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Evolução de Área e Produção de Feijão no Estado de São Paulo
Este
trabalho tem por objetivo apresentar avaliação de dados da produção paulista de
feijão. Foram tomadas como base as informações relativas à evolução da área
ocupada, produção e produtividade no Estado de São Paulo de 2007 a 2015, a
partir das quais são apresentadas considerações sobre a evolução das safras e
as estruturas que sustentam a importância desta leguminosa no Estado. Salvador
(2015)1 escreve que de
acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), o plantio
de feijão é estendido a todos os estados brasileiros, no sistema solteiro ou
consorciado com outras culturas. Considerada uma cultura de subsistência em
pequenas propriedades, é adotada também em sistemas de produção que requerem o
uso de tecnologias intensivas como a irrigação, controle fitossanitário e
colheita mecanizada. Segundo
este autor2, tanto o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) quanto a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) não realizam
divisão entre os dados estatísticos do feijão comum e os do caupi, o que é necessário
considerar ao avaliar a produção nacional. O
cultivo é realizado em três safras no Estado de São Paulo, que segue o
calendário da região Sudeste. A primeira safra, chamada “safra das águas”, tem
plantio de agosto a dezembro e
a colheita nos meses de dezembro a
abril; na segunda, “safra da seca”, o plantio vai de janeiro a abril e a colheita ocorre
entre os meses de março e agosto;
e na terceira, “safra de outono/inverno”, o plantio ocorre entre março e junho e a colheita nos meses
de junho a setembro. Dados
da CONAB, segundo trabalho realizado por Salvador (2015)3,
com a produção total de feijão das três safras entre 2007 e 2015, apontam para
uma produção média nacional de aproximadamente 3,3 milhões toneladas do grão
anualmente, sendo a ordem de importância de participação como principais Estados
produtores: Paraná (23%), Minas Gerais (17%), Bahia (9%) e São Paulo, Mato
Grosso e Goiás com 8% de participação cada um. Ao observar estes dados, é
importante avaliar o fato de que, estando esta cultura presente em todo o país,
12% da produção nacional de feijão está espalhada em 17 estados da federação
(geralmente as análises destacam os maiores produtores). Esta produção dispersa
deve ser considerada em seu papel fundamental, quer seja para além dos maiores
mercados, com a organização de estruturas locais de abastecimento para o acesso
à alimentação básica por toda a população4. O
entendimento da participação do Estado de São Paulo na produção nacional de
feijão necessita considerar desde os produtores altamente especializados até a
importância da produção desta leguminosa para o segmento da agricultura
familiar, em todos os estados, bem como a produção oriunda das vantagens
econômicas e agronômicas que esta leguminosa propicia, quando escolhida para
consórcio com culturas de larga escala. Os
dados sobre a produção e a área de feijão no Estado de São Paulo, utilizados
neste trabalho, foram obtidos do levantamento de previsão e estimativas de
safras realizados por parceria firmada entre o Instituto de Economia Agrícola
(IEA), da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), e a
Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), órgãos da Secretaria de
Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e disponíveis no banco de
dados do IEA5. A
composição da produção paulista anual de feijão foi elaborada utilizando a
participação de cada uma das safras no total produzido, e calculada sua média
para o período adotado. Assim, a safra das águas corresponde a 49,0%, a da seca
a 22,4% e a do feijão de inverno chega aos 28,6% da produção estadual.
Importante destacar que a safra de inverno é composta por feijão irrigado e sem
uso de irrigação, com participação de 23,6% e 5,0% do total, respectivamente. A
figura 1 aponta para a diminuição da área de feijão no Estado de São Paulo nas
três safras no período analisado, sendo que a principal safra, a das águas,
teve diminuição acentuada em 2013, e não demonstrou sinais de recuperação. A
área plantada de feijão das águas, que chegou a ocupar 85.555,30 ha em 2009,
maior área no período analisado, registrou apenas 46.271,00 ha na safra
2014/15. Nas outras safras, do feijão da seca e de inverno, o processo de
diminuição de área se delineou desde 2010, passando de, aproximadamente, 58 mil
ha e quase 47 mil ha, respectivamente, em 2008, maiores áreas no período
escolhido, para 20 mil ha no da seca e 28 mil ha no de inverno na última safra.
A produção paulista, calculada em tonelada neste
trabalho, no último ano observado, resultou em quantidade próxima a 6% da média
da produção nacional do período em análise6. No período estudado, o
feijão da seca foi o que apresentou a maior queda percentual de produção e o
feijão de inverno a menor, 41% e 15%, respectivamente. Mas a soma das três
safras resultou em uma produção total de 201,97 mil toneladas no ano de 2015, refletindo
queda de 24% na produção paulista do período. A tabela 1 apresenta os dados de
evolução da
produção do feijão total e nas diversas safras, permitindo visualizar as
variações ocorridas. O cálculo da
produtividade aponta para uma tendência ascendente no período considerado,
conforme se verifica na figura 2. A produtividade média total para as várias
safras, para o período, foi de 32,2 sc. 60 kg/ha, partindo de 28,0 sc. 60 kg/ha
em 2007, e atingindo 35,7 sc. 60 kg/ha em 2015, ganho de 27,5%. A
cultura do feijão das águas teve no período um ganho de produtividade de 19,2%,
chegando a 35 sc. 60 kg/ha em 2015. O feijão da seca e o feijão de inverno sem
irrigação apresentaram mudança significativa de patamar no que tange à produtividade,
apesar da importante queda na área de produção e participação no total
produzido. Já a cultura do feijão da seca, com incremento de 34% em
produtividade, alcançou 32 sc. 60 kg/ha, só superado pelo ganho de desempenho
do feijão de inverno sem irrigação, que teve a produtividade média mais baixa
do período, de 21 sc. 60 kg/ha, e atingiu 26 sc. 60 kg/ha em 2015, apresentando
incremento de 65,9% no período. O feijão de inverno
irrigado apresentou a maior produtividade média nos anos considerados, 41,2 sc.
60 kg/ha. Utilizando os anos inicial e final, houve 10% de incremento na
produtividade, bastante importante, uma vez que se trata de cultivo com maior
uso de tecnologia frente as outras safras do produto. Em 2015, a produtividade
foi de 43,8 sc. 60 kg/ha. A observação do
comportamento da produtividade das safras de feijão implica ainda considerar,
além da tecnologia empregada, o impacto de outros fatores, como da estiagem que
afetou, por exemplo, as safras das águas e de inverno em 2014. O aumento de produtividade
nas diversas safras aliado à diversidade de estrutura da produção do feijão
(tipos de produtores e inserção do feijão em sistemas distintos) explicam o
desempenho do Estado de São Paulo na produção nacional. O Levantamento
Sistemático de Produção Agrícola do IBGE7 em março de 2016 prevê que, neste ano,
a produção total de feijão será de 3.233.933 toneladas, aumento de 4,1% em
relação ao ano anterior e, em abril8, a publicação dos indicadores
ajustam a previsão para um aumento de 2,8% em relação ao ano anterior. Estas
informações, aliadas às informações apresentadas neste trabalho, podem auxiliar
nas análises de mercado para a produção paulista. _______________________________________ 1SALVADOR, C. A. Feijão:
análise da conjuntura agropecuária. Paraná: SEAB/DERAL, dez. 2015. 2Op. cit. nota 1. 3Op. cit. nota 1. 4Neste contexto, evidenciam-se o leque de variedades existentes de
feijão e os hábitos de consumo locais/regionais para as diversas variedades. 5INSTITUTO DE ECONOMIA
AGRÍCOLA - IEA. Banco de dados.
São Paulo: IEA. Disponível em:
<http://www.iea.sp.gov.br/out/bancodedados.html>. Acesso em: maio 2016. 6Op. cit. nota 1. 7INSTITUTO BRASILEIRO
DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE.
Levantamento sistemático da produção agrícola LSPA. Rio de Janeiro: IBGE,
mar. 2016. Disponível em: <ftp://ftp.ibge.gov.br/Producao_Agricola/ 8______. Indicadores IBGE: estatística da produção agrícola. Rio de Janeiro:
IBGE, abr. 2016. Disponível em: <ftp://ftp.ibge.gov.br/Producao_Agricola/Fasciculo_Indicadores_IBGE/estProdAgr_201604.pdf>. Acesso em: 17
maio 2016.
Levantamento_Sistematico_da_Producao_Agricola_[mensal]/Fasciculo/lspa_201603.pdf>. Aceso em: 27 abr. 2016.
Data de Publicação: 14/06/2016
Autor(es): Ana Victória Vieira M. Monteiro Consulte outros textos deste autor