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Comportamento dos Preços da Carne Bovina entre Julho de 2017 e Junho de 2018 no Estado de São Paulo
A carne bovina é um alimento nobre e indispensável para os consumidores,
participando com 11,8% dos gastos com alimentação domiciliar familiar
(considerando apenas os cortes cárneos refrigerados/congelados), atrás somente
do leite e seus derivados1. A pecuária de corte é uma das principais atividades agropecuárias no
país e no Estado de São Paulo, sendo o 2º produto no Valor da Produção
Agropecuária (VPA) paulista, superado somente pela cultura da cana-de-açúcar.
Em 2017, correspondeu a 11,6% do VPA do estado (R$8,83 bilhões dos R$76,18
bilhões totalizados), segundo dados do Instituto de Economia Agrícola, da
Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (IEA-APTA)2. Nesse contexto, as variações de preços são importantes e impactam tanto
o pecuarista quanto o consumidor, além de movimentar os mercados atacadistas e
varejistas de carne. Entende-se a sequência de produção da carne bovina (Figura 1) como um
conjunto de agentes interativos (também chamados de elos ou segmentos), que são
os fornecedores de insumos, os sistemas de produção da pecuária de corte, as
indústrias de abate e processamento, os distribuidores atacadistas e
varejistas, o mercado externo e os consumidores finais do mercado interno3.
Na figura 1, a letra “A”
indica a fase de comercialização do boi gordo na qual o pecuarista vende o
animal pronto para o abate (Boi Gordo) ao frigorifico, “B” representa a fase de comercialização no atacado em que o
frigorífico/entreposto vende a carcaça dividida em quartos (traseiro, dianteiro
e ponta de agulha) ao varejo, e “C”
indica a fase de comercialização mercado varejista na qual os
supermercados/açougues vendem os cortes fracionados de carne bovina ao consumidor
final. A figura 2 apresenta os valores no período de julho de 2017 a junho de
2018 dos preços médios mensais recebidos pelos pecuaristas (pago ao produtor)
na comercialização do boi gordo, dos preços praticados no mercado atacadista4
e dos preços no âmbito do mercado varejista5 na cidade de São Paulo,
todos levantados pelo IEA-APTA6. Os coeficientes de variação (CV%) foram de 4,15% para o boi gordo, 3,69%
para o atacado e 1,63% para o varejo, e estes valores são similares aos
observados nos anos anteriores, o que indica que os produtos da cadeia da carne
bovina têm baixa variação de preços. No segundo semestre de 2017, visualiza-se uma leve alta nos preços da
carne bovina no varejo e uma alta mais acentuada no atacado e no produtor,
chegando-se a dezembro com aumento acumulado semestral de 2,07% para o varejo,
9,89% para o atacado e 8,60% para o boi gordo em relação a junho de 2017 (Figura
3). No acumulado dos 12 meses, julho de 2017 a junho de 2018, a carne bovina
no varejo fechou o período com alta de 3,04%, no atacado de 8,02% e boi gordo
(produtor) apresentou elevação de 4,65% (Figura 2). Em valores nominais, o produtor passou a receber
R$138,20 pelo boi gordo em junho de 2018, ante aos R$125,30 em julho de 2017;
no atacado, passou a R$9,68 ante aos R$8,49; e no varejo ficou com R$23,42,
ante aos R$22,88, para igual período (Figura 2). No primeiro semestre de 2018, os preços praticados pelo mercado
atacadista e recebidos pelos produtores apresentaram quedas nas suas cotações
em relação a carne bovina, com -1,70% e -3,64% respectivamente, enquanto o
mercado varejista fechou com leve aumento de 0,21% (Figura 4). Nota-se que,
entre julho e dezembro de 2017, a oscilação de preços foi relativamente similar
entre os indicadores analisados, ao contrário do período subsequente, a partir
de janeiro de 2018, em que houve grande discrepância. No período analisado não ocorreram eventos
externos significativos que impactaram a cadeia de produção da carne bovina. A
economia nacional continua morna, e sem perspectivas de melhoras no curto
prazo. Para os pecuaristas, o período analisado não
foi bom, apesar da cotação do boi gordo acumular variação positiva (4,65%). A
escassez de chuvas, que reflete diretamente na qualidade e quantidade das
pastagens, além do aumento dos custos de produção, fez com que estes ganhos nas
cotações fossem, no máximo, suficientes para cobrir as majorações nos custos de
produção. Assim, não conseguiram melhores resultados em
função da diminuição da oferta de animais para o abate7 e em virtude
de o mercado consumidor continuar estagnado, o que impossibilitou melhores
cotações na entressafra. Logo, o produtor perdeu a chance de melhorar os
valores recebidos no cenário de queda da produção. No caso dos frigoríficos, estes conseguiram de
certa forma aumentar sua margem bruta, pois, apesar de pagarem mais pelo boi
gordo, obtiveram melhores valores nas suas vendas (4,65% e 8,02%). Assim,
podemos considerar que foi um período bom para os segmentos de
processamento/distribuição (atacado) que, apesar das adversidades ocorridas (em
virtude de o mercado consumidor continuar estagnado), conseguiram repassar seu
aumento no custo do boi gordo e, assim, manter e melhorar sua lucratividade. O mercado varejista pagou mais ao segmento
atacadista pela carne bovina e não conseguiu repassar todo esse aumento ao
consumidor (pagando 8,02% ao atacado e cobrando 3,04 do consumidor), perdendo
assim parte de sua lucratividade bruta no período. Entretanto, como em períodos
anteriores, na maioria das vezes o varejo consegue impor um aumento maior em
relação aos demais segmentos8, 9. Neste período o varejo “devolveu” parte
de suas margens justamente porque tinha reservas para “queimar”, já que o
consumidor nem sempre está disposto a aceitar (não tem renda para) reajustes
muito altos, principalmente no cenário econômico atual, assim para o segmento
varejista não foi um bom. Para o consumidor, se não foi um período ruim,
também não foi bom, podendo ser considerado regular, pois o preço da carne na
gôndola dos supermercados/açougue poderia ter aumentado mais em virtude dos
adventos climáticos ocorridos na produção pecuária. Contudo, a situação
continuada de rendas em baixa e desemprego não deu oportunidade para as
elevações de preços. Em um período (julho/2017 a junho/2018) em que
inflação acumulada foi de 4,78% e o subitem “alimentação no domicílio” foi de
1,34% para São Paulo - dado do IPCA-IBGE - (estes valores ficaram próximos aos
da média Nacional, que foram de 4,39% e 0,11% respectivamente)10, o
consumidor paulista pagou 3,04% mais caro pela carne bovina – menor que as
elevações nos segmentos de produção e atacado (4,65 e 8,02% respectivamente). Assim,
a carne bovina puxou para cima o subitem “alimentação no domicílio”, mas ficou
abaixo do índice geral, tanto paulista quanto nacional. Assim, pelos números apresentados e pelo
exposto acima, fica claro que as forças continuaram desiguais na determinação
dos valores de comercialização dos produtos da cadeia produtiva da carne
bovina, continuando com os mesmos pesos dos períodos anteriores. O segmento varejista continua tendo força
(capital, estratégias e informações) e consegue impor-se com valores mais
próximos que ele deseja; o segmento atacadista tem uma força mais equilibrada,
conseguindo ora melhores valores, ora não aos seus anseios. Nesse período, foi
o segmento que obteve os melhores resultados. O segmento de produção de carne bovina
continua sendo, seguramente, o de menor força, pouco conseguindo impor os
valores desejados, exceto em situações específicas. Já os consumidores têm relativa força, pois
conseguem que valores praticados no varejo não se elevem muito, embora não
tenham conseguido pressionar para baixo os preços praticados no varejo, mesmo
em situações de crise. ----------------------------------------------------------------------- 1FUNDAÇÃO
INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS - FIPE, Pesquisa de orçamentos familiares
(POF): 2011-2013. São Paulo: FIPE, 2018. Disponível em: <http://www.fipe.org.br/pt-br/indices/pof/>. Acesso em: 16 ago. 2018. 2SILVA, J. R. et. al. Valor da produção agropecuária
do estado de São Paulo: resultado final, 2017. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 13, n. 5, p.
1-7, maio 2018. Disponível em:
<http://www.iea.sp.gov.br/out/TerTexto.php?codTexto=14465>. Acesso em: 10 set. 2018. 3PINATTI, E. Carne bovina: queda de preços não chega
ao varejo em 2005. Análises e
Indicadores do Agronegócio, São Paulo,
v. 1, n. 1, p. 1-5, jan. 2006. Disponível em:
<http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=4538>. Acesso em: 11
set. 2018. 4Para o cálculo do preço da carne bovina no atacado,
adotou-se a relação de quartos da carcaça: traseiro=48%, dianteiro=39% e ponta
de agulha=13%, que são os mais comumente relatados na literatura. 5Para o cálculo do preço da carne bovina no varejo,
o IEA adota as seguintes ponderações: acém=18,63%, alcatra=7,19%,
contra-filé=11,19%, costela de vaca=18,63%, coxão duro=11,99%, coxão
mole=12,79%, filé-mignon=3,20%, lagarto=4,00%, músculo=3,20%, patinho=7,99%,
picanha=1,19%. 6INSTITUTO DE ECONOMIA
AGRÍCOLA - IEA. Banco de dados. São Paulo: IEA, 2017. Disponível em:
<http:// 7GHOBRIL, C. N.; BUENO, C. R. F. Estimativa da
produção animal no estado de São Paulo para 2018, Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 13, n. 9, p.
1-5, set. 2018. Disponível em: <http://www.iea.sp. 8Op. cit. nota 3. 9PINATTI, E. Carne bovina: comportamento dos preços
de janeiro/2016 a junho/2017, Análises e
Indicadores do Agronegócio, São Paulo,
v. 13 n. 10, p. 1-8, 2017. Disponível em:
<http://www.iea.sp.gov.br/out/LerTexto.php?codTexto=14350>. Acesso em 11 set. 2018. 10INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA -
IBGE. Índice nacional de preços ao
consumidor amplo (IPCA). Rio de Janeiro: IBGE, 2018. Disponível em:
<https://sidra.ibge.gov.br/tabela/1419>. Acesso
em: 22 set. 2018. Palavras-chave: pecuária de corte, carne bovina,
preços, boi gordo, atacado, varejo.
www.iea.sp.gov.br/out/bancodedados.html>. Acesso em: 10 set. 2018.
gov.br/out/TerTexto.php?codTexto=14514>. Acesso em: 22 set. 2018.
Data de Publicação: 06/11/2018
Autor(es):
Eder Pinatti (pinatti@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Ricardo Firetti (rfiretti@aptaregional.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor