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Os preços de combustíveis e o custo de operação das máquinas agrícolas
O ano
de 2004 tem-se caracterizado por pequenas flutuações nos preços, tendendo para a
estabilidade, após a turbulência do mercado principalmente no início de 2003
seguida do restabelecimento da confiança em decorrência da política econômica do
governo federal. Tabela
1 – Variação dos preços de combustíveis e derivados, Estado de São Paulo, 2003 e
2004 Nas
máquinas e implementos agregados, os acréscimos nos preços de tratores e
colhedoras foram em média de 29,29% (tabela 2). Os menores aumentos no período
ficaram por conta dos aparelhos de
irrigação (21,30%) e dos implementos de preparo do solo (21,68%). O grupo das
plantadoras-adubadoras e os pulverizadores acoplados ao trator tiveram os
maiores acréscimos, (respectivamente de 35,86% e de 34,07%), assim como os implementos diversos (32,13%).
Tabela 2 – Variações nos preços de máquinas e implementos
agregados, Estado de São Paulo, 2003 e 2004
Custo horário
No
custo horário total (custo fixo mais custo variável), verifica-se pequena
variação no item agregado de máquinas automotores, uma vez que houve queda de
9,74% (tabela 1) no principal
elemento combustível, que representa o maior item no custo variável (tabela 3).
Entretanto, nos implementos restantes, a alta variou de 18,91% a 35,65%,
principalmente devido ao impacto desse item, relacionado ao valor novo do
implemento, no custo horário de depreciação.
Tabela 3 – Variações nos custos horários de máquinas e
implementos agregados, Estado de São Paulo, 2003 e 2004
Conclusões
Ao
comparar maio de 2004 com março de 2003, constata-se que o dólar, um dos
principais indicadores econômicos, apresentou queda de 15,14%, enquanto a inflação, medida pelo IGP-DI, foi de
7,42% no período. Portanto, à primeira vista, não se justificariam tais aumentos
nos preços de máquinas e implementos, embora alguns dos combustíveis e
lubrificantes tivessem tido variações positivas. Tabela 4 - Estimativa de custo de operação de máquinas e
implementos agrícolas, Estado de São Paulo, Maio de 2004
O
autor agradece a colaboração da Agente de Apoio à Pesquisa Regina S. Santa no levantamento de dados.
Com base nesse cenário, foram levantadas informações sobre preços de combustíveis e derivados, máquinas e implementos agrícolas nos postos de abastecimento e das revendedoras, no Estado de São Paulo. Dados coletados em maio de 2004 foram comparados com os de março de 2003. Com esses preços, foram analisadas as oscilações e suas implicações na aquisição e no uso de máquinas e equipamentos agrícolas1.
Na metodologia de elaboração do custo horário das máquinas, utilizada pelo IEA,
são considerados, além de óleo diesel, os itens de manutenção preventiva, como
óleos lubrificantes, dos motores, das transmissões e dos hidráulicos. Também
filtros e graxas são considerados e suas quantidades e trocas seguem as
recomendações do fabricante. Não se levam em conta neste custo as despesas com
operador e os juros sobre o capital.
O aumento no preço do óleo diesel em geral tem causado sérios problemas no fluxo de caixa dos produtores rurais em
razão da maior necessidade de dinheiro, nem sempre planejada no financiamento de
custeio. Assim, os produtores têm de tomar dinheiro a juros de mercado para
terminar as operações como preparo de solo cultivo e colheita, elevando o custo
da cultura.
Porém, nesses dois períodos analisados ocorreu o inverso com o combustível mais
utilizado na agricultura, o óleo diesel, cuja redução de 9,74% no preço
beneficiou os produtores e a produção agrícola (tabela 1). O álcool, de pouco
uso, teve queda ainda maior no preço (45,81%).
Já os óleos lubrificantes, muito usados em motores e em sistemas de transmissão e hidráulicos, tiveram alta de 15,18% nos preços para viscosidade SAE-30W. Por sua vez, os óleos multiviscosos SAE-15W-40 e SAE-80W-140, que incorporam mais tecnologia, aumentaram respectivamente 8,67% e
11,52%. A graxa de lítio, nos meses referidos, também sofreu majoração, embora
pequena (3,31%). Os outros óleos tiveram diminuição no preço de 6,60% (SAE- 40W)
e de 4,03% (SAE-90W).
Fonte: Dados da pesquisa.
Combustíveis e óleos
lubrificantes Óleo diesel Gasolina comum
Álcool
Óleo lubrificante (SAE-30W)
Óleo lubrificante (SAE-40W)
Óleo lubrificante (15W-40)
Óleo lubrificante (SAE-90W)
Óleo lubrificante (SAE-80W-140)
Graxa de lítio
Fonte: Dados da pesquisa
Máquinas e
implementos
Variação (%)
Tratores e colhedoras
Aparelhos de irrigação
Pulverizadores acoplados
Plantadoras-adubadoras
Implementos de preparo de solo
Implementos (diversos)
Fonte: Dados da pesquisa
Máquinas e
implementos
Variação
(%)
Tratores e colhedoras
Aparelhos de irrigação
Pulverizadores acoplados
Plantadoras-adubadoras
Implementos de preparo de solo
Implementos (diversos)
Entre as hipóteses consideradas, a primeira é a de que os empresários não
conseguiram, num primeiro momento, repassar aos preços das máquinas os custos
atrelados ao dólar, relativos à turbulência econômica ocorrida no fim de 2002,
fazendo-o gradualmente nos anos de 2003 e 2004. A segunda é a de que a
facilidade de financiamento, a juros subsidiados, e a melhoria nos preços das commodities no mercado internacional teriam estimulado a demanda e puxado os preços
das máquinas e implementos.
Contudo, os aumentos nos preços das máquinas no mercado parecem exagerados, com
impacto no custo horário final de utilização das máquinas e principalmente no custo fixo (depreciação). Até
porque os preços do combustível e dos lubrificantes tiveram pequenas quedas,
afetando pouco o custo horário sem depreciação das máquinas e implementos
(tabela 4). De qualquer modo, os empresários rurais sentem necessidade de
capital devido ao aumento no custo fixo que afeta o custo de produção e reduz a
oportunidade de lucros e o dinamismo da produção agrícola no País.
1Para o Estado de São
Paulo não foi considerado o valor do ICMS.
Máquina/implemento
novo1
(R$)
uso anual
(n.)
horária
(R$)
(ano)
S/depreciação
(R$)2
Arado fixo (3 discos, 26')
Arado fixo (4 discos, 28')
Arrancadora de batata
Caminhão (140cv)3
Carreta (3t.c/carroc.pneu e freio)
Carreta (4t.c/carroc.pneu e freio)
Carreta tanque (2.000 l)
Colhedora automotriz de cereais (105cv)
Colhedora automotriz de cereais (117cv)
Colhedora automotriz de cereais (140cv)
Colhedora de algodão (207cv)(4L)4
Colhedora de milho (rend. 20 a 30sc./h)
Conj. irrigação motobomba (42cv c/
carreta)
Conj. irrigação motobomba (85cv c/carreta)
Conj. irrigação motobomba (125cv c/carreta)
Conj. irrigação motobomba (164cv c/ carreta)
Conj. de pulverização s/barra, 600 l,
fruti
Conj. de pulverização c/barra hidráulica 600
l
Conj. de pulverização c/barra simples
Cultivador (9 enxadas)
Cultivador/adubadora
Distribuidor de calcário (cap. 600kg)
Distribuidor de calcário ( cap. 2.500
kg)
Distribuidor de calcário ( cap. 5.500
kg)
Ensiladora
Escarificador, 7 enxadas, haste longa
Grade niveladora (24 discos 18')
Grade niveladora (28 discos 18')
Grade niveladora (32 discos, 18')
Grade niveladora (42 discos, 20')
Grade aradora (16 discos, 26')
Grade aradora (24 discos, 26')
Microtrator (14cv)
Ordenhadora automatica (cap. 4
baldes)
Picadora p/ forragem (prod. 7t)
Pivô central,100cv, 46,0ha
Pivô central,250cv, 115,0ha
Plaina traseira
Plantadora de mandioca3
Pulverizador acoplado ao trator (tanque 2.000
l)
Pulverizador acoplado ao trator
c/mangueira
Pulverizador acoplado ao trator, 2.000 l
(citrus)
Pulverizador acoplado ao trator, 2.000
l,18m
Pulverizador costal motorizado
Recolhedora de amendoim (rend. 600 a 700sc./dia)3
Resfriador (cap. 600 litros)
Retroescavadora
Roçadora
Secador de cereais3
Secador de arroz
Plantadora adubadora (2 linhas)
Plantadora adubadora (3 linhas)
Plantadora adubadora (4 linhas)
Plantadora adubadora (5 linhas)
Plantadora adubadora (4 a 8 linhas)
Plantadora adubadora (6 a 12 linhas)
Semeadora adubadora (15 linhas)
Subsolador (5 hastes)
Sulcador (2 linhas)
Cultivador, 9 enxadas, haste longa
Trator (62cv) (265)
Trator (72cv) (275)
Trator (82cv) (290)
Trator (105cv) (292)
Trator (110cv) (292T)3
2Inclui garagem, reparos, combustíveis, lubrificantes,
pneus; e seguro para tratores, colhedoras e caminhão.
3Alteração de modelo ou
critério da máquina ou de acessórios.
4Colhedora importada, usada.
Fonte: Instituto de Economia Agrícola.
Data de Publicação: 23/06/2004
Autor(es): Hiroshige Okawa (okawa@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor