, p. 1-19, jan. 2023. Disponível em: http://www.iea.agricultura.sp.gov.br/ftpiea
/AIA/AIA-02-2023.pdf
. Acesso em: maio 2023.

 

6KRETER, A. C.; SOUZA JÚNIOR, J. R. C.; TEIXEIRA, W. S.; CASTRO, N. R. Mercados e preços agropecuários. Carta de Conjuntura, Brasília, n. 5, nota de conjunturas 5, p. 1-23, 2º trimestre de 2023. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/wp-content/uploads/2023/05/230503_nota_5_mercados_e_pr
ecos_agropecuarios.pdf. Acesso em: maio 2023.

 

7CEPEA/ESALQ- USP. Cenoura/CEPEA: Preço real é o maior em 14 anos. 2022. Disponível em: https://www.cepea.esalq.usp.br/br/diarias-de-mercado/cenoura-cepea-preco-real-e-o-maior-em-14-anos.aspx. Acesso em: maio 2023.


Palavras-chave: valor da produção agropecuária.


 

 

 


COMO CITAR ESTE ARTIGO

SILVA, J. R. da et al. Valor da Produção Agropecuária Paulista: resultado final 2022. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 18, n. 5, p. 1-10, maio 2023. Disponível em: colocar o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.

 

Data de Publicação: 06/06/2023

Autor(es): José Roberto Da Silva (josersilva@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Paulo José Coelho (pjcoelho@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Danton Leonel de Camargo Bini (danton.camargo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Eder Pinatti (pinatti@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Ana Victória Vieira M. Monteiro Consulte outros textos deste autor
Terezinha Joyce Fernandes Franca (terezinha.franca@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor