Especialistas em El Niño-Oscilação Sul (ENOS) ligados ao Climate Prediction Center¹ anunciaram, em agosto passado, a probabilidade (de 50%) de o aquecimento nas águas superficiais do Pacífico Tropical evoluir nos meses seguintes, logo após a constatação de que havia ocorrido aumento significativo na anomalia de temperatura nas águas superficiais do oceano. Já os relatórios de setembro, outubro e novembro – o mais recente² – indicam anomalias de temperaturas acima de +0.5^o C (um dos sinais iniciais do El Niño) (figura 1) na extensão do oceano conhecida como Regiões de Niño (figura 2) com expectativa de evolução do fenômeno nos primeiros meses de 2005.

Figura 1 – Média e Anomalia de Temperatura da Superfície das Águas do Pacífico Equatorial, Outubro de 2004

                           Fonte: Climate Prediction Center (2004)².
 

Figura 2 – As Regiões de Niño

                           Fonte: Informações (2002)³.
 

            O El Niño, um dos fenômenos climáticos mais estudados no mundo, tem seus impactos globais bem rastreados. No que tange à agricultura, uma das conseqüências para algumas regiões do globo é a mudança no regime de chuvas, tanto em termos de precipitação pluviométrica quanto na mudança na época padrão, o que afeta o cultivo desde o plantio até a colheita. O ENOS, pelo fato de ter uma evolução lenta e gradual de vários meses de duração e também dada a disponibilidade com vários modelos de previsão desenvolvidos, merece análise e acompanhamento do público interessado para a tomada de decisões, bem como no planejamento das atividades.
            O último relatório do Climate Prediction Center lista os seguintes impactos globais: seca acima da média histórica na Indonésia (início de 2005), no norte e nordeste da Austrália (novembro de 2004 a fevereiro de 2005) e no sudeste da África (novembro de 2004 a março de 2005). Caso o aquecimento no Pacífico tropical aumente e se espalhe ao leste em direção à costa da América do Sul, poderá ocorrer chuva acima do normal na região costeira do Equador e norte do Peru nos primeiros meses de 2005.
            Os produtores e os agentes de mercado ligados a produtos com peso no mercado internacional, como café e soja⁴, devem acompanhar e analisar os impactos acima citados, além de estudar e acompanhar os impactos do El Niño no território brasileiro e, se possível, os efeitos que ocorrências anteriores de ENOS tiveram sobre o mercado de seus produtos. Já os produtores de grãos, cujos preços são determinados no mercado interno – caso do feijão –, devem acompanhar a evolução do El Niño 2004-2005 e seus impactos no território nacional.
            No caso brasileiro, a previsão, no momento, é a possibilidade de chuvas abaixo da média histórica na região leste da Amazônia (no final deste ano) e no nordeste brasileiro (entre fevereiro e abril de 2005). Este período corresponde ao plantio, na região, da segunda safra de feijão, cultura historicamente afetada pelos impactos climáticos desse fenômeno, principalmente na fase de plantio e desenvolvimento da cultura. Os picos anormais de preços no mercado brasileiro de feijão, na segunda metade do século XX, estão correlacionados às frustrações de safras ligadas às anomalias climáticas dos anos de ocorrência do ENOS, sobretudo na fase de El Niño⁵.
            Além do diagnóstico e de fórum mensais, o Climate Prediction Center mostra a evolução semanal da temperatura e a anomalia de temperatura das águas superficiais do Pacífico tropical⁶, dado que permite um acompanhamento mais estreito do fenômeno no caso de aceleração no ritmo e que se pode tornar um diferencial. Do mesmo modo, o acompanhamento mensal das discussões e previsões dos impactos climáticos globais – felizmente de fácil acesso – é fundamental para os interessados em maximizar o lucro nas suas atividades.

¹ O site do Climate Prediction Center acompanha permanentemente a evolução do ENSO com previsão/fórum (http://www.cpc.ncep.noaa.gov/products/analysis_monitoring/bulletin/forecast.html.) e diagnóstico/discussão (http://www.cpc.ncep.noaa.gov/products/analysis_monitoring/enso_advisory/index.html.) mensais e atualização semanal da anomalia de temperatura da superfície do Pacífico Tropical (http://www.cpc.ncep.noaa.gov/products/analysis_monitoring/enso_update/index.html.). Este centro pertence ao National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA).
² CLIMATE PREDICTION CENTER. El Niño/Southern Oscillation (ENSO) Diagnostic Discussion. Disponível em: http://www.cpc.ncep.noaa.gov/products/analysis_monitoring/enso_advisory/index.html. Acesso em: 10 de nov. de 2004.
³ INFORMAÇÕES Técnicas sobre El Niño. Disponível em: http://www.funceme.br/beta/funceme/demet/nino.htm. Acesso em: 25 nov. 2002.
⁴ A previsão de temperatura e precipitação para o território norte americano no período de dezembro de 2004 a fevereiro de 2005 está disponível em: http://www.cpc.ncep.noaa.gov/products/analysis_monitoring/enso_advisory/advfig6.html. Acesso em: 10 de nov. de 2004.
⁵ Os Efeitos do ENSO sobre a produção, produtividade e mercado brasileiro de feijão foram pesquisados em:
KIYUNA, Ikuyo; ASSUMPÇÃO, Roberto. Os fenômenos climáticos El Niño e La Niña e os preços de feijão no Estado de São Paulo. Informações Econômicas, São Paulo, v.31, n.6, p.25-44, jun.2001.
KIYUNA, Ikuyo; ASSUMPÇÃO, Roberto de. El Niño-Oscilação Sul e a produção de feijão no Brasil. Informações Econômicas, São Paulo, v.32, n.2, p. 21-42, fev. 2002.
⁶ Conferir em http://www.cpc.ncep.noaa.gov/products/analysis_monitoring/enso_update/sstanim.html.