Laranja para indústria: custo (básico) de produção na safra agrícola 2003/04

            Nos últimos 5 anos, foram intensas as mudanças registradas nos diversos segmentos da citricultura brasileira e paulista, com acentuados impactos tanto nos custos de produção como nas receitas da atividade.
            Há elevada demanda por informações atualizadas e uma estimativa de custo de produção de laranja para indústria foi elaborada para duas regiões do Estado de São Paulo (Norte e Sul), referente à safra agrícola 2000/01, com base nos preços de junho de 20001. Adotou-se metodologia tradicionalmente utilizada pelo IEA, considerada importante ferramenta na administração da atividade, principalmente no curto prazo.
            Nessa estrutura de custo, o Custo Operacional Efetivo (COE) é formado pelo conjunto das despesas efetivamente desembolsadas pelo produtor nos tratos da cultura, ou seja, pela soma das despesas diretas. Em seguida, o Custo Operacional Total (COT) é obtido acrescentando-se ao COE despesas indiretas, referentes à depreciação dos bens duráveis utilizados na atividade, à depreciação do capital investido na formação do pomar, aos encargos sociais e à remuneração ao capital circulante (juros de custeio). Observe-se que no COT não se inclui a retribuição ao fator terra, a remuneração ao empresário e a remuneração ao capital fixo (juros de investimentos), itens que fazem parte das estruturas de custo total de produção que, por sua vez, se configuram como um instrumento de gerenciamento da atividade no longo prazo.
            Assim, eventuais estimativas de resultados líquidos da atividade, decorrentes de comparações do COT com preços recebidos pelos produtores de laranja para indústria, visando obtenção de indicadores e análises de rentabilidade, deverão ter em conta pelo menos dois aspectos adicionais. Em primeiro lugar, incluir despesas de comercialização obrigatórias do setor, como o frete e as contribuições sociais e do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus). Em segundo lugar, considerar que essas receitas líquidas estimadas se destinam a remunerar também o grupo de fatores de produção da atividade não considerados no COT, quais sejam: terra, empresário e investimentos em máquinas, equipamentos, construções e instalações.
            Ressalte-se que essas estimativas procuram registrar o conjunto das operações e fatores de produção geralmente utilizados pela maioria dos pequenos e médios produtores. Assim, não são incluídas operações e fatores utilizados eventualmente e/ou de maneira não usual pela maioria desses produtores.
            Em razão das transformações e especificidades do setor citrícola, no momento optou-se pela elaboração de uma estimativa de custo que toma em conta o mínimo de pulverizações efetivamente efetuadas pela grande maioria dos pequenos e médios produtores, o que aqui é denominado de custo (básico) de produção. Nesse custo (básico), estão incluídos, além das pulverizações de herbicida, florada e foliar, também os controles de ferrugem, leprose, mosca-das-frutas e formiga.
            Além disso, decidiu-se em efetuar em seguida estimativas em que são acrescidos ao custo básico os custos com controles específicos, tanto isoladamente como de maneira combinada, de bicho-furão, ortézia, pinta preta e podridão floral.
            O custo (básico) de produção, em conjunto com cada um dos custos das pulverizações adicionais e específicas, quando ponderados segundo as áreas tratadas com esses controles, deve oferecer uma melhor representatividade dos custos de produção da atividade, tanto para cada um dos talhões como para o total da área cultivada na propriedade.
            Assim, apresenta-se a seguir uma estimativa de custo (básico) de produção de laranja para indústria, Safra Agrícola 2003/04, aos preços vigentes no início do mês de maio de 2004, para as regiões Norte e Sul do Estado de São Paulo. Estimativas adicionais e complementares, agregando os custos específicos relacionados com os tratos culturais para os controles de bicho-furão, ortézia, pinta preta e podridão floral, encontram-se em fase de elaboração e serão apresentadas de maneira detalhada, oportunamente, na revista Informações Econômicas2.
            Para a região Norte, o COT situou-se em R$3.891,26 por hectare e em R$6,49 por caixa de 40,8kg, para produtividade de 600 caixas por hectare. Os desembolsos diretos (o COE) atingiram R$3.130,69 por hectare e R$5,22 por caixa (tabela 1). Relativamente à citada estimativa para safra 2000/01, esses custos registram elevação de 110,7% no período, evoluindo acima da estimativa de variação no IGP-DI da FGV (67,66% entre junho de 2000 e maio de 2004). Mesmo neste custo básico, o dispêndio com defensivos sobressai, respondendo por 27,8% do COT e por 34,5% do COE, o que representa o maior percentual no custo de produção.

            Na região Sul, o COT do pomar em produção é 7,3% inferior ao da região Norte, e situou-se em R$3.608,82 por hectare e em R$6,01 por caixa, para o mesmo patamar de produtividade (600 caixas por hectare), sendo que os desembolsos diretos (o COE), atingem R$2.905,89 por hectare e R$4,84 por caixa (tabela 2).
            A queda do custo de produção na região Sul, relativamente à região Norte, deve-se às menores exigências nos tratos culturais relacionados com as condições de solo e clima. Tem-se menor dispêndio nos custos relacionados com defensivos, inclusive na formação da atividade, o que se verifica pela menor estimativa do item depreciação do pomar.

            Para um grande número de pequenos e médios produtores de laranja para indústria do Estado, os custos de produção seguramente situam-se acima do custo básico. Somente através de estimativas de custo que tomem em conta as parcelas de áreas com uso mais intenso de inseticidas (contra bicho-furão e ortézia, basicamente, entre outros) e de fungicidas (na prevenção de pinta preta e podridão floral, principalmente) pode-se ter uma melhor representatividade em termos do custo de produção da propriedade e do agregado da atividade. Para isso, seria essencial o levantamento dessas informações no âmbito das propriedades citrícolas e para o total do setor. Isso, entretanto, somente é possível através de um amplo trabalho que aborde de maneira detalhada a tecnologia adotada pelo produtores, o que possibilitaria, inclusive, avançar no conhecimento das dificuldades mais recentes da realidade citrícola, como as relacionadas com a extensão e implicações da morte súbita dos citros (MSC).

1GHILARDI, Arthur A. et al. CITRICULTURA PAULISTA: exigência física de fatores de produção, estimativa de custo e evolução das técnicas agrícolas. Informações Econômicas, São Paulo, v. 32, p. 21-45, set. 2002.
2O trabalho está sendo possível dado o apoio do Centro APTA Citros 'Sylvio Moreira' - IAC, de Cordeirópolis (SP), e a colaboração de técnicos e pesquisadores da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) e do Grupo de Consultores em Citros (GCONCI).

Data de Publicação: 08/06/2004

Autor(es): Arthur Antonio Ghilardi (arthurghi@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Maria Lucia Maia (mlmaia@iac.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
João Dagoberto De Negri (dagoberto@centrodecitricultura.br) Consulte outros textos deste autor