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Variação de Preços de Alimentos de Origem Vegetal em São Paulo: março de 2016
1 – INTRODUÇÃO O Brasil enfrenta uma situação delicada, com
retração no Produto Interno Bruto (PIB) de 3,8% em 2015, elevação do desemprego
para dois dígitos e, conjuntamente, elevação do nível geral de preços de
10,67%. Os preços de alimentos têm contribuído para a
aceleração observada nos índices de inflação1, 2. No mês de março, o Índice de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA) registrou acréscimo de 0,43% para o Brasil, enquanto
para São Paulo este índice registrou acréscimo de 0,57% no mesmo mês. No ano de
2016, o percentual de aumento do IPCA de janeiro a março foi de 2,62% e, em 12
meses, acumulou uma variação positiva de 9,39%. Observa- -se uma tendência de queda no período de 12
meses na aceleração do índice, mas ainda está acima da meta de 4,5%. Silva, Lima e Marques (2015)3 mostram que,
desde 2007, os preços de alimentos têm sido um dos grandes responsáveis por
pressionar a inflação para cima do centro da meta. Observam que a inflação
doméstica recente tem sido influenciada pelos preços internacionais. Este trabalho procura analisar os preços de
alimentos, considerando os três níveis de comercialização: recebido pelo
produtor agrícola, do mercado atacadista e do mercado varejista, para a tomada
de ação de políticas públicas, no sentido de monitoramento dos preços de
alimentos. Por meio da variação de preços de alimentos no mês
de março de 2016 em relação ao mês anterior, em relação a dezembro de 2015 e em
relação ao mês de março de 2015, permite-se fazer esta verificação. O Instituto de Economia Agrícola coleta mensalmente
os preços de vários produtos agrícolas. Os preços recebidos pelo produtor
referem-se aos principais produtos produzidos no Estado de São Paulo. Os preços
no atacado referem-se à região metropolitana de São Paulo, e
os preços no varejo referem-se aos praticados na cidade de São Paulo. Os
produtos selecionados, segundo a disponibilidade de informações nos três níveis,
são trigo, batata, feijão, arroz e óleo de soja. 2 – AVALIAÇÃO DOS PREÇOS DE
PRODUTOS DE ORIGEM VEGETAL EM SÃO PAULO 2.1
- Trigo Os preços recebidos pelos triticultores paulistas em
2015 mantiveram-se em patamares elevados, inclusive no período de safra, apesar
dos baixos níveis das cotações internacionais. Mesmo assim, a indústria
moageira demandou mais trigo nacional, lembrando que mais de 50% da demanda de
trigo é atendida historicamente por importações, em sua maior parte de países
do MERCOSUL, majoritariamente da Argentina e nos últimos anos, de forma
crescente, também do Uruguai e Paraguai. Os dados da tabela 1 mostram que, em todos os
períodos analisados, as variações dos preços do derivado no atacado foram bem
menores e até em sentido contrário aos recebidos pelos produtores. Em março,
enquanto o preço do trigo aumentou 8,4%, a farinha de trigo especial teve seu
preço reduzido em 2,4%. No ano, o preço do trigo apresentou elevação de 9,2%,
enquanto o da farinha teve redução de 3,2%. Mas foi nos últimos 12 meses que a
diferença de variação foi mais acentuada, de 43,3% para 3,9%. Isso revela a
dificuldade da indústria em repassar o aumento dos preços do trigo para os
outros segmentos industriais, como o de panificação e o de massas, e também
para o mercado atacadista, num momento de queda do PIB, como verificado no
último ano. O varejo mostra-se mais flexível, com níveis de
variação mais expressivos que os dos preços do atacado nos 12 meses, enquanto o
preço do pão francês acusou elevação de 18,8%, e o da farinha no atacado de
3,9%. No ano, a relação também mostra o mesmo comportamento: há um
distanciamento, queda no atacado da farinha e crescimento no preço de varejo do
pão francês. É importante lembrar que grande parte da demanda de farinha não
passa pelo atacado e as negociações se dão entre as indústrias. E também grandes
redes varejistas, por exemplo, as supermercadistas, negociam diretamente com as
indústrias moageiras. Pode-se dizer que o varejo está no limite, a crise
econômica e o desemprego estão reduzindo a demanda, e não há muito espaço para
elevação de preços. Tanto que, no mês, as elevações dos preços da farinha foram
apenas no nível de compensação da inflação e, no caso dos produtos mais básicos
como o pão e o macarrão, os preços até caíram. Por outro lado, é bom enfatizar
que os preços do pão francês acumularam aumento de 18,8% nos últimos 12 meses. O preço do pão de forma e do macarrão instantâneo
apresentaram majorações acima dos níveis inflacionários, mas são produtos não
tão básicos, de consumo não generalizado, enquanto a participação do pão
francês na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) é de 1,4%, a do pão de forma
é de 0,16% e a do macarrão instantâneo é de 0,07%, lembrando que o item
alimentação representa 24,55% do orçamento familiar. 2.2 - Batata No mês de março, os preços recebidos pelo produtor de
batata se mantiveram inalterados em relação a fevereiro. No ano, entretanto, os
preços representam um acumulado de 4,8%, acima dos 2,62% de aumento acumulado
no IPCA de igual período. A tendência de queda nestes preços está mostrada no
acumulado de 12 meses, de 24,5% (Tabela 2). A batata teve um aumento bastante expressivo no
mercado atacadista de São Paulo. Na média, das variedades coletadas, o aumento
no mês foi bastante expressivo, de 27,3%, com a batata cupido lavada tendo o
maior aumento em março de 2016, de 34,0%. Esta variação não foi causada pelos
preços ao produtor. No ano de 2016, a batata acumula aumento de 22,5% na média
e em 12 meses acumula mais de 50%. Em março de 2016, o mercado varejista transferiu
para o consumidor um aumento substancial de 6,2%, embora tenha sido muito menor
do que no atacado. No acumulado dos 12 meses, o aumento de preços no varejo é
de 28,0%, o que faz prever novos aumentos de preços de batata. De acordo com Oliveira et al. (2015)4, a oferta e preços da batata sofrem os efeitos da
sazonalidade por ser de um bem de consumo perecível. Observam que, de maneira
geral, os meses do início do ano expressam preços sistematicamente maiores, o
que denota uma possível baixa oferta do produto no período. 2.3 - Feijão Verifica-se que a queda do preço
médio recebido pelo produtor apresentada no mês não impediu que os preços
apresentassem elevação significativa nos últimos 12 meses, de 23,0% (Tabela 3).
O valor da produção de feijão, medido em preços correntes para o Estado de São
Paulo entre 2014 e 2015, mostrou variação de 40,02%, por conta de acréscimos de
50,28% nos preços para este produto, já que a produção sofreu queda acima de 6%
nas duas últimas safras5.
As informações corroboram para a avaliação de elevação dos preços ao produtor.
Neste período anterior à entrada da nova safra no mercado, o preço ao produtor
tem respondido à qualidade do produto ofertado nas diversas regiões produtoras. No caso dos preços no atacado, os dados para
unidades menores de compra apontam para um incremento maior em seus valores
para o mês de março. Já a saca de 60 kg do feijão preto não apresenta variação
no mês, mas tem comportamento muito próximo ao do feijão carioquinha para o
primeiro trimestre do ano e menor variação do que o feijão carioquinha nos
últimos 12 meses. No caso do feijão preto, o preço no mercado atacadista, para
porções de 1 kg, firme neste mês e ano, indica que nos últimos 12 meses esteve
abaixo do IPCA acumulado, apresentando a menor variação entre os tipos de
feijão. O mercado paulista de feijão, segundo a CONAB, está buscando neste
momento, o produto nos Estados de Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais e Goiás6. O preço no varejo foi responsável pelo maior impacto
entre os segmentos do mercado do produto, com 8,2% frente a um IPCA de 0,57% no
Estado de São Paulo em março de 2016. No primeiro trimestre, o comportamento do
feijão no mercado varejista foi próximo ao do preço ao produtor, mas nos
últimos 12 meses alcançou 27,2%, frente a um IPCA de 9,39%. Ainda é oportuno
destacar que o preço no varejo permaneceu também no trimestre acima dos 25%,
mantendo a tendência de alta. 2.4 - Arroz O preço pago aos produtores no Estado de São Paulo
saiu de um patamar próximo aos R$30,00 há 5 anos e foi, gradativamente, com
alguns momentos de variações, alcançando os patamares apresentados no quadro
atual. Em São Paulo, a produção de arroz é significativa apenas no EDR de
Guaratinguetá, não apresentando expressividade frente ao consumo geral do
produto no estado. Os principais fornecedores para o mercado paulista são os
estados do Sul do país e ainda as importações vindas do Paraguai e Argentina,
que abastecem as regiões Sudeste e Nordeste do Brasil. No mês de março de 2016, o preço do arroz teve um
aumento expressivo no mercado varejista de São Paulo. O aumento foi de 8,5%,
que acumula 9,7% no ano e 17,3% em 12 meses. O mercado atacadista está
aquecido, com aumentos acima da inflação, mais significativos para o período de
12 meses, reflexo das cotações da região Sul nos meses finais de 2015, ainda
não afetados pela entrada da nova safra (Tabela 4). Embora o preço recebido pelo produtor de arroz no
Estado de São Paulo tenha apresentado aumento superior à variação do IPCA de
São Paulo para os últimos 12 meses, no período mais recente houve recuo nos
valores pago aos produtores de 2,4% no trimestre e de 1,7% em março. 2.5 - Óleo de Soja No mês de março de 2016, o óleo de soja teve um
aumento expressivo no mercado varejista de São Paulo. O aumento foi de 4,7%,
que acumula 12,5% no ano e 24,2% em 12 meses. O mercado atacadista também está
aquecido, com aumentos muito acima da inflação (Tabela 5). Embora o preço recebido pelo produtor de soja no
Estado de São Paulo tenha apresentado aumento superior à variação do IPCA de
São Paulo, de 0,7%, este foi bastante inferior ao praticado nos dois mercados à
frente. No ano, há um recuo nos preços ao produtor, de 5,6%. Entretanto, no
acumulado de 12 meses, a variação é positiva, de 17%. 3
- CONSIDERAÇÕES FINAIS Deve ser levando em conta que o consumo na cidade de
São Paulo é realizado com a produção oriunda das mais diversas origens e que o
tamanho do mercado paulista o torna responsável pelo consumo de parte
considerável da produção regional. O fluxo de mercadorias interestadual e internacional
torna os preços uma sinalização deste movimento, influenciando fundamentalmente
os preços no atacado e varejo dos produtos atendidos neste trabalho. A elevação da taxa de câmbio a partir de
novembro de 2014, e a níveis superiores aos R$3,00/US$ desde março de 2015 até
março de 2016, atingindo R$4,05/US$ em janeiro de 2016, fez com que a indústria
moageira passasse a procurar mais trigo nacional, lembrando que mais de 50% da
demanda de trigo é atendida historicamente por importações. Este é o principal
motivo da acentuada elevação nos preços recebido pelos produtores de trigo, de
43,3% nos 12 meses, e de seus derivados, nos outros níveis de comercialização.
Os produtos panificados têm uma elevada participação no consumo familiar,
notadamente o pão francês. No caso do feijão, concluiu-se que, no mês de março,
os preços no atacado, à exceção do feijão preto saca de 60 kg, cujo preço se
manteve estável, afetaram de forma positiva a elevação dos índices de preços,
especialmente no que tange aos produtos apresentados em menor fração para
comercialização. Mas foi o comportamento de preço no varejo o que mais afetou
os índices, pois apresentou variação de 8,2% frente a um IPCA de 0,57% para o
estado maior consumidor do produto. Este comportamento agrava as pressões sobre
os preços de alimento, pois o feijão tem peso 0,50% no IPC-FIPE. O arroz, tanto no atacado quanto no varejo, para
todos os períodos, com exceção do arroz agulhinha tipo 1, manteve-se acima do
IPCA para todos os períodos analisados, sendo que o varejo apresentou as
maiores variações e consequente pressão no preço de alimentos, pois o arroz tem
participação elevada no cálculo do IPC-FIPE, com a ponderação de 0,63. A batata teve aumento expressivo no mercado
atacadista de São Paulo, de 27,3% no mês, de 22,5% na média anual e em 12 meses
acumula mais de 50,0%. No mercado
varejista, o preço do tubérculo teve elevação de 6,2% no mês e acumulado dos 12
meses de 28,0%, o que faz prever novos aumentos dos preços de batata. O preço recebido pelo produtor de soja no Estado de
São Paulo apresentou aumento de 0,7%, superior à variação do IPCA de São Paulo,
influenciado pelas cotações do mercado internacional. No ano, há um recuo nos
preços ao produtor, de 5,6%. Entretanto, no acumulado de 12 meses, a variação é
positiva e elevada, de 17,0%. Os outros níveis de comercialização para o
derivado da oleaginosa acumulam incrementos ainda maiores. Finalmente, observa-se que, no mês de março, apenas
os preços ao produtor de arroz, feijão e batata não tiveram aumentos acima do
IPCA. No mercado atacadista, os preços de arroz agulhinha, de feijão preto e de
farinha de trigo especial também ficaram abaixo do IPCA; no mercado varejista,
apenas o pão francês e o macarrão. _______________________________________________________ 1A estrutura de
ponderação dos índices de inflação está em INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATÍSTICA - IBGE. Sistema nacional de
índices de preços ao consumidor: estruturas de ponderação a partir da
pesquisa de orçamentos familiares 2008-2009. Rio de Janeiro: IBGE. Disponível
em: <http://www. 2Em São Paulo, a
alimentação representa 24,55% do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da FIPE,
incluída a alimentação fora do domicílio de 4,22%. FUNDAÇÃO INSTITUTO DE
PESQUISAS ECONÔMICAS - FIPE. Banco de
dados. São Paulo: FIPE. Disponível em:
<http://www.fipe.org.br/pt-br/indices/pof/#pof>. Acesso em: abr. 2016. 3SILVA, H. J. T.
da; LIMA, R. A. de S.; MARQUES, P. V. Dinâmica inflacionária brasileira de 2003
a 2012: um enfoque no grupo alimentação do IPCA e INPC. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA RURAL, 53., 2015, João
Pessoa. Anais eletrônicos... João
Pessoa: SOBER, 2015. Disponível em:
<http://icongresso.itarget.com.br/tra/arquivos/ser.5/1/4294.pdf>. Acesso
em: 27 abr. 2016. 4OLIVEIRA, G. de
S. et al. Análise de mercado de batata no Estado de São Paulo. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA RURAL, 53., 2015, João
Pessoa. Anais eletrônicos... João
Pessoa: SOBER, 2015. Disponível em:
<http://icongresso.itarget.com.br/tra/arquivos/ser.5/1/5173.pdf>. Acesso
em: abr. 2016. 5Silva, J. R. da
et al. Estimativa do valor da produção agropecuária no Estado de São Paulo de
2015: resultado final. Análises e
Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 11, n. 4, abr. 2016. Disponível
em: <http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/AIA/AIA-21-2016.pdf>. Acesso em:
abr. 2016. 6COMPANHIA
NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB. Conjuntura
semanal. Brasília: CONAB. Disponível Palavras-chave: inflação, comercialização,
agronegócio.
ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/precos/inpc_ipca/srmipca_pof_2008_2009_2aedicao.pdf>.
Acesso em: abr. 2016.
em: <http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/16_04_20_10_36_43_feijao_-__semana_-_11_a_15
.pdf>. Acesso em: abr. 2016.
Data de Publicação: 12/05/2016
Autor(es):
Samira Aoun (samira@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Ana Victoria Vieira Martins Monteiro (ana.monteiro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
José Roberto Da Silva (josersilva@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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Terezinha Joyce Fernandes Franca (terezinha.franca@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor