Vale do Ribeira: Educação Profissional e Desenvolvimento

            O Vale do Ribeira já foi objeto de inúmeras pesquisas e estudos realizados ao longo das gestões das diversas administrações do governo paulista nas ultimas três décadas, o que demonstra o interesse para com essa região, mas também mostra a ineficiência do planejamento e das ações. Um dos temas dos diagnósticos e das propostas voltados para o desenvolvimento do Vale foi o da educação profissional.
            A pesquisa 'Estudos de Mercado de Trabalho como Subsídios para a Reforma da Educação Profissional no Estado de São Paulo', desenvolvida no segundo semestre de 20031, traçou um perfil da estrutura produtiva do espaço rural do Estado de São Paulo de forma regionalizada para subsidiar a reformulação da educação profissional.
            A pesquisa identificou que a maioria dos alunos formados pelas escolas técnicas (ETEs) na região, por não encontrarem emprego na sua área de conhecimento, acabam abandonando-a ou migrando para outras regiões que ofereçam maiores e melhores oportunidades.
            Nesse sentido, não basta o ensino técnico profissional adaptar-se às novas características especificas da região, mas também fazem-se necessárias políticas públicas que potencializem o capital humano formado pela ETE. A inexistência desse tipo de política levará, como alias já vem levando, a um grave desperdício de esforços educacionais e das ações que visam desenvolver econômica e socialmente a região.
            A situação peculiar do Vale do Ribeira destacou-se por ser uma das regiões menos desenvolvidas do Estado e pela necessidade de conviver com restrições ambientais que ultrapassam em muito as das demais regiões. Ao mesmo tempo, de certa forma, essas restrições, se bem compreendidas e trabalhadas pelo Estado e comunidades, podem transformar-se em fator favorável ao desenvolvimento.
            As adaptações dos currículos das ETEs pesquisadas mostraram-se adequadas ao perfil do técnico de nível médio requisitado, uma vez que estão coerentes com o papel da ETE no desenvolvimento e sustentabilidade das atividades produtivas e das comunidades locais, mas não são suficientes para dar inicio ao almejado processo de desenvolvimento no qual o papel da educação sempre se mostra importante.
            Em casos como o do Vale do Ribeira, onde aspectos ambientais destacam e estimulam, embora limitem, o desenvolvimento regional e a agropecuária, a ETE oferece formação compatível: agropecuária, turismo, ambiental, hotelaria.
            Uma política ligada aos investimentos já realizados na educação, que aproveite o conhecimento dos formados, como promotores de desenvolvimento local, promovendo em seus locais de origem o repasse dos conhecimentos para as comunidades, pode resultar em eficiência e objetividade aos projetos regionais, de maneira a estimular principalmente as regiões mais pobres do estado de São Paulo.

Política de baixo custo

            Segundo o diagnóstico obtido na região, pouco valerão todos os esforços visando adequar os currículos dos cursos profissionalizantes das ETEs, se não forem tomadas providências que viabilizem a aplicação imediata, após a formatura, dos conhecimentos adquiridos a duras penas pelo alunos, como resultado do imenso esforço dos professores e do Estado; se todo esse trabalho de base não for complementado com medidas de apoio que permitam tornar realidade os objetivos dos jovens, dos professores, dos governos e das comunidades locais.
            Grande parte dos profissionais formados desloca-se para outras regiões ou atuam fora de sua área de formação, apesar da sua necessidade. Assim, seriam oportunas políticas públicas que garantissem a permanência dos formandos nos seus locais de origem ou pelo menos na região.
            O investimento do Estado na formação profissional poderia resultar simultaneamente em oportunidade de ascensão social aos jovens e em desenvolvimento para a região, não havendo desperdício da capacitação técnica. Para tanto, uma alternativa levantada é viabilizar o retorno do técnico aos seus locais de origem, através de um mecanismo de manutenção econômica que poderia ser concretizado via um dos programas já existentes relacionados ao oferecimento de oportunidade para um primeiro emprego.
            Trata-se de uma política de baixo custo que simultaneamente oferece uma primeira oportunidade de trabalho ao jovem recém formado, difunde os conhecimentos obtidos pelos alunos em suas diferentes áreas de formação e concretiza os objetivos iniciais da formação profissional como ferramenta do desenvolvimento regional. Apenas de forma ilustrativa, pode-se calcular, para uma turma de 30 formados recebendo bolsa de um salário mínimo, um investimento anual de apenas R$ 86.400,00. Supondo que os 30 alunos fossem uniformemente distribuídos na região, cerca de 30 locais seriam beneficiados com a difusão de conhecimentos necessários à região.
            A administração desse trabalho poderia ficar afeta à própria ETE, com parcerias diversas, que poderiam incorporar, ainda, atividades para os alunos de acordo com as suas respectivas áreas de estudo, potencializando o aprendizado e o trabalho dos bolsistas recém-formados com essa integração.

1 Desenvolvido em parceria com a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados - SEADE, com recursos do Programa de Expansão da Educação Profissionalizante - PROEP (25% Ministério da Educação, 25% Ministério do Trabalho e 50% Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID).

Data de Publicação: 10/05/2004

Autor(es): Ana Victoria Vieira Martins Monteiro (ana.monteiro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Regina Helena Varella Petti Consulte outros textos deste autor