O trabalho insere-se na discussão do caráter distributivo do crédito rural no Brasil; procede a uma análise de período bastante longo - as duas últimas décadas - e estuda a distributação do crédito rural por atividade agropecuária, por região e unidade da federeção e por grupo de produtos, segundo os vários níveis de agregação do crédito total, discriminado pelas finalidades de custeio, comercialização e investimento. Os dados básicos utilizados são as estatísticas de crédito rural das instituições financeiras integrantes do Sistema Nacional de Crédito Rural, com os quais calcularam-se índices de Redundância, como medida do grau de concentração do crédito, além de participações relativas. Os resultados mostraram que, na década de 80, contrariamente à década anterior, os recursos financeiros destinados ao crédito rural foram decrescentes, restritos e de custo elevado. As distorções, do ponto de vista da concentração regional, já apontadas por vários autores para a década de 70, mantiveram-se na década de 80, com piora do perfil distributivo do crédito relativamente ao valor da produção no âmbito regional (inter e intraregião). No transcorrer das duas décadas, a Região Nordeste foi a que apresentou melhor padrão distributivo entre suas unidades; as Regiões Sul e Sudeste apresentaram índices de concentração inferiores que as demais regiões, com melhor alocação do crédito de custeio relativamente ao valor da produção gerada. A pior performance ocorreu com a Região Norte/Centro-Oeste, com padrão distributivo concentrado entre suas unidades. A distribuição de crédito de custeio entre os dois grupos de produtos considerados, Grupo I (produtos bastante integrados ao Complexo Agroindustrial - CAI) e Grupo II (produtos pouco vinculados ao CAI), foi canalizada, crescentemente, para os produtores do primeiro grupo, que absorviam no final dos anos 80 cerca de 70% do total de crédito ofertado (participando com cerca de 74% do valor da produção agrícola), contra os cerca de 60% de participação (no crédito e no valor de produção) do início da década de 70. A distribuição do crédito intragrupos (entre produtos) foi mais equilibrada no Grupo I e mais concentrada no Grupo II. Os recursos alocados para o crédito de comercialização decresceram, expressivamente, na década de 80 e concentram-se nas Regiões Sul e Sudeste e também na Região Centro-Oeste. O crédito de investimento foi direcionado, principalmente, para as Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.