Artigos
Agronegócios: um novo enfoque para a pesquisa e a gestão nos Institutos Públicos de Pesquisa
Em recente evento promovido pela Agência Inova, da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)1, discutiu-se a problemática
da propriedade intelectual ligada ao desenvolvimento de processos inovativos
(geração e difusão de tecnologias) e sua articulação com o setor produtivo no
Brasil. Esse tema é considerado de grande relevância para a retomada do
desenvolvimento sócio-econômico do País, enquanto definidor de nosso lugar no
ambiente competitivo globalizado. Gestão estratégica, cadeias produtivas e enfoque
regional Faz algum tempo que a pesquisa agropecuária em São Paulo vem caminhando no sentido de olhar seus objetivos dentro de uma visão estratégica. O Planejamento Estratégico realizado em 19984 deu importantes
passos nessa direção. Com a criação da APTA, introduziu-se o conceito de gestão
estratégica que consiste não apenas em gerar planos voltados para uma visão de
futuro, mas também criar mecanismos de gestão que acompanhem o processo de
mudança, permitindo incorporações de novos elementos e correção de rumos durante
o processo.
Uma das questões pertinentes, entre outras, que permearam as análises
apresentadas foi a necessidade de mudar radicalmente o marco regulatório-legal,
para transformar as atuais características em uma situação na qual haja
condições favoráveis tanto para a geração de inovações quanto para a adoção de
tecnologias pelos setores produtivos brasileiros.
Dessa forma, discutiram-se alternativas legais como alterações na Lei de
Inovações, relacionadas a maiores facilidades para exploração de patentes
desenvolvidas pelas universidades e institutos de pesquisa públicos;
apontaram-se as dificuldades e obstáculos existentes ao financiamento de capital
de risco em tecnologia, quando de iniciativa dos setores privados; e
apresentou-se o sistema de interação universidade-empresa da Columbia
University, nos EUA, para efeito de conhecimento de um exemplo bem-sucedido.
Essas questões são também pertinentes às organizações de pesquisa pública
voltadas para os agronegócios. Elas necessitam passar por reestruturações no
ambiente institucional-legal e, em particular, precisam estar conscientes e
preparadas para organizar-se de maneira multidisciplinar (pensando em evoluir
para a intradisciplinaridade), operando na forma de redes de pesquisa. Isso
implica mudar seus processos administrativos de gestão tendo em vista os
desafios que se desenham para o futuro, principalmente o de garantir, de forma
eficiente, um fluxo permanente e contínuo de novas tecnologias de processos e
produtos ao setor agrícola, contribuindo para que esse ramo da economia continue
tendo o dinamismo atual.
Um estudo elaborado por especialista2 mostra que os problemas enfrentados pela rede de pesquisa pública em vários países da América Latina são semelhantes aos enfrentados pelas instituições de pesquisa do sistema paulista pertencente à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA)3, da Secretaria de Agricultura e
Abastecimento do Estado de São Paulo . E que os caminhos estratégicos para sair
da crise são conhecidos, discutidos e, alguns, já são postos em prática.
Uma das conclusões do estudo, que podemos considerar como orientadora para uma ação pró-ativa transformadora, é a de que há necessidade de 'desenvolver um contexto de políticas adequado às necessidades do novo paradigma tecnológico, que deve evoluir do enfoque de geração e transferência de tecnologia para o enfoque de gestão para a inovação. Desta ótica, o ator central na busca de uma maior competitividade pela via da produtividade e do desenvolvimento tecnológico é o produtor agroindustrial, que trabalha com uma visão de mercado, com base em produtos finais caracterizados por processos de transformação e agregação de valor que requerem uma concepção de cadeias produtivas, com uma multiplicidade de atores e
interfaces especializadas, que vão muito mais além da pesquisa em nível de
propriedade...'.
Igualmente, o conceito de cadeia produtiva vem sendo gradativamente incorporado
à visão do setor agropecuário que norteia nossas ações há muitos anos. Agora,
está incorporado estruturalmente no processo de geração do conhecimento e
transferência de tecnologia da APTA.
A figura 1 (abaixo), fruto de debate, estudos e reflexão de vários especialistas5, evidencia que qualquer ação em
qualquer dos pontos do sistema tem que ser pensada de forma integrada.
Fonte: EMBRAPA, 2003
A ação da pesquisa focada em demandas regionais também vem sendo perseguida há muitos anos6. A novidade é a incorporação dessa meta na
estrutura formal da APTA.
No Plano Plurianual 2004-07, enviado à Assembléia Legislativa, é dado um grande
destaque para a ação regional, do qual selecionamos os seguintes trechos para
ilustrar:
- A cooperação de diferentes agentes em espaços regionais é fundamental, por exemplo, para o fortalecimento de Arranjos Produtivos Locais (clusters), que facilitem a criação de redes de empresas e estimulem processos de aprendizagem e inovação, alavancando a competitividade.
- O papel contemporâneo dos governos estaduais é induzir o aparecimento dessas redes e proporcionar condições institucionais para o exercício de uma governança territorializada e intersetorial.
- Toda a reflexão sobre a regionalização buscou introduzir procedimentos de tomada de decisão pelo Estado, que fossem descentralizados (ou seja, garantindo que as decisões fossem tomadas na esfera locacional em que ocorrem os fatos que motivam as decisões); participativos (ou seja, garantindo a presença tanto de administrações municipais quanto da sociedade civil organizada nas decisões); e integrados (trazendo para as decisões o cotejo das políticas setoriais, dos interesses públicos e privados e das três esferas de governo).
A concepção do Sistema SIGA
Para
viabilizar esse conjunto de novos conceitos junto à estrutura hierárquica
institucional da APTA, compreendido na geração e transferência do
conhecimento/tecnologia produzidos no aparato institutos-pólos-cadeias
produtivas, pretende-se implantar um sistema informatizado de gestão dessas
atividades.
Esse sistema de planejamento significa a geração de um workflow, contendo o cadastramento das atividades; o
acompanhamento do cronograma físico; o monitoramento, pela emissão de avisos e
permissão de acesso aos avaliadores e decisores institucionais; e a avaliação,
pela emissão de relatórios parciais e/ou finais, dos resultados alcançados.
Com a base de dados formada, poder-se-á construir e avaliar a evolução de
indicadores de desempenho, estratégicos e de gestão.
Os indicadores de desempenho referem-se à utilização de insumos7. Os indicadores estratégicos são os referentes aos
resultados. E os indicadores de gestão são aqueles compreendidos pelas evoluções
observadas em relação às metas estabelecidas e medidas pelos indicadores de
desempenho e estratégicos em diferentes períodos.
Os usuários do sistema serão os atores envolvidos em algum tipo de ação
pré-definida. Compreendem coordenadores de projeto/atividade, colaboradores,
avaliadores, diretores de centros e de departamentos, assessores, conselheiros,
etc., os quais têm acesso mandatório ao sistema, embora com níveis
diferenciados, além do público em geral.
Conclusão
Pretende-se, com esse sistema, aumentar e/ou formalizar as articulações internas e externas, facilitando a formação e o gerenciamento de redes de trabalho nas várias organizações da APTA e entre elas e seus parceiros institucionais e privados, tendo em vista as cadeias de produção dos agronegócios paulistas. Nesse sentido, deve priorizar-se o enfoque regional, atendendo as demandas reais ou prospectivas que possam desobstruir possíveis obstáculos ou gargalos diagnosticados como impeditivos ao desenvolvimento setorial.
1 http://www.inova.unicamp.br/
2 Vásquez, J.A. Problemas Institucionais da Pesquisa Agrícola na América Latina e no Caribe. Informações Econômicas, SP, V.29, n.11, nov. 1999,
p.29-39.
3 APTA: www.apta.sp.gov.br .
A APTA é instituição de pesquisa da Secretaria de Agricultura e Abastecimento
(SAA) do Governo do Estado de São Paulo, reorganizada pelo decreto n.º 46.488 de
8 de janeiro de 2002 (DOE de 09/01/02) regulamentando a lei complementar n.º
895/2001, e que agrega 6 Institutos de Pesquisa e 15 Pólos Regionais de
Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios.
4 Planejamento Estratégico da Pesquisa Agropecuária
de São Paulo. Secretaria de Agricultura e Abastecimento, 1998.
5 Cenários 2002 – 2012, Pesquisa, desenvolvimento e inovação para o agronegócio brasileiro. EMBRAPA e CGEE, 2003.
6 Atuação Regional da Pesquisa Agropecuária de São Paulo. São Paulo. Secretaria de Agricultura e Abastecimento, 1998.
7 FAPESP. Perfil dos Investimentos da FAPESP. Revista FAPESP, no. 65, junho de 2001
(separata).
Data de Publicação: 27/04/2004
Autor(es):
Alceu De Arruda Veiga Filho Consulte outros textos deste autor
José Ricardo Cardoso de Mello Junqueira (josericardo@apta.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor