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Mercado de Soja: cenário na pandemia 2019/20 e perspectivas 2020/21
A temporada 2019/20 no mercado internacional de soja
em grão teve início em outubro de 2019 simultaneamente aos primeiros registros
da incidência da covid-19. A oferta de 449,87 milhões de toneladas pouco abaixo
da precedente em 2,0% aliada ao crescimento no consumo, ou seja, processamento,
na mesma proporção configurava cenário de tendência de alta nos preços
internacionais, expectativa ratificada pela redução nos estoques do grão. Ao
final da temporada em setembro de 2020 os estoques devem totalizar 99,67
milhões de toneladas, volume 11,6% menor que o da temporada anterior, conforme
o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA)1. O comportamento das cotações de soja em grão no
mercado internacional mostra duas fases delimitadas pelo agravamento da
incidência da covid-19. Durante o último trimestre de 2019 as oscilações nos
preços estiveram relacionadas à maior disponibilidade do grão proveniente da safra
estadunidense, mas também às incertezas trazidas pelo surgimento do quadro
epidêmico. Na medida do agravamento desse cenário e da proximidade da
declaração da pandemia os preços entram em descenso no transcorrer da maior
parte do primeiro semestre de 2020 (Figura 1). A ser considerada a
prática de venda antecipada da safra é possível que os principais ofertantes de
soja em grão, o Brasil e os Estados Unidos, já contarem com parte expressiva de
suas produções vendidas por ocasião do surgimento e do agravamento da incidência
da covid-19. Ademais, como setor
estratégico e essencial fornecedor de insumos para alimentação animal, o
farelo, bem como para a alimentação humana, o óleo, a agroindústria da soja não
paralisou suas atividades, o que é decisivo para a garantia do fluxo de
comercialização dos produtos derivados. As perspectivas para a
temporada 2020/21 no âmbito mundial é de aumento de 3,8% no processamento do
grão que deve alcançar o recorde de 315,57 milhões de toneladas frente a um
acréscimo de apenas 2,8% na oferta que deve somar 462,19 milhões de toneladas.
Nessas circunstâncias decrescem ainda mais os estoques cujo patamar deve ser de
95,0 milhões de toneladas, o menor dos últimos três anos (Tabela 1). O Brasil deve responder
por 51,4% das exportações mundiais de soja em grão as quais serão de 161,58
milhões de toneladas. As importações da China representam 60,7% do total
transacionado no mundo e é seguida pela União Europeia com 11,6%. A expectativa é de que
os suprimentos de farelo e de óleo se mantenham equilibrados em face de
aumentos de 3,5% e de 4,2% nos consumos, os quais devem ser de 245,63 milhões
de toneladas e de 58,00 milhões de toneladas, respectivamente, no âmbito
mundial, conforme USDA. No
Brasil a colheita de soja da safra 2019/20 ocorreu às vésperas da declaração de
pandemia da covid-19, durante os primeiros meses deste ano. Conforme o USDA a
produção é recorde estimada em 126,0 milhões de toneladas 5,9% superior à
obtida no ano passado. A comercialização do
grão transcorreu normalmente com tendência altista na medida do avanço da
operação. Esse comportamento é visualizado na figura 2, que se refere à
evolução dos preços recebidos pelos sojicultores na principal região produtora,
o Centro--Oeste, em termos reais, deflacionados pelo Índice Geral de Preços –
Disponibilidade Interna (IGP-DI) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). É importante ressaltar
a importância da taxa de câmbio para comercialização de soja no Brasil. Na safra
2019/20 a evolução da taxa cambial é refletida na formação dos preços internos
da oleaginosa de forma a inibir possível movimento sazonal no sentido de queda
em plena colheita de safra recorde no país. Em outras palavras, o
comportamento dos preços internos durante o primeiro semestre de 2020 se deve
em boa medida à desvalorização cambial da moeda brasileira em relação ao dólar,
além das condições de mercado favoráveis à demanda para a produção de seus
derivados, o farelo para a produção de proteína animal e o óleo para consumo
alimentício e energético (Figura 2). Na
comercialização de soja em grão por parte dos agricultores no Estado de São
Paulo foi observado o mesmo cenário que em outras regiões do país. O preço
médio recebido pelos sojicultores paulistas entre fevereiro e maio de 2020 se
situou em patamar 22,4% superior, em termos reais, ao praticado no mesmo
período do ano passado (Figura 3). Na temporada 2020/21 a
produção brasileira de soja em grão deverá alcançar novo recorde de 131,00
milhões de toneladas, quantidade 3,9% maior que a obtida na safra que em breve
termina. Desse total o equivalente a 63% ou 83,00 milhões de toneladas serão destinadas
ao exterior. Para o processamento no mercado doméstico é esperado aumento
moderado na ordem de 1,6% ao alcançar 45 milhões de toneladas, de acordo com o
USDA (Tabela 2). No
suprimento dos derivados da soja merece destaque o consumo interno de farelo
que deve ser de 18,50 milhões de toneladas em 2021, quantidade superior em 2,7%
a demanda verificada neste ano de 2020. Esse acréscimo possivelmente estará
mais atrelado à demanda agregada por proteína animal no mercado internacional,
haja vista a retração no consumo brasileiro de carnes durante o ano de 2020,
conforme apontado pelo USDA2. O Brasil é o maior exportador de carne
de frango e de carne bovina, sendo também importante player no mercado de carne suína. A produção brasileira
de óleo de soja deve ser de 8,64 milhões de toneladas das quais a quase
totalidade, 88%, será consumida no mercado interno, composto pelos setores da
indústria alimentícia, químicos e biodiesel, conforme USDA3. A comercialização da
safra de soja em grão brasileira 2020/21 a ser plantada no segundo semestre
deste ano já se encontra em andamento e com parcela da produção negociada
bastante significativa em função, especialmente, da desvalorização cambial da
moeda brasileira em relação ao dólar transcorrida recentemente. Este foi o panorama do
mercado de soja vigente durante a disseminação da covid-19 pelo mundo entre o
segundo semestre de 2019 e o primeiro semestre de 2020. As perspectivas
comerciais para o grão e derivados no transcorrer da temporada internacional
2020/21 no Brasil e no contexto mundial são apresentadas. Entretanto, há que ser
consideradas a persistência de preocupações e mesmo as incertezas que rondam as
populações e a economia global sob a incidência da covid-19. 1 UNITED STATES DEPARTMENT OF AGRICULTURE. Oilseeds: World Markets and Trade. Washington:
USDA, jul. 2020. Disponível em:
https://apps.fas.usda.gov/psdonline/circulars/oilseeds.pdf. Acesso em: jul.
2020. 2______. Livestock and Poultry:
World Markets and Trade. Washington: USDA, July 2020. Disponível
em: https://apps.fas.usda.gov/psdonline/circulars/livestock_poultry.pdf. Acesso
em: jul. 2020. 3Op. cit. nota 1. Palavras-chave:
soja, pandemia, perspectivas. COMO
CITAR ESTE ARTIGO ZEFERINO,
M. Mercado de Soja: cenário na pandemia 2019/20 e perspectivas 2020/21. Análises
e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 15, n. 8, ago. 2020. Disponível
em: colocar
o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.
Data de Publicação: 01/09/2020
Autor(es): Marisa Zeferino (marisa.zeferino@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor