Situação do feijão e perspectivas para a safra de inverno 2003/04 em São Paulo

            O Estado de São Paulo participou com 7,5% da área e 11,9% da produção da terceira safra brasileira de feijão em 2003, segundo estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)1. A safra paulista – chamada feijão de inverno – é plantada nos meses de abril a junho e colhida entre julho e setembro, ocupando dentro do Estado área e produção tão importantes quanto as das safras das águas e da seca.
            O feijão de inverno paulista, embora produzido em condições climáticas geralmente desfavoráveis – temperaturas baixas e chuvas insuficientes –, tem atrativos para os produtores. Um deles é a oferta na entressafra, sobretudo em outubro, época geralmente de melhores preços. Outro é o fato de a produção da terceira safra nacional representar apenas 22% da produção anual de feijão no país, mesmo após o aumento significativo na área cultivada com esta safra nos últimos três anos.
            A Conab estima uma produção brasileira de feijão de 3,2 milhões de toneladas em 2003/04, baseada no levantamento de campo realizado em abril último. A confirmação dessa estimativa fica na dependência do desempenho da segunda safra ainda em andamento e da terceira safra que ora se inicia. O clima afetou a produtividade da segunda safra de feijão em toda a Região Sul, onde choveu bem abaixo da média histórica entre janeiro e março deste ano, afetando seriamente a produtividade de feijão nessa região, segundo a Conab (tabela 1).
            A anomalia de precipitação mensal nos Estados de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul nesse período apresenta intervalo muito semelhante, segundo os dados do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC)2, 3, 4, embora em termos de precipitação total5, 6, 7 o Paraná esteja ligeiramente melhor. Desse modo, a queda na produtividade da segunda safra de feijão paranaense deste ano, de 9,7% em relação ao ano anterior, pode estar subestimada vis-à-vis a queda na produtividade catarinense (-45,5%) e gaúcha (-52,3%).
            Na Região Nordeste ocorreu excesso de chuvas em janeiro e parte de fevereiro, o que causou perdas nas lavouras e prejudicou estradas e pontes, segundo a Conab1. A partir de março, a tendência foi de estiagem em grande parte da região, segundo o CPTEC.

            Os preços médios diários recebidos pelos produtores paulistas desde janeiro deste ano apresentam média de R$74,26 a saca de 60 quilos no período (figura 1). Embora esse nível de preço possa ser considerado muito atraente para os produtores, está próximo ao preço médio mensal histórico de janeiro de 1996 a abril de 2004 (R$74,77/sc.) que teve dois picos principais influenciados pelas condições climáticas adversas (figura 2).

            No Brasil, a área total anual cultivada com o grão tende a diminuir, sendo exceção à regra o feijão da terceira safra que teve salto na área cultivada a partir de 2001 (figura 3). No Estado de São Paulo, não foi observada a mesma tendência embora ocorra oscilação anual nas áreas cultivadas das três safras (águas, seca e inverno) (figura 4).

            Embora abril seja um mês normalmente de pouca precipitação pluviométrica8, em São Paulo choveu mais que a média histórica mensal do período (em torno de +50mm9) na maior parte do Estado, fato que favorece, sobretudo, o plantio de feijão de inverno não-irrigado. Neste contexto climático e conjuntural, espera-se um aumento de cerca de 5% na área de feijão de inverno cultivado do Estado de São Paulo na safra 2003/04. O principal indicador na tomada de decisão de plantio – preço recebido pelos produtores – está relativamente neutro tanto no contexto de curto prazo quanto no de longo prazo.

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1 Previsão e Acompanhamento da Safra 2003/04, Quarto Levantamento, Abril/2004. Disponível em http://www.conab.gov.br/download/safra/safra20032004Lev04.pdf. Acesso em 14/05/2004.
2 CPTEC. Anomalia de Precipitação – jan. 2004. Disponível em: http://www3.cptec.inpe.br/cgi-bin/clima/clima_produtos1.cgi?campo1=abrchuvat&mes=01&ano=04&image.x=14&image.y=9. Acesso em: 04/02/2004. A anomalia de precipitação é a diferença entre a precipitação observada e média histórica do mês.
3 CPTEC. Anomalia de Precipitação – fev. 2004. Disponível em: http://www3.cptec.inpe.br/cgi-bin/clima/clima_produtos1.cgi?campo1=abrchuvat&mes=02&ano=04&image.x=14&image.y=9. Acesso em 14/05/2004.
4 CPTEC. Anomalia de Precipitação – mar. 2004. Disponível em: http://www3.cptec.inpe.br/cgi-bin/clima/clima_produtos1.cgi?campo1=abrchuvat&mes=03&ano=04&image.x=14&image.y=9. Acesso em 14/05/2004.
5 CPTEC. Precipitação Total – jan. 2004. Disponível em: http://www3.cptec.inpe.br/cgi-bin/clima/clima_produtos1.cgi?campo1=brchuvat&mes=01&ano=04&image.x=10&image.y=9. Acesso em 14/05/2004.
6 CPTEC. Precipitação Total – fev. 2004. Disponível em: http://www3.cptec.inpe.br/cgi-bin/clima/clima_produtos1.cgi?campo1=brchuvat&mes=02&ano=04&image.x=10&image.y=9. Acesso em 14/05/2004.
7 CPTEC. Precipitação Total – mar. 2004. Disponível em: http://www3.cptec.inpe.br/cgi-bin/clima/clima_produtos1.cgi?campo1=brchuvat&mes=03&ano=04&image.x=10&image.y=9. Acesso em 14/05/2004.
8 CPTEC. Precipitação Total – abr. 2004. Disponível em: http://www3.cptec.inpe.br/cgi-bin/clima/clima_produtos1.cgi?campo1=brchuvat&mes=04&ano=04&image.x=10&image.y=9. Acesso em. 14/05/2004.
9 CPTEC. Anomalia de Precipitação – abr. 2004. Disponível em: http://www3.cptec.inpe.br/cgi-bin/clima/clima_produtos1.cgi?campo1=abrchuvat&mes=04&ano=04&image.x=14&image.y=9. Acesso em: 14/05/2004.

Data de Publicação: 21/05/2004

Autor(es): Ikuyo Kiyuna Consulte outros textos deste autor
Humberto Sebastiao Alves (hsalves@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor